A construção de personagens negras em O Cortiço

• Autor(a) principal: Eduardo Prachedes Queiroz
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
• Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.8.2021.tde-24082021-212225

Valendo-se do ferramental teórico da Semiótica Discursiva, aquela de filiação greimasiana, e sempre permeado por estudos dedicados a pensar a questão racial, o presente trabalho se presta a examinar de que forma são construídas as imagens de três personagens negras do romance O Cortiço (1890) - Rita Baiana, Bertoleza e Firmo - buscando evidenciar quais são as estratégias usadas para construí-las, bem como os efeitos de sentido dessa construção. Para tanto, verificam-se os temas da anulação de subjetividade, da sensualidade, da subserviência e da servidão, da hierarquia entre raças e da malandragem, todos eles presentes na obra e atravessados pela questão racial. Examina-se, ainda, como se dá o recobrimento figurativo desses temas no que diz respeito às três personagens mencionadas. No exame desse processo de figurativização, interessamo-nos por recobrimentos de ordem sensorial, pelo uso de analogias e de figuras de maneira geral - às vezes formando uma isotopia, outras vezes sendo usadas de maneira mais esparsa - e pelo efeito de sentido resultante desses usos. Assim, com relação a Rita Baiana, interessamo-nos, em especial, pelas figuras que causam uma exacerbação de sua sensualidade; no que diz respeito a Bertoleza, exploramos como a sujeira é utilizada para a constituição da personagem e do que a rodeia; e sobre Firmo, investigamos como o recobrimento figurativo destaca seu caráter violento. Os resultados das análises de temas e figuras são utilizados para evidenciar compatibilidades entre as personagens analisadas e diferentes estereótipos facilmente reconhecidos na cultura brasileira. Por fim, o presente trabalho se dedica a verificar questões relativas ao patamar da enunciação, fazendo considerações acerca do enunciador e do enunciatário, e tratando de entender como se dá a manipulação em tal patamar, tocando em questões relativas à tensividade, à veridicção, e à colocação em discurso de pessoa, tempo e espaço