A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Aguiar, Amália Gabriela Rocha
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/275724
Resumo: A mandioca é parte fundante do modo de vida quilombola desde o início da formação de quilombos no Brasil. A partir da relação entre a mandioca e os quilombolas pode-se entender o processo de constituição e manutenção desses territórios conquistados por direitos legítimos muito embora possa haver êxodo rural, masculinização do campo e descontinuidade na sucessão familiar pela juventude o que pode fragilizar a continuidade de práticas e saberes identitários. Diante desse contexto, a pesquisa se coloca em responder os seguintes questionamentos: i) Quais os elementos que concorrem para a continuidade e afirmação de um território quilombola? ii) Como um quilombo pode passar de um território de resistência a um território de existência, tendo a mandioca e o saber-fazer farinha de mandioca como a prática essencial do processo? Com intuito de encontrar as respostas às questões levantadas e com foco nas articulações sociais e organizacionais e atentas às alianças recíprocas e solidárias com os quilombolas, o trabalho apresenta como objetivo geral compreender o processo de constituição do território e da territorialidade dos remanescentes de quilombos da comunidade Porto Alegre, em Cametá (PA), a partir da sociomaterialidade da mandioca e do saber-fazer farinha de mandioca. Para isso foi utilizada a perspectiva sociomaterial amparada por Inglod (2015) e a perspectiva quilombola de Nêgo Bispo, Santos (2015) para identificar e analisar os fluxos entre a mandioca e os quilombolas no território de resistência-existência e de uso e gestão comum. Foi utilizado as ferramentas de coletas de dados como a pesquisa bibliográfica, observação da paisagem e observação participante (Favret-Saada, 1990; Minayo, 2001), diário de campo, fotografia (Bateson; Mead, 1942) e a técnica de bola de neve que serviram como o fio condutor do processo de análise territorial a partir da mandioca e do saber-fazer farinha de mandioca permitindo descreverem minúcias, dando suporte para as análises interpretativas da dinâmica da comunidade. Além disso, foi utilizado na organização, estruturação e nos processos inferenciais de entrevistas e questionários abertos o Iramuteq do qual auxiliou na comparação de narrativas sobre o saber-fazer farinha e os processos de identificação e identidade quilombola representando graficamente as palavras que representam os quilombolas da comunidade. Os resultados mostraram que as famílias de Porto Alegre possuem a farinha de mandioca como elemento principal de renda, sendo complementado por benefícios sociais, comércio e serviço. E que o saber-fazer farinha e o saber-comer farinha são realizados a partir de uma coagência de fluxos de pessoas e coisas em uma interação orgânica do qual estão imbricados nos saberes e práticas que especificam esse território como a prática dos convidados no preparo da terra, no plantar-maniva, no fazer a farinha e de forma restrita no fazer a venda da farinha. Portanto, o trabalho conclui que a mandioca e o saber-fazer farinha (re) configuram o território de Porto Alegre, Cametá, PA, a medida que os quilombolas biointeragem com os elementos da natureza do território em questão e confluem com a sociedade em geral.
id URGS_dcd72dcc045bfb6e0167459a6d6138fa
oai_identifier_str oai:www.lume.ufrgs.br:10183/275724
network_acronym_str URGS
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
repository_id_str 1853
spelling Aguiar, Amália Gabriela RochaKubo, Rumi Regina2024-06-11T06:18:45Z2023http://hdl.handle.net/10183/275724001205478A mandioca é parte fundante do modo de vida quilombola desde o início da formação de quilombos no Brasil. A partir da relação entre a mandioca e os quilombolas pode-se entender o processo de constituição e manutenção desses territórios conquistados por direitos legítimos muito embora possa haver êxodo rural, masculinização do campo e descontinuidade na sucessão familiar pela juventude o que pode fragilizar a continuidade de práticas e saberes identitários. Diante desse contexto, a pesquisa se coloca em responder os seguintes questionamentos: i) Quais os elementos que concorrem para a continuidade e afirmação de um território quilombola? ii) Como um quilombo pode passar de um território de resistência a um território de existência, tendo a mandioca e o saber-fazer farinha de mandioca como a prática essencial do processo? Com intuito de encontrar as respostas às questões levantadas e com foco nas articulações sociais e organizacionais e atentas às alianças recíprocas e solidárias com os quilombolas, o trabalho apresenta como objetivo geral compreender o processo de constituição do território e da territorialidade dos remanescentes de quilombos da comunidade Porto Alegre, em Cametá (PA), a partir da sociomaterialidade da mandioca e do saber-fazer farinha de mandioca. Para isso foi utilizada a perspectiva sociomaterial amparada por Inglod (2015) e a perspectiva quilombola de Nêgo Bispo, Santos (2015) para identificar e analisar os fluxos entre a mandioca e os quilombolas no território de resistência-existência e de uso e gestão comum. Foi utilizado as ferramentas de coletas de dados como a pesquisa bibliográfica, observação da paisagem e observação participante (Favret-Saada, 1990; Minayo, 2001), diário de campo, fotografia (Bateson; Mead, 1942) e a técnica de bola de neve que serviram como o fio condutor do processo de análise territorial a partir da mandioca e do saber-fazer farinha de mandioca permitindo descreverem minúcias, dando suporte para as análises interpretativas da dinâmica da comunidade. Além disso, foi utilizado na organização, estruturação e nos processos inferenciais de entrevistas e questionários abertos o Iramuteq do qual auxiliou na comparação de narrativas sobre o saber-fazer farinha e os processos de identificação e identidade quilombola representando graficamente as palavras que representam os quilombolas da comunidade. Os resultados mostraram que as famílias de Porto Alegre possuem a farinha de mandioca como elemento principal de renda, sendo complementado por benefícios sociais, comércio e serviço. E que o saber-fazer farinha e o saber-comer farinha são realizados a partir de uma coagência de fluxos de pessoas e coisas em uma interação orgânica do qual estão imbricados nos saberes e práticas que especificam esse território como a prática dos convidados no preparo da terra, no plantar-maniva, no fazer a farinha e de forma restrita no fazer a venda da farinha. Portanto, o trabalho conclui que a mandioca e o saber-fazer farinha (re) configuram o território de Porto Alegre, Cametá, PA, a medida que os quilombolas biointeragem com os elementos da natureza do território em questão e confluem com a sociedade em geral.Cassava has been a fundamental part of the quilombola way of life since the beginning of the formation of quilombos in Brazil. From the relationship between cassava and quilombolas, one can understand the process of constitution and maintenance of these territories conquered by legitimate rights, although there may be rural exodus, masculinization of the countryside and discontinuity in family succession by youth, which can weaken the continuity of identity practices and knowledge. Given this context, the research seeks to answer the following questions: i) What are the elements that contribute to the continuity and affirmation of a quilombola territory? ii) How can a quilombo move from a territory of resistance to a territory of existence, with cassava and cassava flour know-how as the essential practice of the process? In order to find answers to the questions raised and focusing on social and organizational articulations and attentive to reciprocal and supportive alliances with the quilombolas, the work presents as a general objective to understand the process of constitution of the territory and the territoriality of the remaining quilombos in the community Porto Alegre, in Cametá (PA), based on the sociomateriality of cassava and the know-how of cassava flour. For this, the sociomaterial perspective supported by Inglod (2015) and the quilombola perspective of Nêgo Bispo, Santos (2015) were used to identify and analyze the flows between cassava and quilombolas in the territory of resistance-existence and common use and management. Data collection tools such as bibliographical research, landscape observation and participant observation (Favret-Saada, 1990; Minayo, 2001), field diary, photography (Bateson And Mead, 1942) and the snowball technique were used. which served as the guiding thread of the territorial analysis process based on cassava and cassava flour know-how, allowing them to describe details, providing support for the interpretative analyzes of the community dynamics. Furthermore, Iramuteq was used in the organization, structuring and inferential processes of interviews and open questionnaires, which helped in the comparison of narratives about flour know-how and the processes of quilombola identification and identity, graphically representing the words that represent the quilombolas of the community. The results showed that families in Porto Alegre have cassava flour as their main source of income, being complemented by social benefits, commerce and services. And that the know-how to make flour and the know-how to eat flour are carried out through a co-agency of flows of people and things in an organic interaction which are intertwined with the knowledge and practices that specify this territory, such as the practice of the guests in preparing the land, not planting maniva, not making flour and, in a restricted way, not selling the flour. Therefore, the work concludes that cassava and flour know-how (re)configure the territory of Porto Alegre, Cametá, PA, as the quilombolas biointeract with the natural elements of the territory in question and converge with society in general.application/pdfporTerritórioQuilombosProduçãoMandiocaKnow-howManioc flourTerritoryQuilomboA sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Orientalinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Ciências EconômicasPrograma de Pós-Graduação em Desenvolvimento RuralPorto Alegre, BR-RS2023doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001205478.pdf.txt001205478.pdf.txtExtracted Texttext/plain591628http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/275724/2/001205478.pdf.txt8db0a7c447992daf46d41e5d94d95424MD52ORIGINAL001205478.pdfTexto completoapplication/pdf15376022http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/275724/1/001205478.pdfd44132b2c1be71c2e6c9ecf70e8afa82MD5110183/2757242024-06-12 05:33:42.427365oai:www.lume.ufrgs.br:10183/275724Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532024-06-12T08:33:42Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental
title A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental
spellingShingle A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental
Aguiar, Amália Gabriela Rocha
Território
Quilombos
Produção
Mandioca
Know-how
Manioc flour
Territory
Quilombo
title_short A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental
title_full A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental
title_fullStr A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental
title_full_unstemmed A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental
title_sort A sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer farinha na (re) configuração de um território quilombola na Amazônia Oriental
author Aguiar, Amália Gabriela Rocha
author_facet Aguiar, Amália Gabriela Rocha
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Aguiar, Amália Gabriela Rocha
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Kubo, Rumi Regina
contributor_str_mv Kubo, Rumi Regina
dc.subject.por.fl_str_mv Território
Quilombos
Produção
Mandioca
topic Território
Quilombos
Produção
Mandioca
Know-how
Manioc flour
Territory
Quilombo
dc.subject.eng.fl_str_mv Know-how
Manioc flour
Territory
Quilombo
description A mandioca é parte fundante do modo de vida quilombola desde o início da formação de quilombos no Brasil. A partir da relação entre a mandioca e os quilombolas pode-se entender o processo de constituição e manutenção desses territórios conquistados por direitos legítimos muito embora possa haver êxodo rural, masculinização do campo e descontinuidade na sucessão familiar pela juventude o que pode fragilizar a continuidade de práticas e saberes identitários. Diante desse contexto, a pesquisa se coloca em responder os seguintes questionamentos: i) Quais os elementos que concorrem para a continuidade e afirmação de um território quilombola? ii) Como um quilombo pode passar de um território de resistência a um território de existência, tendo a mandioca e o saber-fazer farinha de mandioca como a prática essencial do processo? Com intuito de encontrar as respostas às questões levantadas e com foco nas articulações sociais e organizacionais e atentas às alianças recíprocas e solidárias com os quilombolas, o trabalho apresenta como objetivo geral compreender o processo de constituição do território e da territorialidade dos remanescentes de quilombos da comunidade Porto Alegre, em Cametá (PA), a partir da sociomaterialidade da mandioca e do saber-fazer farinha de mandioca. Para isso foi utilizada a perspectiva sociomaterial amparada por Inglod (2015) e a perspectiva quilombola de Nêgo Bispo, Santos (2015) para identificar e analisar os fluxos entre a mandioca e os quilombolas no território de resistência-existência e de uso e gestão comum. Foi utilizado as ferramentas de coletas de dados como a pesquisa bibliográfica, observação da paisagem e observação participante (Favret-Saada, 1990; Minayo, 2001), diário de campo, fotografia (Bateson; Mead, 1942) e a técnica de bola de neve que serviram como o fio condutor do processo de análise territorial a partir da mandioca e do saber-fazer farinha de mandioca permitindo descreverem minúcias, dando suporte para as análises interpretativas da dinâmica da comunidade. Além disso, foi utilizado na organização, estruturação e nos processos inferenciais de entrevistas e questionários abertos o Iramuteq do qual auxiliou na comparação de narrativas sobre o saber-fazer farinha e os processos de identificação e identidade quilombola representando graficamente as palavras que representam os quilombolas da comunidade. Os resultados mostraram que as famílias de Porto Alegre possuem a farinha de mandioca como elemento principal de renda, sendo complementado por benefícios sociais, comércio e serviço. E que o saber-fazer farinha e o saber-comer farinha são realizados a partir de uma coagência de fluxos de pessoas e coisas em uma interação orgânica do qual estão imbricados nos saberes e práticas que especificam esse território como a prática dos convidados no preparo da terra, no plantar-maniva, no fazer a farinha e de forma restrita no fazer a venda da farinha. Portanto, o trabalho conclui que a mandioca e o saber-fazer farinha (re) configuram o território de Porto Alegre, Cametá, PA, a medida que os quilombolas biointeragem com os elementos da natureza do território em questão e confluem com a sociedade em geral.
publishDate 2023
dc.date.issued.fl_str_mv 2023
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2024-06-11T06:18:45Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10183/275724
dc.identifier.nrb.pt_BR.fl_str_mv 001205478
url http://hdl.handle.net/10183/275724
identifier_str_mv 001205478
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron:UFRGS
instname_str Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron_str UFRGS
institution UFRGS
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
bitstream.url.fl_str_mv http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/275724/2/001205478.pdf.txt
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/275724/1/001205478.pdf
bitstream.checksum.fl_str_mv 8db0a7c447992daf46d41e5d94d95424
d44132b2c1be71c2e6c9ecf70e8afa82
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
repository.mail.fl_str_mv lume@ufrgs.br||lume@ufrgs.br
_version_ 1810085643197349888