O dono da figueira e a origem de Jesus: uma crítica xamânica ao cristianismo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pierri, Daniel Calazans
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista de antropologia (São Paulo. Online)
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/87761
Resumo: Nesse trabalho, apresento uma discussão centrada em uma narrativa a respeito da “origem de Jesus” (Tupãra’y ou filho de Tupã), coletada em uma aldeia guarani situada na região do Vale do Ribeira/SP. A referida narrativa, que evoca uma série de correspondências lógicas entre a origem dos brancos e a origem dos guarani, nos remete a uma discussão a respeito da importância do chamado “xamanismo horizontal” (Hugh-Jones, 1994) nos procedimentos de cura, ao situar a interpretação nativa do episódio da vinda de Jesus na plataforma terrestre como apenas um exemplo dentre os muitos nos quais figura a circulação de potências agentivas provenientes da morada de Tupã, na retaliação (-jepy) de infortúnios impetrados por seres invisíveis (jaexa va’e’ỹ kuery), mais especificamente o espírito dono da figueira. A discussão nos levará, enfim, a uma crítica xamânica (Albert, 2002) do “complexo da culpa cristã”, que transparecerá de um diálogo entre o cacique guarani que narra o episódio e um missionário cristão que buscava convencê-lo em vão de sua responsabilidade pela morte de Jesus. Exploro ainda os procedimentos através dos quais os Guarani incorporaram a narrativa dos missionários para criticar a sua visão, atribuindo um estatuto de verdade incompleta à religião cristã, que tomaria equivocadamente uma divindade “secundária” pelo criador da terra. Por fim, esboço hipóteses a respeito do que seria a versão guarani da “ideologia bipartida ameríndia” (Lévi-Strauss, 1994), fundada no que chamo de um “platonismo em desequilíbrio perpétuo”. 
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