Rebocadores urbanos e capitalismo de plataforma: ensaio sobre a entrega por bicicleta em São Paulo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39136/tde-15032022-173618/ |
Resumo: | Os serviços de entrega por bicicleta guram atualmente como uma das principais atividades laborais nas grandes cidades brasileiras. Conhecidos como green ou sustainable jobs, essa operação logística não-motorizada é responsável pela última milha na distribuição de mercadorias. Os defensores alegam que tal atividade engendra benefícios sociais, ambientais, econômicos e sanitários, uma vez que incorporam o esforço físico predominantemente aeróbio - comumente associado à promoção da saúde - à atividade laboral. Ademais, reduzem a emissão de poluentes atmosféricos e os custos de uso e ocupação do espaço urbano. Os críticos, todavia, questionam o meio e o modo no qual esses deslocamentos por bicicleta ocorrem. Particularmente na cidade de São Paulo, a ausência de infraestrutura cicloviária, a baixa qualidade socioterritorial e os elevados níveis de poluição atmosférica podem mitigar os supostos benefícios que os serviços de entrega por bicicleta promovem à cidade e à saúde dos ciclistas entregadores. Embora a bicicleta tenha adquirido maior protagonismo nos últimos anos, ainda permanece marginalizada da agenda urbana e das políticas públicas de mobilidade, o que pode deagrar riscos à saúde e a qualidade de vida dos ciclistas. Soma-se a isso condições aviltantes de trabalho, comumente precário, extenuante, informal e mal-remunerado. O objetivo, com efeito, foi etnografar a rotina laboral dos ciclistas entregadores na cidade de São Paulo, observando como o uso da bicicleta, subsumida à lógica neoliberal e num contexto urbano caracterizado por desigualdades socioterritoriais, inuencia na sociabilidade, na (re)produção do espaço urbano e na qualidade de vida dos ciclistas entregadores. Grosso modo, observou-se que o trabalho de entrega por bicicleta precariza a vida dos ciclistas, tornando-os mais vulneráveis às desvantagens da vida urbana, e restringindo o acesso dos ciclistas às oportunidades. Por outro lado, pode desvelar outras possibilidades de existência quando os ciclistas apropriam-se dos mesmos instrumentos que precarizam sua rotina laboral. A solidariedade, a empatia e a cooperação intragrupo e entre diferentes atores urbanos inscrita no trabalho de entrega por bicicleta (re)produzem espaços sociais e formas de sociabilidade que contrariam a lógica neoliberal erigida sob o individualismo, a competição, o empreendedorismo de si e a indiferença. No limite, os agentes não-humanos, como a bicicleta, o smartphones e até as mochilhas térmicas, agenciados pelos ciclistas entregadores, são capazes de inuenciar positivamente a qualidade de vida dos ciclistas e desvelar outras formas de vivê-la |
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Rebocadores urbanos e capitalismo de plataforma: ensaio sobre a entrega por bicicleta em São PauloUrban hauliers and platform capitalism: essay on bicycle delivery in São PauloBicicletaBicycleCapital-trabalhoCidadeCityEsforço físicoPhysical effortQualidade de vidaQuality of lifeWorking-capitalOs serviços de entrega por bicicleta guram atualmente como uma das principais atividades laborais nas grandes cidades brasileiras. Conhecidos como green ou sustainable jobs, essa operação logística não-motorizada é responsável pela última milha na distribuição de mercadorias. Os defensores alegam que tal atividade engendra benefícios sociais, ambientais, econômicos e sanitários, uma vez que incorporam o esforço físico predominantemente aeróbio - comumente associado à promoção da saúde - à atividade laboral. Ademais, reduzem a emissão de poluentes atmosféricos e os custos de uso e ocupação do espaço urbano. Os críticos, todavia, questionam o meio e o modo no qual esses deslocamentos por bicicleta ocorrem. Particularmente na cidade de São Paulo, a ausência de infraestrutura cicloviária, a baixa qualidade socioterritorial e os elevados níveis de poluição atmosférica podem mitigar os supostos benefícios que os serviços de entrega por bicicleta promovem à cidade e à saúde dos ciclistas entregadores. Embora a bicicleta tenha adquirido maior protagonismo nos últimos anos, ainda permanece marginalizada da agenda urbana e das políticas públicas de mobilidade, o que pode deagrar riscos à saúde e a qualidade de vida dos ciclistas. Soma-se a isso condições aviltantes