Psicanálise e educação: do \"período de adaptação\" ao (im)possível de adaptar

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bueno, Karina de Queiroz
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-07122019-180548/
Resumo: Esta dissertação insere-se no campo da psicanálise e educação. Elegendo como tema de pesquisa a prática escolar conhecida como período de adaptação, objetivamos analisar suas vicissitudes na educação infantil, buscando escandir o termo adaptação e atingir elementos implícitos dessa prática enquanto dispositivo. Se, para a pedagogia, a criança recém-chegada à escola é uma pedra no caminho da dinâmica institucional oferecendo riscos de abalar as amarrações já instituídas e, por conseguinte, sendo necessário que ela se equipare aos demais o mais breve possível ; para a psicanálise há, no mínimo, uma ambivalência fundamental intrínseca a esse processo, a qual nos permitiu decompor e expandir algumas compreensões reduzidas sobre a entrada de uma criança no universo educativo institucional. Deste modo, a partir de uma perspectiva de pesquisa psicanalítica alinhada a outros campos do saber, nossa hipótese é de que a adaptação, segundo um viés higienista, traria riscos para a emergência de sujeitos singulares e aumentaria os conflitos dentro do contexto educativo institucional, culminando em uma pedagogia embrutecida. Já uma perspectiva de adaptação que abarque a condição estrutural do humano de impossível completude poderia oferecer um ambiente mais favorável às singularidades, sustentando o processo de (des)adaptação como algo constitutivo, civilizatório e educativo inerente ao humano, fundando vias de uma educação emancipatória. Portanto, tomando como pressuposto o período de adaptação enquanto um dispositivo, chegaremos à noção de que essa prática escolar difundida, aparentemente, sem questionamentos comporta uma dinâmica de poder e resistência entre os elementos que a compõem articulados de tal maneira para a manutenção do poder vigente. A fim de levantarmos os principais elementos desse dispositivo, recorreremos a um recorte histórico sobre os dois personagens principais de nossa dissertação as creches e a infância constatando seu caráter intrínseco às transformações políticas, econômicas e sociais de uma civilização ao longo do tempo. Ademais, identificando a educação e a infância brasileiras fortemente marcadas pelo higienismo, culminando em concepções e práticas eugênicas e adaptativas, traçaremos um percurso pela medicina social, evolucionismo, psicologia e psicanálise, almejando identificar influências na manutenção da noção de adaptação do discurso higienista e algumas tentativas de instaurar certa resistência a ele. A partir de um estilhaçamento do termo adaptação e de suas derivações em desadaptação e inadaptação, chegamos aos dispositivos institucionais idealizados por psicanalistas e aos recortes de minha experiência enquanto educadora a fim de oferecer um lugar de ruptura e subversão ao discurso pedagógico higienista. Com isso, esperamos atingir nosso objetivo inicial de problematizar a prática educativa denominada comumente de período de adaptação, tornando-se útil para que ao menos os adultos, quando diante de uma criança, não subestimem ou ignorem a complexidade que é (des)adaptar-se para (re)existir ao meio social.
