Travessias do beco: a educação pelas quebradas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Torres, Fabiano Ramos
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-22122016-111748/
Resumo: Este ensaio propõe o rolê pelas periferias como experiência de pensamento. Periferias da cidade, da escola, do desejo e do saber. Compreendido como prática de se deslocar, dar uma volta, um passeio descompromissado pela cidade, o rolê é prática aberta aos riscos e perigos do caminho. O que se propôs neste trabalho foi uma travessia dos signos e acontecimentos de uma outra aprendizagem presente nas periferias da cidade, onde o aprendizado da sobrevivência diz respeito a uma espécie de pedagogia da crueldade que relaciona o sofrimento e a alegria na resistência das invenções cotidianas. Nessa travessia, a experiência do rolê é desdobrada também no interior da escola, considerando que esta possui seus becos e vielas, suas periferias de onde emergem os restos, as sobras, o que ficou de fora, o torto, o estranho, o esquisito, o sem sentido, o ilógico, o monstro e a aberração pedagógica. A travessia do beco, apresenta-se, deste modo, como alegoria da sobrevivência e é compreendida como a via periculosa em que o corpo é convocado a explorar suas potências. Para tanto, foram elaborados para essa pesquisa, dispositivos de escuta do acontecimento e da produção aberrante - esta, compreendida como materiais e matérias infames, elementos desprezados seja no cotidiano da escola ou da cidade. Assim, os signos e acontecimentos, presentes na vida dos jovens e adolescentes das periferias, como as jornadas de junho, o rolezinho, o fluxo do funk e ocupações de escola, bem como as pichações escolares, os blocos sonoros inarticulados, os desenhos, as frases, assinalam saberes insurrectos e instituintes que relacionam, agonisticamente, as periferias da cidade e a escola formal. A ficção pedagógica produzida na experiência de pensamento do rolê figura, então, como fabulação operante na elaboração das produções aberrantes, possibilitando capturar o indizível no dizível, o invisível naquilo que é visto e o impensado nisso tudo que nos atravessa na travessia dos becos. Isso nos permite escutar uma outra história da educação escolar e da cidade, entendendo a relação entre o insignificante, o inexplicável, o absurdo e outras tensões muitas vezes insuportáveis, tanto para o corpo escolar como para a cidade. A cartografia desta produção é uma cartografia do processo desejante que abre janelas para o devir das instituições escolares e dos estratos da cidade, estabelecendo vias de comunicação com o fora, colocando a subjetividade em questão e mostrando como é possível a invenção de novos processos de constituição de si e do viver-junto. Tal como os errantes das cidades recusam a submissão ao controle total dos planos urbanísticos, assim também os alunos recusam os planejamentos da arquitetura do saber: o que se identificou durante o rolê pelas periferias da escola, foi que junto ao não constantemente proferido pelo jovem e ao jovem, está presente o sim e a afirmação da vida marcada pela agonística das sobrevivências: de um lado, a falta, de outro, a produção. O aprendizado que o rolê pelas periferias proporcionou enquanto experiência de pensamento foi o da invenção conceitual necessária à construção de uma lógica do aberrante.
