A construção da voz satírica nas charges do Charlie Hebdo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-06022018-122648/ |
Resumo: | Em determinado período de sua história, o Charlie Hebdo passou a abordar o tema do fundamentalismo islâmico em suas charges. A figura sagrada para os muçulmanos foi, então, representada satiricamente em diversas edições, até que em 7 de janeiro de 2015, após uma série de conflitos entre o jornal e os extremistas islâmicos, a sede do semanário francês foi alvo de um ataque terrorista, com doze vítimas fatais. É para esse contexto que nossa pesquisa direciona a sua atenção. Analisaremos um conjunto de oito charges publicadas pelo Charlie Hebdo no período de 8 de fevereiro de 2006 a 6 de janeiro de 2016. O propósito, ao examinar semioticamente esse corpus, é descrever os mecanismos de construção do sentido das charges para compreender de que maneira o chargista, como um éthos ou um modo polemizador de presença, exacerbou satiricamente a doutrina islâmica e a figura religiosa emblemática para provocar o riso e criticar o fundamentalismo. Em nossa pesquisa, a noção de gênero será incorporada com o apoio teórico de Bakthin (2003; 2008; 2010; 2014; 2016), o que permitirá reconhecer as principais características da charge, conforme determinada temática, composição e estilo. Também a partir dos apontamentos bakhtinianos, definiremos mecanismos discursivos presentes nas charges: ironia, humor, sátira e polêmica. Dessa definição, surgirão os elementos que despontam as características do gênero e, consequentemente, o estilo Charlie Hebdo de satirizar. Com base nesse ponto, esperamos compreender o que teria força argumentativa para provocar a ira dos fundamentalistas. Em nosso estudo, buscaremos expor, sobretudo, os princípios relativos à semiótica greimasiana. Consideraremos, portanto, para nossa investigação as bases da semiótica narrativa e discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 2016). Mas teremos o respaldo ainda da semiótica visual (FLOCH, 1985; 1986a; 1986b; 2013), com o intuito de entender como a forma do plano da expressão e do plano do conteúdo, conforme postulada por Hjelmslev (2003), vai ao encontro da substância da expressão e do conteúdo nesses textos verbo-visuais. Ao tomar corpo, nossa pesquisa encontrará apoio teórico e metodológico também na semiótica tensiva (ZILBERBERG, 2011). Nesse ponto, mostraremos os segmentos das charges que fazem crescer a intensidade da voz satírica e o seu potencial para causar atritos com o sujeito fundamentalista. Os resultados demonstrarão que a voz satírica do Charlie Hebdo é construída essencialmente por meio da presença exacerbada do outro, cujos valores julgados negativos são intensamente expostos. O alvo da crítica, o fundamentalismo islâmico, é assim desmoralizado por suas próprias atitudes. Essa forma de fazer sátira remete ao modelo de construção do gênero charge; entretanto, o que parece diferenciar o conteúdo das charges analisadas é a instalação da relação dialógica (BAKHTIN, 2016) entre sujeitos extremamente antagônicos, com intensa probabilidade de conflito nos (des)encontros das enunciações interdiscursivas. |
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A construção da voz satírica nas charges do Charlie HebdoThe construction of the satirical voice in Charlie Hebdo\'s cartoonsBakhtinBakhtinCartoonsChargesCharlie HebdoCharlie HebdoSátiraSatireSemióticaSemioticsEm determinado período de sua história, o Charlie Hebdo passou a abordar o tema do fundamentalismo islâmico em suas charges. A figura sagrada para os muçulmanos foi, então, representada satiricamente em diversas edições, até que em 7 de janeiro de 2015, após uma série de conflitos entre o jornal e os extremistas islâmicos, a sede do semanário francês foi alvo de um ataque terrorista, com doze vítimas fatais. É para esse contexto que nossa pesquisa direciona a sua atenção. Analisaremos um conjunto de oito charges publicadas pelo Charlie Hebdo no período de 8 de fevereiro de 2006 a 6 de janeiro de 2016. O propósito, ao examinar semioticamente esse corpus, é descrever os mecanismos de construção do sentido das charges para compreender de que maneira o chargista, como um éthos ou um modo polemizador de presença, exacerbou satiricamente a doutrina islâmica e a figura religiosa emblemática para provocar o riso e criticar