Trajetórias de vida de pessoas com obesidade residentes em São Paulo: vulnerabilidades e marcadores sociais da diferença

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Soares, Rafael Marques
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-16082021-121645/
Resumo: Introdução: A obesidade tem se tornado há algumas décadas foco de muitos estudos e atenção de setores e profissionais da área da saúde, em grande parte dado o crescimento acentuado de seus números na população. Observa-se, igualmente, o aumento das mais diversas abordagens para seu tratamento. Parte da falha destas abordagens se dá pela simplificação biomédica da obesidade. Observa-se que a maioria dos tratamentos propostos tendem a não ultrapassar as barreiras dos contextos biológico, fisiológico e comportamental, desconsiderando os domínios pertencentes às condições de vida (classe social, gênero e ambiente). A dificuldade de compreensão que o ato de se alimentar não é somente biológico, mas é também fundamentado nos valores culturais e nas dinâmicas históricas e sociais, tem produzido o fenômeno da medicalização da obesidade. Não somos somente o que comemos, mas como comemos, com quem comemos e por que comemos. O dinamismo das relações sociais articula o estudo da alimentação ao campo das ciências humanas, o qual ganha espaço como objeto de análise, interpretação e compreensão das práticas, representações e tensões que envolvem o espaço social alimentar. Esta complexidade ganha cores diferentes quando compreendida pela perspectiva dos marcadores sociais da diferença, do estigma do peso e das opressões interseccionais, representadas em trajetórias de vida das pessoas com obesidade, muitas vezes pautada pelas discriminações de classe e gênero. Neste estudo, tais aspectos são considerados a partir da abordagem conceitual das vulnerabilidades individuais, coletivas, programáticas e contextuais em articulação aos marcadores sociais da diferença, particularmente gênero e classe social. Objetivos: Explorar, através de aspectos relacionados à perspectiva da vulnerabilidade e dos marcadores sociais da diferença (classe e gênero), o lugar da obesidade nas trajetórias de vida de pessoas que se auto percebem como gordos e obesos. Identificar e compreender, a partir da percepção de participantes auto identificados como pessoas com obesidade, os impactos e influências dos fatores socioambientais em sua relação com o corpo e comportamento alimentar. Apontar e discutir aspectos de análise da vulnerabilidade e dos marcadores sociais da diferença que possam contribuir para a superação das possíveis barreiras geradas pela interação do seu corpo com ambiente obesogênico. Metodologia: Estudo com abordagem qualitativa fundamentado pelos referenciais conceituais de vulnerabilidade, marcadores sociais da diferença, ambiente obesogênico e estigma. O material empírico contempla entrevistas semiestruturadas com 18 mulheres (de 19 a 66 anos) e 7 homens (de 31 a 57 anos) todos trabalhadoras e trabalhadores de um hospital privado da cidade de São Paulo e residentes da grande São Paulo. A produção dos dados empíricos ocorreu em 2019 utilizando da técnica de entrevistas semiestruturadas e análise narrativa. Resultados: Os resultados apontam que a importância da alimentação durante as trajetórias de vida é amplamente impactada por questões emocionais e circunstâncias; com o passar do tempo a qualidade do que e como se come diminui de forma importante. O impacto do ambiente obesogênico é relevante e foi atribuído pelo(a)s participantes à dificuldade de acesso e à escassez de alimentos innatura ou minimamente processados em seus trajetos diários e cercanias do local de trabalho, somado ao fácil acesso e diversidade de opções de alimentos ultraprocessados. A questão econômica também é percebida pelos participantes como um balizador do ganho de peso, observando-se uma percepção de que o \"comer saudável\" e o acesso a qualquer questão de prevenção custa muito caro. O custo associado à praticidade de acessar alimentos ultraprocessados, a exploração midiática dos mesmos e o dispêndio de tempo em deslocamentos ao trabalho somados a jornada de trabalho, também são apontados como dificultadores de uma maior atenção e dedicação ao que se come. O estigma e preconceito com o corpo gordo foi relatado por participantes homens e mulheres, contudo os homens demonstraram menos preocupações e limitações em suas vidas, mesmo em situações onde seu corpo, fora do padrão estético vigente, era exposto. Já as mulheres, com muitos mais relatos e reflexões sobre a relação com seus corpos, ressaltaram olhares (próprios e alheios), sentimentos, julgamentos e valores externos, que impactam diferentes momentos de suas trajetórias de vida. A ideia de que o corpo gordo é sinônimo