Por que as portas fecham? : do capital às demissões em massa

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bianchini, Carla
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/175193
Resumo: O objetivo dessa dissertação é compreender como se dá a relação do trabalhador com atual contexto de acumulação capitalista em situações extremas como a de demissão iminente. Trata-se de um estudo de caso que tem como objeto uma multinacional do setor automotivo que encerrou suas atividades no Rio Grande do Sul em 2016. Objetivou-se discutir sobre como as relações de trabalho e a organização do trabalho foram historicamente construídas e aperfeiçoadas, de forma a tornar a exploração cada vez menos visível para os trabalhadores. Isso possibilita a exploração e consequentemente perpetua e maximiza a acumulação do capital. A análise das entrevistas, triangulada com notícias vinculadas na mídia, dados fornecidos pela empresa e boletins do sindicato, amparados na teoria sugerem que nesta era de financeirização e desterritorialização, alguns mecanismos facilitam a legitimação da exploração. São eles: o discurso do trabalho, a cooptação da subjetividade dos trabalhadores e a falácia da empregabilidade. À medida que a precarização do trabalho se propaga de formas cada vez mais complexas, potencializam-se também as contradições do capital e o trabalhador é colocado cada vez mais sob tensão. Percebe-se que a organização se apropria da subjetividade dos trabalhadores por meio de diferentes mecanismos de gestão e controle. Isso fragiliza os laços sociais, o que tem consequências nas formas de organização coletiva e mecanismos de resistência dos trabalhadores. Posteriormente, apresenta-se a questão da empregabilidade como uma falácia, em que cada vez mais o trabalhador vê-se responsável pelo seu próprio destino, bem como também pelo destino da empresa. Consequente a isso, percebe-se um sentimento de auto-culpabilização e responsabilização excessiva. Finaliza-se analisando os processos de resistência ao fechamento da fábrica. Verifica-se que o trabalhador já não tem mais amparo do seu sindicato, que se encontra enfraquecido politicamente. Outras formas de resistência coletiva articulada também não foram percebidas. Porém, algumas formas individualizadas de resistência foram encontradas, tais como o absenteísmo, boicote ao trabalho e até pequenas sabotagens. Conclui-se que as atuais formas de acumulação de capital, que se valem da desterritorialização, da financeirização e de mecanismos de legitimação da exploração, tornam a situação do trabalhador cada vez mais frágil. O caso da NX ilustra como a abstração do capital e as formas de controle cada vez mais sutis intensificam a precarização do trabalho e diminuem as possibilidades de resistência frente ao capital. As portas fecham porque no processo de reprodução capitalista a lógica das organizações é contribuir para o acúmulo de capital. A medida que essa lógica não atender mais à ética do capital - o lucro, a estratégia passa a ser o fechamento e a transferência para locais com menores custos.
