O universo da imaginação: aparência e ficção em Hume

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Tedesco, Thiago Nantes
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-16072021-182817/
Resumo: Nesta tese examino os conceitos de aparência e ficção articulados em Um Tratado da Natureza Humana de David Hume. Proponho que ambos são indispensáveis para uma interpretação adequada do Livro I, como sendo peças centrais no quadro de sua \"ciência do homem\". Antes de investigar o significado de seu dito naturalismo ou ceticismo, o que é feito comumente por muitos intérpretes após Kemp-Smith, é importante clarificar o papel que cumpre a imaginação na constituição dessa nova ciência projetada por Hume, em especial em sua análise do entendimento humano. Hume argumenta paradoxalmente que a imaginação não apenas inventa nossas noções comuns e filosóficas de corpos e pessoas, como também nos compele a acreditar em suas realidades e conexões necessárias por meio de processos associativos \"silenciosos\" dos quais não temos controle nem consciência. Trata-se da criação irrefletida de ficções que se misturam com as aparências sensíveis, que são \"diferentes, interrompidas e perecíveis\", de forma a nos fazer atribuir-lhes erroneamente existência contínua e independente. Sugiro que a relação de identidade é a ficção mais fundamental na \"economia\" de nosso pensamento, pois ela unifica aparências distintas em coisas para nós através do fluxo sucessivo do tempo, segundo o Tratado. As ideias de coisas são os elementos que montam qualquer concepção possível de mundo. A teoria das ficções permite-nos conciliar, em certa medida, suas tendências cética e naturalista. Hume é um confesso filósofo newtoniano e, longe de tentar destruir as ciências e a filosofia, procura sustentá-las no próprio homem, expondo suas origens em nossa \"mera razão ordinária\", os pressupostos dos quais elas partem acriticamente, os princípios da imaginação de que se servem, e enfim delimitando seus limites. Assim como a filosofia, também a ciência tem em seus professos fundamentos associações tácitas da fantasia, que criam e sustentam ficções ontológicas, as quais cabe ao filósofo descortinar e avaliar. E também a filosofia, assim como a ciência, não tem que ir além da explicação de fenômenos com suas hipóteses e ficções.
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Hume argumenta paradoxalmente que a imaginação não apenas inventa nossas noções comuns e filosóficas de corpos e pessoas, como também nos compele a acreditar em suas realidades e conexões necessárias por meio de processos associativos \"silenciosos\" dos quais não temos controle nem consciência. Trata-se da criação irrefletida de ficções que se misturam com as aparências sensíveis, que são \"diferentes, interrompidas e perecíveis\", de forma a nos fazer atribuir-lhes erroneamente existência contínua e independente. Sugiro que a relação de identidade é a ficção mais fundamental na \"economia\" de nosso pensamento, pois ela unifica aparências distintas em coisas para nós através do fluxo sucessivo do tempo, segundo o Tratado. As ideias de coisas são os elementos que montam qualquer concepção possível de mundo. A teoria das ficções permite-nos conciliar, em certa medida, suas tendências cética e naturalista. Hume é um confesso filósofo newtoniano e, longe de tentar destruir as ciências e a filosofia, procura sustentá-las no próprio homem, expondo suas origens em nossa \"mera razão ordinária\", os pressupostos dos quais elas partem acriticamente, os princípios da imaginação de que se servem, e enfim delimitando seus limites. Assim como a filosofia, também a ciência tem em seus professos fundamentos associações tácitas da fantasia, que criam e sustentam ficções ontológicas, as quais cabe ao filósofo descortinar e avaliar. E também a filosofia, assim como a ciência, não tem que ir além da explicação de fenômenos com suas hipóteses e ficções.In this thesis I examine the concepts of appearance and fiction in David Hume\'s A Treatise of Human Nature. I suggest that both are indispensable for an adequate interpretation of Book I, as being central pieces in the frame of his \"science of man\". Before one investigates the meaning of its so-called naturalism or skepticism, as is commonly done by many interpreters after Kemp-Smith, it\'s important to clarify the imagination\'s role in the constitution of this new science designed by Hume, especially in his analysis of human understanding. Hume puts forward the paradoxical argument that the imagination not only feigns our common and philosophical notions of bodies and persons, but also it compels us to believe in their realities and necessary connections through silent associative processes over which we have no control nor consciousness of. This association is characterized by Hume as an unreflective creation of fictions that combine with sensible appearances, which are \"different, interrupted and perishable\", in such a way that makes us mistakenly ascribe to them continued and independent existence. I suggest that in the Treatise the relation of identity is the most fundamental fiction in the \"economy\" of our thought, since it unifies for us distinct appearances into things through the successive flux of time. The ideas of things are the elements that compose any possible conception of a world. The theory of fictions allows us to harmonize up to a certain point its skeptical and naturalist tendencies. Hume is a confessed newtonian philosopher and far from wanting to destroy philosophy and the sciences, he tries to support these activities in human nature by exposing its origins in our \"mere vulgar reason\" and its presuppositions that are uncritically accepted, as well as exposing the principles of the imagination they make use of and finally setting their limits. Like philosophy science has in its professed foundations secret associations of the fancy that create and sustain ontological fictions, which the philosopher must reveal and evaluate. And philosophy like science too can\'t go beyond the explication of phenomena with its hypothesis and fictions.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPimenta, Pedro Paulo GarridoTedesco, Thiago Nantes2021-04-30info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-16072021-182817/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2021-07-17T01:52:02Zoai:teses.usp.br:tde-16072021-182817Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212021-07-17T01:52:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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