Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ecar, Ariadne Lopes
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-31072017-164756/
Resumo: No início do primeiro período republicano, houve no Brasil movimentos em prol da fixação do indivíduo à terra, baseando-se principalmente nas reflexões de Alberto Torres, ao mesmo tempo em que se pretendia construir a imagem do país como eminentemente agrícola. Nesse contexto, agrícola, regional e rural eram conceitos tomados como sinônimos. Nos debates empreendidos nos círculos educacionais havia discussões sobre a viabilidade da especialização das escolas, se deveria ser rural ou regional, pois havia entendimento de que ensino agrícola estaria voltado para o campo profissional. Os adeptos do ensino rural ou regional, viam a educação para o trabalho como fim das escolas primárias das zonas rurais, associada ao higienismo e ao nacionalismo, considerados como meio de desenvolvimento do país. As reformas efetuadas na década de 1920 problematizaram o regional e o rural abrindo espaço para acirradas disputas em torno do ensino mais eficaz para as escolas rurais. Em 1932 foi criada a Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, entidade de alcance nacional, que pretendia vulgarizar o pensamento torreano, e em 1935 a Sociedade Luiz Pereira Barreto em São Paulo, com o intuito de divulgar conhecimentos de ensino, agricultura, saúde e economia doméstica às populações do interior. Em 1932, a Diretoria de Ensino do Estado de São Paulo tinha como diretor Sud Mennucci, ávido defensor do ensino rural, que convidou Noêmia Saraiva de Mattos Cruz a iniciar uma prática pedagógica rural no Grupo Escolar que funcionava dentro do Instituto Butantan, no bairro paulista homônimo. Noêmia Cruz formada pela Escola Normal da Praça da República, exerceu o magistério no Grupo Escolar de Pedreira na década de 1910. Em 1920 pediu demissão, e em 1932, voltou a exercer a profissão. Ao ingressar no Grupo Escolar de Butantan fez cursos rurais na Secretaria de Agricultura; no Instituto Biológico de Defesa Agrícola; na Diretoria de Indústria Animal; no Horto Florestal da Cantareira; na Escola Agrícola Luiz de Queiroz; no Instituto Agronômico de Campinas; e na Fazenda Experimental Santa Elisa, que lhe capacitaram a trabalhar com sericicultura; apicultura; avicultura; cunicultura; horticultura (incluindo roças e plantas de estufa); silvicultura; jardinagem; e pomicultura. Noêmia Cruz criou um Clube Agrícola no Grupo Escolar Rural de Butantan, associação de alunos que tinha por objetivo ensinar culturas rurais ludicamente, de modo a criarem vínculo com a terra. A produção do Clube Agrícola era utilizada na alimentação oferecida pela escola, o excedente era vendido e o montante empregado na assistência aos alunos. O Grupo Escolar passou a rural definitivamente pelo Decreto n. 6.047, de 19 de agosto de 1933, e recebeu nova organização pelo Decreto n. 7.268, de 02 de julho de 1935. Baseandose no ensino ativo, Noêmia Cruz articulava o programa de ensino oficial com as atividades rurais, registradas em cadernos; jornais; livros da vida; e fotografias. Sua proposta foi amplamente propagandeada pelo Brasil como modelo de ensino rural.
id USP_44dffac4303d6000e0180e10ec6b33ee
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-31072017-164756
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)Discussions about rural education in Brazil and the pedagogical practice of Noêmia Saraiva de Mattos Cruz in the Rural School Group of Butantan (1932-1943)Ensino ruralGrupo Escolar Rural de ButantanNoêmia Saraiva de Mattos CruzNoêmia Saraiva de Mattos CruzRural educationRural School Group of ButantanNo início do primeiro período republicano, houve no Brasil movimentos em prol da fixação do indivíduo à terra, baseando-se principalmente nas reflexões de Alberto Torres, ao mesmo tempo em que se pretendia construir a imagem do país como eminentemente agrícola. Nesse contexto, agrícola, regional e rural eram conceitos tomados como sinônimos. Nos debates empreendidos nos círculos educacionais havia discussões sobre a viabilidade da especialização das escolas, se deveria ser rural ou regional, pois havia entendimento de que ensino agrícola estaria voltado para o campo profissional. Os adeptos do ensino rural ou regional, viam a educação para o trabalho como fim das escolas primárias das zonas rurais, associada ao higienismo e ao nacionalismo, considerados como meio de desenvolvimento do país. As reformas efetuadas na década de 1920 problematizaram o regional e o rural abrindo espaço para acirradas disputas em torno do ensino mais eficaz para as escolas rurais. Em 1932 foi criada a Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, entidade de alcance nacional, que pretendia vulgarizar o pensamento torreano, e em 1935 a Sociedade Luiz Pereira Barreto em São Paulo, com o intuito de divulgar conhecimentos de ensino, agricultura, saúde e economia doméstica às populações do