Belíssima: um estudo merleau-pontyano da corporalidade travesti

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Davi, Edmar Henrique Dairell
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-02092013-203009/
Resumo: Davi, E. H. D. (2013). Belíssima: um estudo merleau-pontyano da corporalidade travesti. 2013. 183 pps. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto. Nosso objetivo é compreender os significados e sentidos que as travestis atribuem ao processo de transformação de seu corpo. Realidade mutante, o corpo na contemporaneidade ocupa o lugar de mercadoria um produto com direito a pequenos reparos e duração programada. Observa-se a construção de identidades e subjetividades baseadas em artefatos fixados sob ou sobre a pele: piercings, tatuagens, escarificações, silicone, hormônios, body building, crossdressing que passaram a constituir maneiras e práticas de afirmação do eu a partir do corpo. O trânsito pelos gêneros e sexualidades também alcança novo status e a corporalidade se tornou o lócus privilegiado de apresentação de novas práticas afetivo-sexuais. Dentre as hodiernas intervenções, percebemos o uso de silicone, hormônios e cirurgias plásticas para atingir um pretenso modelo ideal de corpo por diferentes grupos sociais. Mais particularmente, entre as travestis, o processo de bombar o corpo se tornou algo corriqueiro levando a um problema de saúde pública devido às lesões, deformações e até mortes. O método fenomenológico e as ideias do filósofo Maurice Merleau-Ponty foram eleitos por nós na perspectiva de ampliar a compreensão deste processo de transformação corporal, valendo-se das vivências das próprias travestis que experienciam e dos significados atribuídos por elas a este fenômeno. Desse modo, analisamos os relatos de dez travestis, pertencentes às classes sociais C e D; na faixa etária entre 20 a 40 anos sobre os sentidos que atribuem ao processo de modelagem do corpo e as práticas afetivo-sexuais decorrentes dessa transformação. Resultados apontam cinco categorias: a primeira, denominada As vivências iniciais do travestir-se; na qual nossas colaboradoras circunscreveram suas primeiras vivências homoafetivas e também as incipientes experiências do travestir-se; a segunda Fazendo o corpo; nesta categoria, as travestis falaram das intervenções mais radicais sobre o corpo, como o processo de hormonização e seus efeitos, as aplicações de silicone, dentre outras práticas; na terceira O corpo desvelado na pista; as colaboradoras nos relataram sobre a modelagem do corpo ao entrarem para o universo da prostituição, falaram do aprendizado, dos obstáculos, dos prazeres e como isso afeta diretamente sua corporalidade; na quarta categoria Movimentos do ser-travesti; as travestis expuseram suas experiências fora do mundo da prostituição e como estas vivências contribuem para ressignificar sua relação com seu corpo e sua identidade; por fim, na quinta categoria Sonhos e projetos; as colaboradoras descreveram seus projetos de vida e suas expectativas que, para elas, passam ainda pelo corpo e sua transformação como subsídio do alcance de objetivos afetivos e materiais. Na busca do corpo perfeito, as travestis ousam e cruzam as fronteiras dos gêneros criando uma sintaxe erótica sui generis. A corporalidade travesti, numa perspectiva merleau-pontyana, é o substrato de uma linguagem erotizada; e esse mundo-vida é também lugar de realização de projetos, espaço onde o tempo marca sua passagem e desvela uma subjetividade peculiar e subversiva. Ao se equilibrar entre o feminino e o masculino, a dor e o prazer, as travestis reivindicam a existência de um ethos específico, refletido no seu corpo vivo.