o fundamentalismo. Em nossa pesquisa, a noção de gênero será incorporada com o apoio teórico de Bakthin (2003; 2008; 2010; 2014; 2016), o que permitirá reconhecer as principais características da charge, conforme determinada temática, composição e estilo. Também a partir dos apontamentos bakhtinianos, definiremos mecanismos discursivos presentes nas charges: ironia, humor, sátira e polêmica. Dessa definição, surgirão os elementos que despontam as características do gênero e, consequentemente, o estilo Charlie Hebdo de satirizar. Com base nesse ponto, esperamos compreender o que teria força argumentativa para provocar a ira dos fundamentalistas. Em nosso estudo, buscaremos expor, sobretudo, os princípios relativos à semiótica greimasiana. Consideraremos, portanto, para nossa investigação as bases da semiótica narrativa e discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 2016). Mas teremos o respaldo ainda da semiótica visual (FLOCH, 1985; 1986a; 1986b; 2013), com o intuito de entender como a forma do plano da expressão e do plano do conteúdo, conforme postulada por Hjelmslev (2003), vai ao encontro da substância da expressão e do conteúdo nesses textos verbo-visuais. Ao tomar corpo, nossa pesquisa encontrará apoio teórico e metodológico também na semiótica tensiva (ZILBERBERG, 2011). Nesse ponto, mostraremos os segmentos das charges que fazem crescer a intensidade da voz satírica e o seu potencial para causar atritos com o sujeito fundamentalista. Os resultados demonstrarão que a voz satírica do Charlie Hebdo é construída essencialmente por meio da presença exacerbada do outro, cujos valores julgados negativos são intensamente expostos. O alvo da crítica, o fundamentalismo islâmico, é assim desmoralizado por suas próprias atitudes. Essa forma de fazer sátira remete ao modelo de construção do gênero charge; entretanto, o que parece diferenciar o conteúdo das charges analisadas é a instalação da relação dialógica (BAKHTIN, 2016) entre sujeitos extremamente antagônicos, com intensa probabilidade de conflito nos (des)encontros das enunciações interdiscursivas.At some point in its history, Charlie Hebdo began to address the theme of Islamic fundamentalism in its cartoons. Since then, the holy image for Muslims was satirically represented in several editions. It had happened up to January 7, 2015, when, after a series of misunderstandings between the newspaper and Islamic extremists, the headquarters of the French weekly newspaper was the target of a terrorist attack, having as consequence, twelve fatal victims. It is in this context that our research is directed. We will analyze a set of eight cartoons published by Charlie Hebdo in the period from February 8, 2006 to January 6, 2016. The purpose in examining semiotically this corpus, is to describe the mechanisms of construction of the meaning of the cartoons to understand how the cartoonist, as an ethos or a polemizing mode of presence, satirically exaggerated Islamic doctrine and the emblematic religious image to provoke laughter and criticize fundamentalism. In our research, the notion of genres will be incorporated with the theoretical support of Bakthin (2003; 2008; 2010; 2014; 2016), which will allow us to recognize the main characteristics of the cartoon, according to a specific theme, composition and style. Also from the Bakhtinian notes, we will define discursive mechanisms present in the cartoons: irony, humor, satire and polemic. From this definition, the elements that emerge the characteristics of the genre and, consequently, the Charlie Hebdo style of satirizing will appear. Based on this, we aim to understand what could have an argumentative force to provoke the wrath of fundamentalists. In our study, we will try to expose, above all, the principles related to greimasian semiotics. We will therefore consider for our investigation the bases of narrative and discursive semiotics (GREIMAS and COURTÉS, 2016). But we will still have the support of visual semiotics (FLOCH 1985, 1986a, 1986b, 2013), in order to understand how the form of the plane of expression and the content plane, as postulated by Hjelmslev (2003), meets the substance of expression and content in these verbal-visual texts. Whereas the development of these points brings consistence to our research, we will also find theoretical and methodological