interior. Em 1932, a Diretoria de Ensino do Estado de São Paulo tinha como diretor Sud Mennucci, ávido defensor do ensino rural, que convidou Noêmia Saraiva de Mattos Cruz a iniciar uma prática pedagógica rural no Grupo Escolar que funcionava dentro do Instituto Butantan, no bairro paulista homônimo. Noêmia Cruz formada pela Escola Normal da Praça da República, exerceu o magistério no Grupo Escolar de Pedreira na década de 1910. Em 1920 pediu demissão, e em 1932, voltou a exercer a profissão. Ao ingressar no Grupo Escolar de Butantan fez cursos rurais na Secretaria de Agricultura; no Instituto Biológico de Defesa Agrícola; na Diretoria de Indústria Animal; no Horto Florestal da Cantareira; na Escola Agrícola Luiz de Queiroz; no Instituto Agronômico de Campinas; e na Fazenda Experimental Santa Elisa, que lhe capacitaram a trabalhar com sericicultura; apicultura; avicultura; cunicultura; horticultura (incluindo roças e plantas de estufa); silvicultura; jardinagem; e pomicultura. Noêmia Cruz criou um Clube Agrícola no Grupo Escolar Rural de Butantan, associação de alunos que tinha por objetivo ensinar culturas rurais ludicamente, de modo a criarem vínculo com a terra. A produção do Clube Agrícola era utilizada na alimentação oferecida pela escola, o excedente era vendido e o montante empregado na assistência aos alunos. O Grupo Escolar passou a rural definitivamente pelo Decreto n. 6.047, de 19 de agosto de 1933, e recebeu nova organização pelo Decreto n. 7.268, de 02 de julho de 1935. Baseandose no ensino ativo, Noêmia Cruz articulava o programa de ensino oficial com as atividades rurais, registradas em cadernos; jornais; livros da vida; e fotografias. Sua proposta foi amplamente propagandeada pelo Brasil como modelo de ensino rural.In the beginning of the first republican period in Brazil, there were movements for the settlement of the individual to the land, based mainly on the reflections of Alberto Torres, as well as it was intended to build an image of the country as \"eminently agricultural\". In this context, agricultural, regional and rural were concepts taken as synonyms. In the debates held in educational circles there were discussions about the feasibility of the specialization of schools, whether it should be rural or regional, since there was an understanding that agricultural education would be aimed at the professional field. Rural or regional followers saw education for the work as the end of primary schools in rural areas, associated with hygienism and nationalism, ways of developing the country. The reforms carried out in the 1920s problematized the regional and the rural, making room for fierce disputes over the most effective teaching for rural schools. In 1932, the Society of Friends of Alberto Torres was created, an entity of national scope that sought to popularize Alberto Torre\'s thinking, and in 1935, it was created Society Luiz Pereira Barreto in São Paulo, with the purpose of disseminating knowledge of teaching, agriculture, health and domestic economy to the population of the interior. In 1932, the Directorate of Education of the State of Sao Paulo had as director Sud Mennucci, an avid defender of rural education, who invited Noêmia Saraiva de Mattos Cruz to start a rural pedagogical practice in the School Group that operated inside the Butantan Institute, in the São Paulo homonymous district. Noêmia Cruz graduated from the Normal School of Praça da República, and worked at the Pedreira School Group in the 1910s. In 1920 resigned and in 1932 returned to exercise the profession. When he joined the Butantan School Group, he attended rural courses in the Agriculture Department, the Agricultural Defense Biological Institute, the Animal Industry Board, the Cantareira Forestry Department, the Luiz de Queiroz Agricultural School, the Campinas Agronomy Institute and the Experimental Farm Santa Elisa, which enabled her to work with sericulture, beekeeping, poultry, rabbits, horticulture (including crops and greenhouse plants), forestry, gardening and pomiculture). Noêmia Cruz created an Agricultural Club in the Rural School Group, an association of students whose aim was to teach rural cultures in order to create a bond with the land. The production of the Agricultural Club was used in the meals offered by the school, the surplus sold and the amount was used to assist the students. The School Group became rural definitively by Decree number 6.047, in 1933, and was reorganized by Decree number 7.268 in 1935. Based on active education, Noêmia Cruz articulated the official teaching program with rural activities, which were recorded in notebooks, newspapers, books of life and photographs. Her proposal was widely propagated in Brazil as a model of rural education.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPVidal, Diana GoncalvesEcar, Ariadne Lopes2017-05-19info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-31072017-164756/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-07-17T16:38:18Zoai:teses.usp.br:tde-31072017-164756Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-07-17T16:38:18Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)
