Restrição de domínio, distributividade e a expressão kar em um dialeto de língua Kaingang

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Navarro, Michel Platiny Assis
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-13092012-095450/
Resumo: Esta dissertação apresenta uma análise semântica, no paradigma da Semântica Formal, da (i) restrição de domínio no DP e da (ii) expressão kar, que veicula a ideia de totalidade, no dialeto paranaense da língua Kaingang, do tronco Macro-Jê, família Jê, falada nas regiões sul e sudeste do Brasil. Num primeiro momento, o artigo definido parece ter, no Kaingang Paranaense, uma distribuição não trivial: aplica-se primeiro a um determinante quantificacional e restringe, via essa combinação, o domínio do quantificador, tal como no Basco, Grego e Státimcets (Giannakidou 2003, Etxeberria 2005 e Etxeberria & Giannakidou 2009), línguas muito parecidas com o Kaingang no domínio nominal. Alguns dados, contudo, apontaram a análise em outra direção. Entendemos que certos padrões de comportamento semântico e sintático apresentado por kar nas sentenças, tal como sua neutralidade quanto à propriedade de distributividade e a possibilidade da conjunção de duas sequências de [NP+kar] sob um mesmo artigo definido (ao contrário do Basco, no qual a mesma estrutura é agramatical, sugerindo que os quantificadores universais em Basco criam um QP), são algumas das evidências que, no conjunto, dão suporte para a hipótese, defendida nesta dissertação, de que kar, no Kaingang Paranaense, parece ser um modificador - à la Lasersohn (1999) -, não tendo, por isso, uma força quantificacional própria. A função semântica de kar seria de controlar o quanto de desvio da verdade é pragmaticamente permissível. Como consequência desta análise, no Kaingang Paranaense o artigo definido não operaria sobre um determinante quantificacional, mas sim sobre um NP. O que aponta no sentido de que os artigos definidos ag/fag (os/as) no Kaingang Paranaense, em contextos em que eles co-ocorrem com kar, não perderiam a sua função max, i.e., de formadores de indivíduo a partir de um conjunto, para funcionar meramente como um operador preservador de tipo e restritor de domínio adjungido ao determinante quantificacional, como proposto por Giannakidou 2003, Etxeberria (2005) e Etxeberria & Giannakidou (2009) para o Basco e o Grego. Ag/fag continuariam sendo artigos definidos clássicos ocupando o núcleo de uma projeção DP e kar um modificador. Também discutimos brevemente algumas das vantagens e problemas de se tentar estender esta análise para o Basco, Grego e Státimcets. E, por último, investigamos o comportamento de kar na sentença, as possíveis leituras quando da sua interação com indefinidos, numerais, tipos de predicados e o operador distributivo introduzido via reduplicação verbal. Com base nos dados, nossa proposta é de que - em função de a leitura distributiva, na maioria dos exemplos, ser permitida pelos informantes somente quando houve reduplicação verbal - kar é neutro quanto à propriedade da distributividade e que o operador distributivo introduzido por reduplicação verbal tem escopo sobre todo o VP.