de fraqueza e ineficiência está internalizada pelo(a)s participantes. Mesmo que algumas limitações oriundas do peso sejam realmente sentidas, há consciência de que seu corpo não deveria ser questão de terceiros. A compreensão do despreparo de profissionais para lidar com a obesidade ou peso corporal impossibilita ao paciente o suporte necessário e acaba desmotivando o acompanhamento e faz recair exclusivamente sobre o indivíduo a culpa pelos problemas atribuídos ao seu corpo. O aspecto programático relativo à ausência de instalações desportivas gratuitas, espaços verdes ou parques, bem como o transporte públicos de amplo alcance e infraestrutura e políticas públicas também foram apontados como impulsionadores da vulnerabilidade a obesidade. Conclusão: O estudo possibilita ampliar a compreensão sobre a complexidade que envolve a obesidade, propondo uma reflexão sobre o tema através do referencial teórico da vulnerabilidade relacionada às dimensões como gênero e classe social. Os resultados são úteis para a ampliação do conhecimento sobre o fenômeno da obesidade, bem como para um melhor desenvolvimento de propostas e intervenções que sejam mais eficazes e menos centradas na culpabilização do indivíduo e nos aspectos biológicos da obesidade. Não desconsiderando a participação do indivíduo no seu processo de autocuidado, é preciso reconhecer a preeminência de questões como o ambiente, cultura, saúde emocional, condições, situações e estilos de vida, a questão ambiental e o acesso aos direitos, como elementos que impactam na obesidade, tornam as pessoas vulneráveis e as induzem à adoção de comportamentos, modos e estilos de vida que favorecem sua instalação e perpetuação.
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Observa-se que a maioria dos tratamentos propostos tendem a não ultrapassar as barreiras dos contextos biológico, fisiológico e comportamental, desconsiderando os domínios pertencentes às condições de vida (classe social, gênero e ambiente). A dificuldade de compreensão que o ato de se alimentar não é somente biológico, mas é também fundamentado nos valores culturais e nas dinâmicas históricas e sociais, tem produzido o fenômeno da medicalização da obesidade. Não somos somente o que comemos, mas como comemos, com quem comemos e por que comemos. O dinamismo das relações sociais articula o estudo da alimentação ao campo das ciências humanas, o qual ganha espaço como objeto de análise, interpretação e compreensão das práticas, representações e tensões que envolvem o espaço social alimentar. Esta complexidade ganha cores diferentes quando compreendida pela perspectiva dos marcadores sociais da diferença, do estigma do peso e das opressões interseccionais, representadas em trajetórias de vida das pessoas com obesidade, muitas vezes pautada pelas discriminações de classe e gênero. Neste estudo, tais aspectos são considerados a partir da abordagem conceitual das vulnerabilidades individuais, coletivas, programáticas e contextuais em articulação aos marcadores sociais da diferença, particularmente gênero e classe social. Objetivos: Explorar, através de aspectos relacionados à perspectiva da vulnerabilidade e dos marcadores sociais da diferença (classe e gênero), o lugar da obesidade nas trajetórias de vida de pessoas que se auto percebem como gordos e obesos. Identificar e compreender, a partir da percepção de participantes auto identificados como pessoas com obesidade, os impactos e influências dos fatores socioambientais em sua relação com o corpo e comportamento alimentar. Apontar e discutir aspectos de análise da vulnerabilidade e dos marcadores sociais da diferença que possam contribuir para a superação das possíveis barreiras geradas pela interação do seu corpo com ambiente obesogênico. Metodologia: Estudo com abordagem qualitativa fundamentado pelos referenciais conceituais de vulnerabilidade, marcadores sociais da diferença, ambiente obesogênico e estigma. O material empírico contempla entrevistas semiestruturadas com 18 mulheres (de 19 a 66 anos) e 7 homens (de 31 a 57 anos) todos trabalhadoras e trabalhadores de um hospital privado da cidade de São Paulo e residentes da grande São Paulo. A produção dos dados empíricos ocorreu em 2019 utilizando da técnica de entrevistas semiestruturadas e análise narrativa. Resultados: Os resultados apontam que a importância da alimentação durante as trajetórias de vida é amplamente impactada por questões emocionais e circunstâncias; com o passar do tempo a qualidade do que e como se come diminui de forma importante. O impacto do ambiente obesogênico é relevante e foi atribuído pelo(a)s participantes à dificuldade de acesso e à escassez de alimentos innatura ou minimamente processados em seus trajetos diários e cercanias do local de