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Nessa travessia, a experiência do rolê é desdobrada também no interior da escola, considerando que esta possui seus becos e vielas, suas periferias de onde emergem os restos, as sobras, o que ficou de fora, o torto, o estranho, o esquisito, o sem sentido, o ilógico, o monstro e a aberração pedagógica. A travessia do beco, apresenta-se, deste modo, como alegoria da sobrevivência e é compreendida como a via periculosa em que o corpo é convocado a explorar suas potências. Para tanto, foram elaborados para essa pesquisa, dispositivos de escuta do acontecimento e da produção aberrante - esta, compreendida como materiais e matérias infames, elementos desprezados seja no cotidiano da escola ou da cidade. Assim, os signos e acontecimentos, presentes na vida dos jovens e adolescentes das periferias, como as jornadas de junho, o rolezinho, o fluxo do funk e ocupações de escola, bem como as pichações escolares, os blocos sonoros inarticulados, os desenhos, as frases, assinalam saberes insurrectos e instituintes que relacionam, agonisticamente, as periferias da cidade e a escola formal. A ficção pedagógica produzida na experiência de pensamento do rolê figura, então, como fabulação operante na elaboração das produções aberrantes, possibilitando capturar o indizível no dizível, o invisível naquilo que é visto e o impensado nisso tudo que nos atravessa na travessia dos becos. Isso nos permite escutar uma outra história da educação escolar e da cidade, entendendo a relação entre o insignificante, o inexplicável, o absurdo e outras tensões muitas vezes insuportáveis, tanto para o corpo escolar como para a cidade. A cartografia desta produção é uma cartografia do processo desejante que abre janelas para o devir das instituições escolares e dos estratos da cidade, estabelecendo vias de comunicação com o fora, colocando a subjetividade em questão e mostrando como é possível a invenção de novos processos de constituição de si e do viver-junto. Tal como os errantes das cidades recusam a submissão ao controle total dos planos urbanísticos, assim também os alunos recusam os planejamentos da arquitetura do saber: o que se identificou durante o rolê pelas periferias da escola, foi que junto ao não constantemente proferido pelo jovem e ao jovem, está presente o sim e a afirmação da vida marcada pela agonística das sobrevivências: de um lado, a falta, de outro, a produção. O aprendizado que o rolê pelas periferias proporcionou enquanto experiência de pensamento foi o da invenção conceitual necessária à construção de uma lógica do aberrante.This essay proposes the rolê (jaunt, ramble, wandering) through the peripheries as a thought experiment. Peripheries of the city, of the school, of desire and of knowledge. Perceived as a practice of moving, walking around, a casual outing through the city, the rolê is the practice subject to the risks and dangers of the pathway. What has been proposed in this work is a crossing of the signs and happenings of another learning, present in the edges of the city, where the learning of survival refers to a kind of pedagogy of cruelty, which relates the suffering to the joy in the resistance of everyday inventions.In this crossing, the experience of the rolê also unfolds within the school, considering that the school has its alleys and lanes, its peripheries from where the remainders, the leftovers, what was left aside, the astray, the weird, the strange, the nonsense, the illogical, the monster and the pedagogical aberration emerge. Thus, the alleys crossing appears as an allegory of survival and is understood as the via periculosa (perilous road) in which the body is convoked to explore its potencies. For the purpose of this research, listening devices have been elaborated to give ear to the happening and to the aberrant production which is comprehended as infamous materials and matters, elements that were despised whether in the citys or the schools daily life.Therefore, the signs and happenings present in the life of peripheral youngsters and teenagers, such as the massive protests of June 2013, the rolezinho, the flow of Brazilian funk and the occupations of public schools, as well as the graffiti writings inside the schools, the indistinct sound blocks, the drawings, the sentences indicate insurrect, instituting knowledges that link, agonistically, the citys peripheries and formal schooling. Consequently, the pedagogic fiction produced in the rolês thought experiment appears as a fable-making that operates on the elaboration of aberrant productions, making it possible to capture the unspeakable within the speakable, the invisible within the visible and the unthought within all this which runs us through in the alleys crossings. This enables us to listen to another story of the scholar and the urban education, understanding the relation between the insignificant, the inexplicable, the absurd and other often unbearable tensions, both to the scholar body and to the city.This productions cartography is a cartography of the desirous process that opens windows to the becoming of scholar institutions and of the city strata, establishing communication channels with the outside, calling into question subjectivity and showing how the invention of new processes of constitution of oneself and of the living-together is possible.Just as the wanderers of the cities refuse to submit to the total control of the urbanistic plans, also the students refuse the plannings of the architecture of knowledge: what has been identified during the rolê through the peripheries of the school was that, along with the no constantly enunciated by the yougster and to the youngster, the yes and the affirmation of life are present, marked by the agonistic of survivals: on one hand, the lack; on the other, production. The learning provided by the rolê through the peripheries, as a thought experiment, was one of the conceptual invention, necessary to the construction of an aberrant logic.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPFavaretto, Celso FernandoTorres, Fabiano Ramos2016-10-14info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-22122016-111748/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-07-17T16:34:08Zoai:teses.usp.br:tde-22122016-111748Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-07-17T16:34:08Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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