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A análise das entrevistas, triangulada com notícias vinculadas na mídia, dados fornecidos pela empresa e boletins do sindicato, amparados na teoria sugerem que nesta era de financeirização e desterritorialização, alguns mecanismos facilitam a legitimação da exploração. São eles: o discurso do trabalho, a cooptação da subjetividade dos trabalhadores e a falácia da empregabilidade. À medida que a precarização do trabalho se propaga de formas cada vez mais complexas, potencializam-se também as contradições do capital e o trabalhador é colocado cada vez mais sob tensão. Percebe-se que a organização se apropria da subjetividade dos trabalhadores por meio de diferentes mecanismos de gestão e controle. Isso fragiliza os laços sociais, o que tem consequências nas formas de organização coletiva e mecanismos de resistência dos trabalhadores. Posteriormente, apresenta-se a questão da empregabilidade como uma falácia, em que cada vez mais o trabalhador vê-se responsável pelo seu próprio destino, bem como também pelo destino da empresa. Consequente a isso, percebe-se um sentimento de auto-culpabilização e responsabilização excessiva. Finaliza-se analisando os processos de resistência ao fechamento da fábrica. Verifica-se que o trabalhador já não tem mais amparo do seu sindicato, que se encontra enfraquecido politicamente. Outras formas de resistência coletiva articulada também não foram percebidas. Porém, algumas formas individualizadas de resistência foram encontradas, tais como o absenteísmo, boicote ao trabalho e até pequenas sabotagens. Conclui-se que as atuais formas de acumulação de capital, que se valem da desterritorialização, da financeirização e de mecanismos de legitimação da exploração, tornam a situação do trabalhador cada vez mais frágil. O caso da NX ilustra como a abstração do capital e as formas de controle cada vez mais sutis intensificam a precarização do trabalho e diminuem as possibilidades de resistência frente ao capital. As portas fecham porque no processo de reprodução capitalista a lógica das organizações é contribuir para o acúmulo de capital. A medida que essa lógica não atender mais à ética do capital - o lucro, a estratégia passa a ser o fechamento e a transferência para locais com menores custos.The purpose of this dissertation is to understand how the relation of the worker with the current context of capitalist accumulation takes place in extreme situations like the one of imminent mass dismissal. It is a case study that has, as its object, an automotive multinational factory. Such factory closed its doors in Rio Grande do Sul in April 2016. It starts from this object to discuss how labor relations and the organization of work have historically been built and improved in order to make exploitation less visible to workers. Such invisibility enables exploitation and consequently perpetuates and maximizes the accumulation of capital. The analysis of the interviews triangulated with news in the media, data provided by the company and union bulletins, suggest that in this era of financialization and de-territorialization, some mechanisms enable the legitimation of exploitation. These are: the importance of work for the workers, the co-optation of workers’ subjectivity, and the fallacy of employability. As the precarization of work disseminate more and more, the contradictions of the capital are also potentiated and the worker is increasingly placed under tension. It is perceived that the organization appropriates itself from the subjectivity of workers through different management and control mechanisms. This weakens the social ties, which has consequences in the collective forms of organization and in the mechanisms of resistance of the workers. Subsequently, the issue of employability is presented as a fallacy, in which the worker is increasingly responsible for his own destiny, as well as for the fate of the company. As a result, there is a feeling of self-blame and excessive accountability over the worker. It ends by analyzing the processes of resistance before the closure of the factory. It was verified that the worker is no longer supported by his union, which is politically weakened. Other forms of organized resistance were not noticed. However, some individualized forms of resistance have been found, such as absenteeism, boycotting work and even minor sabotages. We conclude that the current forms of accumulation of capital, which use deterritorialization, financialization and mechanisms to legitimize exploitation, make the situation of the worker increasingly fragile. The doors close because in the process of capitalist reproduction the logic of organizations is to contribute to the accumulation of capital. As this logic no longer meets the ethics of capital - the profit, the strategy becomes closing or transfer to places with lower costs.application/pdfporDemissão coletivaRelações trabalhistasMass layoffResistanceEmployabilityCooptation of subjectivityFactory closingPor que as portas fecham? : do capital às demissões em massainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulEscola de AdministraçãoPrograma de Pós-Graduação em AdministraçãoPorto Alegre, BR-RS2017mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL001064894.pdf001064894.pdfTexto completoapplication/pdf1631067http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/175193/1/001064894.pdf296e20f56fe9e3f4f2d8e5950b9edb03MD51TEXT001064894.pdf.txt001064894.pdf.txtExtracted Texttext/plain429168http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/175193/2/001064894.pdf.txt48fcd21a29639193777488693322f08eMD52THUMBNAIL001064894.pdf.jpg001064894.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1055http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/175193/3/001064894.pdf.jpg47d6849d159f420d6684a43eeed947daMD5310183/1751932019-03-16 02:30:18.786369oai:www.lume.ufrgs.br:10183/175193Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532019-03-16T05:30:18Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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