Passeando entre a comicidade, a paródia e o estranhamento : o riso na série O Bairro, de Gonçalo Tavares

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Wetmann, Ariadne Leal
Data de Publicação: 2009
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/17661
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar as diversas concepções de comicidade e riso envolvidas nas obras da série O Bairro, de Gonçalo M. Tavares, especificamente O Senhor Henri, O Senhor Valéry e O Senhor Kraus. Tavares é um autor da nova geração da literatura portuguesa que tem intrigado a crítica por sua produção fecunda, seu estilo enxuto e sua temática que parece ir além da reflexão ampla sobre a identidade portuguesa e o pós-colonialismo. No ciclo de obras abordado, os personagens, que carregam o nome de autores canônicos e representam algo do espírito deles, do que se fala sobre eles, interagem com seus "vizinhos" e lhes falam sobre suas visões de mundo peculiares, suscitando o riso em várias passagens. Entretanto, trata-se de um riso multifacetado, por vezes sutil e pleno em estranhamento. Entendemos que existem duas atitudes fundamentais que definem dois principais tipos de riso: o rir de e o rir com. O primeiro é o riso de zombaria, que foi definido com maior clareza por Vladímir Propp (1992), e o segundo constitui a comicidade carnavalesca, teorizada por Mikhail Bakhtin (1987). Verificamos que o riso de zombaria é encarnado com muita criatividade em Kraus e pontua alguns momentos das outras obras, renovando o que Propp denominou como "comédia de caráter". Já Henri e Valéry são imbuídos principalmente pela comicidade carnavalesca, que, em sua ambiguidade, rebaixa e regenera ao mesmo tempo, conferindo valores positivos ao riso, no qual todos estão incluídos. Tal variedade de concepções e alvos de riso torna-se possível graças ao emprego inovador da forma da paródia, entendida como repetição com diferença (HUTCHEON, 1989) ou como uma dimensão que dialoga com a paráfrase, a apropriação e a estilização (SANT'ANNA, 2006). Concluímos que a comicidade veiculada pelos "senhores" é significativa tanto em termos de um novo paradigma para a literatura portuguesa, que universaliza os temas anteriores sem esquecê-los ou menosprezá-los, uma vez que são de uma relevância ímpar para a cultura e o imaginário atual do país; quanto para o cenário mundial da chamada "cultura do lixo", conforme postulada por Zygmunt Bauman (2005), na qual os sujeitos consomem cada vez mais para escapar à ideia de finitude. Encontramos uma dimensão de resistência a essa cultura, à exclusão e ao refugo, por meio da expressão do riso e das paixões e manias peculiares dos personagens, que representam, de alguma forma, a permanência e a infinitude. Torna-se oportuno, ainda, ressaltar que entendemos essa permanência não como algo monolítico, mantendo-se o potencial de diversidade e multiplicidade que costuma ser encarnado pelo riso.