trabalho, somado ao fácil acesso e diversidade de opções de alimentos ultraprocessados. A questão econômica também é percebida pelos participantes como um balizador do ganho de peso, observando-se uma percepção de que o \"comer saudável\" e o acesso a qualquer questão de prevenção custa muito caro. O custo associado à praticidade de acessar alimentos ultraprocessados, a exploração midiática dos mesmos e o dispêndio de tempo em deslocamentos ao trabalho somados a jornada de trabalho, também são apontados como dificultadores de uma maior atenção e dedicação ao que se come. O estigma e preconceito com o corpo gordo foi relatado por participantes homens e mulheres, contudo os homens demonstraram menos preocupações e limitações em suas vidas, mesmo em situações onde seu corpo, fora do padrão estético vigente, era exposto. Já as mulheres, com muitos mais relatos e reflexões sobre a relação com seus corpos, ressaltaram olhares (próprios e alheios), sentimentos, julgamentos e valores externos, que impactam diferentes momentos de suas trajetórias de vida. A ideia de que o corpo gordo é sinônimo de fraqueza e ineficiência está internalizada pelo(a)s participantes. Mesmo que algumas limitações oriundas do peso sejam realmente sentidas, há consciência de que seu corpo não deveria ser questão de terceiros. A compreensão do despreparo de profissionais para lidar com a obesidade ou peso corporal impossibilita ao paciente o suporte necessário e acaba desmotivando o acompanhamento e faz recair exclusivamente sobre o indivíduo a culpa pelos problemas atribuídos ao seu corpo. O aspecto programático relativo à ausência de instalações desportivas gratuitas, espaços verdes ou parques, bem como o transporte públicos de amplo alcance e infraestrutura e políticas públicas também foram apontados como impulsionadores da vulnerabilidade a obesidade. Conclusão: O estudo possibilita ampliar a compreensão sobre a complexidade que envolve a obesidade, propondo uma reflexão sobre o tema através do referencial teórico da vulnerabilidade relacionada às dimensões como gênero e classe social. Os resultados são úteis para a ampliação do conhecimento sobre o fenômeno da obesidade, bem como para um melhor desenvolvimento de propostas e intervenções que sejam mais eficazes e menos centradas na culpabilização do indivíduo e nos aspectos biológicos da obesidade. Não desconsiderando a participação do indivíduo no seu processo de autocuidado, é preciso reconhecer a preeminência de questões como o ambiente, cultura, saúde emocional, condições, situações e estilos de vida, a questão ambiental e o acesso aos direitos, como elementos que impactam na obesidade, tornam as pessoas vulneráveis e as induzem à adoção de comportamentos, modos e estilos de vida que favorecem sua instalação e perpetuação.Introduction: For some decades, obesity has become the focus of many studies and attention by sectors and health professionals, mainly due to its sharp growth. Equally, there is an increase in the most diverse approaches to its treatment. Part of these approaches failure is due to the biomedical simplification of obesity. Most of proposed treatments tend not to overcome the barriers of the biological, physiological and behavioural contexts, disregarding conditions of life domains (social class, gender and environment). The difficulty in understanding that the act of eating is not only biological but is also based on cultural values and historical and social dynamics, has produced the phenomenon of the medicalization of obesity. We are not only what we eat, but also how we eat, with whom we eat and why we eat. The social relations dynamism articulates the study between food and human sciences. This integrated view gains space as an object of analysis, interpretation and understanding of the practices, representations and tensions that involve the social food space. However, it takes on different colours when it is understood from the perspective of the social markers of difference, the stigma of weight and the intersectional oppression, represented in life trajectories of people with obesity, often guided by class and gender discrimination. In this study, such aspects are considered from the conceptual approach of individual, collective, programmatic, and contextual vulnerabilities in articulation with the social markers of difference, particularly gender and social class. Objectives: Explore, through the perspective of vulnerability and social markers of difference (class and gender), the place of obesity in the lives of people who perceive themselves as fat and obese. Identify and understand, from the perception of self-identified as obese, the impacts and influences of socio-environmental factors on their relationship with the body and eating behaviour. Point