Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Salatino, André Toreli
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-14102014-142726/
Resumo: Este trabalho busca construir uma interpretação a respeito da forma pela qual os jovens das classes populares constroem sua experiência escolar em um contexto cotidiano marcado por grande disseminação de aparelhos tecnológicos. O material que dá base às reflexões foi coletado por meio de uma pesquisa etnográfica que envolveu trabalho de campo prolongado em uma escola da periferia da cidade de São Paulo, além de depoimentos de alunos de uma das turmas acompanhadas, obtidos em situação de grupo focal. Para fundamentar a pesquisa e delinear a tensão que caracteriza o processo de escolarização contemporâneo, buscou-se o suporte teórico de Bourdieu, Dubet, Tiramonti e Bauman. Tendo em vista compreender a invenção da cultura escolar contemporânea, foram levadas em conta as práticas juvenis fundadas na utilização do aparelho celular, em virtude da centralidade que esse equipamento adquiriu nas situações presenciadas em campo. No que tange à lei que proíbe o uso dos aparelhos celulares, considerou-se relevante efetuar um questionamento sobre os pressupostos de incorporação desses aparelhos tecnológicos na escola, a fim de garantir maior autonomia aos professores para as possibilidades de utilização desses aparelhos e evitar o equívoco das usuais prescrições para a postura docente. As análises permitiram constatar que no cotidiano das salas de aula e de outros espaços escolares o celular aparece com múltiplos significados, ainda que muitos docentes e a própria instituição adotem como filtro principal a categoria da indisciplina. Observou-se que os jovens das classes populares se socializam, principalmente, de forma paralela à escola, pois, mesmo adotando certas condutas ritualísticas, como a cópia, eles criam e promovem práticas de distração e diversão com os celulares. Com isso, participam ativamente da reprodução sociocultural deixando de construir uma relação produtiva com os diversos saberes escolares. O envio constante de SMS, assim como as práticas de empréstimo que promovem a circulação de celulares entre os alunos, denota a centralidade que as práticas comunicacionais adquirem entre aqueles jovens indicando que tais dinâmicas constituem um reforço de suas redes de sociabilidade, compostas tanto por laços fracos como fortes, presenciais e virtuais. Constatou-se também que as práticas juvenis aparecem sob uma forma contraditória, não só obedecendo aos mandatos de caráter geral - distração, segregação (Schilling) - mas negando os imperativos de governo de nossa sociedade. São ações simbólicas relacionadas ao contexto social mais amplo, integradas à teia de relações que conformam a cultura brasileira marcada pela ausência de uma clara separação entre as esferas pública e privada. Isso tem favorecido uma condescendência cada vez maior com a generalização de práticas sonoras em público por meio do uso de aparelhos diversos, incluindo os celulares. Tais práticas tem chegado à escola levando os alunos a manifestar, também naquele espaço público, comportamentos que seriam específicos da vida privada. Enredados nessa rede intensa de relações, os comportamentos e aparições dos jovens nos espaços públicos e virtuais se mostram como parte integrante de sua sociabilidade, por meio da qual eles narram uma identidade efêmera, essencialmente construída na contemporaneidade em sua relação com os aparelhos tecnológicos.
