Alimentação pública, conflito armado e desenvolvimento rural na Colômbia : uma abordagem possibilista
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/204094 |
Resumo: | As políticas alimentares interagem em um complexo campo de disputas, em que os interesses de múltiplos atores confluem e ocorrem lutas por poder e reconhecimento. As questões alimentares fazem parte das disputas e da violência gerados pelo conflito armado que se estende por mais de seis décadas na Colômbia e, que em 2016, após várias tentativas, resultou em um acordo de paz. Por um lado, os grupos armados usam a alimentação como mecanismo de dominação. Por outro, muitas comunidades rurais e organizações sociais vislumbram na alimentação a possibilidade de construir respostas aos efeitos da violência. Ainda são escassos os estudos sobre o papel do Estado e das políticas públicas na promoção da alimentação pública em contextos de guerra e conflitos armados. O presente trabalho busca contribuir para preencher parte dessa lacuna com o objetivo de analisar como confluem as dinâmicas sociais nas interações entre alimentação pública, conflito armado e desenvolvimento rural na Colômbia através de uma análise histórica, explorando os desafios do último pós-acordo de paz. Para isso, elaborou-se um quadro analítico baseado na Abordagem Possibilista de Albert O. Hirschman complementada por conceitos da Teoria dos Campos de Acción Estratégica de Neil Fligstein e Doug McAdam. Este estudo orientou-se pela hipótese, inspirada em Hirschman, de que a adoção de determinados quadros normativos levou os programas de alimentação pública à exclusão das organizações comunitárias e entorpeceu a forma como o “padrão de desordem ótima” – isto é, formas e práticas alimentares endógenas e autônomas – poderia conduzir ao desenvolvimento. A análise desvelou como os atores dominantes empregam esses quadros normativos para se apropriarem de recursos e capacidades do campo, excluindo as formas de organização que não se encaixam nesses moldes. A metodologia do trabalho baseou-se na realização de estudos de caso nos municípios de Florencia (Caquetá), Samaniego (Nariño) e Granada (Antioquia), focando nos programas de alimentação pública, especialmente o Programa de Alimentação Escolar (PAE) e as várias modalidades de atenção do Instituto Colombiano de Bem-estar Familiar (ICBF). O estudo permitiu compreender os paradoxos da implementação de políticas públicas de alimentação no contexto da construção de paz e do conflito na Colômbia. Entre as principais conclusões da tese destacam-se três. Em primeiro lugar, a complexificação dos quadros normativos da alimentação pública e a especialização dos sistemas agroalimentares negligenciam a heterogeneidade do padrão de desordem ótima e os confrontos entre os atores em relação a múltiplos significados (qualidade, quantidade, eficiência e cuidado). Em segundo lugar, a construção da paz é um processo que envolve disputas de significados e estratégias de mobilização, contenção e resistência dos múltiplos atores envolvidos. Nesse processo, alguns atores tentam cooptar a voz da sociedade, gerar frustrações e justificar intervenções violentas através de retóricas da intransigência (futilidade e ameaça), com o objetivo de manter a instabilidade do campo e reproduzir o seu poder. Em terceiro lugar, os atores desafiadores procuram estratégias para encarar os mecanismos de dominação, subverter os modelos padronizadores do sistema agroalimentar globalizado e disputar recursos e espaços de reconhecimento social com outros atores. Dessa forma, a alimentação pode ultrapassar as fronteiras da esfera privada (individual) para posicionar-se novamente na esfera pública (coletiva). Pesquisas futuras poderiam comparar as dinâmicas sociais nos períodos subsequentes a outros acordos de paz, analisando os paradoxos e coalizões relacionadas à contratação pública e ao abastecimento de alimentos nos programas de alimentação que emergem das tentativas de padronizar as dinâmicas sociais através da alimentação e desvelar as táticas de dominação presentes nos conflitos armados. |
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O presente trabalho busca contribuir para preencher parte dessa lacuna com o objetivo de analisar como confluem as dinâmicas sociais nas interações entre alimentação pública, conflito armado e desenvolvimento rural na Colômbia através de uma análise histórica, explorando os desafios do último pós-acordo de paz. Para isso, elaborou-se um quadro analítico baseado na Abordagem Possibilista de Albert O. Hirschman complementada por conceitos da Teoria dos Campos de Acción Estratégica de Neil Fligstein e Doug McAdam. Este estudo orientou-se pela hipótese, inspirada em Hirschman, de que a adoção de determinados quadros normativos levou os programas de alimentação pública à exclusão das organizações comunitárias e entorpeceu a forma como o “padrão de desordem ótima” – isto é, formas e práticas alimentares endógenas e autônomas – poderia conduzir ao desenvolvimento. A análise desvelou como os atores dominantes empregam esses quadros normativos para se apropriarem de recursos e