out and discuss aspects of vulnerability and social markers of difference that can contribute to overcome possible barriers generated by the interaction between the body and the obesogenic environment. Methodology: Study with a qualitative approach based on conceptual frameworks of vulnerability, social markers of difference, stigma and obesogenic environment. The empirical material includes semi-structured interviews with 18 women (from 19 to 66 years old) and 7 men (from 31 to 57 years old) all workers of a private hospital in the city of São Paulo and residents of the greater São Paulo. The production of empirical data occurred in 2019 using the technique of semi-structured interviews and narrative analysis. Results: The results indicate that the importance of food is impacted mainly by emotional issues and circumstances; over time, the quality of what and how it is eaten decreases significantly. The impact of the obesogenic environment is relevant and was attributed to the difficulty of access and the scarcity of fresh or minimally processed food in their daily commutes and workplace, beside the easy access and diversity of ultra-processed foods. The economic issue is also perceived by the participants as a marker of weight gain, observing a perception that \"\"healthy eating\"\" and access to any prevention issue is very expensive. The cost associated with the easy access and marketing of ultra-processed foods, beside the time spent commuting and long working shifts, are also pointed out as hindering greater attention and dedication to what is eaten. Male and female participants reported the esteem and prejudice with the fat body, however, men showed fewer concerns and limitations in their lives, even in situations where their body, outside the current aesthetic standard, was exposed. Women, on the other hand, reported and thought more about their bodies, the way people look to them (or the way the look to themselves), feelings, judgments and external values. All of them, important aspects that impact in different moments of their life trajectories. The idea that the fat body is synonymous with weakness and inefficiency is internalized by the participants. Even if some limitations from weight are really felt, there is the awareness that your body should not be a matter for others. Understanding the unpreparedness of professionals to deal with obesity or body weight makes the necessary support to persons with obesity impossible and ends up discouraging follow-up and making the individual responsible for the problems attributed to his body. The programmatic aspect related to the absence of free sports facilities, green spaces, or parks, as well as wideranging public transport and infrastructure and public policies were also identified as drivers of vulnerability to obesity. Conclusion: The study makes it possible to broaden the understanding of the complexity obesity involves, proposing a way of think through the theoretical framework of vulnerability related to dimensions such as gender and social class. The results are useful for expanding knowledge about the phenomenon of obesity, as well as for better development of proposals and interventions that are more effective and less focused on blaming the individual and on the biological aspects of obesity. Not disregarding the individual\'s participation in their self-care process, it is necessary to recognize the pre-eminence of issues such as the environment, culture, emotional health, conditions, situations and lifestyles, the environmental issue and access to rights, as elements that impact on obesity. Elements that make people vulnerable and induce them to adopt behaviours and lifestyles that favour obesity installation and perpetuation.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPFalcão, Marcia Thereza CoutoSoares, Rafael Marques2021-02-12info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-16082021-121645/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-08-05T13:10:02Zoai:teses.usp.br:tde-16082021-121645Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-08-05T13:10:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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O dinamismo das relações sociais articula o estudo da alimentação ao campo das ciências humanas, o qual ganha espaço como objeto de análise, interpretação e compreensão das práticas, representações e tensões que envolvem o espaço social alimentar. Esta complexidade ganha cores diferentes quando compreendida pela perspectiva dos marcadores sociais da diferença, do estigma do peso e das opressões interseccionais, representadas em trajetórias de vida das pessoas com obesidade, muitas vezes pautada pelas discriminações de classe e gênero. Neste