id USP_22ab41af2c55a7647323f98374e30f71
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-14102014-142726
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporâneaAcross links and social networks: on youngsters, cellphones and the contemporary schoolCellphonesCommunication technologiesEscolarizaçãoJuventudeSchoolingSocializaçãoSocializationTecnologias da comunicaçãoTelefonia celularYouthEste trabalho busca construir uma interpretação a respeito da forma pela qual os jovens das classes populares constroem sua experiência escolar em um contexto cotidiano marcado por grande disseminação de aparelhos tecnológicos. O material que dá base às reflexões foi coletado por meio de uma pesquisa etnográfica que envolveu trabalho de campo prolongado em uma escola da periferia da cidade de São Paulo, além de depoimentos de alunos de uma das turmas acompanhadas, obtidos em situação de grupo focal. Para fundamentar a pesquisa e delinear a tensão que caracteriza o processo de escolarização contemporâneo, buscou-se o suporte teórico de Bourdieu, Dubet, Tiramonti e Bauman. Tendo em vista compreender a invenção da cultura escolar contemporânea, foram levadas em conta as práticas juvenis fundadas na utilização do aparelho celular, em virtude da centralidade que esse equipamento adquiriu nas situações presenciadas em campo. No que tange à lei que proíbe o uso dos aparelhos celulares, considerou-se relevante efetuar um questionamento sobre os pressupostos de incorporação desses aparelhos tecnológicos na escola, a fim de garantir maior autonomia aos professores para as possibilidades de utilização desses aparelhos e evitar o equívoco das usuais prescrições para a postura docente. As análises permitiram constatar que no cotidiano das salas de aula e de outros espaços escolares o celular aparece com múltiplos significados, ainda que muitos docentes e a própria instituição adotem como filtro principal a categoria da indisciplina. Observou-se que os jovens das classes populares se socializam, principalmente, de forma paralela à escola, pois, mesmo adotando certas condutas ritualísticas, como a cópia, eles criam e promovem práticas de distração e diversão com os celulares. Com isso, participam ativamente da reprodução sociocultural deixando de construir uma relação produtiva com os diversos saberes escolares. O envio constante de SMS, assim como as práticas de empréstimo que promovem a circulação de celulares entre os alunos, denota a centralidade que as práticas comunicacionais adquirem entre aqueles jovens indicando que tais dinâmicas constituem um reforço de suas redes de sociabilidade, compostas tanto por laços fracos como fortes, presenciais e virtuais. Constatou-se também que as práticas juvenis aparecem sob uma forma contraditória, não só obedecendo aos mandatos de caráter geral - distração, segregação (Schilling) - mas negando os imperativos de governo de nossa sociedade. São ações simbólicas relacionadas ao contexto social mais amplo, integradas à teia de relações que conformam a cultura brasileira marcada pela ausência de uma clara separação entre as esferas pública e privada. Isso tem favorecido uma condescendência cada vez maior com a generalização de práticas sonoras em público por meio do uso de aparelhos diversos, incluindo os celulares. Tais práticas tem chegado à escola levando os alunos a manifestar, também naquele espaço público, comportamentos que seriam específicos da vida privada. Enredados nessa rede intensa de relações, os comportamentos e aparições dos jovens nos espaços públicos e virtuais se mostram como parte integrante de sua sociabilidade, por meio da qual eles narram uma identidade efêmera, essencialmente construída na contemporaneidade em sua relação com os aparelhos tecnológicos.This work seeks to build an interpretation about the way in which working-class youngsters construct their school experience within a daily context marked by the wide dissemination of technological devices. The material that gives basis to the reflections was collected through an ethnographic research that involved a lengthy fieldwork in a school located on the outskirts of the city of São Paulo, apart from students testimonies from one of the classes followed, which were obtained in the situation of a focal group. To ground the research and to help outline the tension that characterizes the contemporary schooling process, theoretical support was drawn from the works of Bourdieu, Dubet, Tiramonti, and Bauman. In view of the central role that this device played in the situations observed in the field, the youngsters practices based on the use of the cellphone were taken as a focus when seeking to understand the invention of contemporary school culture. With respect to the law that prohibits the use of cellphones, it was considered relevant to question the assumptions of the incorporation of these technological devices in the school, in order to guarantee greater autonomy to teachers as to the possibilities of utilization of these devices, and to avoid the mistake of prescribing teachers attitudes. The analyses revealed that in the classroom daily life, and in other schools spaces, the cellphone appears with multiple meanings, although many teachers and the institution itself adopt as the main filter the category of indiscipline. It could be seen that working class youngsters socialize mainly in parallel to the school since, although adopting certain ritualistic conducts, such as copying, they create and promote practices of distraction and amusement with the cellphones. With that, they participate actively in the sociocultural reproduction, failing to build a productive relationship with the school knowledges. The constant exchange of text messages, as well as the borrowing practices that promote the circulation of cellphones, denotes the centrality that communicational practices acquire among students, indicating that such dynamics constitute a reinforcement of their social networking, which is comprised both of weak and strong links, virtual as well as presencebased. I was also observed that the youngsters practices appear under a contradictory form, following not just the dictates of a general nature distraction, segregation (Schilling) but also denying the governing imperatives of our society. These are symbolic actions related to the wider social context, integrated into the web of relations that give shape to a Brazilian culture marked by the absence of a clear separation between the public and private spheres. This has stimulated an increasing lenience towards the dissemination of listening practices in public through the use of various devices, including cellphones. Such practices have reached the school, leading students to display also in that public space behavior that would be specific to private life. Entangled in this thick network of relationships, the behavior and displays of youngsters in public and virtual spaces appear as an integral part of their sociability, through which they speak of an ephemeral identity, constructed essentially these days in its relation with technological devices.