‘Agora tudo é bullying’ : uma mirada antropológica sobre a agência de uma categoria de acusação no cotidiano brasileiro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bazzo, Juliane
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/174498
Resumo: Esta tese oferta uma mirada antropológica sobre a agência da noção de bullying situada como uma categoria de acusação social no cotidiano contemporâneo brasileiro. Nascido como construto científico durante os anos 70, na região escandinava, o bullying conferiu nome a condutas, típicas em escolas, de intimidação sistemática entre pares, no interior de um decurso civilizatório no Ocidente que passa a atribuir reconhecimento a agressões de feitio moral. No Brasil, a acepção de bullying populariza-se apenas mais tardiamente, em meados da primeira década dos 2000. O espraiamento do conceito no país, inclusive para além dos muros das instituições de ensino, se dá num período sociopolítico específico: aquele de operação sem anterioridade na história nacional de um conjunto de políticas públicas nos campos da inclusão econômica e da diversidade social, alavancadas pelos governos presidenciais do Partido dos Trabalhadores (PT). Essas iniciativas estatais colocam em primeiro plano tensões seculares presentes na sociedade brasileira perante alteridades e iniquidades de naturezas diversas. Tal quadro desencadeia uma série de disputas e confrontos que agência da noção de bullying trabalha por traduzir, comunicar e, concomitantemente, abastecer. Para problematizar isso, esta investigação apresenta-se como uma etnografia multissituada, a perseguir agenciamentos do bullying em diferentes domínios – científico, estatal, educacional, mercadológico e midiático – , em escalas sociológicas micro, intermediária e macro, a partir de acontecimentos ordinários e extraordinários. Os resultados apontam, de um lado, para um construto que, uma vez legitimado científica e politicamente, se revela potente em desencadear processos de subjetivação e estratégias de militância, capazes de denunciar uma gama de segregações e agir sobre elas. De outro lado, contudo, essas mobilizações encontram limites na exata medida que o conceito possui para subsidiar investidas neoliberais de gestão de populações, as quais demandam o autogoverno dos indivíduos em prol de uma pacificação ideal, mediante suspensão de contextos ético-políticos amplos e consequente perpetuação de desigualdades. A consideração dessa dupla faceta própria ao construto do bullying se coloca, assim, fundamental para pensar produções acadêmicas, políticas públicas, programas escolares de intervenção, produtos e serviços, bem como coberturas noticiosas, em ação no passado, ativos no presente ou, ainda, a serem planificados no futuro em favor dos direitos humanos e da justiça social.
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O espraiamento do conceito no país, inclusive para além dos muros das instituições de ensino, se dá num período sociopolítico específico: aquele de operação sem anterioridade na história nacional de um conjunto de políticas públicas nos campos da inclusão econômica e da diversidade social, alavancadas pelos governos presidenciais do Partido dos Trabalhadores (PT). Essas iniciativas estatais colocam em primeiro plano tensões seculares presentes na sociedade brasileira perante alteridades e iniquidades de naturezas diversas. Tal quadro desencadeia uma série de disputas e confrontos que agência da noção de bullying trabalha por traduzir, comunicar e, concomitantemente, abastecer. Para problematizar isso, esta investigação apresenta-se como uma etnografia multissituada, a perseguir agenciamentos do bullying em diferentes domínios – científico, estatal, educacional, mercadológico e midiático – , em escalas sociológicas micro, intermediária e macro, a partir de acontecimentos ordinários e extraordinários. Os resultados apontam, de um lado, para um construto que, uma vez legitimado científica e politicamente, se revela potente em desencadear processos de subjetivação e estratégias de militância, capazes de denunciar uma gama de segregações e agir sobre elas. De outro lado, contudo, essas mobilizações encontram limites na exata medida que o conceito possui para subsidiar investidas neoliberais de gestão de populações, as quais demandam o autogoverno dos indivíduos em prol de uma pacificação ideal, mediante suspensão de contextos ético-políticos amplos e consequente perpetuação de desigualdades. A consideração dessa dupla faceta própria ao construto do bullying se coloca, assim, fundamental para pensar produções acadêmicas, políticas públicas, programas escolares de intervenção, produtos e serviços, bem como coberturas noticiosas, em ação no passado, ativos no presente ou, ainda, a serem planificados no futuro em favor dos direitos humanos e da justiça social.The present dissertation offers an anthropological perspective on the agency of the notion of bullying as a category of social accusation in the Brazilian contemporary everyday life. Born as a scientific construct during the 1970’s in the Scandinavian region, the concept of bullying, within the Western civilization course that now recognizes moral character aggressions, gave a name to typically school-based conducts of systematic intimidation between peers. In Brazil, the notion of bullying is popularized only later, in the first decade of the 2000’s. The concept’s dissemination in the country, even beyond the walls of educational institutions, occurs in a specific sociopolitical period: an unprecedented moment in the national history for the operation of a set of economic inclusion and social diversity policies, leveraged by the presidential governments of the Workers’ Party (PT). These state initiatives bring to the fore secular tensions regarding alterities and inequalities of different natures that have always been present in the Brazilian society. Such framework unleashes a series of disputes and confrontations that the agency of the bullying notion works to translate, to communicate and, at the same time, to instigate. In order to problematize this scenario, this investigation presents itself as a multi-sited ethnography, pursuing bullying agencies in different domains – scientific, state-owned, educational, marketing and media – on micro, intermediate and macro sociological scales, by means of ordinary and extraordinary events. The results point, on the one hand, to a construct that, once legitimated scientifically and politically, proves itself potent in triggering processes of subjectivation and strategies of militancy, capable of denouncing a range of segregations and acting on them. On the other hand, however, these mobilizations find limits in the exact measure that the concept has been subsidizing neoliberal population management efforts, which demand the self-government of individuals for the ideal pacification, through suspending broad ethical and political contexts and consequently with the perpetuation of inequalities. Considering this double facet of the bullying construct is therefore essential for thinking about academic productions, public policies, school intervention programs, products and services, and also the news coverage which were in action in the past, active in the present, and to be planned in the future in favor of human rights and social justice.application/pdfporEstudo etnográficoBullyingViolência escolarViolência institucionalPolítica neoliberalSegregaçãoViolência psicológicaAntropologia socialAgencyMulti-sited ethnographyNeoliberal policiesContemporary Brazil. Social accusations‘Agora tudo é bullying’ : uma mirada antropológica sobre a agência de uma categoria de acusação no cotidiano brasileiroinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Filosofia e Ciências HumanasPrograma de Pós-Graduação em Antropologia SocialPorto Alegre, BR-RS2018doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL001064968.pdf001064968.pdfTexto completoapplication/pdf5549481http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/174498/1/001064968.pdf9850ed7193f55edafbaa87f3b727c8ebMD51TEXT001064968.pdf.txt001064968.pdf.txtExtracted Texttext/plain910127http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/174498/2/001064968.pdf.txt379d19d861026c8d1ba304d15f8c61edMD52THUMBNAIL001064968.pdf.jpg001064968.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1069http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/174498/3/001064968.pdf.jpg6bb966e9411baea556a5dc5c390dd011MD5310183/1744982018-10-29 08:13:11.567oai:www.lume.ufrgs.br:10183/174498Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-29T11:13:11Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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