estudo, tais aspectos são considerados a partir da abordagem conceitual das vulnerabilidades individuais, coletivas, programáticas e contextuais em articulação aos marcadores sociais da diferença, particularmente gênero e classe social. Objetivos: Explorar, através de aspectos relacionados à perspectiva da vulnerabilidade e dos marcadores sociais da diferença (classe e gênero), o lugar da obesidade nas trajetórias de vida de pessoas que se auto percebem como gordos e obesos. Identificar e compreender, a partir da percepção de participantes auto identificados como pessoas com obesidade, os impactos e influências dos fatores socioambientais em sua relação com o corpo e comportamento alimentar. Apontar e discutir aspectos de análise da vulnerabilidade e dos marcadores sociais da diferença que possam contribuir para a superação das possíveis barreiras geradas pela interação do seu corpo com ambiente obesogênico. Metodologia: Estudo com abordagem qualitativa fundamentado pelos referenciais conceituais de vulnerabilidade, marcadores sociais da diferença, ambiente obesogênico e estigma. O material empírico contempla entrevistas semiestruturadas com 18 mulheres (de 19 a 66 anos) e 7 homens (de 31 a 57 anos) todos trabalhadoras e trabalhadores de um hospital privado da cidade de São Paulo e residentes da grande São Paulo. A produção dos dados empíricos ocorreu em 2019 utilizando da técnica de entrevistas semiestruturadas e análise narrativa. Resultados: Os resultados apontam que a importância da alimentação durante as trajetórias de vida é amplamente impactada por questões emocionais e circunstâncias; com o passar do tempo a qualidade do que e como se come diminui de forma importante. O impacto do ambiente obesogênico é relevante e foi atribuído pelo(a)s participantes à dificuldade de acesso e à escassez de alimentos innatura ou minimamente processados em seus trajetos diários e cercanias do local de trabalho, somado ao fácil acesso e diversidade de opções de alimentos ultraprocessados. A questão econômica também é percebida pelos participantes como um balizador do ganho de peso, observando-se uma percepção de que o \"comer saudável\" e o acesso a qualquer questão de prevenção custa muito caro. O custo associado à praticidade de acessar alimentos ultraprocessados, a exploração midiática dos mesmos e o dispêndio de tempo em deslocamentos ao trabalho somados a jornada de trabalho, também são apontados como dificultadores de uma maior atenção e dedicação ao que se come. O estigma e preconceito com o corpo gordo foi relatado por participantes homens e mulheres, contudo os homens demonstraram menos preocupações e limitações em suas vidas, mesmo em situações onde seu corpo, fora do padrão estético vigente, era exposto. Já as mulheres, com muitos mais relatos e reflexões sobre a relação com seus corpos, ressaltaram olhares (próprios e alheios), sentimentos, julgamentos e valores externos, que impactam diferentes momentos de suas trajetórias de vida. A ideia de que o corpo gordo é sinônimo de fraqueza e ineficiência está internalizada pelo(a)s participantes. Mesmo que algumas limitações oriundas do peso sejam realmente sentidas, há consciência de que seu corpo não deveria ser questão de terceiros. A compreensão do despreparo de profissionais para lidar com a obesidade ou peso corporal impossibilita ao paciente o suporte necessário e acaba desmotivando o acompanhamento e faz recair exclusivamente sobre o indivíduo a culpa pelos problemas atribuídos ao seu corpo. O aspecto programático relativo à ausência de instalações desportivas gratuitas, espaços verdes ou parques, bem como o transporte públicos de amplo alcance e infraestrutura e políticas públicas também foram apontados como impulsionadores da vulnerabilidade a obesidade. Conclusão: O estudo possibilita ampliar a compreensão sobre a complexidade que envolve a obesidade, propondo uma reflexão sobre o tema através do referencial teórico da vulnerabilidade relacionada às dimensões como gênero e classe social. Os resultados são úteis para a ampliação do conhecimento sobre o fenômeno da obesidade, bem como para um melhor desenvolvimento de propostas e intervenções que sejam mais eficazes e menos centradas na culpabilização do indivíduo e nos aspectos biológicos da obesidade. Não desconsiderando a participação do indivíduo no seu processo de autocuidado, é preciso reconhecer a preeminência de questões como o ambiente, cultura, saúde emocional, condições, situações e estilos de vida, a questão ambiental e o acesso aos direitos, como elementos que impactam na obesidade, tornam as pessoas vulneráveis e as induzem à adoção de comportamentos, modos e estilos de vida que favorecem sua instalação e perpetuação.
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