(Re)pensando a cooperação : o engendramento processual do cooperar e do organizar nas redes agroalimentares alternativas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Tomazzoni, Gean Carlos
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/246197
Resumo: O objetivo desta tese é [foi e continua sendo] compreender a cooperação como prática performada para e nos processos organizativos das redes agroalimentares alternativas. A principal inspiração teórica-metodológica é o repertório da teoria ator-rede, que me provocou a assumir a performatividade da construção do método de pesquisa com o campo empírico. O ponto de partida foi o ingresso no campo, tendo como porta de entrada a GiraSol, cooperativa de consumidores localizada na cidade de Porto Alegre. Essa cooperativa é entendida por mim como um enclave privilegiado para investigação do encontro entre produtores, consumidores e muitos outros atores que constituem uma rede agroalimentar alternativa. As pistas produzidas pela investigação na GiraSol abriram novas possibilidades de estudo e, consequentemente, outros quatro territórios apresentaram-se relevantes à pesquisa: Rede de Economia Solidária e Feminista (RESF), Associação da Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária (RedeCoop), Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMAFITT) e Grupo Orgânicos Mãos na Terra. As relações performadas por esses cinco territórios constituem o que delimito como rede agroalimentar alternativa. Provocado a construir um método inventivo, como proposto por John Law, a construção do percurso metodológico articulou técnicas de observações empíricas, levantamento documental e entrevistas. Com o objetivo de não descolar os esforços analíticos do percurso metodológico no campo empírico, mobilizei a noção de hinterlands da teoria ator-rede para propiciar uma possibilidade de compreensão da dinâmica da rede de relações instauradas pelos cinco territórios de pesquisa. Nessa trama de relações, a cooperação emerge como temática e campo teórico. As contribuições teóricas partem da problematização dos pressupostos subjacentes sobre os quais a literatura dominante sobre cooperação desenvolveu-se, no domínio dos estudos organizacionais. O prisma dessa problematização motivou o tensionamento das propostas teóricas de autores clássicos – Chester Barnard, Elton Mayo e Amitai Etzioni –, que assumem a cooperação como um fenômeno abstrato, humano, intencional, gerenciável, auspicioso, utilitário, precedente às práticas organizativas. Confeccionada a rede e aproximando-me dos escritos de Richard Sennett sobre cooperação dialógica, chego à compreensão da cooperação como prática performada no acontecimento das redes agroalimentares alternativas. Os resultados da investigação diferenciam-se das proposições dos autores clássicos, mostrando que a cooperação é algo múltiplo, que não depende de ideias, projetos e propósitos comuns para acontecer. As práticas organizativas nas redes agroalimentares alternativas performam e são performadas por processos vivos e constantemente negociados entre seus artífices, que não têm a unidade como requisito para participar do processo cooperativo. Nesse emaranhado de práticas, a cooperação é política, porque a rede agroalimentar alternativa é um acontecimento político que dá lugar àqueles que ‘teimam em existir’ e compor seu mundo, como algo múltiplo e repleto de denominadores incomuns. As cooperações acontecem de distintas formas, mobilizando realidades e atores heterogêneos – humanos e não humanos –, que ora se encontram, ora se chocam, ora se sobrepõem, mas que sempre encontram espaços para cooperar. A compreensão da cooperação como processo múltiplo e efêmero enriquece, criticamente, a literatura no domínio dos estudos organizacionais e oferece novas possibilidades de explorar as múltiplas cooperações emergentes nos engendramentos dos processos de cooperar e organizar.