support in the tensive semiotics (ZILBERBERG, 2011). At this point, we will show the segments of the cartoons that increase the intensity of the satirical voice and its potential to cause friction with the fundamentalist subject. The results will demonstrate that Charlie Hebdo\'s satirical voice is essentially built through the exacerbated presence of the other, whose negatively judged values are intensely exposed. The target of criticism, Islamic fundamentalism, is thus demoralized by its own attitudes. This way of doing satire refers to the construction model of the genre \"cartoon\"; However, what seems to distinguish the content of the analyzed cartoons is the establishment of the dialogical relationship (BAKHTIN, 2016) between extremely antagonistic subjects, with an intense probability of conflict in the (dis) encounters of interdiscursive enunciation.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCampos, Norma Discini deSilva, Cleide Lima da2017-09-22info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-06022018-122648/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-10-03T01:45:28Zoai:teses.usp.br:tde-06022018-122648Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-10-03T01:45:28Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Em determinado período de sua história, o Charlie Hebdo passou a abordar o tema do fundamentalismo islâmico em suas charges. A figura sagrada para os muçulmanos foi, então, representada satiricamente em diversas edições, até que em 7 de janeiro de 2015, após uma série de conflitos entre o jornal e os extremistas islâmicos, a sede do semanário francês foi alvo de um ataque terrorista, com doze vítimas fatais. É para esse contexto que nossa pesquisa direciona a sua atenção. Analisaremos um conjunto de oito charges publicadas pelo Charlie Hebdo no período de 8 de fevereiro de 2006 a 6 de janeiro de 2016. O propósito, ao examinar semioticamente esse corpus, é descrever os mecanismos de construção do sentido das charges para compreender de que maneira o chargista, como um éthos ou um modo polemizador de presença, exacerbou satiricamente a doutrina islâmica e a figura religiosa emblemática para provocar o riso e criticar o fundamentalismo. Em nossa pesquisa, a noção de gênero será incorporada com o apoio teórico de Bakthin (2003; 2008; 2010; 2014; 2016), o que permitirá reconhecer as principais características da charge, conforme determinada temática, composição e estilo. Também a partir dos apontamentos bakhtinianos, definiremos mecanismos discursivos presentes nas charges: ironia, humor, sátira e polêmica. Dessa definição, surgirão os elementos que despontam as características do gênero e, consequentemente, o estilo Charlie Hebdo de satirizar. Com base nesse ponto, esperamos compreender o que teria força argumentativa para provocar a ira dos fundamentalistas. Em nosso estudo, buscaremos expor, sobretudo, os princípios relativos à semiótica greimasiana. Consideraremos, portanto, para nossa investigação as bases da semiótica narrativa e discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 2016). Mas teremos o respaldo ainda da semiótica visual (FLOCH, 1985; 1986a; 1986b; 2013), com o intuito de entender como a forma do plano da expressão e do plano do conteúdo, conforme postulada por Hjelmslev (2003), vai ao encontro da substância da expressão e do conteúdo nesses textos verbo-visuais. Ao tomar corpo, nossa pesquisa encontrará apoio teórico e metodológico também na semiótica tensiva (ZILBERBERG, 2011). Nesse ponto, mostraremos os segmentos das charges que fazem crescer a intensidade da voz satírica e o seu potencial para causar atritos com o sujeito fundamentalista. Os resultados demonstrarão que a voz satírica do Charlie Hebdo é construída essencialmente por meio da presença exacerbada do outro, cujos valores julgados negativos são intensamente expostos. O alvo da crítica, o fundamentalismo islâmico, é assim desmoralizado por suas próprias atitudes. Essa forma de fazer sátira remete ao modelo de construção do gênero charge; entretanto, o que parece diferenciar o conteúdo das charges analisadas é a instalação da relação dialógica (BAKHTIN, 2016) entre sujeitos extremamente antagônicos, com intensa probabilidade de conflito nos (des)encontros das enunciações interdiscursivas. |
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