“A Viagem à Casa das Onças”: Narrativas sobre experiências extraordinárias

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Langdon, Esther Jean
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista de antropologia (São Paulo. Online)
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/82465
Resumo: A performance das narrativas entre os índios Siona manifestam a função estética, apontada por Richard Bauman e outros, por meio da recriação da experiência das viagens xamânicas e da transformação de perspectiva que faz parte dos ritos com o uso do enteógeno yajé (ayahuasca). Nestas viagens, a perspectiva cotidiana é substituída por uma outra, que permite à plateia conhecer os seres que habitam o mundo invisível revelado nas visões. Ademais, as performances têm o importante papel de transmitir o conhecimento xamânico. A literatura oral dramatiza experiências de encontros ou viagens no mundo invisível, sejam estas ligadas ou não ao uso de enteógenos e aos sonhos. Através dos mecanismos poéticos, essas narrativas transmitem conhecimento ao indexar as relações entre o cotidiano e as regiões ocultas. Assim, elas criam expectativas na plateia a respeito das experiências extraordinárias com os espíritos e dão pistas de como entender e preparar-se para a mudança de perspectiva que caracteriza os encontros com o lado oculto. No intuito de explorar a relação entre a experiência extraordinária, performance e perspectiva, este trabalho analisa uma narrativa relatada por vários Siona sobre a época de sua juventude e aprendizagem xamânica – “A viagem à Casa das Onças”. Nesta, o jovem é convidado pelo mestre-xamã para visitar a casa das onças, onde elas aparecem na forma de humanos, em festas onde elas convidam o jovem para descansar numa rede nova, enquanto o mestre-xamã orienta o que o jovem está vendo. Esta viagem ao lado oculto não acontece durante o ritual sob a influência do yajé, mas na manhã seguinte, quando o novato está de volta à aldeia. A análise aponta para as estratégias que permitem à narrativa em performance criar experiências, transmitindo conhecimento xamânico e informando sobre a troca de perspectivas e o poder xamânico.
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Através dos mecanismos poéticos, essas narrativas transmitem conhecimento ao indexar as relações entre o cotidiano e as regiões ocultas. Assim, elas criam expectativas na plateia a respeito das experiências extraordinárias com os espíritos e dão pistas de como entender e preparar-se para a mudança de perspectiva que caracteriza os encontros com o lado oculto. No intuito de explorar a relação entre a experiência extraordinária, performance e perspectiva, este trabalho analisa uma narrativa relatada por vários Siona sobre a época de sua juventude e aprendizagem xamânica – “A viagem à Casa das Onças”. Nesta, o jovem é convidado pelo mestre-xamã para visitar a casa das onças, onde elas aparecem na forma de humanos, em festas onde elas convidam o jovem para descansar numa rede nova, enquanto o mestre-xamã orienta o que o jovem está vendo. Esta viagem ao lado oculto não acontece durante o ritual sob a influência do yajé, mas na manhã seguinte, quando o novato está de volta à aldeia. A análise aponta para as estratégias que permitem à narrativa em performance criar experiências, transmitindo conhecimento xamânico e informando sobre a troca de perspectivas e o poder xamânico.Narrative performance among the Siona Indians manifests an esthetic function, as pointed out by Richard Bauman and others, through the recreation of the experience of shamanic journeys and transformation of perspective that are part of rituals with the entheogen yajé (ayahuasca). During these journeys, the ordinary daily perspective is substituted for another, one that permits the participants to know the beings that inhabit the invisible world revealed through visions. In addition, ritual performances have an important role in transmitting shamanic knowledge. Siona oral literature dramatizes the experiences of encounters and journeys to the invisible world, be these related or not to the use of entheogens or to dreams. Through poetic mechanisms, these narratives transmit knowledge by indexing relations between the daily and occult worlds. In this way, they create expectations for the participants with respect to extraordinary experiences with the spirits and provide clues for understanding and preparing oneself for the change of perspective that characterizes encounters with the occult side. In order to explore the relation between extraordinary experience, performance and perspective, this work analyzes a narrative told by several Siona about their youth and shamanic apprenticeship – “The journey to the house of the jaguars”. In this narrative, the youth is invited by the master-shaman to visit the house of the jaguars, which appear in the form of humans in celebration. They invite the youth to rest in a new hammock, while the master-shaman orients him as to what he is seeing. This journey does not occur during the ritual while under the influence of yajé, but the following morning when the novice is returning to his village. The analysis highlights the strategies that permit narrative performance to create experience, transmit shamanic knowledge and inform as to the change of perspectives and shamanic power.Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas2013-12-12info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/ra/article/view/8246510.11606/2179-0892.ra.2013.82465Revista de Antropologia; v. 56 n. 2 (2013); 183-212Revista de Antropologia; Vol. 56 No 2 (2013); 183-212Revista de Antropologia; Vol. 56 Núm. 2 (2013); 183-212Revista de Antropologia; Vol. 56 No. 2 (2013); 183-2121678-98570034-7701reponame:Revista de antropologia (São Paulo. 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