Microvestígios botânicos em artefatos líticos do sítio Lapa do Santo (Lagoa Santa, Minas Gerais)
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-18092019-104742/ |
Resumo: | A região cárstica de Lagoa Santa (Minas Gerais) contém dezenas de sítios arqueológicos, cujos mais antigos datam do Holoceno Inicial (período entre 10.000 e 7000 anos A.P.), com coleções numerosas de remanescentes esqueletais humanos bem preservados. O sítio em abrigo Lapa do Santo, localizado ao norte do carste, contém mais de 30 sepultamentos humanos escavados, tendo sido identificadas práticas funerárias complexas que incluem o descarnamento, a decapitação e a remoção intencional de dentes. A matriz sedimentar que contém os vestígios é constituída de cinzas de antigas estruturas de combustão, acesas em um período de 3000 anos. Muitos artefatos líticos foram escavados no sítio, a maioria com pequenas dimensões (comprimento com cerca de 22 mm). Os líticos do sítio são lascas (raramente retocadas), núcleos e resíduos de lascamento, grande parte produzidos com cristais de quartzo hialino. Estudos tecnológicos e experimentais prévios sugerem que os líticos seriam usados para cortar e raspar materiais pequenos e macios, como plantas. Nesta pesquisa, para verificar o uso dos líticos da Lapa do Santo para o processamento de plantas, foram realizadas análises de microvestígios botânicos (fitólitos e amido) recuperados em 20 líticos do sítio. Esses artefatos foram recuperados de três unidades de escavação diferentes e do contexto de um sepultamento, seguindo um protocolo específico para evitar a contaminação durante a coleta. Amostras de sedimento do sítio também foram analisadas para verificar a possível contaminação dos microvestígios retidos nos líticos com os microvestígios presentes no sedimento. As análises revelaram fitólitos nos líticos (n = 19) e no sedimento (em todas as amostras), assim como amido na maioria dos líticos (n = 16) e em uma única amostra de sedimento. Os morfotipos de fitólitos identificados são diagnósticos dos seguintes táxons de plantas: Aristidoideae, Bambusoideae, Chloridoideae, Arecaceae (palmeiras), Poaceae (gramíneas) incluindo Panicoideae e, dentre essas, Zea mays (milho), Cyperaceae, inclusive Cyperus/Kyllinga sp; Zingiberales e Eudicotiledôneas (arbóreas). Os grãos de amido identificados apresentam semelhanças, embora nem sempre totalmente, com aqueles pertencentes aos táxons: Araceae (taioba), Arecaceae, Poaceae incluindo gramíneas selvagens e Zea mays; Ipomoea batatas (batata-doce), Capsicum sp. (pimenta e pimentão) e Dioscorea sp. (cará). Os resultados indicam que os instrumentos foram usados para processar plantas amiláceas cruas. Na quadra N23 quase todos os fitólitos que estão presentes nos líticos estão presentes também no sedimento (com exceção de Cyperaceae, presentes nos líticos, mas não no sedimento). Isso sugere uma possível contaminação dos líticos com os fitólitos do sedimento. Na quadra P11 há fitólitos de dois táxons de plantas (Aristidoideae e Zingiberales) nos líticos que não estão presentes no sedimento. Na quadra AE1 há fitólitos de quatro táxons de plantas (Bambusoideae, Chloridoideae, Cyperus/Kyllinga sp. e Zingiberales) nos líticos, que não estão presentes no sedimento ao redor. A presença exclusiva desses fitólitos nos líticos das quadras P11 e AE1, mas não no sedimento, indica que tais plantas foram, de fato, processadas com os artefatos. |
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Microvestígios botânicos em artefatos líticos do sítio Lapa do Santo (Lagoa Santa, Minas Gerais)Botanical microremains in lithic artifacts from the site of Lapa do Santo (LAGOA Santa, Minas Gerais)AmidoEarly HoloceneFitólitosHoloceno InicialInstrumentos LíticosLagoa SantaLagoa SantaLithic ArtifactsMicroarchaeobotanyMicroarqueobotânicaPhytolithsStarchA região cárstica de Lagoa Santa (Minas Gerais) contém dezenas de sítios arqueológicos, cujos mais antigos datam do Holoceno Inicial (período entre 10.000 e 7000 anos A.P.), com coleções numerosas de remanescentes esqueletais humanos bem preservados. O sítio em abrigo Lapa do Santo, localizado ao norte do carste, contém mais de 30 sepultamentos humanos escavados, tendo sido identificadas práticas funerárias complexas que incluem o descarnamento, a decapitação e a remoção intencional de dentes. A matriz sedimentar que contém os vestígios é constituída de cinzas de antigas estruturas de combustão, acesas em um período de 3000 anos. Muitos artefatos líticos foram escavados no sítio, a maioria com pequenas dimensões (comprimento com cerca de 22 mm). Os líticos do sítio são lascas (raramente