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spelling Restrição de domínio, distributividade e a expressão kar em um dialeto de língua KaingangDomain restriction, distributivity and the expression kar in a dialect of the Kaingang languageDefinite articleDeterminanteDistributividadeDistributivityDomain restrictionKaingangKaingang languageModificadorModifierQuantificaçãoQuantificationRestrição de domínioEsta dissertação apresenta uma análise semântica, no paradigma da Semântica Formal, da (i) restrição de domínio no DP e da (ii) expressão kar, que veicula a ideia de totalidade, no dialeto paranaense da língua Kaingang, do tronco Macro-Jê, família Jê, falada nas regiões sul e sudeste do Brasil. Num primeiro momento, o artigo definido parece ter, no Kaingang Paranaense, uma distribuição não trivial: aplica-se primeiro a um determinante quantificacional e restringe, via essa combinação, o domínio do quantificador, tal como no Basco, Grego e Státimcets (Giannakidou 2003, Etxeberria 2005 e Etxeberria & Giannakidou 2009), línguas muito parecidas com o Kaingang no domínio nominal. Alguns dados, contudo, apontaram a análise em outra direção. Entendemos que certos padrões de comportamento semântico e sintático apresentado por kar nas sentenças, tal como sua neutralidade quanto à propriedade de distributividade e a possibilidade da conjunção de duas sequências de [NP+kar] sob um mesmo artigo definido (ao contrário do Basco, no qual a mesma estrutura é agramatical, sugerindo que os quantificadores universais em Basco criam um QP), são algumas das evidências que, no conjunto, dão suporte para a hipótese, defendida nesta dissertação, de que kar, no Kaingang Paranaense, parece ser um modificador - à la Lasersohn (1999) -, não tendo, por isso, uma força quantificacional própria. A função semântica de kar seria de controlar o quanto de desvio da verdade é pragmaticamente permissível. Como consequência desta análise, no Kaingang Paranaense o artigo definido não operaria sobre um determinante quantificacional, mas sim sobre um NP. O que aponta no sentido de que os artigos definidos ag/fag (os/as) no Kaingang Paranaense, em contextos em que eles co-ocorrem com kar, não perderiam a sua função max, i.e., de formadores de indivíduo a partir de um conjunto, para funcionar meramente como um operador preservador de tipo e restritor de domínio adjungido ao determinante quantificacional, como proposto por Giannakidou 2003, Etxeberria (2005) e Etxeberria & Giannakidou (2009) para o Basco e o Grego. Ag/fag continuariam sendo artigos definidos clássicos ocupando o núcleo de uma projeção DP e kar um modificador. Também discutimos brevemente algumas das vantagens e problemas de se tentar estender esta análise para o Basco, Grego e Státimcets. E, por último, investigamos o comportamento de kar na sentença, as possíveis leituras quando da sua interação com indefinidos, numerais, tipos de predicados e o operador distributivo introduzido via reduplicação verbal. Com base nos dados, nossa proposta é de que - em função de a leitura distributiva, na maioria dos exemplos, ser permitida pelos informantes somente quando houve reduplicação verbal - kar é neutro quanto à propriedade da distributividade e que o operador distributivo introduzido por reduplicação verbal tem escopo sobre todo o VP.This dissertation presents, in the paradigm of formal semantics, a semantic analysis of both (i) the phenomenon of domain restriction in the DP and (ii) the expression kar, which conveys the idea of totality, in a dialect of the Kaingang language, a Brazilian language from the Macro-Jê Stock, Jê family, spoken in southern and southeastern Brazil. Although, at first, the definite article in Kaingang seems to have a non-trivial distribution: it applies first to a quantificational expression, and via such combination restricts the domain of quantifier, such as in Basque, Greek and Státimcets (Giannakidou 2003, Etxeberria 2005 and Etxeberria & Giannakidou 2009), some data pointed the analysis in another direction. Patterns of semantic and syntactic bevavior presented by kar in some sentences, such as its neutralite regarding the property of distributivity and the possibility of conjoining two [NP + kar] sequences under the same definite article (unlike Basque, which does not allow such structure, suggesting that in Basque the universal quantifier creats a QP), seem to be as a whole evidences for the hypothesis, advocated in this thesis, that the expression kar may be a modifier - à la Lasersohn (1999) - and as such would not have a quantificational force of its own. The semantic function of kar would be to control how much deviation from the truth conditions of the sentences is pragmatically allowed. As a result of this analysis, the definite articles ag/fag in Kaingang do not operate on a quantificational expression, as in Basque and Greek, but on the NP. Such fact suggests that the definite articles in Kaingang, in contexts they co-occur with kar, do not lose their max function in order to work merely as a type preserver and a domain restrictor combined with a quantificational expression, as proposed by Giannakidou 2003, Etxeberria (2005) e Etxeberria & Giannakidou (2009) for Basque and Greek. Ag/fag would still be a classical definite article occupying the head of a DP projection and kar a modifier, instead of a universal quantifier. We also discuss briefly some of the advantages and problems of trying to extend this analysis to the Basque, Greek and Státimcets languages. And lastly, we investigated the behavior of kar in the sentence, its interaction with indefinites, numerals, types of predicates and the distributive operator introduced via verbal reduplication. Based on such data, once distributive readings were permitted by the informants only via verbal reduplication, our proposal is that kar is neutral regarding the property of distributivity and that the distributive operator introduced via verbal reduplication has scope over the VP.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPFerreira, Marcelo BarraNavarro, Michel Platiny Assis2012-05-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-13092012-095450/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:32Zoai:teses.usp.br:tde-13092012-095450Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:32Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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