A amargura do Rio que era Doce : às margens da lama e dos processos de aprender a organizar
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/180841 |
Resumo: | O objetivo central da tese foi compreender como se configura a aprendizagem nos processos organizativos de desastres. Realizei uma pesquisa qualitativa à luz da teoria ator-rede como inspiração teórico-metodológica, a partir do crime-desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton ocorrido em novembro de 2015. Na primeira discussão teórica da tese, busquei aproximar processualmente os atos de organizar e aprender, por meio do conceito de aprendizagem organizativa. Na segunda discussão teórica, analisei as questões contemporâneas sobre a temática dos desastres do Brasil, propondo que os desastres são efeitos disruptivos em uma rede de relações heterogêneas, desiguais, atemporais e multiterritoriais, sendo as vulnerabilidades e os perigos constituídos relacionalmente. A pesquisa foi constituída por uma fase preliminar/exploratória e três momentos de imersão no campo: na etapa preliminar realizei um aprofundamento empírico sobre os desastres, especialmente a partir de experiências brasileiras; os três momentos de imersão foram no caso do desastre das empresas, com enfoque para os desdobramentos do desastre no Estado do Espírito Santo. Ao longo do primeiro ano do desastre-crime da Samarco/Vale/BHP, coletei e analisei 1.297 documentos, entrevistas (formais e informais) e registros em diários de campo. Todos os dados foram inseridos no software de análise qualitativa Atlas.ti. A metodologia e a análise dos dados foram realizadas a partir do mapeamento das principais controvérsias que emergiram das relações entre os atores do estudo, uma das possibilidades da teoria ator-rede enquanto método e que se constitui uma das contribuições desta pesquisa A partir das discussões teóricas e empíricas, foi possível observar que os desastres geram uma latência organizativa, que se constitui num estado abstrato e transitório de disposição para aprender a organizar. Essa latência impulsiona os processos de aprendizagem organizativa, que são os modos de cooperar e se fazer coletivamente, em movimento e instáveis, cognoscíveis pelo aprender e pelos saberes-em-ato (knowing); eles são estabelecidos numa rede de relações heterogêneas em múltiplas formas de espacialidades, podendo se inscrever e formar uma tessitura de práticas, sendo que as condições de possibilidades para a sua realização e participação não são dadas, podendo também servir como um meio para superar, combater as desigualdades, e formar outros fazeres e práticas. Pelas imersões de campo, foi possível analisar que os processos de aprendizagem organizativa se configuraram de modo excludente, nos quais alguns atores (como os sujeitos atingidos pelo desastre das empresas) foram ausências-presentes nesses processos. Dada a dinâmica formada pela exclusão e pelas tensões originadas nos conflitos, desigualdades e divergências (controvérsias), os processos organizativos se tornaram múltiplos, oportunizando que os sujeitos excluídos de algumas práticas organizativas pudessem aprender a se organizar em outras relações, para superar e combater as desigualdades geradas nos desastres. |
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Bussular, Camilla ZanonAntonello, Cláudia Simone2018-07-31T02:33:40Z2017http://hdl.handle.net/10183/180841001072860O objetivo central da tese foi compreender como se configura a aprendizagem nos processos organizativos de desastres. Realizei uma pesquisa qualitativa à luz da teoria ator-rede como inspiração teórico-metodológica, a partir do crime-desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton ocorrido em novembro de 2015. Na primeira discussão teórica da tese, busquei aproximar processualmente os atos de organizar e aprender, por meio do conceito de aprendizagem organizativa. Na segunda discussão teórica, analisei as questões contemporâneas sobre a temática dos desastres do Brasil, propondo que os desastres são efeitos disruptivos em uma rede de relações heterogêneas, desiguais, atemporais e multiterritoriais, sendo as vulnerabilidades e os perigos constituídos relacionalmente. A pesquisa foi constituída por uma fase preliminar/exploratória e três momentos de imersão no campo: na etapa preliminar realizei um aprofundamento empírico sobre os desastres, especialmente a partir de experiências brasileiras; os três momentos de imersão foram no caso do desastre das empresas, com enfoque para os desdobramentos do desastre no Estado do Espírito Santo. Ao longo do primeiro ano do desastre-crime da Samarco/Vale/BHP, coletei e analisei 1.297 documentos, entrevistas (formais e informais) e registros em diários de campo. Todos os dados foram inseridos no software de análise qualitativa Atlas.ti. A metodologia e a análise dos dados foram realizadas a partir do mapeamento das principais controvérsias que emergiram das relações entre os atores do estudo, uma das possibilidades da teoria ator-rede enquanto método e que se constitui uma das contribuições desta pesquisa A partir das discussões teóricas e empíricas, foi possível observar que os desastres geram uma latência organizativa, que se constitui num estado abstrato e transitório de disposição para aprender a organizar. Essa latência impulsiona os processos de aprendizagem