Uma faca só lâmina: a metáfora de invenção como metáfora absoluta
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Via Atlântica (Online) |
Texto Completo: | https://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/126059 |
Resumo: | A partir do diálogo estabelecido entre João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breyner Andresen, o presente artigo examina um aspecto pouco considerado da poesia cabralina, qual seja, o seu vínculo com a poetologia seiscentista. Veremos como nesse diálogo a poesia é aproximada de uma filosofia da imagem, que, embora ensaística em suas intenções, arrisca uma definição de poesia ao aproximá-la de uma arte combinatória na qual a metáfora é o recurso principal. Embora dono de uma escrita formal, Cabral não se deixa enformar. Ao explorar a dimensão formal da poesia, desenvolve uma filosofia da imagem voltada à construção de metáforas (algo semelhante a uma metaforologia). Desse modo, o prosaico confunde-se com o sublime, o tangível com o inefável. Da poética de Murilo Mendes Cabral herdou o gosto pela construção de imagens, adotando ferramentas voco-visuais – rimas e aliterações –, assim cultivando a característica plasticidade da linguagem. Dedicando-se à cuidadosa construção de versos de modo a captar o mundo em sua justeza, Cabral revela certo gosto pela produção de imagens que sua leitora e interlocutora Sophia não deixa de notar e de exaltar. A metáfora da faca que rege o diálogo exemplifica a filosofia da imagem cabralina que, apesar da clareza de seus versos e da constância de suas estrofes, distancia o poeta brasileiro do cartesianismo que lhe é frequentemente atribuído. Para evidenciar esse aspecto da poesia de Cabral percebido pela poeta portuguesa, recorreremos à metaforologia de Hans Blumenberg, aproximando a sua “metáfora absoluta” da “metáfora de invenção”, amplamente explorada pelos conceptistas, para enfim examinar a metáfora da faca que conduz o diálogo entre os poetas. Por essa particular compreensão da metáfora, Cabral se aproxima de uma filosofia da imagem, circunstancial, palpável, formal e rigorosa, que não se reduz à tendência cartesiana a estabelecer referências e substâncias. Pois imagens são constituídas por um conjunto de relações, e não por uma única relação que eventualmente estabelecem com um mundo de objetos. Assim, essa filosofia da imagem trata de uma inteligibilidade formal, além da referencial. Pela metáfora da faca, Cabral afia o olho do engenho pela imaginação, como sugerido pela leitura seiscentista da retórica aristotélica e por sua leitora, Sophia de Mello Breyner Andresen. |
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Uma faca só lâmina: a metáfora de invenção como metáfora absolutaA sharp knife: invention metaphor as absolute metaphorteoria da metáforaJoão Cabral de Melo NetoSophia de Mello Breyner Andresenpoesia brasileirapoesia portuguesametaphor theoryJoão Cabral de Melo NetoSophia de Mello Breyner AndresenBrazilian poetryPortuguese poetryA partir do diálogo estabelecido entre João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breyner Andresen, o presente artigo examina um aspecto pouco considerado da poesia cabralina, qual seja, o seu vínculo com a poetologia seiscentista. Veremos como nesse diálogo a poesia é aproximada de uma filosofia da imagem, que, embora ensaística em suas intenções, arrisca uma definição de poesia ao aproximá-la de uma arte combinatória na qual a metáfora é o recurso principal. Embora dono de uma escrita formal, Cabral não se deixa enformar. Ao explorar a dimensão formal da poesia, desenvolve uma filosofia da imagem voltada à construção de metáforas (algo semelhante a uma metaforologia). Desse modo, o prosaico confunde-se com o sublime, o tangível com o inefável. Da poética de Murilo Mendes Cabral herdou o gosto pela construção de imagens, adotando ferramentas voco-visuais – rimas e aliterações –, assim cultivando a característica plasticidade da linguagem. Dedicando-se à cuidadosa construção de versos de modo a captar o mundo em sua justeza, Cabral revela certo gosto pela produção de imagens que sua leitora e interlocutora Sophia não deixa de notar e de exaltar. A metáfora da faca que rege o diálogo exemplifica a filosofia da imagem cabralina que, apesar da clareza de seus versos e da constância de suas estrofes, distancia o poeta brasileiro do cartesianismo que lhe é frequentemente atribuído. Para evidenciar esse aspecto da poesia de Cabral percebido pela poeta portuguesa, recorreremos à metaforologia de Hans Blumenberg, aproximando a sua “metáfora absoluta” da “metáfora de invenção”, amplamente explorada pelos conceptistas, para enfim examinar a metáfora da faca que conduz o diálogo entre os poetas. Por essa particular compreensão da metáfora, Cabral se aproxima de uma filosofia da imagem, circunstancial, palpável, formal e rigorosa, que não se reduz à tendência cartesiana a estabelecer referências e substâncias. Pois imagens são constituídas por um conjunto de relações, e não por uma única relação que eventualmente estabelecem com um mundo de objetos. Assim, essa filosofia da imagem trata de uma inteligibilidade formal, além da referencial. Pela metáfora da faca, Cabral afia o olho do engenho pela imaginação, como sugerido pela leitura seiscentista da retórica aristotélica e por sua leitora, Sophia de Mello Breyner Andresen.This paper examines the poetry of João Cabral de Melo Neto in the light of XVII century poetology, as studied, cultivated and shared in the dialogue that João Cabral had with Sophia de Mello Breyner Andresen. We will see how this dialogue approximates poetry to a philosophy of the image, which, although essayistic in its intentions, risks a definition of poetry. To highlight this aspect of Cabral's poetry, we will turn to Hans Blumenberg's theory of metaphor, approaching his "absolute metaphor" of the "metaphor of invention", widely explored by theconceptistas, in order to examine the metaphor of the knife that leads the dialogue between the two poets. Through the metaphor of the knife, Cabral sharpens the wit with imagination, cultivating a mode of metaphorology, as suggests his reader, Sophia de Mello Breyner Andresen.Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas2017-12-21info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdftext/xmlhttps://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/12605910.11606/va.v0i32.126059Via Atlântica; v. 18 n. 2 (2017): A poesia no limite ou os (des)limites da poesia; 281-300Via Atlântica; Vol. 18 No. 2 (2017): A poesia no limite ou os (des)limites da poesia; 281-3002317-80861516-5159reponame:Via Atlântica (Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/126059/137007https://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/126059/196387Copyright (c) 2017 Renata Bellicanta Sammerhttps://creativecommons.org/licenses/by/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessSammer, Renata Bellicanta2023-06-26T13:42:54Zoai:revistas.usp.br:article/126059Revistahttp://www.revistas.usp.br/viaatlanticaPUBhttp://www.revistas.usp.br/viaatlantica/oaiviatlan24@gmail.com2317-80861516-5159opendoar:2023-06-26T13:42:54Via Atlântica (Online) - Universidade de São Paulo (USP)false |
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