Experiência do outro, estranhamento de si : dimensões da alteridade em antropologia e psicanálise

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Souza, Mauricio Rodrigues de
Data de Publicação: 2007
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-23012008-113208/
Resumo: O presente trabalho consiste em um estudo acerca do impacto psíquico provocado pela experiência da alteridade. Com efeito, enfatizando a dimensão inconsciente que permeia tanto a prática clínica quanto a pesquisa com grupos das mais diversas naturezas, visa estabelecer pontos de contato entre a antropologia e a psicanálise no terreno interpretativo e político da negociação de sentido. Para tanto, realizou um percurso histórico por algumas das principais escolas da antropologia para, em tal movimento, localizar um contraponto nas matrizes dessa disciplina que pode ser qualificado como \"explicação\" versus \"compreensão\". Ou seja, trata-se da maior ou menor afirmação da capacidade de traduzir ou representar objetivamente as diferenças expostas por culturas alheias. Visando propor saídas para tal dilema ao mesmo tempo ético e epistemológico, este estudo ampliou tal discussão para nela incluir um outro ramo do saber: a psicanálise. Então, pela via de leituras pormenorizadas dos conceitos de \"inquietante\" e de \"construção\", alcançou a idéia de que a diferença imposta pelo outro no contexto da clínica é inseparável da diferença do Inconsciente, dono de uma narrativa e de uma temporalidade particulares que se recusam a obedecer aos ditames do pensamento representacional. Em decorrência disso, o estranho e o negativo do encontro analítico passam a aparecer como lugares do possível, ampliando o conceito de alteridade e as capacidades da interpretação - agora um meio termo entre a produção de sentido e a experiência do vazio. Eis a lição da não-lição proposta por este inquietante outro do Inconsciente à etnografia e mesmo às chamadas Ciências Humanas como um todo: admitir a possibilidade do sentido, mas não necessariamente o seu encerramento, fornecendo assim uma expressão menos comprometida a um estrangeiro agora irredutível a códigos pré-estabelecidos. Isso significa a admissão de que o movimento do conhecimento não pode prescindir da criação de espaços para o novo e mesmo para o desconcertante, incluindo-se aí tudo aquilo que escapa à procura racional, como os afetos, as surpresas e, com eles, uma por vezes dolorosa - mas, ao mesmo tempo, potencialmente criativa - sensação de incompletude.
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Ou seja, trata-se da maior ou menor afirmação da capacidade de traduzir ou representar objetivamente as diferenças expostas por culturas alheias. Visando propor saídas para tal dilema ao mesmo tempo ético e epistemológico, este estudo ampliou tal discussão para nela incluir um outro ramo do saber: a psicanálise. Então, pela via de leituras pormenorizadas dos conceitos de \"inquietante\" e de \"construção\", alcançou a idéia de que a diferença imposta pelo outro no contexto da clínica é inseparável da diferença do Inconsciente, dono de uma narrativa e de uma temporalidade particulares que se recusam a obedecer aos ditames do pensamento representacional. Em decorrência disso, o estranho e o negativo do encontro analítico passam a aparecer como lugares do possível, ampliando o conceito de alteridade e as capacidades da interpretação - agora um meio termo entre a produção de sentido e a experiência do vazio. Eis a lição da não-lição proposta por este inquietante outro do Inconsciente à etnografia e mesmo às chamadas Ciências Humanas como um todo: admitir a possibilidade do sentido, mas não necessariamente o seu encerramento, fornecendo assim uma expressão menos comprometida a um estrangeiro agora irredutível a códigos pré-estabelecidos. Isso significa a admissão de que o movimento do conhecimento não pode prescindir da criação de espaços para o novo e mesmo para o desconcertante, incluindo-se aí tudo aquilo que escapa à procura racional, como os afetos, as surpresas e, com eles, uma por vezes dolorosa - mas, ao mesmo tempo, potencialmente criativa - sensação de incompletude.This work studies the psyquic impact provoked by the experience of otherness. Furthermore, emphasizing the unconscious dimension that is present in clinical practice and in researches concerning groups of different natures, it intends to establish points of contact between anthropology and psychoanalysis in the political and interpretative field of negotiation of meaning. To pursue this aim, it performed an historical review of the contributions of some of the most important anthropological schools, locating in the matrix of this discipline a counterpoint that can be qualified as \"explication\" versus \"comprehension\". In other words, the problem here is to affirm the major or minor capacity to traduce or represent objectively the differences exposed by alien cultures. In a way to propose some possibilities for this ethical and epistemological dilemma, the present study extended this discussion to include on it the knowledge brought by psychoanalysis. Therefore, by detailed readings of the concepts of \"uncanny\" and \"construction\" it reached the idea that the difference imposed by the other in the clinics is not separated from the difference of the Unconscious, owner of particulars narrative and temporality that refuse to obey the principles of representational thought. Because of that, the strangeness and the negative of the analytic encounter become places of possibility, amplifying the concept of otherness and the capacities of interpretation - now placed in a mid-point between the production of sense and the experience of emptiness. That\'s the lesson of non-lesson proposed by this uncanny other of the Unconscious to ethnography and even to Human Sciences as a whole: to admit the possibility of sense, but not necessarily its ending, offering a less compromised expression to a stranger that now cannot be reduced to previously set codes. This means to admit that the movement of knowledge cannot give up the creation of spaces to the new and even to what is disconcerting, including all that escapes a rational search, like feelings, surprises and, together with them, a sometimes painful - but also potentially creative - sensation of incompletenessBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPFigueiredo, Luiz Claudio MendoncaSouza, Mauricio Rodrigues de2007-08-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-23012008-113208/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:09:55Zoai:teses.usp.br:tde-23012008-113208Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:09:55Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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