Compromisso do jornalismo com os direitos humanos : revisitando a cobertura da imigração de haitianos e venezuelanos pelo norte do Brasil
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2024 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/275750 |
Resumo: | Na presente tese, partimos de duas premissas para situar o propósito investigativo. A primeira é a de que o jornalismo, ao invés de desvanecer diante da hiperexposição a todo tipo de conteúdo, encontra modos outros de se reafirmar como mediador qualificado por seus métodos e sobretudo pela assunção de novas responsabilidades. A segunda é um inédito e criativo despontar de atores que focalizam temas à revelia do poder constituído, movimento que acaba induzindo o jornalismo institucionalizado a pautar questões antes invisibilizadas, como racismo estrutural, violência intrafamiliar, gênero e sexualidade, emergência climática etc. Nesse contexto, nos propomos a aproximar jornalismo e direitos humanos (Lago, 2023; Moraes, 2019, 2022; Lago, Gonçalves e Kazan, 2019; Piovesan, 2009; Herrera Flores, 2009) a partir do questionamento das bases teóricas daquele primeiro, da sua fundamentação como prática social e da necessidade de que essa instituição incorpore o compromisso com os direitos humanos não só do ponto de vista do público leitor (pautado no direito de ser informado), mas sobretudo pelo respeito às pessoas que povoam as suas narrativas do cotidiano. É nessa problemática que nos debruçamos para questionar o jornalismo institucionalizado e produzido a partir de realidades locais para dar conta de pautas afeitas aos direitos humanos (Ijuim, 2016, 2019), advogando assim por uma accountability jornalística nessas coberturas (Fengler, Eberwein e Karmasin, 2021; Paulino, Bastian e Gomes, 2021; Bertrand, 1999, 2007). De modo específico, investigamos como o jornalismo local amazonense abordou duas migrações transnacionais que se desenrolaram desde a porção Norte do Brasil: a de haitianos, em 2012; e a de venezuelanos, em 2017. Para tanto, usamos três estratégias metodológicas, iniciando pela extração de notícias em três portais (A Crítica, Amazônia e G1) e a sistematização de banco de dados. Em seguida, aplicamos a Análise de Conteúdo (Bardin, 2016) para identificar aspectos quantitativos, no conjunto de 234 textos; e, depois, compreender a abordagem de direitos sociais (saúde, educação, trabalho, moradia e assistência) dos grupos pela leitura e inferências sobre 178 notícias. A seguir, com versão adaptada do protocolo de Análise da Cobertura Jornalística (Silva e Maia, 2011; Santos e Miguel, 2020), analisamos o corpus objetivamente selecionado de 14 notícias, destacando as marcas de apuração e de composição, bem como os contextos interno e externo do assunto pautado. De modo geral, os resultados indicaram a ocorrência de cobertura local prioritariamente voltada à agenda do poder público e às abordagens eleitas por agentes estatais usados como fontes oficiais, a prática do jornalismo declaratório, pouca ou nenhuma diversidade de pontos de vista, tratamento dos sujeitos de cada movimento migratório como personagens de reforço narrativo, viés negativo, reprodução de discursos xenofóbicos pelo uso de termos excludentes ou preconceituosos e pelo não questionamento dessas posições quando adotadas pelas fontes e ausência de pesquisa em fontes secundárias. Por outro lado, houve textos propositivos, que esclareceram posições preconceituosas cristalizadas na sociedade, agregaram vivências dos imigrantes, denunciaram situações de indignidade e trouxeram interpretações de especialistas ao tratarem dos aspectos antropológicos e diferenças culturais, do enquadramento da xenofobia como tipo penal e das responsabilidades do Estado para garantir a dignidade de pessoas migrantes e refugiadas e dos povos tradicionais. Defendemos que a instituição jornalística terá de assumir compromisso a que chamamos restaurativo, ou seja, capaz de restaurá-la como um mediador qualificado no vergastado ecossistema noticioso, ancorando-se em mecanismos de accountability desse campo profissional em particular, da inquirição da pauta até a confrontação do texto final. Em última análise, promovemos aproximação entre a teoria e a prática da reportagem, inclusive quando sugerimos que, ao tratar direitos humanos nas pautas cotidianas, o jornalismo busque fundamento numa ética solidária (Karam, 2019), em vez da utilitária. |