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Entendemos que existem duas atitudes fundamentais que definem dois principais tipos de riso: o rir de e o rir com. O primeiro é o riso de zombaria, que foi definido com maior clareza por Vladímir Propp (1992), e o segundo constitui a comicidade carnavalesca, teorizada por Mikhail Bakhtin (1987). Verificamos que o riso de zombaria é encarnado com muita criatividade em Kraus e pontua alguns momentos das outras obras, renovando o que Propp denominou como "comédia de caráter". Já Henri e Valéry são imbuídos principalmente pela comicidade carnavalesca, que, em sua ambiguidade, rebaixa e regenera ao mesmo tempo, conferindo valores positivos ao riso, no qual todos estão incluídos. Tal variedade de concepções e alvos de riso torna-se possível graças ao emprego inovador da forma da paródia, entendida como repetição com diferença (HUTCHEON, 1989) ou como uma dimensão que dialoga com a paráfrase, a apropriação e a estilização (SANT'ANNA, 2006). Concluímos que a comicidade veiculada pelos "senhores" é significativa tanto em termos de um novo paradigma para a literatura portuguesa, que universaliza os temas anteriores sem esquecê-los ou menosprezá-los, uma vez que são de uma relevância ímpar para a cultura e o imaginário atual do país; quanto para o cenário mundial da chamada "cultura do lixo", conforme postulada por Zygmunt Bauman (2005), na qual os sujeitos consomem cada vez mais para escapar à ideia de finitude. Encontramos uma dimensão de resistência a essa cultura, à exclusão e ao refugo, por meio da expressão do riso e das paixões e manias peculiares dos personagens, que representam, de alguma forma, a permanência e a infinitude. Torna-se oportuno, ainda, ressaltar que entendemos essa permanência não como algo monolítico, mantendo-se o potencial de diversidade e multiplicidade que costuma ser encarnado pelo riso.This study intends to analyze the various conceptions of humor and laughter involved in the works of the series The Neighborhood of Gonçalo M. Tavares, specifically O Senhor Henri, O Senhor Valéry and O Senhor Kraus. Tavares is the author of the new generation of Portuguese literature that has puzzled the critics for his rich production, his sharp, precise, style and his discussion of themes that seems to go beyond the broad reflection on the Portuguese identity and post-colonialism that guided the last decades for the writers of Portugal. In the cycle of works discussed, the characters, which carry the name of canonical authors and represent something of the spirit of them, of what it's said about them, interact with their "neighbors" and talk about their peculiar worldviews, prompting laughter in the several passages. However, it is a multifaceted laugh, sometimes subtle and full of strangeness. We believe that there are two fundamental attitudes which define two main types of laughter, laugh at and laugh with. The first is the mockery laughter, which was defined more clearly by Vladimir Propp (1992), and the second is the carnivalesque comic, theorized by Mikhail Bakhtin (1987). We find that the mockery laughter is very creatively worked in Kraus and marks the other works sometimes, renewing what Propp named as "comedy of character." Valéry and Henri are imbued mainly by carnivalesque comic, which, in its ambiguity, degrades and regenerates at the same time, giving positive values to laughter, in which everyone is included. This variety of conceptions and targets of laughter becomes possible through the innovative use of the form of parody, understood as repetition with difference (HUTCHEON, 1989) or as a dimension that dialogues with paraphrase, appropriation and stylization (SANT'ANNA, 2006). The conclusion is that the comic expressed by the characters is significant both in terms of a new paradigm for Portuguese literature, which makes more universal the prior themes without forget or disregard them, since it has a unique relevance to the culture and imagery current of the country; as for the scene of the " waste culture", as postulated by Zygmunt Bauman (2005), in which subjects consume more to escape the idea of finitude. We found a dimension of resistance to this culture, to the exclusion and the redundancy by means of the expression of laughter and peculiar passions and mannerisms of the characters, which represent, to some extent, continuity and infinity. We also emphasize that we don't understand continuity as something monolithic, while the potential for diversity and variety that is usually part of laughter remains.application/pdfporLiteratura portuguesaLiteratura e HistóriaComicidadeCarnavalizaçãoParódiaCritica e interpretacaoTavares, Gonçalo M., 1970-ComicCarnivalesqueParodyPortuguese literaturePasseando entre a comicidade, a paródia e o estranhamento : o riso na série O Bairro, de Gonçalo Tavaresinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPrograma de Pós-Graduação em LetrasPorto Alegre, BR-RS2009mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000720987.pdf000720987.pdfTexto completoapplication/pdf835074http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/17661/1/000720987.pdf315ffaa14948c22a95a708f464e7f45dMD51TEXT000720987.pdf.txt000720987.pdf.txtExtracted Texttext/plain254981http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/17661/2/000720987.pdf.txt3f6bff9da6e7af72cdcfe1f42386195dMD52THUMBNAIL000720987.pdf.jpg000720987.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg934http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/17661/3/000720987.pdf.jpg97def21f1ff5f62103e30dcc463be3d4MD5310183/176612018-10-16 08:16:40.435oai:www.lume.ufrgs.br:10183/17661Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-16T11:16:40Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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