Políticas educacionais e a Base Nacional Comum Curricular: projetos em disputa
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2024 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48139/tde-12112024-132359/ |
Resumo: | Essa tese analisa as disputas sociais e educacionais envolvidas no processo de elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da educação infantil e do ensino fundamental. O período selecionado vai de 2009, quando se iniciaram as discussões para construção do Plano Nacional de Educação, até 2017, quando a BNCC foi homologada. Nosso referencial teórico é o materialismo histórico e dialético, dialogando principalmente com Antonio Gramsci e Florestan Fernandes, esse último com contribuições fundamentais para a análise das particularidades da realidade brasileira. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada a partir de revisão bibliográfica e análise de documentos e entrevistas semiestruturadas feitas com sujeitos que atuaram direta e indiretamente na elaboração da política curricular. Argumentamos que a correlação de forças predominante foi composta por três agrupamentos sociais: aparelhos privados de hegemonia (APH) empresariais, representados por Fundação Lemann e Movimento pela Base; entidades e sindicatos do campo educacional popular, com proeminência de ANPEd, Anfope, ABdC, CNTE, ANDES-SN e FNE; Ultradireita Reacionária, uma articulação entre organizações empresariais de direita e extrema-direita, setores reacionários e correntes religiosas, com destaque para o Escola Sem Partido. Essa correlação de forças tornou-se mais complexa após o golpe de 2016, resultando em um fortalecimento dos APH empresariais, com concessões à Ultradireita Reacionária, em detrimento das entidades e sindicatos que protagonizaram os debates educacionais em outros períodos, em especial na década de 1980. Por trás do aparente processo democrático e plural disseminado pelo governo federal, houve uma simulação de consensos sobre a necessidade de uma BNCC e seus fundamentos estruturantes, empreendida por diversas estratégias de consenso e coerção dos APH empresariais, numa atuação complexa e dialética com o Estado (stricto sensu). A capilaridade do Movimento pela Base permitiu-lhe uma atuação organizada enquanto classe para si, influenciando diretamente a construção da BNCC, por outro lado, apesar da ação ativa das entidades e sindicatos, essas não foram exitosas na defesa dos interesses das classes trabalhadoras. Como resultado, tivemos a homologação de uma BNCC coadunada acriticamente às recomendações dos organismos internacionais, com foco nas competências e habilidades para o século 21. Nesse sentido, argumentamos que se tratou de um processo de privatização, entendido de maneira ampla, como a sobreposição de interesses privados sobre a educação pública. Como consequências, assinalamos a perpetuação da sonegação histórica do conhecimento às classes subalternas, processo que constrange as políticas de formação por meio de sua adaptação às demandas do capital; a expropriação do saber docente; a secundarização e desvalorização do trabalho dos profissionais da educação; a criação e intensificação de nichos de mercados educacionais, incluindo negócios no setor financeiro, maximizando a produção e realização de valor (e mais-valor). |
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Políticas educacionais e a Base Nacional Comum Curricular: projetos em disputaEducational policies and the National Learning Standards (BNCC)Aparelhos privados de hegemonia empresariaisBase Nacional Comum CurricularBNCCBNCCBusiness private apparatuses of hegemonyMovimento pela BaseMovimento pela BaseNational Learning StandardsPrivatizaçãoPrivatizationEssa tese analisa as disputas sociais e educacionais envolvidas no processo de elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da educação infantil e do ensino fundamental. O período selecionado vai de 2009, quando se iniciaram as discussões para construção do Plano Nacional de Educação, até 2017, quando a BNCC foi homologada. Nosso referencial teórico é o materialismo histórico e dialético, dialogando principalmente com Antonio Gramsci e Florestan Fernandes, esse último com contribuições fundamentais para a análise das particularidades da realidade brasileira. