Educação medicalizada e infância: histórias vividas por família da classe trabalhadora em uma UBS de São Paulo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-18112019-120553/ |
Resumo: | Essa pesquisa de doutorado analisou histórias vividas por famílias da classe trabalhadora, cujos filhos foram encaminhados ao serviço de psicologia de uma Unidade Básica de Saúde UBS da Grande São Paulo, em decorrência de queixas escolares, a fim de verificar como elas lidam com a produção do fracasso escolar e com a medicalização da educação. Partimos do conceito de produção do fracasso escolar, que indica as engrenagens sociais responsáveis pela perpetuação da não-aprendizagem entre a classe trabalhadora. Identificamos que, a despeito das mudanças na área educacional, a sociedade produz o fracasso escolar, justificado pela crescente adoção do padrão medicalizante no ensino e saúde públicos. Há uma tendência de que o modelo de medicalização da infância se torne hegemônico, havendo indícios que associam a consolidação do discurso medicalizante, com os interesses do capital, expressos em projetos de leis que visam a institucionalização da medicalização da educação, prevendo o financiamento estatal das práticas medicalizantes. Partimos da hipótese de que a medicalização da vida é um incide sobre toda a sociedade, entretanto, esse processo se manifesta distintamente entre as classes sociais. A medicalização tem sido adotada como forma de controle de parte da população que não se adapta docilmente aos ditames sociais, principalmente, famílias da classe trabalhadora. Para esse estudo, realizamos pesquisa bibliográfica; observação participante em uma UBS, através do acompanhamento do atendimento de uma psicóloga a crianças encaminhadas por queixa escolar; realização de Grupo Focal, com três cuidadores de crianças atendidas no posto por encaminhamento escolar. A análise das informações foi realizada através do procedimento de triangulação das informações e validação consensual. Na pesquisa bibliográfica, percebemos o aumento no número de estudos sobre o tema. Observamos que os estudos se concentram na psicologia, apontando para a necessidade de que o tema seja melhor debatido em outras áreas do conhecimento. Grande parte das produções na área são estudos teóricos. Ainda há lacunas na investigação sobre as formas de expressão da medicalização na vida cotidiana, havendo um vasto campo empírico a explorar. Através do trabalho da psicóloga da UBS, participamos da Oficina de Estímulo à Leitura realizada com crianças com dificuldade no processo de alfabetização e organizamos o Grupo Focal, em que conhecemos diversas histórias das crianças e suas famílias. Nesse sentido, percebemos que existem pontos coincidentes nessas histórias, como: a desigualdade social; as questões de gênero; o racismo; o território e a violência urbana; preconceitos com relação a organização familiar; o estigma e a rotulação da criança diagnosticada; o processo de desenraizamento; os impactos do uso de medicação, aspectos que materializam a humilhação social na vida dessas famílias. O afeto, a compreensão sobre as diferentes formas de aprender e a realidade das crianças como ponto de partida para a relação de ensino parecem elementos fundamentais para superar a produção do fracasso escolar. O acompanhamento da Oficina de Estímulo à Leitura e a realização do Grupo Focal, baseados no diálogo, acolhimento, fortalecimento da autoestima e confiança nas potencialidades de aprendizagem, podem ser utilizados como formas de enfrentamento ao processo de medicalização |
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Educação medicalizada e infância: histórias vividas por família da classe trabalhadora em uma UBS de São PauloMedicalized education and childhood: histories lived by working-class families at a UBS of São PauloFracasso escolarMedicalização da educaçãoMedicalization of educationPsicologia comunitáriaPsychology communityQueixa escolarSchool complaintSchool failureEssa pesquisa de doutorado analisou histórias vividas por famílias da classe trabalhadora, cujos filhos foram encaminhados ao serviço de psicologia de uma Unidade Básica de Saúde UBS da Grande São Paulo, em decorrência de queixas escolares, a fim de verificar como elas lidam com a produção do fracasso escolar e com a medicalização da educação. Partimos do conceito de produção do fracasso escolar, que indica as engrenagens sociais responsáveis pela perpetuação da não-aprendizagem entre a classe trabalhadora. Identificamos que, a despeito das mudanças na área educacional, a sociedade produz o fracasso escolar, justificado pela crescente adoção do padrão medicalizante no ensino e saúde públicos. Há uma tendência de que o modelo de medicalização da infância se torne hegemônico, havendo indícios que associam a consolidação do discurso medicalizante, com os interesses do capital, expressos em projetos de leis que visam a institucionalização da medicalização da educação, prevendo o financiamento estatal das práticas medicalizantes. Partimos da hipótese de que a medicalização da vida é um incide sobre toda a sociedade, entretanto, esse processo se manifesta distintamente entre as classes sociais. A medicalização tem sido adotada como forma de controle de parte da população que não se adapta docilmente aos ditames sociais, principalmente, famílias da classe trabalhadora. Para esse estudo, realizamos pesquisa bibliográfica; observação participante em uma UBS, através do acompanhamento do atendimento de uma psicóloga a crianças encaminhadas por queixa escolar; realização de Grupo Focal, com três cuidadores de crianças atendidas no posto