Projetos, sonhos e aspirações de jovens das camadas populares de Belo Horizonte/MG

• Autor(a) principal: Silva, Ivone Maria Mendes da
• Data de Publicação: 2013
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
• Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-28042014-094429/
• topic: Camadas populares; Jovens; Projetos de vida; Subjectivity; Subjetividade; Young adults

O presente trabalho teve como objetivo investigar os projetos, sonhos e aspirações de jovens das camadas populares da cidade de Belo Horizonte/MG. Trata-se de um estudo longitudinal, iniciado em 2007, quando foram realizadas entrevistas acerca do tema com vinte e seis jovens estudantes. No ano de 2013, novas entrevistas foram feitas com quatro desses sujeitos, para analisar mais profundamente a história de constituição de seus projetos, sonhos e aspirações: como surgiram, as transformações pelas quais passaram ao longo dos anos e os destinos que lhes foram dados. O método de pesquisa empregado foram as narrativas autobiográficas colhidas em situação de entrevista. Os dados obtidos foram submetidos a uma análise de conteúdo, sendo o referencial teórico-metodológico utilizado a psicologia cultural, através dos trabalhos de Jerome Bruner, e a psicossociologia, com contribuições de Jean-Pierre Boutinet e outros autores. Quando convidados a narrarem suas histórias de vida e como os projetos, aspirações e sonhos nelas se inserem, os jovens destacaram processos vividos junto a seus familiares, amigos, colegas de trabalho e dos tempos de escola, parceiros amorosos e educadores. As significações conferidas a tais processos foram diversas, assumindo conotações tanto positivas quanto negativas. A família foi, de modo geral, descrita como aquela que fornece aos jovens alguns dos valores que estes têm como mais preciosos, sendo o grupo de pertencimento do qual eles mais esperam apoio para a construção e realização de seus projetos de vida. Expectativa esta nem sempre correspondida. As experiências vividas na escola e/ou a partir dela foram reconhecidas por todos como necessárias à conquista de seus sonhos. Ao mesmo tempo, as instituições públicas em que estudaram alguns entrevistados foram criticadas pela má qualidade do ensino oferecido e por serem palco de situações de desrespeito e humilhação sofridas pelos alunos. Os jovens também fizeram referência a determinadas pessoas (amigos, namorados e parentes, principalmente) com os quais se identificam em alguma medida e que lhes fornecem parâmetros norteadores para a construção de seus projetos. Em alguns casos, mesmo que a convivência com tais pessoas seja rarefeita, elas acabam influenciando de forma decisiva a vida dos jovens, através de conselhos, da disponibilização de informações ou simplesmente porque colocam os jovens em contato com modos de ser e de viver muito distintos daqueles com os quais estão habituados. As possibilidades descortinadas pelo acesso a estes outros mundos instiga alguns dos jovens a querer percorrer certos caminhos (formativos e profissionais) que antes julgavam inacessíveis. A relação que todos os jovens estabelecem com o universo do trabalho, iniciada na infância ou adolescência, é tida por eles como um elemento organizador de suas vidas presentes e futuras. As experiências laborais são valorizadas na medida em que lhes garantem independência financeira no presente, aprendizados necessários à obtenção de uma melhor colocação no mercado de trabalho no futuro e a possibilidade de serem reconhecidos como trabalhadores e honestos, algo transmitido por suas famílias como valor essencial desde a mais tenra idade. Os jovens deixam claro que contam com poucas fontes de apoio para planejar suas vidas, sendo alguns de seus relacionamentos mais importantes (com a mãe e o pai, por exemplo) marcados pela falta de diálogo e proximidade afetiva. Outros desafios destacados foram a escassez de recursos financeiros e as situações nas quais se sentem explorados ou discriminados