capacidades do campo, excluindo as formas de organização que não se encaixam nesses moldes. A metodologia do trabalho baseou-se na realização de estudos de caso nos municípios de Florencia (Caquetá), Samaniego (Nariño) e Granada (Antioquia), focando nos programas de alimentação pública, especialmente o Programa de Alimentação Escolar (PAE) e as várias modalidades de atenção do Instituto Colombiano de Bem-estar Familiar (ICBF). O estudo permitiu compreender os paradoxos da implementação de políticas públicas de alimentação no contexto da construção de paz e do conflito na Colômbia. Entre as principais conclusões da tese destacam-se três. Em primeiro lugar, a complexificação dos quadros normativos da alimentação pública e a especialização dos sistemas agroalimentares negligenciam a heterogeneidade do padrão de desordem ótima e os confrontos entre os atores em relação a múltiplos significados (qualidade, quantidade, eficiência e cuidado). Em segundo lugar, a construção da paz é um processo que envolve disputas de significados e estratégias de mobilização, contenção e resistência dos múltiplos atores envolvidos. Nesse processo, alguns atores tentam cooptar a voz da sociedade, gerar frustrações e justificar intervenções violentas através de retóricas da intransigência (futilidade e ameaça), com o objetivo de manter a instabilidade do campo e reproduzir o seu poder. Em terceiro lugar, os atores desafiadores procuram estratégias para encarar os mecanismos de dominação, subverter os modelos padronizadores do sistema agroalimentar globalizado e disputar recursos e espaços de reconhecimento social com outros atores. Dessa forma, a alimentação pode ultrapassar as fronteiras da esfera privada (individual) para posicionar-se novamente na esfera pública (coletiva). Pesquisas futuras poderiam comparar as dinâmicas sociais nos períodos subsequentes a outros acordos de paz, analisando os paradoxos e coalizões relacionadas à contratação pública e ao abastecimento de alimentos nos programas de alimentação que emergem das tentativas de padronizar as dinâmicas sociais através da alimentação e desvelar as táticas de dominação presentes nos conflitos armados.The food politics interact in a complex field of disputes. The interests of multiple actors converge and resulte fights for power and recognition. The agri-feeding issues are part of the disputes and violence generated by the armed conflict during more than six decades in Colombia. In 2016, after several negotiation attempts, a peace treaty was reached. On one hand, the armed groups use the feeding as a domination mechanism. On the other hand, many rural communities and social organizations discern the feeding the possibility to build responses to the effects of violence. There are few studies about the State’s role and the public politics on the promotion of the public feeding programs in armed conflicts. This study seeks to contribute to the gap in studies with the objective of analyzing how the social dynamics converge in the interactions between public feeding, armed conflict and rural development in Colombia through a historic analysis, exploring the challenges of the last peace treaty. An analytical framework was made based on the Albert O. Hirschman's Possibilist Approach complemented with some concepts of the Strategic Action Field Theory by Neil Fligstein and Doug McAdam. This study was oriented by the hypothesis, inspired in Hirschman, that the adoption of some legal frameworks, led the exclusion of community organizations and hampered the form of optimal disorder model- it is the endogenous and autonomous feeding practices- which can lead to the development. The analyze uncovered how the dominant actors use these normative frameworks to appropriate resources and capabilities of the field, excluding those organization forms that do not fit within these frameworks. The methodology used case studies in the following municipalities: Florencia (Caquetá), Samaniego (Nariño) and Granada (Antioquia), focuses in the public feeding programmes: School Feeding Programme (PAE), and the modalities of attention of the Colombian Institute of Family Welfare (ICBF). This allowed for an understanding of the paradoxes of public policies implementation on the context of peace building and the conflict in Colombia. Three main conclusions are highlighted. In the first place, the complexity of the normative frameworks of public feeding and the specialization of agri-food systems negligence the heterogeneity of the optimal disorder pattern and the confrontations between actors in relation to multiple meanings (quality, quantity, efficiency and care). In the second place, peace building is a process that involves disputes of meanings and the mobilization, containment and resistance strategies of the actors. In this process, some actors try to co-opt the voice of society, generate frustrations and justify violent interventions through rhetoric of intransigence (futility and threat), with the aim of maintaining the instability of the field and reproducing their power. In the third place, the challenging actors seek strategies to