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O trânsito pelos gêneros e sexualidades também alcança novo status e a corporalidade se tornou o lócus privilegiado de apresentação de novas práticas afetivo-sexuais. Dentre as hodiernas intervenções, percebemos o uso de silicone, hormônios e cirurgias plásticas para atingir um pretenso modelo ideal de corpo por diferentes grupos sociais. Mais particularmente, entre as travestis, o processo de bombar o corpo se tornou algo corriqueiro levando a um problema de saúde pública devido às lesões, deformações e até mortes. O método fenomenológico e as ideias do filósofo Maurice Merleau-Ponty foram eleitos por nós na perspectiva de ampliar a compreensão deste processo de transformação corporal, valendo-se das vivências das próprias travestis que experienciam e dos significados atribuídos por elas a este fenômeno. Desse modo, analisamos os relatos de dez travestis, pertencentes às classes sociais C e D; na faixa etária entre 20 a 40 anos sobre os sentidos que atribuem ao processo de modelagem do corpo e as práticas afetivo-sexuais decorrentes dessa transformação. Resultados apontam cinco categorias: a primeira, denominada As vivências iniciais do travestir-se; na qual nossas colaboradoras circunscreveram suas primeiras vivências homoafetivas e também as incipientes experiências do travestir-se; a segunda Fazendo o corpo; nesta categoria, as travestis falaram das intervenções mais radicais sobre o corpo, como o processo de hormonização e seus efeitos, as aplicações de silicone, dentre outras práticas; na terceira O corpo desvelado na pista; as colaboradoras nos relataram sobre a modelagem do corpo ao entrarem para o universo da prostituição, falaram do aprendizado, dos obstáculos, dos prazeres e como isso afeta diretamente sua corporalidade; na quarta categoria Movimentos do ser-travesti; as travestis expuseram suas experiências fora do mundo da prostituição e como estas vivências contribuem para ressignificar sua relação com seu corpo e sua identidade; por fim, na quinta categoria Sonhos e projetos; as colaboradoras descreveram seus projetos de vida e suas expectativas que, para elas, passam ainda pelo corpo e sua transformação como subsídio do alcance de objetivos afetivos e materiais. Na busca do corpo perfeito, as travestis ousam e cruzam as fronteiras dos gêneros criando uma sintaxe erótica sui generis. A corporalidade travesti, numa perspectiva merleau-pontyana, é o substrato de uma linguagem erotizada; e esse mundo-vida é também lugar de realização de projetos, espaço onde o tempo marca sua passagem e desvela uma subjetividade peculiar e subversiva. Ao se equilibrar entre o feminino e o masculino, a dor e o prazer, as travestis reivindicam a existência de um ethos específico, refletido no seu corpo vivo.DAVI, E. H. D. (2013). Beautiful: a Merleau-Ponty study about transvestites corporality. 2013. 183 pgs. Thesis (Ph. D.) Faculty of Philosophy, Sciences and Arts, University of São Paulo. Ribeirão Preto. Our purpose is to understand the meanings and feelings attributed by transvestites to the process of changing their bodies. As a changing reality, nowadays the body is treated as merchandise a product that can be repaired, with planned duration. It is possible to see identities and subjectivities built based on artifacts used under or over the skin: piercings, tattoos, scratches, silicone, hormones, body building, cross-dressing which are ways to set means and practices of self-affirmation using the body. The passage through genders and sexualities also reaches a new status, and corporality has become the privileged locus for introducing new affective and sexual practices. Among daily interventions, it is possible to notice the use of silicone, hormones and plastic surgery to reach a desired paragon of the body by different social groups. Particularly among transvestites, the process of pumping the body has become common place, leading to public health issues due to injuries, deformities and even death. The phenomenological method and the reflections of philosopher Maurice Merleau-Ponty were elected for expanding the understanding of the body transformation process, based on transvestites experiences and the meanings they attribute to this phenomenon. We have analyzed the description of ten transvestites from social classes C and D, who are between 20 and 40 years old, about the meanings they attribute to the process of shaping up their bodies and the affective and sexual practices derived from this change. The results show five categories: the first one is called Initial experiences of becoming a transvestite, in which participants described their first homoaffectionate experiences, as well as the initial experiences of becoming a transvestite; the second one is called Building the body, in which transvestites talked about more radical interventions on the body, such as taking hormones and its effects, administrating silicone, among other practices; the third one is called The body unveiled in the street, in which participants described the process of shaping up the body when entering the prostitution environment, talked about what they learned, obstacles, joys and how it directly affects their corporality; the fourth category is called Movements of a transvestite; in which transvestites described their experiences outside the prostitution environment, and how these experiences contributed to redefine their relationship with their own body and identity; the fifth category is called Dreams and projects, in which participants described their life projects and expectations, which are related to the body and its transformation as a mean to reach their affective and material goals. In their effort to shape up the perfect body, transvestites dare and cross the line between genders, creating a sui generis erotic syntax. The transvestite corporality, from Merleau-Pontys perspective, is the basis of an erotized language; this life and environment is also where projects are put into practice, a place where time passes and unveils a unique and subversive subjectivity. Reaching balance between female and male, pain and joy, transvestites look for a specific ethos, reflected on their live bodies.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPBruns, Maria Alves de ToledoDavi, Edmar Henrique Dairell2013-07-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-02092013-203009/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:37Zoai:teses.usp.br:tde-02092013-203009Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:37Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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