Do laço social ao corpoema : enlaces entre negritude e psicanálise

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ohnmacht, Taiasmin da Motta
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/205362
Resumo: A presente pesquisa busca compreender como se dá a dialética sujeito-Outro, na situação em que o sujeito porta traços que remetem à negritude, frente a um discurso ideológico racista que se pretende total. Parto da hipótese de que há peculiaridades na constituição psíquica da pessoa negra devido ao apagamento da singularidade do sujeito que a violência racista promove. Há um enredo de expectativas imaginárias para os afrodescendentes que os remete sempre ao mesmo lugar; de pobreza, de serviços subalternos, de subserviência à cultura eurocêntrica, à qual o negro está submetido e com a qual se relaciona, porém, remetido à margem, reencenando sempre o mesmo drama de expropriação de corpo e cultura. Para tanto, foram pesquisados os poemas de um sarau de poesia negra do sul do Brasil, assim como a própria dinâmica do sarau que reserva o lugar de enunciação apenas para as pessoas negras. O texto criativo foi entendido como fenômeno discursivo capaz de elucidar essa relação, traçando aproximações teóricas entre psicanálise, estética e política. O método utilizado foi o método psicanalítico, baseado na transferência da pesquisadora com o sarau, na interpretação, assim como na compreensão dos textos poéticos dentro da perspectiva de análise psicanalítica do discurso. Esta pesquisa partiu da compreensão do racismo como estrutural. No sarau há duas principais vertentes de poemas, os poemas que versam sobre aspectos históricos, e os que compõe a constituição e reconstituição do corpo. Cada poema retraça os limites sempre imprecisos entre sujeito e Outro; a essa composição poética, que é também uma composição de gozo, denominei corpoema. A partir da investigação realizada, foi possível perceber alguns elementos que se repetem nos poemas e que sugerem movimentos específicos do sujeito em relação ao Outro: ao negro, é necessário encontrar referências que digam respeito à sua negritude e que permitam nomear o sofrimento provocado pela violência racista. Assim, na relação com um grupo de pessoas que ocupam o mesmo lugar social, estabelecem-se enunciados que buscam dar conta de um enquadre fantasmático de um Outro que possa ser desejante também das marcas que remetem à africanidade, mas como nenhum traço pode ser totalizante, a alienação é seguida pela separação, afinal a experiência da negritude é singular, e a linguagem poética ajuda a garantir essa singularidade. A identificação que se dá na reunião de pessoas que são quase todas negras remete a identificação ao traço unário, um traço que se repete, mas que na repetição porta a diferença. Esse corpo, que traz em si traços que estão em relação com uma linguagem social, é também sede do gozo, nas bordas dos orifícios de encontro com o Outro. Narrativas poéticas que criam um Outro discurso capaz de acolher as referências à africanidade, que buscam retraçar as bordas do corpo negro e que operam como estratégia de resistência frente à violenta relação de poder colocada pelo racismo.