confront the domination mechanisms, subvert the standardizing models of the globalized agri-food system and dispute resources and spaces of social recognition. In this way, the public feeding can go beyond the borders of the private (individual) sphere, and take importance again in the public (collective) sphere. Future research could compare the social dynamics in subsequent periods of other peace treaties, by analyzing the paradoxes and coalitions of the government procurement and the supply in feeding programs that emerge from attempts to standardize social dynamics through feeding and unveil the domination tactics present by armed conflicts.Las políticas alimentarias interactúan en un campo complejo de disputas, en que los intereses de múltiples actores confluyen y ocurren luchas por poder y reconocimiento. Las cuestiones alimentarias hacen parte de las diputas y la violencia generadas por el conflicto armado que se prolonga por más de seis décadas en Colombia y que en 2016, después de varias tentativas, resultó en un acuerdo de paz. Por un lado, los grupos armados usan la alimentación como mecanismo de dominación. Por otro lado, muchas comunidades rurales y organizaciones sociales vislumbran en la alimentación la posibilidad de construir respuestas a los efectos de la violencia. Aún son escasos los estudios sobre el papel del Estado y de las políticas en la promoción de la alimentación pública en contextos de guerra y conflictos armados. El presente trabajo busca contribuir a llenar esta falencia con el objetivo de analisar como confluyen las dinámicas sociales en las interacciones entre alimentación pública, conflicto armado y desarrollo rural en Colômbia através de un análisis histórico, explorando los desafíos del último post-acuerdo de paz. Para esto, se elaboró un marco analítico en base al Abordaje Posibilista de Albert O. Hirschman complementada por conceptos de la Teoria de los Campos de Acción Estratégica de Neil Fligstein y Doug McAdam. Este estudio se orientó por la hipótesis, inspirada en Hirschman, de que la adopción de determinados marcos normativos llevó a los programas de alimentación pública a la exclusión de las organizaciones comunitarias y entorpeció la forma como el “padrón de desorden óptimo” – esto es, formas y prácticas alimentarias endógenas y autónomas– podría conducir al desarrollo. El análisis desvelò como los actores dominantes emplean esos marcos normativos para apropiarse de recursos y capacidades del campo, excluyendo las formas de organización que no se encajan en esos moldes. La metodología del trabajo, se basó en la realización de estudios de caso en los municipios de Florencia (Caquetá), Samaniego (Nariño) y Granada (Antioquia), enfocando en los programas de alimentación pública, especialmente: el Programa de Alimentación Escolar (PAE) y las varias modalidades de atención del Instituto Colombiano de Bienestar Familiar (ICBF). El estudio permitió comprender las paradojas de la implementación de las políticas públicas de alimentación en el contexto de la construcción de paz y del conflicto en Colombia. Entre las principales conclusiones de la tesis, se destacan tres. En primer lugar, la complexificación de los marcos normativos de la alimentación pública y la especialización de los sistemas agroalimentarios, negligencian la heterogeneidad del padrón de desorden óptimo y las confrontaciones entre actores en relación a múltiples significados (calidad, cantidad, eficiencia y cuidado). En segundo lugar, la construcción de paz es un proceso que vincula disputas de significados y estrategias de movilización, contención y resistencia de los múltiplos actores involucrados. En ese proceso, algunos actores intentan cooptar la voz de la sociedad, generar frustraciones y justificar intervenciones violentas a través de retóricas de la intransigencia (futilidad y amenaza), con el objetivo de mantener la inestabilidad del campo y reproducir su poder. En tercer lugar, los actores desafiadores procuran estrategias para encarar los mecanismos de dominación, subvertir los modelos estandarizados del sistema agroalimentar y disputar recursos y espacios de reconocimiento social con otros actores. De esta forma, la alimentación pública puede ultraspasar las fronteras de la esfera privada (individual), para posicionarse nuevamente en la esfera pública (colectiva). Investigaciones futuras podrían comparar las dinámicas sociales en los períodos subsecuentes a otros acuerdos de paz, analizando las paradojas y coaliciones relacionadas a la contratación pública y al abastecimiento de alimentos en los programas de alimentación que surgen de las tentativas de estandarizar las dinámicas sociales a través de la alimentación, y desvelar las tácticas de dominación presentes en los conflictos armados.application/pdfporPolíticas públicasAlimentaçãoConflito socialViolênciaColômbiaViolenceAgro-food networksPublic food policiesCommunity organizationState-Society relationshipsViolenciaRedes agroalimentariasPolíticas públicas de alimentaciónOrganización comunitariaRelaciones Estado-SociedadAlbert O. 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