De “são bichas, mas são nossas” à “diversidade da alegria” : uma história da torcida coligay
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/184514 |
Resumo: | A Coligay é uma torcida do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense que esteve em atividade entre 1977 e os primeiros anos de 1980. Como o nome indica, essa torcida era formada predominantemente por homens identificados como gays, o que já parece ser motivo de surpresa e curiosidade no contexto futebolístico brasileiro, no qual a heterossexualidade, mais do que tomada como norma, é enfatizada como valor. Mas esse agrupamento fez-se notório não (apenas) porque explicitava a homossexualidade de seus integrantes em sua retórica, mas, sobretudo, porque fazia de tal identidade sexual o norteador da performance estética do grupo nas arquibancadas. Uma vez extinta, a torcida caiu em esquecimento, ausente em grande parte dos registros da história do Grêmio e da memória de muitxs torcedorxs. Recentemente, a Coligay tem retornado à visibilidade com destaque à produção de um livro, um documentário e reportagens, além da presença da torcida em um painel no Museu do Grêmio. Tendo esse cenário em vista, esta tese tem como objetivo descrever e analisar a trajetória e memória da torcida Coligay, dando destaque às tensões referentes a gênero e sexualidade que emergem a partir da presença de um coletivo afirmadamente gay no universo futebolístico. Para tal, me embaso na fundamentação teoria dos Estudos Queer. Utilizo como como fontes entrevistas realizadas na perspectiva teórico-metodológica da História Oral junto a integrantes da Coligay, outrxs torcedorxs do Grêmio, jornalistas, assim como ex-jogadores, dirigentes e funcionários do clube. Às fontes orais, acrescento fontes documentais, sendo elas: registros de periódicos, o acervo documental e iconográfico do Museu do Grêmio, livros que tratam da história do clube e artefatos culturais sobre a Coligay e o Grêmio, tais como notícias de sítios eletrônicos, publicações do Facebook e um documentário Identifiquei que houve, naquele período, um cenário de permissividade à formação da Coligay, assim como de outras “torcidas gays”, acompanhando movimentos potencialmente subversivos no campo da cultura. Ainda assim, a existência da Coligay foi possível diante de certas características e estratégias que contribuíram para sua aceitação. Evidenciei que a torcida possui inegável importância entre as torcidas gremistas, não apenas por refutar o suposto caráter universalmente cisheterossexual e viril do futebol, mas também pelo pioneirismo em diversas iniciativas de organização torcedora e performance nas arquibancadas. A Coligay serviu, também, como um espaço de sociabilidade de LGBTs que, através dela, se aproximaram e apropriaram do futebol. Apesar de sua performance torcedora, em muitos aspectos, ser similar àquela de outras torcidas, é recorrente que suas manifestações sejam marcadas pelo que as diferencia: a afeminação que atravessa suas gestualidades. Há constantes deslizamento entre o que entendem como masculinidades e feminilidades, ainda que dentro de limites que xs próprios integrantes se impõem, os quais necessariamente estão articulados à norma e às consequências concretas que sua ultrapassagem representaria. Por fim, lanço a hipótese de um deslocamento em curso sobre o significado da torcida - de “São bichas, mas são nossas” para a “Diversidade da alegria” – inserido em um projeto de afirmação de uma tradição de pluralidade no Grêmio. |
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Anjos, Luiza Aguiar dosGoellner, Silvana Vilodre2018-11-10T03:29:12Z2018http://hdl.handle.net/10183/184514001080189A Coligay é uma torcida do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense que esteve em atividade entre 1977 e os primeiros anos de 1980. Como o nome indica, essa torcida era formada predominantemente por homens identificados como gays, o que já parece ser motivo de surpresa e curiosidade no contexto futebolístico brasileiro, no qual a heterossexualidade, mais do que tomada como norma, é enfatizada como valor. Mas esse agrupamento fez-se notório não (apenas) porque explicitava a homossexualidade de seus integrantes em sua retórica, mas, sobretudo, porque fazia de tal identidade sexual o norteador da performance estética do grupo nas arquibancadas. Uma vez extinta, a torcida caiu em esquecimento, ausente em grande parte dos registros da história do Grêmio e da memória de muitxs torcedorxs. Recentemente, a Coligay tem retornado à visibilidade com destaque à produção de um livro, um documentário e reportagens, além da presença da torcida em um painel no Museu do Grêmio. Tendo esse cenário em vista, esta tese tem como objetivo descrever e analisar a trajetória e memória da torcida Coligay, dando destaque às tensões referentes a gênero e sexualidade que emergem a partir da presença de um coletivo afirmadamente gay no universo futebolístico. Para