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPBueno, Belmira Amelia de Barros OliveiraSalatino, André Toreli2014-04-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-14102014-142726/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:55Zoai:teses.usp.br:tde-14102014-142726Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:55Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea
Across links and social networks: on youngsters, cellphones and the contemporary school
title Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea
spellingShingle Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea
Salatino, André Toreli
Cellphones
Communication technologies
Escolarização
Juventude
Schooling
Socialização
Socialization
Tecnologias da comunicação
Telefonia celular
Youth
title_short Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea
title_full Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea
title_fullStr Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea
title_full_unstemmed Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea
title_sort Entre laços e redes de sociabilidade. Sobre jovens, celulares e escola contemporânea
author Salatino, André Toreli
author_facet Salatino, André Toreli
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Bueno, Belmira Amelia de Barros Oliveira
dc.contributor.author.fl_str_mv Salatino, André Toreli
dc.subject.por.fl_str_mv Cellphones
Communication technologies
Escolarização
Juventude
Schooling
Socialização
Socialization
Tecnologias da comunicação
Telefonia celular
Youth
topic Cellphones
Communication technologies
Escolarização
Juventude
Schooling
Socialização
Socialization
Tecnologias da comunicação
Telefonia celular
Youth
description Este trabalho busca construir uma interpretação a respeito da forma pela qual os jovens das classes populares constroem sua experiência escolar em um contexto cotidiano marcado por grande disseminação de aparelhos tecnológicos. O material que dá base às reflexões foi coletado por meio de uma pesquisa etnográfica que envolveu trabalho de campo prolongado em uma escola da periferia da cidade de São Paulo, além de depoimentos de alunos de uma das turmas acompanhadas, obtidos em situação de grupo focal. Para fundamentar a pesquisa e delinear a tensão que caracteriza o processo de escolarização contemporâneo, buscou-se o suporte teórico de Bourdieu, Dubet, Tiramonti e Bauman. Tendo em vista compreender a invenção da cultura escolar contemporânea, foram levadas em conta as práticas juvenis fundadas na utilização do aparelho celular, em virtude da centralidade que esse equipamento adquiriu nas situações presenciadas em campo. No que tange à lei que proíbe o uso dos aparelhos celulares, considerou-se relevante efetuar um questionamento sobre os pressupostos de incorporação desses aparelhos tecnológicos na escola, a fim de garantir maior autonomia aos professores para as possibilidades de utilização desses aparelhos e evitar o equívoco das usuais prescrições para a postura docente. As análises permitiram constatar que no cotidiano das salas de aula e de outros espaços escolares o celular aparece com múltiplos significados, ainda que muitos docentes e a própria instituição adotem como filtro principal a categoria da indisciplina. Observou-se que os jovens das classes populares se socializam, principalmente, de forma paralela à escola, pois, mesmo adotando certas condutas ritualísticas, como a cópia, eles criam e promovem práticas de distração e diversão com os celulares. Com isso, participam ativamente da reprodução sociocultural deixando de construir uma relação produtiva com os diversos saberes escolares. O envio constante de SMS, assim como as práticas de empréstimo que promovem a circulação de celulares entre os alunos, denota a centralidade que as práticas comunicacionais adquirem entre aqueles jovens indicando que tais dinâmicas constituem um reforço de suas redes de sociabilidade, compostas tanto por laços fracos como fortes, presenciais e virtuais. Constatou-se também que as práticas juvenis aparecem sob uma forma contraditória, não só obedecendo aos mandatos de caráter geral - distração, segregação (Schilling) - mas negando os imperativos de governo de nossa sociedade. São ações simbólicas relacionadas ao contexto social mais amplo, integradas à teia de relações que conformam a cultura brasileira marcada pela ausência de uma clara separação entre as esferas pública e privada. Isso tem favorecido uma condescendência cada vez maior com a generalização de práticas sonoras em público por meio do uso de aparelhos diversos, incluindo os celulares. Tais práticas tem chegado à escola levando os alunos a manifestar, também naquele espaço público, comportamentos que seriam específicos da vida privada. Enredados nessa rede intensa de relações, os comportamentos e aparições dos jovens nos espaços públicos e virtuais se mostram como parte integrante de sua sociabilidade, por meio da qual eles narram uma identidade efêmera, essencialmente construída na contemporaneidade em sua relação com os aparelhos tecnológicos.
publishDate 2014
dc.date.none.fl_str_mv 2014-04-29
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-14102014-142726/
url http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-14102014-142726/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1809090722329001984