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Se, para a pedagogia, a criança recém-chegada à escola é uma pedra no caminho da dinâmica institucional oferecendo riscos de abalar as amarrações já instituídas e, por conseguinte, sendo necessário que ela se equipare aos demais o mais breve possível ; para a psicanálise há, no mínimo, uma ambivalência fundamental intrínseca a esse processo, a qual nos permitiu decompor e expandir algumas compreensões reduzidas sobre a entrada de uma criança no universo educativo institucional. Deste modo, a partir de uma perspectiva de pesquisa psicanalítica alinhada a outros campos do saber, nossa hipótese é de que a adaptação, segundo um viés higienista, traria riscos para a emergência de sujeitos singulares e aumentaria os conflitos dentro do contexto educativo institucional, culminando em uma pedagogia embrutecida. Já uma perspectiva de adaptação que abarque a condição estrutural do humano de impossível completude poderia oferecer um ambiente mais favorável às singularidades, sustentando o processo de (des)adaptação como algo constitutivo, civilizatório e educativo inerente ao humano, fundando vias de uma educação emancipatória. Portanto, tomando como pressuposto o período de adaptação enquanto um dispositivo, chegaremos à noção de que essa prática escolar difundida, aparentemente, sem questionamentos comporta uma dinâmica de poder e resistência entre os elementos que a compõem articulados de tal maneira para a manutenção do poder vigente. A fim de levantarmos os principais elementos desse dispositivo, recorreremos a um recorte histórico sobre os dois personagens principais de nossa dissertação as creches e a infância constatando seu caráter intrínseco às transformações políticas, econômicas e sociais de uma civilização ao longo do tempo. Ademais, identificando a educação e a infância brasileiras fortemente marcadas pelo higienismo, culminando em concepções e práticas eugênicas e adaptativas, traçaremos um percurso pela medicina social, evolucionismo, psicologia e psicanálise, almejando identificar influências na manutenção da noção de adaptação do discurso higienista e algumas tentativas de instaurar certa resistência a ele. A partir de um estilhaçamento do termo adaptação e de suas derivações em desadaptação e inadaptação, chegamos aos dispositivos institucionais idealizados por psicanalistas e aos recortes de minha experiência enquanto educadora a fim de oferecer um lugar de ruptura e subversão ao discurso pedagógico higienista. Com isso, esperamos atingir nosso objetivo inicial de problematizar a prática educativa denominada comumente de período de adaptação, tornando-se útil para que ao menos os adultos, quando diante de uma criança, não subestimem ou ignorem a complexidade que é (des)adaptar-se para (re)existir ao meio social.The present research is located in the area of psychoanalysis and education. Our theme is the school day-care practice known as period of adaptation. The focus is to analyze its vicissitudes in early childhood education, seeking to examine the term adaptation and reach implicit elements of this practice as a dispositive. If, for pedagogy, the child that just arrived at school is a a stumbling block to institutional dynamics offering risks of dismantling the already established moorings and, consequently, being necessary to adapt this one like the others as soon as possible; for psychoanalysis there is, at the very least, a fundamental ambivalence intrinsic to this process, which has enabled us to decompose and expand some understandings about the entrance of a child into the institutional educational universe. Thus, from a perspective of psychoanalytic research aligned with other fields of knowledge, our hypothesis is that adaptation, according to a hygienistic bias, would bring risks to the emergence of singular subjects and increase conflicts within the institutional educational context, culminating in a brutish pedagogy. On the other hand, an adaptation perspective that include the structural condition of the human being of impossible completeness could offer a more favorable environment to the singularities, supporting the process of (dis)adaptation as something constitutive, civilizing and educational inherent to the human, establishing ways for emancipatory education. Therefore, assuming the period of adaptation as a dispositive, we will arrive to the notion that this school practice diffused, seemingly without questioning entails a dynamic of power and resistance between the elements that compose it, articulated in such a way for the maintenance of the power. To understand the main elements of this dispositive, we will resort to a historical review of the two main characters of our dissertation day care and childhood noticing their feature intrinsic to political, economic and social transformations of a civilization over time. In addition, identifying that Brazilian education and childhood are strongly marked by hygienism, culminating in eugenic and adaptive conceptions and practices, we will trace a path through social medicine, evolutionism, psychology and psychoanalysis, aiming to identify influences that preserve the hygienist discourses notion of adaptation and some attempts to instil resistance into it. From a shattering of the term adaptation and its derivations to maladaptation and inadaptation, we come to the institutional dispositives devised by psychoanalysts and to my experience as an educator in order to offer a place of rupture and subversion to hygienistic pedagogical discourse. With this, we hope to achieve our initial goal of problematizing the educational practice commonly called period of adaptation, making it useful for at least adults, when faced with a child, not to underestimate or ignore the complexity that is to (un)adapt yourself in order to (re)exist to the social environment.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPVoltolini, RinaldoBueno, Karina de Queiroz2019-09-13info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-07122019-180548/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2020-01-28T20:14:02Zoai:teses.usp.br:tde-07122019-180548Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212020-01-28T20:14:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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