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada a partir de revisão bibliográfica e análise de documentos e entrevistas semiestruturadas feitas com sujeitos que atuaram direta e indiretamente na elaboração da política curricular. Argumentamos que a correlação de forças predominante foi composta por três agrupamentos sociais: aparelhos privados de hegemonia (APH) empresariais, representados por Fundação Lemann e Movimento pela Base; entidades e sindicatos do campo educacional popular, com proeminência de ANPEd, Anfope, ABdC, CNTE, ANDES-SN e FNE; Ultradireita Reacionária, uma articulação entre organizações empresariais de direita e extrema-direita, setores reacionários e correntes religiosas, com destaque para o Escola Sem Partido. Essa correlação de forças tornou-se mais complexa após o golpe de 2016, resultando em um fortalecimento dos APH empresariais, com concessões à Ultradireita Reacionária, em detrimento das entidades e sindicatos que protagonizaram os debates educacionais em outros períodos, em especial na década de 1980. Por trás do aparente processo democrático e plural disseminado pelo governo federal, houve uma simulação de consensos sobre a necessidade de uma BNCC e seus fundamentos estruturantes, empreendida por diversas estratégias de consenso e coerção dos APH empresariais, numa atuação complexa e dialética com o Estado (stricto sensu). A capilaridade do Movimento pela Base permitiu-lhe uma atuação organizada enquanto classe para si, influenciando diretamente a construção da BNCC, por outro lado, apesar da ação ativa das entidades e sindicatos, essas não foram exitosas na defesa dos interesses das classes trabalhadoras. Como resultado, tivemos a homologação de uma BNCC coadunada acriticamente às recomendações dos organismos internacionais, com foco nas competências e habilidades para o século 21. Nesse sentido, argumentamos que se tratou de um processo de privatização, entendido de maneira ampla, como a sobreposição de interesses privados sobre a educação pública. Como consequências, assinalamos a perpetuação da sonegação histórica do conhecimento às classes subalternas, processo que constrange as políticas de formação por meio de sua adaptação às demandas do capital; a expropriação do saber docente; a secundarização e desvalorização do trabalho dos profissionais da educação; a criação e intensificação de nichos de mercados educacionais, incluindo negócios no setor financeiro, maximizando a produção e realização de valor (e mais-valor).This thesis analyses the social and educational disputes involved in the construction of Base Nacional Comum Curricular/National Learning Standards (BNCC), a Brazilian normative destinated from preschool to middle school. The period begins in 2009, when the discussions of Plano Nacional de Educação (The National Education Plan) had started, and goes to 2017, year of BNCCs approval. Our theoretical framework is the historical-dialectic materialism, dialoguing with Antonio Gramsci and Florestan Fernandes. We consider that this one has a huge contribution to understand Brazilians society particularities. This is qualitative research, we use review of the literature, documentary analysis and semi-structured interviews with individuals that served on BNCCs construction. We argue that three social groupings took part on the correlation of forces: business private apparatuses of hegemony (PAH), represented by Fundação Lemann and Movimento pela Base; entities and trade unions in the popular educational field, composed by ANPEd, Anfope, ABdC, CNTE, ANDES-SN and FNE; Reactionary Ultra-right, an articulation of right and extreme right business organizations, reactionary groups and religious currents, they were represented by Escola Sem Partido. This correlation of forces had become more complex after the 2016 coup in Brazil, the Business PAH get strengthened, but had to make concessions to Reactionary Ultra-right. In contrast, Entities and Trade Unions that were protagonists on educational discussions during the 1980s, had become weakened. Behind the apparent democratic and plural process disseminated by Brazilian government, there was a consent simulation about BNCC and its pedagogical principles promoted by Business PAH and State (stricto sensu) that use consent and coercion strategies. The capillarity of this movement among the ruling classes has facilitated Movimento pela Base actions as a class for itself, influencing BNCCs construction. In contrast, entities and trade unions didnt success in representing labor class interests, although their attempts during the process. As result, Brazilian government had approved a BNCC in line with international organizations recommendations, focuses in 21st century skills. We argue that this was result of a privatization process, understood in a wide approach, as a private interests overlap the public education. As consequences, we indicate the perpetuation of knowledges expropriation to labor class, the adaptation of education to the demands of capital, the expropriation of teaching knowledge, the devaluation of teaching staff and other educational personnel; the creation and intensification of educational markets, which includes financial business, maximizing the creation and reproduction of value (and surplus value).Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCamargo, Rubens Barbosa deGalzerano, Luciana Sardenha2024-09-13info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48139/tde-12112024-132359/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-11-13T20:17:21Zoai:teses.usp.br:tde-12112024-132359Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-11-13T20:17:21Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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