Infância, práticas educativas e de cuidado: concepções de educadoras de abrigo à luz da história de vida

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fraga, Lorena Barbosa
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-23102008-214906/
Resumo: O ECA prevê a proteção integral a todas as crianças e adolescentes sempre que seus direitos estiverem ameaçados, e está embasado numa concepção de infância em que a criança é considerada como sujeito de direitos, como pessoa em condição peculiar de desenvolvimento, e do interesse superior. Vários movimentos e ações vêm sendo vem sendo realizados para efetivá-lo em prática cotidiana, e uma vertente importante dessas ações diz respeito à qualificação dos recursos humanos dos diversos equipamentos de assistência à criança, entre os quais estão os educadores de Casas Abrigo. A literatura aponta para as diversas dificuldades que marcam o abrigo ainda como um espaço de ausências, da re-edição do abandono e da violência, e as iniciativas no sentido de torná-lo lugar de novas possibilidades para as crianças tornam necessários investimentos de toda ordem. Buscando uma melhor compreensão dessa realidade, esse trabalho voltou-se para as Educadoras de uma Casa Abrigo de uma cidade interiorana do Estado de São Paulo, com o objetivo de conhecer o que elas pensavam sobre infância, as crianças sob seus cuidados, e as práticas educativas destinadas a elas. Foram realizadas entrevistas com todas as educadoras da casa abrigo (10) na modalidade história de vida temática, que inclui dois momentos. Primeiramente, a participante fica livre para contar a sua história, a partir de aspectos que consideravam relevantes. Já num segundo momento, a pesquisadora coloca questões de interesse do trabalho e que porventura não tivessem sido abordadas na parte inicial da entrevista. As entrevistas, gravadas e transcritas literalmente, juntamente com o diário de campo, foram analisados a partir da perspectiva qualitativa. Os resultados apontaram para uma equipe de educadoras bastante diferenciadas (60% com nível superior em Assistência Social, Pedagogia, e Psicologia), com grande envolvimento no trabalho; sua história de vida sustenta uma visão de infância e de cuidado à ela bastante afinada à que embasa o ECA, focada na condição de desenvolvimento da criança. Por outro lado, a criança abrigada parece ser vista fora dessa óptica. Além disso, as educadoras sentem que no dia-a-dia da instituição não tem espaço para a autonomia, criatividade, espontaneidade, estímulo e o brincar, sentindo-se restritas aos cuidados básicos de alimentação e higiene. Assim, embora tenham uma percepção da infância bastante afinada à do ECA, não conseguem colocá-la em prática no interior do abrigo. Esbarram numa estrutura rígida e autoritária haja vista suas exigências, estruturação de rotina, horários e prioridades. Identificaram-se ainda descontinuidades (conflitos entre diferentes crenças) vivenciadas no contexto de trabalho, tanto entre o ideário delas próprias em relação à criança e sua educação e a prática atual, como entre o seu ideário e o do abrigo, muito semelhante ao modelo assistencial, correcional já ultrapassado, mas que tem raízes em um longo período na história da institucionalização de crianças. Assim, estamos diante de uma equipe que, embora com grande potencial, parece subutilizado, pois percebemos que tais educadoras sentem ter uma prática cotidiana muito diferente daquela que teriam condições de oferecer para a criança e em consonância à pretendida pelo ECA.