organizativa, que são os modos de cooperar e se fazer coletivamente, em movimento e instáveis, cognoscíveis pelo aprender e pelos saberes-em-ato (knowing); eles são estabelecidos numa rede de relações heterogêneas em múltiplas formas de espacialidades, podendo se inscrever e formar uma tessitura de práticas, sendo que as condições de possibilidades para a sua realização e participação não são dadas, podendo também servir como um meio para superar, combater as desigualdades, e formar outros fazeres e práticas. Pelas imersões de campo, foi possível analisar que os processos de aprendizagem organizativa se configuraram de modo excludente, nos quais alguns atores (como os sujeitos atingidos pelo desastre das empresas) foram ausências-presentes nesses processos. Dada a dinâmica formada pela exclusão e pelas tensões originadas nos conflitos, desigualdades e divergências (controvérsias), os processos organizativos se tornaram múltiplos, oportunizando que os sujeitos excluídos de algumas práticas organizativas pudessem aprender a se organizar em outras relações, para superar e combater as desigualdades geradas nos desastres.The main objective of the thesis was to understand how learning is configured in organizational processes of disasters. I conducted a qualitative research in the light of actor-network theory as a theoretical-methodological inspiration, starting from the Samarco/Vale/BHP Billiton crime-disaster that occurred in November of 2015. In the first theoretical discussion of the thesis, I tried to procedurally approach the acts of organizing and learning, through the concept of organizational learning. In the second theoretical discussion, I analyzed contemporary issues on Brazil's disasters, proposing that disasters are disruptive effects in a network of heterogeneous, unequal, timeless and multi-territorial relations, with vulnerabilities and dangers being constituted relationally. The research consisted of a preliminary/exploratory phase and three moments of immersion in the field: in the preliminary stage I realized an empirical deepening on the disasters, especially from Brazilian experiences; the three moments of immersion were in the case of the disaster of the companies, with focus on the unfolding of the disaster in the State of Espírito Santo. Throughout the first year of the Samarco/Vale/BHP crime-disaster, I collected and analyzed 1,297 documents, interviews (formal and informal) and records in field journals. All data were entered into the qualitative analysis software Atlas.ti. The methodology and data analysis were performed from the mapping of the main controversies that emerged from the relations between the actors of the study, one of the possibilities of actor-network theory as a method and that is one of the contributions of this research From the theoretical and empirical discussions, it was possible to observe that disasters generate an organizational latency, which constitutes an abstract and transitory state of disposition to learn how to organize. This latency drives the processes of organizational learning, which are ways of cooperating and doing collectively, moving and unstable, knowable by learning and knowing-in-act; they are established in a network of heterogeneous relations in multiple forms of spatiality, and can register and form a texture of practices, and the conditions of possibilities for their realization and participation are not given, and can also serve as a means to overcome, combat inequalities, and to form other doings and practices. Due to the field immersions, it was possible to analyze that organizational learning processes were configured in an exclusive way, in which some actors (such as the subjects affected by corporate disaster) were present-absences in these processes. Given the dynamics of exclusion and tensions arisen from conflicts, inequalities, and divergences (controversies), organizational processes became multiple, allowing the excluded subjects of some organizational practices to learn to organize in other relationships, to overcome and combat inequalities generated by disasters.application/pdfporAprendizagemDesastresDisastersSamarco / Vale / BHP crime-disasterActor-network theoryOrganizational learningA amargura do Rio que era Doce : às margens da lama e dos processos de aprender a organizarinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulEscola de AdministraçãoPrograma de Pós-Graduação em AdministraçãoPorto Alegre, BR-RS2017doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL001072860.pdfTexto completoapplication/pdf15335581http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/180841/1/001072860.pdfd43e499b5ce8d1267d54219ded746624MD51TEXT001072860.pdf.txt001072860.pdf.txtExtracted Texttext/plain760374http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/180841/2/001072860.pdf.txt117d67be4e849b6fcfb278ceb269fd76MD52THUMBNAIL001072860.pdf.jpg001072860.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1149http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/180841/3/001072860.pdf.jpgfeb1fd58274202c2e85da8bb717eb589MD5310183/1808412018-10-05 07:34:18.207oai:www.lume.ufrgs.br:10183/180841Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-05T10:34:18Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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