por encaminhamento escolar. A análise das informações foi realizada através do procedimento de triangulação das informações e validação consensual. Na pesquisa bibliográfica, percebemos o aumento no número de estudos sobre o tema. Observamos que os estudos se concentram na psicologia, apontando para a necessidade de que o tema seja melhor debatido em outras áreas do conhecimento. Grande parte das produções na área são estudos teóricos. Ainda há lacunas na investigação sobre as formas de expressão da medicalização na vida cotidiana, havendo um vasto campo empírico a explorar. Através do trabalho da psicóloga da UBS, participamos da Oficina de Estímulo à Leitura realizada com crianças com dificuldade no processo de alfabetização e organizamos o Grupo Focal, em que conhecemos diversas histórias das crianças e suas famílias. Nesse sentido, percebemos que existem pontos coincidentes nessas histórias, como: a desigualdade social; as questões de gênero; o racismo; o território e a violência urbana; preconceitos com relação a organização familiar; o estigma e a rotulação da criança diagnosticada; o processo de desenraizamento; os impactos do uso de medicação, aspectos que materializam a humilhação social na vida dessas famílias. O afeto, a compreensão sobre as diferentes formas de aprender e a realidade das crianças como ponto de partida para a relação de ensino parecem elementos fundamentais para superar a produção do fracasso escolar. O acompanhamento da Oficina de Estímulo à Leitura e a realização do Grupo Focal, baseados no diálogo, acolhimento, fortalecimento da autoestima e confiança nas potencialidades de aprendizagem, podem ser utilizados como formas de enfrentamento ao processo de medicalizaçãoThis doctoral research collected and analyzed experiences of medicalization of school issues experienced by working-class families. We sought to follow the history of families whose children were referred to the psychology department of a Basic Health Unit - UBS in Metropolitan region of Sao Paulo, due to school complaints, in order to verify how they deal with the production of school failure and the medicalization of education. We start from the concept of the production of school failure, which indicates the social gears responsible for perpetuating non-learning among the working class. We identified that, despite the changes in the educational area, society produces school failure wich is justified by the growing adoption of the medical standard in public health and education. There is a tendency for the medicalization model of childhood to become hegemonic, with indications that associate the consolidation of the medicalizing discourse with the interests of the capital, expressed in draft laws aimed at institutionalizing the medicalization of education, predicting the state financing of medical practices. We start from the hypothesis that the medicalization of life affects the entire society, however, this process manifests distinctly among social classes. Medicalization has been adopted as a form of control of part of the population, mainly working-class families. For this study, we performed bibliographic research; participant observation in a UBS, through the follow-up of the assistance of a psychologist to children referred for a school complaint; Focal Group, with three caregivers of children attended at a medical post for school referral. The information analysis was performed through the information triangulation and consensual validation procedure. In the bibliographic research we noticed the increase in the number of studies on this subject. We observed that the studies focus on psychology, pointing to the need for the topic to be better debated in other areas of knowledge. Most of the productions in the area are theoretical studies. There are still gaps in the investigation of the forms of expression of medicalization in daily life, and there is a vast empirical field to be explored. Through the work of UBS psychologist, we have participated in the Reading Encouragement Workshop held with children with difficulties in the literacy process and organized the Focus Group, in which we could know several stories of children and their families. Thus, we perceive that there are coincident points in these stories, such as: the effects of social inequality; the influence of gender issues; of racism; the evidend presence of territory characteristics and urban violence; preconceptions about family organization; the stigma and labeling of the diagnosed child; the process of uprooting; the impacts of medication use. All these aspects relate the social humiliation presented in the life of these families with the problem of medicalization. Affection, an understanding of the different ways of learning and the reality of children as a starting point for the teaching relationship seem to be fundamental elements to overcome the production of school failure. The follow-up to the Reading Stimulus Workshop and the Focus Group, based on dialogue, welcoming, strengthening of self-esteem and confidence in learning potential, can be used as ways of coping with the medicalization processBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSvartman, Bernardo ParodiRezende, Janaína Ribeiro de2019-05-07info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-18112019-120553/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2019-11-28T22:57:01Zoai:teses.usp.br:tde-18112019-120553Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212019-11-28T22:57:01Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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