Estudos funcionais do sistema de secreção do tipo VI de Chromobacterium violaceum

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Alves, Júlia Aparecida
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17136/tde-25092024-094856/
Resumo: Bactérias possuem sistemas de secreção para a translocação de proteínas, como toxinas e outros fatores de virulência, através da membrana celular para o meio externo ou para o interior de células alvo. O sistema de secreção do tipo VI (T6SS) é uma maquinaria contráctil de bactérias Gram-negativas que dispara proteínas efetoras diretamente dentro de células alvo. A secreção ocorre pela contração da bainha VipAB que leva a propulsão do tubo Hcp ao qual estão associadas proteínas VgrG/PAAR e os efetores. O T6SS secreta toxinas antibacterianas durante competição entre bactérias e efetores que subvertem funções de células hospedeiras. Neste trabalho, caracterizamos o T6SS de Chromobacterium violaceum, uma bactéria Gram-negativa ambiental e patógeno oportunista em humanos. Nós identificamos no genoma de C. violaceum um cluster gênico principal e clusters menores que codificam os componentes do T6SS. A funcionalidade do T6SS foi avaliada por microscopia de fluorescência de sfGFP fusionada a VipA, pela secreção de Hcp e por ensaios de competição contra outras bactérias, usando C. violaceum selvagem e mutantes do T6SS. Os dados indicaram que o T6SS é ativo em condições de cultivo laboratorial em baixa densidade celular, fundamental na competição de C. violaceum contra outras bactérias, mas dispensável para virulência em camundongos. A regulação do T6SS foi estudada pela análise da atividade dos promotores do cluster principal. Nossos dados indicaram que a regulação transcricional depende da fase de crescimento e de CviR, o regulador global de quorum sensing (QS). Consistente com estes dados, e deleção de cviR reduziu a produção e aboliu a secreção de Hcp, além de cessar os disparos do T6SS e reduzir fortemente a capacidade de C. violaceum competir contra outras bactérias. Mutação de cviI, que codifica a enzima produtora de indutores do QS, praticamente não afetou o T6SS, indicando uma atuação não canônica do sistema de QS CviIR no T6SS. Para identificar o arsenal de efetores do T6SS de C. violaceum foram realizadas análises proteômicas por espectrometria de massas comparando o sobrenadante da linhagem selvagem com o sobrenadante de mutante do T6SS, além de análise por co-imunoprecipitação de VgrG3. Estes ensaios permitiram identificar como efetores do T6SS três fosfolipases da família Tle1, uma da família Tle5, uma proteína hipotética (CV_2125) e uma proteína Rhs (CV_1431), nomeada RhsF (Rhs contendo motivo FIX). As proteínas da família Rhs são toxinas polimórficas. Nós demonstramos que RhsF é uma toxina antibacteriana, pois a expressão controlada de seu domínio C-terminal (RhsF-CT) causou a morte de Escherichia coli. A co-expressão de RhsF-CT com RhsI, uma proteína codificada pelo gene seguinte a rhsF, aboliu a toxicidade de RhsF em E. coli, indicando que RhsFI compõe um par toxina/antitoxina. Ensaios de competição intraespécies contra linhagens com deleção em rhsFI confirmaram que RhsF é secretada pelo T6SS, e ensaios de competição interespécies mostraram que RhsF é de fato um efetor importante na competição contra outras bactérias. Análise da estrutura predita de RhsF e da estrutura determinada por cristalografia de raio-X do complexo RhsF-CT/RhsI indica que RhsF é possivelmente uma ADP-ribosiltransferase, cuja atividade tóxica é neutralizada por RhsI via obstrução do sítio catalítico da toxina. Ensaios com NAD+ biotinilado sugerem que RhsF ribosila proteínas. Juntos, os resultados desse trabalho permitiram determinar a importância do T6SS na biologia de C. violaceum, identificar vários efetores do T6SS e caracterizar um novo par toxina/antitoxina antibacteriano da família Rhs.