Discussions about rural education in Brazil and the pedagogical practice of Noêmia Saraiva de Mattos Cruz in the Rural School Group of Butantan (1932-1943)
title Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)
spellingShingle Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)
Ecar, Ariadne Lopes
Ensino rural
Grupo Escolar Rural de Butantan
Noêmia Saraiva de Mattos Cruz
Noêmia Saraiva de Mattos Cruz
Rural education
Rural School Group of Butantan
title_short Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)
title_full Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)
title_fullStr Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)
title_full_unstemmed Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)
title_sort Debates sobre ensino rural no Brasil e a prática pedagógica de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz no Grupo Escolar Rural de Butantan (1932-1943)
author Ecar, Ariadne Lopes
author_facet Ecar, Ariadne Lopes
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Vidal, Diana Goncalves
dc.contributor.author.fl_str_mv Ecar, Ariadne Lopes
dc.subject.por.fl_str_mv Ensino rural
Grupo Escolar Rural de Butantan
Noêmia Saraiva de Mattos Cruz
Noêmia Saraiva de Mattos Cruz
Rural education
Rural School Group of Butantan
topic Ensino rural
Grupo Escolar Rural de Butantan
Noêmia Saraiva de Mattos Cruz
Noêmia Saraiva de Mattos Cruz
Rural education
Rural School Group of Butantan
description No início do primeiro período republicano, houve no Brasil movimentos em prol da fixação do indivíduo à terra, baseando-se principalmente nas reflexões de Alberto Torres, ao mesmo tempo em que se pretendia construir a imagem do país como eminentemente agrícola. Nesse contexto, agrícola, regional e rural eram conceitos tomados como sinônimos. Nos debates empreendidos nos círculos educacionais havia discussões sobre a viabilidade da especialização das escolas, se deveria ser rural ou regional, pois havia entendimento de que ensino agrícola estaria voltado para o campo profissional. Os adeptos do ensino rural ou regional, viam a educação para o trabalho como fim das escolas primárias das zonas rurais, associada ao higienismo e ao nacionalismo, considerados como meio de desenvolvimento do país. As reformas efetuadas na década de 1920 problematizaram o regional e o rural abrindo espaço para acirradas disputas em torno do ensino mais eficaz para as escolas rurais. Em 1932 foi criada a Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, entidade de alcance nacional, que pretendia vulgarizar o pensamento torreano, e em 1935 a Sociedade Luiz Pereira Barreto em São Paulo, com o intuito de divulgar conhecimentos de ensino, agricultura, saúde e economia doméstica às populações do interior. Em 1932, a Diretoria de Ensino do Estado de São Paulo tinha como diretor Sud Mennucci, ávido defensor do ensino rural, que convidou Noêmia Saraiva de Mattos Cruz a iniciar uma prática pedagógica rural no Grupo Escolar que funcionava dentro do Instituto Butantan, no bairro paulista homônimo. Noêmia Cruz formada pela Escola Normal da Praça da República, exerceu o magistério no Grupo Escolar de Pedreira na década de 1910. Em 1920 pediu demissão, e em 1932, voltou a exercer a profissão. Ao ingressar no Grupo Escolar de Butantan fez cursos rurais na Secretaria de Agricultura; no Instituto Biológico de Defesa Agrícola; na Diretoria de Indústria Animal; no Horto Florestal da Cantareira; na Escola Agrícola Luiz de Queiroz; no Instituto Agronômico de Campinas; e na Fazenda Experimental Santa Elisa, que lhe capacitaram a trabalhar com sericicultura; apicultura; avicultura; cunicultura; horticultura (incluindo roças e plantas de estufa); silvicultura; jardinagem; e pomicultura. Noêmia Cruz criou um Clube Agrícola no Grupo Escolar Rural de Butantan, associação de alunos que tinha por objetivo ensinar culturas rurais ludicamente, de modo a criarem vínculo com a terra. A produção do Clube Agrícola era utilizada na alimentação oferecida pela escola, o excedente era vendido e o montante empregado na assistência aos alunos. O Grupo Escolar passou a rural definitivamente pelo Decreto n. 6.047, de 19 de agosto de 1933, e recebeu nova organização pelo Decreto n. 7.268, de 02 de julho de 1935. Baseandose no ensino ativo, Noêmia Cruz articulava o programa de ensino oficial com as atividades rurais, registradas em cadernos; jornais; livros da vida; e fotografias. Sua proposta foi amplamente propagandeada pelo Brasil como modelo de ensino rural.
publishDate 2017
dc.date.none.fl_str_mv 2017-05-19
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-31072017-164756/
url http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-31072017-164756/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1809091222211395584