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A literatura aponta para as diversas dificuldades que marcam o abrigo ainda como um espaço de ausências, da re-edição do abandono e da violência, e as iniciativas no sentido de torná-lo lugar de novas possibilidades para as crianças tornam necessários investimentos de toda ordem. Buscando uma melhor compreensão dessa realidade, esse trabalho voltou-se para as Educadoras de uma Casa Abrigo de uma cidade interiorana do Estado de São Paulo, com o objetivo de conhecer o que elas pensavam sobre infância, as crianças sob seus cuidados, e as práticas educativas destinadas a elas. Foram realizadas entrevistas com todas as educadoras da casa abrigo (10) na modalidade história de vida temática, que inclui dois momentos. Primeiramente, a participante fica livre para contar a sua história, a partir de aspectos que consideravam relevantes. Já num segundo momento, a pesquisadora coloca questões de interesse do trabalho e que porventura não tivessem sido abordadas na parte inicial da entrevista. As entrevistas, gravadas e transcritas literalmente, juntamente com o diário de campo, foram analisados a partir da perspectiva qualitativa. Os resultados apontaram para uma equipe de educadoras bastante diferenciadas (60% com nível superior em Assistência Social, Pedagogia, e Psicologia), com grande envolvimento no trabalho; sua história de vida sustenta uma visão de infância e de cuidado à ela bastante afinada à que embasa o ECA, focada na condição de desenvolvimento da criança. Por outro lado, a criança abrigada parece ser vista fora dessa óptica. Além disso, as educadoras sentem que no dia-a-dia da instituição não tem espaço para a autonomia, criatividade, espontaneidade, estímulo e o brincar, sentindo-se restritas aos cuidados básicos de alimentação e higiene. Assim, embora tenham uma percepção da infância bastante afinada à do ECA, não conseguem colocá-la em prática no interior do abrigo. Esbarram numa estrutura rígida e autoritária haja vista suas exigências, estruturação de rotina, horários e prioridades. Identificaram-se ainda descontinuidades (conflitos entre diferentes crenças) vivenciadas no contexto de trabalho, tanto entre o ideário delas próprias em relação à criança e sua educação e a prática atual, como entre o seu ideário e o do abrigo, muito semelhante ao modelo assistencial, correcional já ultrapassado, mas que tem raízes em um longo período na história da institucionalização de crianças. Assim, estamos diante de uma equipe que, embora com grande potencial, parece subutilizado, pois percebemos que tais educadoras sentem ter uma prática cotidiana muito diferente daquela que teriam condições de oferecer para a criança e em consonância à pretendida pelo ECA.The ECA establishes the integral protection for all children and adolescents whenever their rights are threatened, and it is based on a conception of childhood in which the child is considered as subject of rights, as a person in peculiar condition of development, and of high interest. Several movements and actions have been taken in order to turn it into daily practice, and an important strand of these actions refers to the qualification of the human resources of the various equipments of child assistance, among which are the educators of Shelter Houses. The literature points out various difficulties that still mark the shelter as a space of absences, of re-edition of abandonment and of violence, and the initiatives aiming to turn it into a place of new possibilities for the children raise the necessity of investments of all sorts. Searching for a better comprehension of this reality, this study focused on the Educators of a Shelter House in a countryside town of São Paulo State, with the target of knowing what they thought about childhood, the children they took care of, and the educative practices aimed at them. Interviews with all the educators of the shelter house (10) were made in the modality of thematic life story, which includes two moments, firstly the participant is free to tell her story, from aspects considered relevant. In a second moment, the researcher asks questions of interest of the work and that had not been approached in the initial part of the interview. The interviews, recorded and literally transcribed, along with the field journal, were analyzed according to the qualitative perspective. The results pointed at a team of educators quite qualified (60% graduated in Social Assistance, Pedagogy or Psychology), with great involvement in the work; their life story sustain a view of childhood and of caring aimed at them very similar to the one that roots ECA, focused on the development condition of children. On the other hand, they feel that in the institutions daily routine there is no space for autonomy, creativity, spontaneity, stimulus and playing, feeling restricted to basic cares of feeding and hygiene. Therefore, although they have a perception of childhood very similar to that of ECA, they cannot put it into practice inside the shelter. They are blocked by a rigid and authoritarian structure, seen its demands, routine structuring, timetables and priorities. Discontinuities were also identified (conflicts between different beliefs), lived in the work context, both between their own ideology concerning children and their education and current practice, and between their ideology and the shelters ideology, very alike the assisting model, correctional already old-fashioned, but rooted in a long period of the history of children institutionalization. Therefore, we face a team that, even though highly qualified, seems not to be used in its potential, for we notice that such educators feel that they have a daily practice very different from the one they would be able to offer to the child and allied to the one intended by the ECA.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCaldana, Regina Helena LimaFraga, Lorena Barbosa2008-07-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-23102008-214906/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:09:57Zoai:teses.usp.br:tde-23102008-214906Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:09:57Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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