retocadas), núcleos e resíduos de lascamento, grande parte produzidos com cristais de quartzo hialino. Estudos tecnológicos e experimentais prévios sugerem que os líticos seriam usados para cortar e raspar materiais pequenos e macios, como plantas. Nesta pesquisa, para verificar o uso dos líticos da Lapa do Santo para o processamento de plantas, foram realizadas análises de microvestígios botânicos (fitólitos e amido) recuperados em 20 líticos do sítio. Esses artefatos foram recuperados de três unidades de escavação diferentes e do contexto de um sepultamento, seguindo um protocolo específico para evitar a contaminação durante a coleta. Amostras de sedimento do sítio também foram analisadas para verificar a possível contaminação dos microvestígios retidos nos líticos com os microvestígios presentes no sedimento. As análises revelaram fitólitos nos líticos (n = 19) e no sedimento (em todas as amostras), assim como amido na maioria dos líticos (n = 16) e em uma única amostra de sedimento. Os morfotipos de fitólitos identificados são diagnósticos dos seguintes táxons de plantas: Aristidoideae, Bambusoideae, Chloridoideae, Arecaceae (palmeiras), Poaceae (gramíneas) incluindo Panicoideae e, dentre essas, Zea mays (milho), Cyperaceae, inclusive Cyperus/Kyllinga sp; Zingiberales e Eudicotiledôneas (arbóreas). Os grãos de amido identificados apresentam semelhanças, embora nem sempre totalmente, com aqueles pertencentes aos táxons: Araceae (taioba), Arecaceae, Poaceae incluindo gramíneas selvagens e Zea mays; Ipomoea batatas (batata-doce), Capsicum sp. (pimenta e pimentão) e Dioscorea sp. (cará). Os resultados indicam que os instrumentos foram usados para processar plantas amiláceas cruas. Na quadra N23 quase todos os fitólitos que estão presentes nos líticos estão presentes também no sedimento (com exceção de Cyperaceae, presentes nos líticos, mas não no sedimento). Isso sugere uma possível contaminação dos líticos com os fitólitos do sedimento. Na quadra P11 há fitólitos de dois táxons de plantas (Aristidoideae e Zingiberales) nos líticos que não estão presentes no sedimento. Na quadra AE1 há fitólitos de quatro táxons de plantas (Bambusoideae, Chloridoideae, Cyperus/Kyllinga sp. e Zingiberales) nos líticos, que não estão presentes no sedimento ao redor. A presença exclusiva desses fitólitos nos líticos das quadras P11 e AE1, mas não no sedimento, indica que tais plantas foram, de fato, processadas com os artefatos.The karstic region of Lagoa Santa (Minas Gerais state) contains several archaeological sites dating back to the early Holocene with an astonishing number of well-preserved human remains. The Lapa do Santo rockshelter site, in the northern part of the karst, contains more than 30 human interments in which complex funerary rituals were identified, including defleshing, decapitation and intentional teeth removal. The sedimentary matrix containing the skeletal remains is mostly made of ashes from ancient combustion structures, lit within a period of about 3000 years. Several lithic artifacts have been recovered from the site, most of them of small dimensions (length around 22 mm). Lithics are mostly flakes (rarely retouched), cores and splinters made from single crystals of hyaline quartz. Previous technological research suggests that lithic artifacts were used to cut and scrape small and soft materials, like plants. To verify whether the lithics from Lapa do Santo were indeed used to process plant resources, analyses of plant microremains (phytoliths and starch) were undertaken in 20 artifacts from the site. The artifacts were recovered from three different excavation units (1 m x 1 m) and one interment, following a specific protocol to prevent contamination during collection. Sediment samples from the site were also analyzed in order to differentiate between microremains retained in the lithics after their use or incorporated later from the surrounding sediments. The analyses revealed a larger amount of phytoliths in the lithics (19 of them) and sediment (all samples) and starch in most of the artifacts (16 of them) and in one sediment sample. The identified phytolith morphotypes are diagnostic of the following plant taxa: Aristidoideae, Bambusoideae, Chloridoideae, Arecaceae, Poaceae, including Panicoideae and among these, Zea mays (corn), Cyperaceae, including Cyperus/Kyllinga sp; Zingiberales and Eudicots. The starch grains show resemblances (even though not completely sometimes) to those belonging to: Araceae, Arecaceae, Poaceae, including wild grasses and Zea mays, Ipomoea batatas, Capsicum sp. and Dioscorea sp. The results indicate that the instruments