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Souza, Cristiane Naiara Araujo deMuller, Karla Maria2024-06-11T06:19:00Z2024http://hdl.handle.net/10183/275750001205461Na presente tese, partimos de duas premissas para situar o propósito investigativo. A primeira é a de que o jornalismo, ao invés de desvanecer diante da hiperexposição a todo tipo de conteúdo, encontra modos outros de se reafirmar como mediador qualificado por seus métodos e sobretudo pela assunção de novas responsabilidades. A segunda é um inédito e criativo despontar de atores que focalizam temas à revelia do poder constituído, movimento que acaba induzindo o jornalismo institucionalizado a pautar questões antes invisibilizadas, como racismo estrutural, violência intrafamiliar, gênero e sexualidade, emergência climática etc. Nesse contexto, nos propomos a aproximar jornalismo e direitos humanos (Lago, 2023; Moraes, 2019, 2022; Lago, Gonçalves e Kazan, 2019; Piovesan, 2009; Herrera Flores, 2009) a partir do questionamento das bases teóricas daquele primeiro, da sua fundamentação como prática social e da necessidade de que essa instituição incorpore o compromisso com os direitos humanos não só do ponto de vista do público leitor (pautado no direito de ser informado), mas sobretudo pelo respeito às pessoas que povoam as suas narrativas do cotidiano. É nessa problemática que nos debruçamos para questionar o jornalismo institucionalizado e produzido a partir de realidades locais para dar conta de pautas afeitas aos direitos humanos (Ijuim, 2016, 2019), advogando assim por uma accountability jornalística nessas coberturas (Fengler, Eberwein e Karmasin, 2021; Paulino, Bastian e Gomes, 2021; Bertrand, 1999, 2007). De modo específico, investigamos como o jornalismo local amazonense abordou duas migrações transnacionais que se desenrolaram desde a porção Norte do Brasil: a de haitianos, em 2012; e a de venezuelanos, em 2017. Para tanto, usamos três estratégias metodológicas, iniciando pela extração de notícias em três portais (A Crítica, Amazônia e G1) e a sistematização de banco de dados. Em seguida, aplicamos a Análise de Conteúdo (Bardin, 2016) para identificar aspectos quantitativos, no conjunto de 234 textos; e, depois, compreender a abordagem de direitos sociais (saúde, educação, trabalho, moradia e assistência) dos grupos pela leitura e inferências sobre 178 notícias. A seguir, com versão adaptada do protocolo de Análise da Cobertura Jornalística (Silva e Maia, 2011; Santos e Miguel, 2020), analisamos o corpus objetivamente selecionado de 14 notícias, destacando as marcas de apuração e de composição, bem como os contextos interno e externo do assunto pautado. De modo geral, os resultados indicaram a ocorrência de cobertura local prioritariamente voltada à agenda do poder público e às abordagens eleitas por agentes estatais usados como fontes oficiais, a prática do jornalismo declaratório, pouca ou nenhuma diversidade de pontos de vista, tratamento dos sujeitos de cada movimento migratório como personagens de reforço narrativo, viés negativo, reprodução de discursos xenofóbicos pelo uso de termos excludentes ou preconceituosos e pelo não questionamento dessas posições quando adotadas pelas fontes e ausência de pesquisa em fontes secundárias. Por outro lado, houve textos propositivos, que esclareceram posições preconceituosas cristalizadas na sociedade, agregaram vivências dos imigrantes, denunciaram situações de indignidade e trouxeram interpretações de especialistas ao tratarem dos aspectos antropológicos e diferenças culturais, do enquadramento da xenofobia como tipo penal e das responsabilidades do Estado para garantir a dignidade de pessoas migrantes e refugiadas e dos povos tradicionais. Defendemos que a instituição jornalística terá de assumir compromisso a que chamamos restaurativo, ou seja, capaz de restaurá-la como um mediador qualificado no vergastado ecossistema noticioso, ancorando-se em mecanismos de accountability desse campo profissional em particular, da inquirição da pauta até a confrontação do texto final. Em última análise, promovemos aproximação entre a teoria e a prática da reportagem, inclusive quando sugerimos que, ao tratar direitos humanos nas pautas cotidianas, o jornalismo busque fundamento numa ética solidária (Karam, 2019), em vez da utilitária.In this thesis, we start from two premises to situate the investigative purpose. The first is that journalism, instead of fading in the face of hyper-exposure to all types of content, finds other ways of reaffirming itself as a qualified mediator through its methods and above all through the assumption of new responsibilities. The second is an unprecedented and creative emergence of actors who focus on issues beyond the control of constituted power, a movement that ends up inducing institutionalized journalism to focus on