Escritas da memória: autoria e identidade cultural

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Francesco Antonio Capo
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.8.2017.tde-23012017-111537
Resumo: O maior problema do professor na Educação de Jovens e Adultos é lidar com a multiplicidade de saberes e de modos de apreensão da realidade: os alunos chegam à escola com níveis variados de letramento e com um saber forjado por outros sistemas de cognição e de compreensão do mundo. Assim, este trabalho de pesquisa pretendeu estudar a relação entre letramento, escritas da memória e identidade cultural. O objetivo principal foi verificar até que ponto a prática pedagógica com escritas da memória contribui para o letramento de adultos oriundos de culturais orais e que tiveram pouco contato com a palavra escrita. Partiu-se da suposição de que o trabalho com as escritas da memória propiciasse o sentimento de pertencimento e levasse o aluno a construir uma imagem de si mesmo como sujeito-autor de sua escrita, compreendendo-a como prática social significativa. Com efeito, ao relembrarmos o passado, confrontamos valores, crenças e sentimentos do presente com valores, crenças e sentimentos do passado. Vozes, imagens, sons, cheiros, o passado nos assalta, e ressignificamos sentidos há muito perdidos. O espaço da memória é também o espaço da ressignificação: o espaço de construir e reconstruir representações e identidades, de acordo com os modos como, ao nos fazermos sujeitos da memória, nos ancoramos ou nos engatamos em um e não outro discurso, em um e não outro sentido. Ou seja, construímos representações do passado de acordo com as representações que fazemos do presente, e tanto umas quanto as outras são atravessadas pelas representações social e historicamente construídas.Há como que um liame ou um entrecruzamento de representações, a partir do qual forjamos uma identidade que é individual e ao mesmo tempo coletiva.Nesse movimento, negociamos significados e nos inserimos no jogo das configurações e reconfigurações das relações de poder que se consubstanciam no e pelo discurso.A metodologia desta pesquisa dividiu-se em três etapas: a aplicação de sequência didática abordando o gênero textual autobiografia e suas especificidades; coleta de dados (textos escritos pelos alunos, fichas de acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, questionários de perfil sócio-econômico e cultural); por fim, a análise qualitativa dos dados.Fundamentaram esta pesquisa os conceitos de autonomia (FREIRE, 2002), agência (BAZERMAN, 2006, 2011, 2015; KLEIMAN, 2006), autoria (POSSENTI, 2002; TFOUNI, 2005, 2010), letramento ideológico (STREET, 2014) e memória coletiva (HALBWACHS, 1990; BOSI, 1979, 2003). Concluiu-se que, ao fazer da palavra escrita uma forma de reviver sua experiência por meio do discurso da memória, o aluno ressignifica a prática letrada, reconceitualiza-a: a palavra escrita lhe pertence e ele é pertencido por ela.
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spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis Escritas da memória: autoria e identidade cultural Written memory: authorship and cultural identity 2016-11-17Norma Seltzer GoldsteinElis de Almeida Cardoso CarettaHelba CarvalhoAna Elvira Luciano GebaraFrancesco Antonio CapoUniversidade de São PauloMestrado Profissional em Letras em RedeUSPBR Authorship Autoria Cultural identity Identidade sociocultural Letramento Literacy Memória Memory O maior problema do professor na Educação de Jovens e Adultos é lidar com a multiplicidade de saberes e de modos de apreensão da realidade: os alunos chegam à escola com níveis variados de letramento e com um saber forjado por outros sistemas de cognição e de compreensão do mundo. Assim, este trabalho de pesquisa pretendeu estudar a relação entre letramento, escritas da memória e identidade cultural. O objetivo principal foi verificar até que ponto a prática pedagógica com escritas da memória contribui para o letramento de adultos oriundos de culturais orais e que tiveram pouco contato com a palavra escrita. Partiu-se da suposição de que o trabalho com as escritas da memória propiciasse o sentimento de pertencimento e levasse o aluno a construir uma imagem de si mesmo como sujeito-autor de sua escrita, compreendendo-a como prática social significativa. Com efeito, ao relembrarmos o passado, confrontamos valores, crenças e sentimentos do presente com valores, crenças e sentimentos do passado. Vozes, imagens, sons, cheiros, o passado nos assalta, e ressignificamos sentidos há muito perdidos. O espaço da memória é também o espaço da ressignificação: o espaço de