tal, me embaso na fundamentação teoria dos Estudos Queer. Utilizo como como fontes entrevistas realizadas na perspectiva teórico-metodológica da História Oral junto a integrantes da Coligay, outrxs torcedorxs do Grêmio, jornalistas, assim como ex-jogadores, dirigentes e funcionários do clube. Às fontes orais, acrescento fontes documentais, sendo elas: registros de periódicos, o acervo documental e iconográfico do Museu do Grêmio, livros que tratam da história do clube e artefatos culturais sobre a Coligay e o Grêmio, tais como notícias de sítios eletrônicos, publicações do Facebook e um documentário Identifiquei que houve, naquele período, um cenário de permissividade à formação da Coligay, assim como de outras “torcidas gays”, acompanhando movimentos potencialmente subversivos no campo da cultura. Ainda assim, a existência da Coligay foi possível diante de certas características e estratégias que contribuíram para sua aceitação. Evidenciei que a torcida possui inegável importância entre as torcidas gremistas, não apenas por refutar o suposto caráter universalmente cisheterossexual e viril do futebol, mas também pelo pioneirismo em diversas iniciativas de organização torcedora e performance nas arquibancadas. A Coligay serviu, também, como um espaço de sociabilidade de LGBTs que, através dela, se aproximaram e apropriaram do futebol. Apesar de sua performance torcedora, em muitos aspectos, ser similar àquela de outras torcidas, é recorrente que suas manifestações sejam marcadas pelo que as diferencia: a afeminação que atravessa suas gestualidades. Há constantes deslizamento entre o que entendem como masculinidades e feminilidades, ainda que dentro de limites que xs próprios integrantes se impõem, os quais necessariamente estão articulados à norma e às consequências concretas que sua ultrapassagem representaria. Por fim, lanço a hipótese de um deslocamento em curso sobre o significado da torcida - de “São bichas, mas são nossas” para a “Diversidade da alegria” – inserido em um projeto de afirmação de uma tradição de pluralidade no Grêmio.Coligay is a group of supporters from Grêmio Foot-ball Porto Alegrense that was active between 1977 and the early 1980s. As their name indicates, this crowd was formed predominantly by men identified as gay, which already seems to be cause for surprise and curiosity in the Brazilian football context, in which heterosexuality, rather than taken as a norm, is emphasized as value. But this grouping became notorious not only because it exposed the homosexuality of its members in their rhetoric, but above all because it made such sexual identity the guiding force of the group's aesthetic performance in the stands. Once extinct, the crowd fell into oblivion, largely missing from the records of Grêmio´s history and the memory of many supporters. Recently, Coligay has returned to visibility, featuring the production of a book, a documentary and articles, besides the presence of the supporters in a panel in Grêmio´s Museum. With this scenario in view, this thesis aims to describe and analyze the trajectory and memory of the Coligay fans, highlighting the tensions related to gender and sexuality that emerge from the presence of an assertively gay collective in the football universe. To that end, I have grounded on the perspectives of the Queer Studies. I use as sources interviews conducted in the theoretical-methodological perspective of Oral History with members of Coligay, other supporters of Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, journalists, as well as former players, officials and employees of the club. To the oral sources, I add documentary sources, such as: periodicals, documentary and iconographic collection of Grêmio’s Museum, books dealing with the history of the club and cultural artifacts about Coligay and Grêmio, such as news from electronic sites, publications of Facebook and a documentary I identified that there was, in that period, a scenario of permissiveness to the formation of Coligay, as well as other “gay supporting groups”, accompanying potentially subversive movements in the field of culture. Nevertheless, the existence of Coligay was possible in the face of certain characteristics and strategies that contributed to its acceptance. I pointed out that the crowd has undeniable importance among Gremio’s supporting groups, not only for refuting the supposed universallity os cis/heterossexual and virile character of football, but also for the pioneering in several initiatives of supporter’s organization and performance in the football stands. Coligay also served as a space for sociability of LGBTs who, through it, approached and appropriated football. In spite of its supporting performance, in many ways, being similar to that of other fans, it is recurrent that its manifestations are marked by what differentiates them: the effeminacy that crosses its gestualities. There are constant slips between