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Para tanto, foram pesquisados os poemas de um sarau de poesia negra do sul do Brasil, assim como a própria dinâmica do sarau que reserva o lugar de enunciação apenas para as pessoas negras. O texto criativo foi entendido como fenômeno discursivo capaz de elucidar essa relação, traçando aproximações teóricas entre psicanálise, estética e política. O método utilizado foi o método psicanalítico, baseado na transferência da pesquisadora com o sarau, na interpretação, assim como na compreensão dos textos poéticos dentro da perspectiva de análise psicanalítica do discurso. Esta pesquisa partiu da compreensão do racismo como estrutural. No sarau há duas principais vertentes de poemas, os poemas que versam sobre aspectos históricos, e os que compõe a constituição e reconstituição do corpo. Cada poema retraça os limites sempre imprecisos entre sujeito e Outro; a essa composição poética, que é também uma composição de gozo, denominei corpoema. A partir da investigação realizada, foi possível perceber alguns elementos que se repetem nos poemas e que sugerem movimentos específicos do sujeito em relação ao Outro: ao negro, é necessário encontrar referências que digam respeito à sua negritude e que permitam nomear o sofrimento provocado pela violência racista. Assim, na relação com um grupo de pessoas que ocupam o mesmo lugar social, estabelecem-se enunciados que buscam dar conta de um enquadre fantasmático de um Outro que possa ser desejante também das marcas que remetem à africanidade, mas como nenhum traço pode ser totalizante, a alienação é seguida pela separação, afinal a experiência da negritude é singular, e a linguagem poética ajuda a garantir essa singularidade. A identificação que se dá na reunião de pessoas que são quase todas negras remete a identificação ao traço unário, um traço que se repete, mas que na repetição porta a diferença. Esse corpo, que traz em si traços que estão em relação com uma linguagem social, é também sede do gozo, nas bordas dos orifícios de encontro com o Outro. Narrativas poéticas que criam um Outro discurso capaz de acolher as referências à africanidade, que buscam retraçar as bordas do corpo negro e que operam como estratégia de resistência frente à violenta relação de poder colocada pelo racismo.This research seeks to understand how the subject-Other dialectic occurs, in the situation in which the subject bears traces that refer to blackness, in the face of a racist ideological discourse that is intended to be total. I start from the hypothesis that there are peculiarities in the psychic constitution of the black person due to the erasure of the singularity of the subject that racist violence promotes. There is a plot of imaginary expectations for Afro-descendants that always brings them to the same place; of poverty, of subaltern services, of subservience to Eurocentric culture, to which the black person is subjected and to which he relates, however, remitted to the margin, always reenacting the same drama of expropriation of body and culture. In order to do so, the poems of a black poetry gathering of the south of Brazil were searched, as well as the dynamics of the event that reserves the place of enunciation only for the black people. The creative text was understood as a discursive phenomenon capable of elucidating this relation, drawing theoretical approximations between psychoanalysis, aesthetics and politics. The method used was the psychoanalytical method, based on the transference of the researcher with the poetry gathering, in the interpretation, as well as in the understanding of the poetic texts within the perspective of psychoanalytical analysis of discourse This research started from the understanding of racism as structural. In the poetic event there are two main aspects of poems, poems that deal with historical aspects, and those that compose the constitution and reconstitution of the body, each poem retraces the always imprecise limits between subject and Other, to this poetic composition, which is also a composition of joy, I called the corpoema (agglutination of the words color, body and poem, in Portuguese). From the research carried out it was possible to perceive some elements that are repeated in the poems and that suggest specific movements of the subject in relation to the Other: to the black person is necessary to find references that concern their blackness and that allow to name the suffering caused by the racist violence, so in the relationship with a group of people occupying the same social place, statements are established that seek to account for a phantasmatic frame of an Other that may also be desirous of the marks that refer to Africanity, but as no trace can be totalizing, alienation is followed by separation, after all the experience of blackness is singular, and poetic language helps to ensure this singularity. The identification that occurs in the meeting of people who are almost all black, refers the identification to the unary trait, a trait that repeats itself, but that in the repetition carries the difference. This body, which carries in itself traits that are in relation to a social language, is also the seat of enjoyment, on the edges of the orifices of meeting with the Other. Poetic narratives that create an Other discourse capable of accepting the references to Africanity, which seek to retrace the edges of the black body and that act as a strategy of resistance against the violent relation of power posed by racism.application/pdfporNegritudePsicanáliseNegrosRacismoPoesiaBlacknessRacismPsychoanalysisSubject-OtherPsychic constitutionDo laço social ao corpoema : enlaces entre negritude e psicanáliseinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de PsicologiaPrograma de Pós-Graduação em Psicanálise: Clínica e CulturaPorto Alegre, BR-RS2019mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001111299.pdf.txt001111299.pdf.txtExtracted Texttext/plain295076http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/205362/2/001111299.pdf.txt165a9ac9f9e118d8a567e72c0ee1c12eMD52ORIGINAL001111299.pdfTexto completoapplication/pdf2728983http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/205362/1/001111299.pdf3e7275bfbc04e378acc4891cacb36ef3MD5110183/2053622021-05-26 04:30:15.708469oai:www.lume.ufrgs.br:10183/205362Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532021-05-26T07:30:15Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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