O tratamento acabou, e agora? Investigações psicanalíticas dos processos psíquicos suscitados no paciente diante do término do tratamento oncológico

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Braghetto, Alyne Lopes
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-12092023-154052/
Resumo: A presente pesquisa nasce da união entre o percurso clínico e teórico em Psicanálise e o trabalho na Oncologia em um hospital privado na cidade de São Paulo. O avanço tecnológico e farmacológico das últimas décadas, assim como a detecção precoce, permitiu aumento significativo das chances de cura do câncer e, consequentemente do número de sobreviventes. Sendo assim, o cuidado em longo prazo desses pacientes se configura como um problema de saúde pública, uma vez que suas necessidades não são só de ordem orgânica, mas emocionais, sociais e laborais. Portanto, esse cenário relativamente novo, coloca a nós, psicanalistas diante de novas demandas de cuidado, a partir das novas roupagens do sofrimento humano, que nos exigem reflexão, ato e formalização teórica. O cenário internacional, que se repete também no Brasil, revela que pacientes que sobreviveram ao câncer, apresentam sintomas de ansiedade e depressão, assim como dificuldade na retomada de suas vidas. Centros especializados no tratamento do câncer nos Estados Unidos dispõem de ambulatórios para acompanhamento em longo prazo de pacientes, que inclui uma equipe multidisciplinar focada em minimização de sintomas orgânicos e psicoemocionais. Os pacientes são separados pelo tipo de doença. As intervenções são pautadas na educação, por meio da entrega de material com informações padronizadas de acordo com o tipo de câncer, além de grupos de suporte e aconselhamento. As estratégias adotadas no Brasil, seguem o modelo americano, sendo que a leitura do sofrimento manifestado pelos pacientes relaciona-se a falta de orientação, medo da recidiva e sintomas pós-traumáticos. No entanto, ao escutar pacientes em sofrimento, no lugar de psicanalista, uma questão chama atenção: o término do tratamento oncológico não é apenas um momento muito esperado pelo paciente, família e equipe, de celebração e alegria. Mas pode ser um momento mobilizador de sofrimento psíquico, vivido não apenas como ganho, mas como experiência de perda. Uma vez que o paciente se apercebe de que seu corpo e sua vida não são os mesmos de antes do diagnóstico. Não entendemos que tais intervenções não sejam importantes, o que questionamos é que, ao tomarem o lugar da verdade e do saber, pela especialidade, não alcançam o sujeito. O sofrimento psíquico fica sem lugar e a perda, por não ser reconhecida no campo do outro, impossibilita o luto. O trabalho de luto é necessário para que o sujeito possa reconstruir sua vida, possa reconhecer-se nos significantes que o representam, para enfim, encontrar-se no que ele deseja, essa foi nossa hipótese. Dessa forma, a presente pesquisa se propôs a investigar e descrever os processos psíquicos implicados no término do tratamento oncológico, sob a perspectiva psicanalítica de Freud, Lacan e comentadores. Utilizamos os conceitos psicanalíticos de corpo, luto, identificação e angústia. Propusemos uma formalização a partir da análise teórica e articulação clínica para a direção do tratamento do sofrimento psíquico, visando a interlocução com a equipe de cuidado e promoção de avanços clínico-teóricos na temática relacionada à sobrevivência ao câncer.