were used to process raw (non cooked) starchy plants. Almost every phytolith from the N23 excavation unit that are present in lithics, are also present in the sediment from this unit (except the ones of Cyperaceae, present in lithic but not in the sediment), which strongly suggest contamination of the lithics with the phytoliths and starch from the sediment. From the P11 excavation unit there are phytolithis of two plant taxa (Aristidoideae and Zingiberales) in the lithics that are not present in the sediment. From the AE1 excavation unit there are phytoliths from four plant taxa (Bambusoideae, Chloridoideae, Cyperus/Kyllinga sp. and Zingiberales) in the lithics that are not present in the sediment. This suggests that the phytoliths in these artifacts may have been originated by their use and not by contamination with the sediment.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPBoyadjian, Célia Helena CezarVillagran, Ximena SuarezOrtega, Daniela Dias2019-06-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-18092019-104742/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2021-09-17T12:57:20Zoai:teses.usp.br:tde-18092019-104742Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212021-09-17T12:57:20Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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A região cárstica de Lagoa Santa (Minas Gerais) contém dezenas de sítios arqueológicos, cujos mais antigos datam do Holoceno Inicial (período entre 10.000 e 7000 anos A.P.), com coleções numerosas de remanescentes esqueletais humanos bem preservados. O sítio em abrigo Lapa do Santo, localizado ao norte do carste, contém mais de 30 sepultamentos humanos escavados, tendo sido identificadas práticas funerárias complexas que incluem o descarnamento, a decapitação e a remoção intencional de dentes. A matriz sedimentar que contém os vestígios é constituída de cinzas de antigas estruturas de combustão, acesas em um período de 3000 anos. Muitos artefatos líticos foram escavados no sítio, a maioria com pequenas dimensões (comprimento com cerca de 22 mm). Os líticos do sítio são lascas (raramente retocadas), núcleos e resíduos de lascamento, grande parte produzidos com cristais de quartzo hialino. Estudos tecnológicos e experimentais prévios sugerem que os líticos seriam usados para cortar e raspar materiais pequenos e macios, como plantas. Nesta pesquisa, para verificar o uso dos líticos da Lapa do Santo para o processamento de plantas, foram realizadas análises de microvestígios botânicos (fitólitos e amido) recuperados em 20 líticos do sítio. Esses artefatos foram recuperados de três unidades de escavação diferentes e do contexto de um sepultamento, seguindo um protocolo específico para evitar a contaminação durante a coleta. Amostras de sedimento do sítio também foram analisadas para verificar a possível contaminação dos microvestígios retidos nos líticos com os microvestígios presentes no sedimento. As análises revelaram fitólitos nos líticos (n = 19) e no sedimento (em todas as amostras), assim como amido na maioria dos líticos (n = 16) e em uma única amostra de sedimento. Os morfotipos de fitólitos identificados são diagnósticos dos seguintes táxons de plantas: Aristidoideae, Bambusoideae, Chloridoideae, Arecaceae (palmeiras), Poaceae (gramíneas) incluindo Panicoideae e, dentre essas, Zea mays (milho), Cyperaceae, inclusive Cyperus/Kyllinga sp; Zingiberales e Eudicotiledôneas (arbóreas). Os grãos de amido identificados apresentam semelhanças, embora nem sempre totalmente, com aqueles pertencentes aos táxons: Araceae (taioba), Arecaceae, Poaceae incluindo gramíneas selvagens e Zea mays; Ipomoea batatas (batata-doce), Capsicum sp. (pimenta e pimentão) e Dioscorea sp. (cará). Os resultados indicam que os instrumentos foram usados para processar plantas amiláceas cruas. Na quadra N23 quase todos os fitólitos que estão presentes nos líticos estão presentes também no sedimento (com exceção de Cyperaceae, presentes nos líticos, mas não no sedimento). Isso sugere uma possível contaminação dos líticos com os fitólitos do sedimento. Na quadra P11 há fitólitos de dois táxons de plantas (Aristidoideae e Zingiberales) nos líticos que não estão presentes no sedimento. Na quadra AE1 há fitólitos de quatro táxons de plantas (Bambusoideae, Chloridoideae, Cyperus/Kyllinga sp. e Zingiberales) nos líticos, que não estão presentes no sedimento ao redor. A presença exclusiva desses fitólitos nos líticos das quadras P11 e AE1, mas não no sedimento, indica que tais plantas foram, de fato, processadas com os artefatos. |
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