de trabalho, comumente precário, extenuante, informal e mal-remunerado. O objetivo, com efeito, foi etnografar a rotina laboral dos ciclistas entregadores na cidade de São Paulo, observando como o uso da bicicleta, subsumida à lógica neoliberal e num contexto urbano caracterizado por desigualdades socioterritoriais, inuencia na sociabilidade, na (re)produção do espaço urbano e na qualidade de vida dos ciclistas entregadores. Grosso modo, observou-se que o trabalho de entrega por bicicleta precariza a vida dos ciclistas, tornando-os mais vulneráveis às desvantagens da vida urbana, e restringindo o acesso dos ciclistas às oportunidades. Por outro lado, pode desvelar outras possibilidades de existência quando os ciclistas apropriam-se dos mesmos instrumentos que precarizam sua rotina laboral. A solidariedade, a empatia e a cooperação intragrupo e entre diferentes atores urbanos inscrita no trabalho de entrega por bicicleta (re)produzem espaços sociais e formas de sociabilidade que contrariam a lógica neoliberal erigida sob o individualismo, a competição, o empreendedorismo de si e a indiferença. No limite, os agentes não-humanos, como a bicicleta, o smartphones e até as mochilhas térmicas, agenciados pelos ciclistas entregadores, são capazes de inuenciar positivamente a qualidade de vida dos ciclistas e desvelar outras formas de vivê-laBicycle delivery services are currently one of the main work activities in mainly Brazilians metropolises. This non-motorized logistical operation, known as green or sustainable jobs, has been responsible for the last mile in the distribution of goods. Defenders claim that such activity engenders social, environmental, economic and health benets, as they incorporate predominantly aerobic physical effort - commonly associated with health promotion - into the work activity. Furthermore, they reduce the emission of atmospheric pollutants and the costs of using and occupying urban space. Nevertheless, critics debrief the means and manner in which these cycling trips take place. Particularly in the city of São Paulo, the absence of cycling infrastructure, the low socio-territorial quality and the high levels of air pollution might mitigate the supposed benets that bicycle delivery services promote to the city and the health of delivery cyclists. Although bicycle has acquired greater prominence in recent years, it remains marginalized from the urban agenda and from public mobility policies, which might trigger risks to the health and the quality of life of cyclists. Moreover, degrading working conditions, commonly precarious, strenuous, informal and underpaid might worsen the cyclists life conditions. The aim, in effect, was to perform ethnography of the labour routine of delivery cyclists in São Paulo municipality, guring out how the use of bicycle, subsumed to the neoliberal logic and in an urban context characterized by socio-territorial inequalities, have inuenced sociability, the (re)production of urban space and the quality of life of delivery cyclists. Roughly, we observed that labour performed by cyclists fostered the precariousness of the labour routine, raising the vulnerabilities and the disadvantages of urban life to the cyclists, which restrict cyclists access to opportunities. In contrast, delivery cyclist might unveil other possibilities of being and doing when they handling the same instruments that precariousness cyclist labour routine. Solidarity, empathy and cooperation ingroup and outgroup (between different urban actors), when inscribed in the labour routine, might (re)produce social spaces and forms of sociability that contradict the neoliberal logic built on individualism, competition, self-entrepreneurship and indifference. Ultimately, non-human agents, such as bicycles, smartphones and even thermal backpacks, handled by delivery cyclists, might positively inuence the cyclists quality of life and unveil other ways of living itBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPDantas, Luiz Eduardo Pinto Basto TourinhoSouza, Eduardo Rumenig de2021-12-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39136/tde-15032022-173618/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2022-03-21T17:16:02Zoai:teses.usp.br:tde-15032022-173618Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212022-03-21T17:16:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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