construir e reconstruir representações e identidades, de acordo com os modos como, ao nos fazermos sujeitos da memória, nos ancoramos ou nos engatamos em um e não outro discurso, em um e não outro sentido. Ou seja, construímos representações do passado de acordo com as representações que fazemos do presente, e tanto umas quanto as outras são atravessadas pelas representações social e historicamente construídas.Há como que um liame ou um entrecruzamento de representações, a partir do qual forjamos uma identidade que é individual e ao mesmo tempo coletiva.Nesse movimento, negociamos significados e nos inserimos no jogo das configurações e reconfigurações das relações de poder que se consubstanciam no e pelo discurso.A metodologia desta pesquisa dividiu-se em três etapas: a aplicação de sequência didática abordando o gênero textual autobiografia e suas especificidades; coleta de dados (textos escritos pelos alunos, fichas de acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, questionários de perfil sócio-econômico e cultural); por fim, a análise qualitativa dos dados.Fundamentaram esta pesquisa os conceitos de autonomia (FREIRE, 2002), agência (BAZERMAN, 2006, 2011, 2015; KLEIMAN, 2006), autoria (POSSENTI, 2002; TFOUNI, 2005, 2010), letramento ideológico (STREET, 2014) e memória coletiva (HALBWACHS, 1990; BOSI, 1979, 2003). Concluiu-se que, ao fazer da palavra escrita uma forma de reviver sua experiência por meio do discurso da memória, o aluno ressignifica a prática letrada, reconceitualiza-a: a palavra escrita lhe pertence e ele é pertencido por ela. A teacher in Youth and Adult Education major problem is dealing with the multiplicity of knowledge and multiple ways of apprehending reality: students come to school with various levels of literacy and knowledge forged by other cognitive systems and ways of understanding the world. Thus, this research aimed at studying the relationship between literacy, written memory and cultural identity. The main objective was to determine to what extent pedagogical practices with written memory contribute to literacy of adults that came from oral culture or had little contact with the written word. We started from the assumption that the work with written memory propitiates the feeling of belonging and leads the students to build an image of themselves as a subject-author of their writing, understanding it as a significant social practice. Indeed, by remembering the past, we confront values, beliefs and feelings of this with values, beliefs and feelings of the present. Voices, images, sounds and smells; the past assaults us, and resignifies meanings long lost. Memory space is also the space of ressignification: the space where we construct and reconstruct representations and identities, according to the ways by which, as we becomea subject of memory, we \"anchor\" or we \"engage\" in one instead of another discourse, in one meaning instead of another. In other words, we build representations of the past according to the representations we make of the present, both contaminated by representations socially and historically constructed. There is a sort of bond or an intersection of representations, from which we forge an identity that is individual and collective at the same time. In this movement, we negotiate meanings and we insert ourselves into the set of configurations and reconfigurations of power relations that are embodied in and through discourse.The methodology of this research was divided into three stages: the application of didactic sequence addressing the genre \"autobiography\" and its specifics; data collection (texts written by students, monitoring reports of the teaching-learning process, socio-economic and cultural profile questionnaires); and last but not least, qualitative data analysis. We based this research upon the concepts autonomy (FREIRE, 2002), agency (BAZERMAN, 2006, 2011, 2015; KLEIMAN, 2006), authorship (POSSENTI, 2002; TFOUNI, 2005, 2010), ideological literacy (STREET, 2014) and collective memory (HALBWACHS, 1990; BOSI, 1979, 2003). We came to the conclusion that, by turning the written word into a way of reliving their experience through the memory discourse, students reframe literacy practice and reconceptualize it: the written word belongs to them and they are belongedby it. https://doi.org/10.11606/D.8.2017.tde-23012017-111537info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T19:56:19Zoai:teses.usp.br:tde-23012017-111537Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T13:10:21.943919Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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