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Portanto, esse cenário relativamente novo, coloca a nós, psicanalistas diante de novas demandas de cuidado, a partir das novas roupagens do sofrimento humano, que nos exigem reflexão, ato e formalização teórica. O cenário internacional, que se repete também no Brasil, revela que pacientes que sobreviveram ao câncer, apresentam sintomas de ansiedade e depressão, assim como dificuldade na retomada de suas vidas. Centros especializados no tratamento do câncer nos Estados Unidos dispõem de ambulatórios para acompanhamento em longo prazo de pacientes, que inclui uma equipe multidisciplinar focada em minimização de sintomas orgânicos e psicoemocionais. Os pacientes são separados pelo tipo de doença. As intervenções são pautadas na educação, por meio da entrega de material com informações padronizadas de acordo com o tipo de câncer, além de grupos de suporte e aconselhamento. As estratégias adotadas no Brasil, seguem o modelo americano, sendo que a leitura do sofrimento manifestado pelos pacientes relaciona-se a falta de orientação, medo da recidiva e sintomas pós-traumáticos. No entanto, ao escutar pacientes em sofrimento, no lugar de psicanalista, uma questão chama atenção: o término do tratamento oncológico não é apenas um momento muito esperado pelo paciente, família e equipe, de celebração e alegria. Mas pode ser um momento mobilizador de sofrimento psíquico, vivido não apenas como ganho, mas como experiência de perda. Uma vez que o paciente se apercebe de que seu corpo e sua vida não são os mesmos de antes do diagnóstico. Não entendemos que tais intervenções não sejam importantes, o que questionamos é que, ao tomarem o lugar da verdade e do saber, pela especialidade, não alcançam o sujeito. O sofrimento psíquico fica sem lugar e a perda, por não ser reconhecida no campo do outro, impossibilita o luto. O trabalho de luto é necessário para que o sujeito possa reconstruir sua vida, possa reconhecer-se nos significantes que o representam, para enfim, encontrar-se no que ele deseja, essa foi nossa hipótese. Dessa forma, a presente pesquisa se propôs a investigar e descrever os processos psíquicos implicados no término do tratamento oncológico, sob a perspectiva psicanalítica de Freud, Lacan e comentadores. Utilizamos os conceitos psicanalíticos de corpo, luto, identificação e angústia. Propusemos uma formalização a partir da análise teórica e articulação clínica para a direção do tratamento do sofrimento psíquico, visando a interlocução com a equipe de cuidado e promoção de avanços clínico-teóricos na temática relacionada à sobrevivência ao câncer.This research is born from the union between the clinical and theoretical path in Psychoanalysis and the work in Oncology in a private hospital in the city of São Paulo. The technological and pharmacological advances of the last decades, as well as the early detection, allowed a significant increase in the chances of cancer cure and, consequently, in the number of survivors. Thus, the long-term care of these patients is configured as a public health problem, since their needs are not only organic, but emotional, social and labor. Therefore, this relatively new scenario puts us, psychoanalysts before new demands of care, from the new clothes of human suffering, which require us reflection, act and theoretical formalization. The international scenario, which is also repeated in Brazil, reveals that patients who survived cancer, have symptoms of anxiety and depression, as well as difficulty in resuming their lives. Centers specialized in cancer treatment in the United States have outpatient clinics for long-term follow-up of patients, which includes a multidisciplinary team focused on minimizing organic and psychoemotional symptoms. Patients are separated by the type of disease. Interventions are guided in education, through the delivery of material with standardized information according to the type of cancer, as well as support and counseling groups. The strategies adopted in Brazil follow the American model, and the reading of suffering manifested by patients is related to lack of guidance, fear of relapse and post-traumatic symptoms. However, when listening to patients in suffering, instead of a psychoanalyst, one question calls attention: the end of oncological treatment is not only a moment long awaited by the patient, family and team, of celebration and joy. But it can be a mobilizing moment of psychic suffering, lived not only as gain, but as experience of loss. Once the patient realizes that his body and his life are not the same as before the diagnosis. We do not understand that such interventions are not important, what we question is that, when taking the place of truth and knowledge, by specialty, they do not reach the subject. The psychic suffering is left without place and the loss, for not being recognized in the others field, makes it impossible to mourn. The work of mourning is necessary so that the subject can rebuild his life, can recognize himself in the signifiers that represent him, to finally find himself in what he wants, this was our hypothesis. Thus, this research aimed to investigate and describe the psychic processes involved in the end of cancer treatment, from the psychoanalytic perspective of Freud, Lacan and commentators. We use the psychoanalytic concepts of body, mourning, identification and anguish. We proposed a formalization from the theoretical analysis and clinical articulation for the direction of the treatment of psychic suffering, aiming at the interlocution with the care team and promotion of clinical-theoretical advances in the theme related to cancer survival.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPMoretto, Maria Livia TourinhoBraghetto, Alyne Lopes2023-06-16info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-12092023-154052/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-11-30T18:29:02Zoai:teses.usp.br:tde-12092023-154052Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-11-30T18:29:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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