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As pistas produzidas pela investigação na GiraSol abriram novas possibilidades de estudo e, consequentemente, outros quatro territórios apresentaram-se relevantes à pesquisa: Rede de Economia Solidária e Feminista (RESF), Associação da Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária (RedeCoop), Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMAFITT) e Grupo Orgânicos Mãos na Terra. As relações performadas por esses cinco territórios constituem o que delimito como rede agroalimentar alternativa. Provocado a construir um método inventivo, como proposto por John Law, a construção do percurso metodológico articulou técnicas de observações empíricas, levantamento documental e entrevistas. Com o objetivo de não descolar os esforços analíticos do percurso metodológico no campo empírico, mobilizei a noção de hinterlands da teoria ator-rede para propiciar uma possibilidade de compreensão da dinâmica da rede de relações instauradas pelos cinco territórios de pesquisa. Nessa trama de relações, a cooperação emerge como temática e campo teórico. As contribuições teóricas partem da problematização dos pressupostos subjacentes sobre os quais a literatura dominante sobre cooperação desenvolveu-se, no domínio dos estudos organizacionais. O prisma dessa problematização motivou o tensionamento das propostas teóricas de autores clássicos – Chester Barnard, Elton Mayo e Amitai Etzioni –, que assumem a cooperação como um fenômeno abstrato, humano, intencional, gerenciável, auspicioso, utilitário, precedente às práticas organizativas. Confeccionada a rede e aproximando-me dos escritos de Richard Sennett sobre cooperação dialógica, chego à compreensão da cooperação como prática performada no acontecimento das redes agroalimentares alternativas. Os resultados da investigação diferenciam-se das proposições dos autores clássicos, mostrando que a cooperação é algo múltiplo, que não depende de ideias, projetos e propósitos comuns para acontecer. As práticas organizativas nas redes agroalimentares alternativas performam e são performadas por processos vivos e constantemente negociados entre seus artífices, que não têm a unidade como requisito para participar do processo cooperativo. Nesse emaranhado de práticas, a cooperação é política, porque a rede agroalimentar alternativa é um acontecimento político que dá lugar àqueles que ‘teimam em existir’ e compor seu mundo, como algo múltiplo e repleto de denominadores incomuns. As cooperações acontecem de distintas formas, mobilizando realidades e atores heterogêneos – humanos e não humanos –, que ora se encontram, ora se chocam, ora se sobrepõem, mas que sempre encontram espaços para cooperar. A compreensão da cooperação como processo múltiplo e efêmero enriquece, criticamente, a literatura no domínio dos estudos organizacionais e oferece novas possibilidades de explorar as múltiplas cooperações emergentes nos engendramentos dos processos de cooperar e organizar.The aim of this dissertation has been [and shall continue to be] to understand cooperation as practice performed for and in organizational processes of agri-food alternative networks. The main theoretic-methodological inspiration is actor-network theory, thus assuming performativity in the building of the research method with the empirical field. The starting point was entering into the field, at first in GiraSol, a consumer cooperative located in the city of Porto Alegre. I understand this cooperative as privileged enclave for investigating the encounter between producers, consumers and many other actors that constitute an agri-food alternative network. Investigation at GiraSol has produced clues that offered new possibilities and, consequently, four other territories became relevant in the study: Rede de Economia Solidária e Feminista (RESF), Associação da Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária (RedeCoop), Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMAFITT) e Grupo Orgânicos Mãos na Terra. Relationships performed by these five territories constitute what I define as an agri-food alternative network. Committed to an inventive method, as proposed by John Law, the methodological path was composed of techniques such as empirical observations, collection of documents and interviews. So as to avoid detaching analytical efforts from the methodological path in the empirical field, I have applied the notion of hinterlands, one able to provide an understanding on the dynamics of the network relationships enacted by the five research territories. In this web of relationships, cooperation emerges as theme and theoretical field. This research contributes to questioning underlying theoretical assumptions about cooperation in mainstream organization studies literature. It has problematized theoretical propositions from classic authors – Chester Barnard, Elton Mayo and Amitai Etzioni –, who describe cooperation as an abstract, human, intentional, manageable, auspicious, utilitarian phenomenon, preceding organizational practices. Having the network configured and having approached the writings by Richard Sennet on dialogic practical cooperation, I could then understand cooperation as a practice that is performed in the enactment of agri-food alternative networks. Research results are different from classic authors’ propositions, demonstrating cooperation as multiple and not dependant on ideas, projects and common purposes to take place. Organizational practices of agri-food alternative networks perform and are performed by living processes, constantly negotiated by their craftsmen, who are not demanded unity to participate in the cooperation process. In such tangle of practices, cooperation is political, since an agri-food alternative network is a political event from those who “stubbornly resist” and compose their world. It is multiple and full of uncommon denominators. Cooperation takes place in distinct ways, mobilizing realities and heterogeneous human and non-human authors, who/which sometimes meet, collide, or overlap, always finding space to cooperate. Understanding cooperation as multiple and ephemeral process contributes in a critical manner to the literature on the field of organization studies, offering new possibilities to explore multiple processes of cooperation emerging from the enactment of cooperation and organizing.application/pdfporAgricultura ecológicaOrganizaçãoTeoria ator-redeCooperaçãoCooperationOrganizationAgri-food alternative networksActor-network theory(Re)pensando a cooperação : o engendramento processual do cooperar e do organizar nas redes agroalimentares alternativasinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulEscola de AdministraçãoPrograma de Pós-Graduação em AdministraçãoPorto Alegre, BR-RS2022doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001146996.pdf.txt001146996.pdf.txtExtracted Texttext/plain999951http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/246197/2/001146996.pdf.txt7ac2edd26c9e402dfedb5235eae31d2cMD52ORIGINAL001146996.pdfTexto completoapplication/pdf8347726http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/246197/1/001146996.pdf9ac0aa672550899fbb1818f629def294MD5110183/2461972022-08-06 04:48:47.641614oai:www.lume.ufrgs.br:10183/246197Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532022-08-06T07:48:47Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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