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O T6SS secreta toxinas antibacterianas durante competição entre bactérias e efetores que subvertem funções de células hospedeiras. Neste trabalho, caracterizamos o T6SS de Chromobacterium violaceum, uma bactéria Gram-negativa ambiental e patógeno oportunista em humanos. Nós identificamos no genoma de C. violaceum um cluster gênico principal e clusters menores que codificam os componentes do T6SS. A funcionalidade do T6SS foi avaliada por microscopia de fluorescência de sfGFP fusionada a VipA, pela secreção de Hcp e por ensaios de competição contra outras bactérias, usando C. violaceum selvagem e mutantes do T6SS. Os dados indicaram que o T6SS é ativo em condições de cultivo laboratorial em baixa densidade celular, fundamental na competição de C. violaceum contra outras bactérias, mas dispensável para virulência em camundongos. A regulação do T6SS foi estudada pela análise da atividade dos promotores do cluster principal. Nossos dados indicaram que a regulação transcricional depende da fase de crescimento e de CviR, o regulador global de quorum sensing (QS). Consistente com estes dados, e deleção de cviR reduziu a produção e aboliu a secreção de Hcp, além de cessar os disparos do T6SS e reduzir fortemente a capacidade de C. violaceum competir contra outras bactérias. Mutação de cviI, que codifica a enzima produtora de indutores do QS, praticamente não afetou o T6SS, indicando uma atuação não canônica do sistema de QS CviIR no T6SS. Para identificar o arsenal de efetores do T6SS de C. violaceum foram realizadas análises proteômicas por espectrometria de massas comparando o sobrenadante da linhagem selvagem com o sobrenadante de mutante do T6SS, além de análise por co-imunoprecipitação de VgrG3. Estes ensaios permitiram identificar como efetores do T6SS três fosfolipases da família Tle1, uma da família Tle5, uma proteína hipotética (CV_2125) e uma proteína Rhs (CV_1431), nomeada RhsF (Rhs contendo motivo FIX). As proteínas da família Rhs são toxinas polimórficas. Nós demonstramos que RhsF é uma toxina antibacteriana, pois a expressão controlada de seu domínio C-terminal (RhsF-CT) causou a morte de Escherichia coli. A co-expressão de RhsF-CT com RhsI, uma proteína codificada pelo gene seguinte a rhsF, aboliu a toxicidade de RhsF em E. coli, indicando que RhsFI compõe um par toxina/antitoxina. Ensaios de competição intraespécies contra linhagens com deleção em rhsFI confirmaram que RhsF é secretada pelo T6SS, e ensaios de competição interespécies mostraram que RhsF é de fato um efetor importante na competição contra outras bactérias. Análise da estrutura predita de RhsF e da estrutura determinada por cristalografia de raio-X do complexo RhsF-CT/RhsI indica que RhsF é possivelmente uma ADP-ribosiltransferase, cuja atividade tóxica é neutralizada por RhsI via obstrução do sítio catalítico da toxina. Ensaios com NAD+ biotinilado sugerem que RhsF ribosila proteínas. Juntos, os resultados desse trabalho permitiram determinar a importância do T6SS na biologia de C. violaceum, identificar vários efetores do T6SS e caracterizar um novo par toxina/antitoxina antibacteriano da família Rhs.Bacteria have secretion systems for the translocation of proteins, such as toxins and other virulence factors, across the cell membrane to the external environment or into target cells. The type VI secretion system (T6SS) is a contractile machinery of Gram-negative bacteria that fires effector proteins directly into target cells. Secretion occurs by contraction of the VipAB sheath, which leads to the propulsion of the Hcp tube to which VgrG/PAAR proteins and effectors are associated. The T6SS secretes antibacterial toxins during competition between bacteria and effectors that subvert host cell functions. In this work, we characterized the T6SS of Chromobacterium violaceum, a Gram-negative environmental bacterium and opportunistic pathogen in humans. We identified in the C. violaceum genome a main gene cluster and smaller clusters encoding the components of the T6SS. The functionality of the T6SS was evaluated by fluorescence microscopy of sfGFP fused to VipA, by Hcp secretion, and by competition assays against other bacteria, using wild-type C. violaceum and T6SS mutants. The data indicated that the T6SS is active in laboratory culture conditions at low cell density, essential in the competition of C. violaceum against other bacteria, but dispensable for virulence in mice. T6SS regulation was studied by analyzing the activity of promoters of the main cluster. Our data indicated that transcriptional regulation depends on growth phase and CviR, the global regulator of quorum sensing (QS). Consistent with these data, deletion of cviR reduced the production and abolished the secretion of Hcp, in addition to ceasing T6SS firing and strongly reducing the ability of C. violaceum to compete against other bacteria. Mutation of cviI, which encodes the enzyme that produces QS inducers, practically did not affect the T6SS, indicating a non-canonical role of the QS system CviIR in the T6SS. To identify the arsenal of effectors of the C. violaceum T6SS, proteomic analyzes were carried out by mass spectrometry comparing the supernatant of the wild-type strain with the supernatant of a T6SS mutant, in addition to analysis by co-immunoprecipitation of VgrG3. These assays allow to identify as T6SS effectors three phospholipases from the Tle1 family, one from the Tle5 family, a hypothetical protein (CV_2125), and an Rhs protein (CV_1431), named RhsF (Rhs-containing FIX motif). Proteins from the Rhs family are polymorphic toxins. We demonstrated that RhsF is an antibacterial toxin, as controlled expression of its C-terminal domain (RhsF-CT) caused the death of Escherichia coli. Co-expression of RhsF-CT with RhsI, a protein encoded by the gene following rhsF, abolished RhsF toxicity in E. coli, indicating that RhsFI compose a toxin/antitoxin pair. Intraspecies competition assays against strains with rhsFI deletion confirmed that RhsF is secreted by the T6SS, and interspecies competition assays showed that RhsF is indeed an important effector in competition against other bacteria. Analysis of the predicted structure of RhsF and the structure determined by X-ray crystallography of the RhsF-CT/RhsI complex indicates that RhsF is possibly an ADP-ribosyltransferase, whose toxic activity is neutralized by RhsI via obstruction of the catalytic site of the toxin. Assays with biotinylated NAD+ suggest that RhsF ribosylates proteins. Together, the results of this work allowed us to determine the importance of the T6SS in the biology of C. violaceum, identify several T6SS effectors, and characterize a new antibacterial toxin/antitoxin pair from the Rhs family.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSilva Neto, José Freire daAlves, Júlia Aparecida2024-05-24info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17136/tde-25092024-094856/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-10-15T18:48:02Zoai:teses.usp.br:tde-25092024-094856Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-10-15T18:48:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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