what they understand as masculinities and femininities, even within the limits that their own members impose themselves, which necessarily are articulated to the norm and the concrete consequences that their overtaking would represent. Finally, I propose the hypothesis of an ongoing shift over the meaning of the crowd - from “They are fags, but they are ours” to the “Diversity of Joy” - inserted in a project of affirmation of a tradition of plurality in Grêmio.application/pdfporColigayGrêmio Foot-Ball Porto AlegrenseSexualidadeTorcida organizadaMasculinidadeColigayGrêmioSupportersSexualitiesMasculinitiesDe “são bichas, mas são nossas” à “diversidade da alegria” : uma história da torcida coligayinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulEscola de Educação Física, Fisioterapia e DançaPrograma de Pós-Graduação em Ciências do Movimento HumanoPorto Alegre, BR-RS2018.doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001080189.pdf.txt001080189.pdf.txtExtracted Texttext/plain1024457http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/184514/2/001080189.pdf.txt6aef3bf8e7cbf652e95a23b21262e55cMD52ORIGINAL001080189.pdfTexto completoapplication/pdf7308058http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/184514/1/001080189.pdff0fb0503a676daebb6a171e0c30293e5MD5110183/1845142018-11-11 02:40:05.614298oai:www.lume.ufrgs.br:10183/184514Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-11-11T04:40:05Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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A Coligay é uma torcida do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense que esteve em atividade entre 1977 e os primeiros anos de 1980. Como o nome indica, essa torcida era formada predominantemente por homens identificados como gays, o que já parece ser motivo de surpresa e curiosidade no contexto futebolístico brasileiro, no qual a heterossexualidade, mais do que tomada como norma, é enfatizada como valor. Mas esse agrupamento fez-se notório não (apenas) porque explicitava a homossexualidade de seus integrantes em sua retórica, mas, sobretudo, porque fazia de tal identidade sexual o norteador da performance estética do grupo nas arquibancadas. Uma vez extinta, a torcida caiu em esquecimento, ausente em grande parte dos registros da história do Grêmio e da memória de muitxs torcedorxs. Recentemente, a Coligay tem retornado à visibilidade com destaque à produção de um livro, um documentário e reportagens, além da presença da torcida em um painel no Museu do Grêmio. Tendo esse cenário em vista, esta tese tem como objetivo descrever e analisar a trajetória e memória da torcida Coligay, dando destaque às tensões referentes a gênero e sexualidade que emergem a partir da presença de um coletivo afirmadamente gay no universo futebolístico. Para tal, me embaso na fundamentação teoria dos Estudos Queer. Utilizo como como fontes entrevistas realizadas na perspectiva teórico-metodológica da História Oral junto a integrantes da Coligay, outrxs torcedorxs do Grêmio, jornalistas, assim como ex-jogadores, dirigentes e funcionários do clube. Às fontes orais, acrescento fontes documentais, sendo elas: registros de periódicos, o acervo documental e iconográfico do Museu do Grêmio, livros que tratam da história do clube e artefatos culturais sobre a Coligay e o Grêmio, tais como notícias de sítios eletrônicos, publicações do Facebook e um documentário Identifiquei que houve, naquele período, um cenário de permissividade à formação da Coligay, assim como de outras “torcidas gays”, acompanhando movimentos potencialmente subversivos no campo da cultura. Ainda assim, a existência da Coligay foi possível diante de certas características e estratégias que contribuíram para sua aceitação. Evidenciei que a torcida possui inegável importância entre as torcidas gremistas, não apenas por refutar o suposto caráter universalmente cisheterossexual e viril do futebol, mas também pelo pioneirismo em diversas iniciativas de organização torcedora e performance nas arquibancadas. A Coligay serviu, também, como um espaço de sociabilidade de LGBTs que, através dela, se aproximaram e apropriaram do futebol. Apesar de sua performance torcedora, em muitos aspectos, ser similar àquela de outras torcidas, é recorrente que suas manifestações sejam marcadas pelo que as diferencia: a afeminação que atravessa suas gestualidades. Há constantes deslizamento entre o que entendem como masculinidades e feminilidades, ainda que dentro de limites que xs próprios integrantes se impõem, os quais necessariamente estão articulados à norma e às consequências concretas que sua ultrapassagem representaria. Por fim, lanço a hipótese de um deslocamento em curso sobre o significado da torcida - de “São bichas, mas são nossas” para a “Diversidade da alegria” – inserido em um projeto de afirmação de uma tradição de pluralidade no Grêmio. |
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