previously invisible issues, such as structural racism, intra-family violence, gender and sexuality, climate emergency, etc. In this context, we propose to bring journalism and human rights closer together (Lago, 2023; Moraes, 2019, 2022; Lago, Gonçalves and Kazan, 2019; Piovesan, 2009; Herrera Flores, 2009) by questioning the theoretical bases of that first , its foundation as a social practice and the need for this institution to incorporate a commitment to human rights not only from the point of view of the reading public (based on the right to be informed), but above all through respect for the people who populate its narratives of everyday life. It is this issue that we focus on to question institutionalized journalism produced based on local realities to address issues related to human rights (Ijuim, 2016, 2019), advocating for journalistic accountability in these coverages (Fengler, Eberwein and Karmasin, 2021 ; Paulino, Bastian and Gomes, 2021; More specifically, we investigated how local journalism in Amazonas approached two transnational migrations that took place from the northern portion of Brazil: that of Haitians, in 2012; and that of Venezuelans, in 2017. To this end, we used three methodological strategies, starting by extracting news from three portals (A Crítica, Amazônia and G1) and systematizing the database. We then applied Content Analysis (Bardin, 2016) to identify quantitative aspects in the set of 234 texts; and, later, understand the groups' approach to social rights (health, education, work, housing and assistance) by reading and making inferences about 178 news items. Next, with an adapted version of the Journalistic Coverage Analysis protocol (Silva and Maia, 2011; Santos and Miguel, 2020), we analyzed the objectively selected corpus of 14 news stories, highlighting the verification and composition marks, as well as the internal contexts and external to the subject matter. In general, the results indicated the occurrence of local coverage primarily focused on the public power agenda and the approaches chosen by state agents used as official sources, the practice of declaratory journalism, little or no diversity of points of view, treatment of subjects of each migratory movement as characters of narrative reinforcement, negative bias, reproduction of xenophobic discourses through the use of exclusionary or prejudiced terms and the failure to question these positions when adopted by the sources and the absence of research in secondary sources. On the other hand, there were propositional texts, which clarified prejudiced positions crystallized in society, added experiences of immigrants, denounced situations of indignity and brought interpretations from experts when dealing with anthropological aspects and cultural differences, the framing of xenophobia as a criminal type and the responsibilities of State to guarantee the dignity of migrants and refugees and traditional peoples. We argue that the journalistic institution will have to assume a commitment that we call restorative, that is, capable of restoring it as a qualified mediator in the battered news ecosystem, anchoring itself in accountability mechanisms of this professional field in particular, from the investigation of the agenda to the comparison of the final text. Ultimately, we promote rapprochement between the theory and practice of reporting, including when we suggest that, when dealing with human rights in everyday agendas, journalism seeks to base itself on a solidarity ethic (Karam, 2019), rather than a utilitarian one.application/pdfporJornalismoLocal journalismHuman rightsSolidarity ethicsAccountabilityRestorative commitmentCompromisso do jornalismo com os direitos humanos : revisitando a cobertura da imigração de haitianos e venezuelanos pelo norte do Brasilinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Biblioteconomia e ComunicaçãoPrograma de Pós-Graduação em ComunicaçãoPorto Alegre, BR-RS2024doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001205461.pdf.txt001205461.pdf.txtExtracted Texttext/plain1148271http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/275750/2/001205461.pdf.txt2d753f93a393fc3b6fb4f275bf2a0705MD52ORIGINAL001205461.pdfTexto completoapplication/pdf10742210http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/275750/1/001205461.pdfed53a83c4af920c70f177ea6536289d8MD5110183/2757502024-06-12 05:34:47.043835oai:www.lume.ufrgs.br:10183/275750Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532024-06-12T08:34:47Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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