As veias de Watoriki e o extrativismo mineral : os conflitos ontológicos entre a cosmologia Yanomami e o direito dos minérios no Brasil

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Modernell, Bárbara Daniella Lago
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2139/tde-09092024-115109/
Resumo: Desde 2010, o fluxo do garimpo voltou a se dispersar no território Yanomami e o ouro se tornou um dos maiores produtos de exportação de Roraima, sem possuir nenhuma mina legalmente funcionado no Estado. Ademais, é importante destacarmos que o garimpo realizado dentro desse território indígena deixou de ter características rudimentares e informais, passando a contar com uma estrutura econômica e tecnológica similar às grandes empresas mineradoras. A partir disso, podemos ter uma noção de que as consequências do garimpo ilegal no território Yanomami ultrapassam a esfera de danos ambientais à fauna e à flora e passam a afetar a esfera sociocultural desses povos. O ponto de inflexão desta tese é analisar as diferentes ontologias que o fenômeno do minério possui dentro deste complexo tema que é o garimpo ilegal. Enquanto o sistema jurídico brasileiro considera o mineral como um recurso natural não renovável, inerte e inanimado, que somente vem à existência no universo jurídico quando se constata a sua potência para gerar lucros, os Yanomami consideram os minérios como entidades que possuem um fundo humano, abrigam uma forma de Vida e possuem intenções. Apesar do espaço político que o Novo Constitucionalismo Latino-Americano abriu para a normatividade dos povos indígenas com seus ideais pluralistas, multiculturais, biocêntricos e ecocêntricos , este se torna insuficiente ao perpassar os ideais desses povos através de um mal-entendido interétnico. Ao invés de tentarmos criar concepções jurídicas inovadoras, as quais recaem constantemente em um tipo de colonização dos conceitos indígenas, parece mais prudente compreender as rachaduras desse sistema, os conflitos entre tais ontologias, a mitigação do reconhecimento estatal e o comportamento de todos os atores envolvidos nessa complexidade do garimpo ilegal. Chegou, enfim, o momento de realizarmos alianças teóricas com outros campos científicos, a fim de refletirmos sobre as relações extra-humanas sem recairmos em dicotomias como humano/não-humano, natureza/cultura, corpo/social e vida/não-vida. Assim, percebe-se que os séculos se passaram, mas os inimigos continuam sendo os mesmos. Há uma classe de humanos que são considerados os ricos de mundo e que possuem o direito de criar as regras do jogo que melhor lhes convém. O Antropoceno deixa claro que a preocupação sobre a extinção que atinge a nossa humanidade, na verdade, é apenas um receio sobre a extinção de certos grupos \"humanos\".
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A partir disso, podemos ter uma noção de que as consequências do garimpo ilegal no território Yanomami ultrapassam a esfera de danos ambientais à fauna e à flora e passam a afetar a esfera sociocultural desses povos. O ponto de inflexão desta tese é analisar as diferentes ontologias que o fenômeno do minério possui dentro deste complexo tema que é o garimpo ilegal. Enquanto o sistema jurídico brasileiro considera o mineral como um recurso natural não renovável, inerte e inanimado, que somente vem à existência no universo jurídico quando se constata a sua potência para gerar lucros, os Yanomami consideram os minérios como entidades que possuem um fundo humano, abrigam uma forma de Vida e possuem intenções. Apesar do espaço político que o Novo Constitucionalismo Latino-Americano abriu para a normatividade dos povos indígenas com seus ideais pluralistas, multiculturais, biocêntricos e ecocêntricos , este se torna insuficiente ao perpassar os ideais desses povos através de um mal-entendido interétnico. Ao invés de tentarmos criar concepções jurídicas inovadoras, as quais recaem constantemente em um tipo de colonização dos conceitos indígenas, parece mais prudente compreender as rachaduras desse sistema, os conflitos entre tais ontologias, a mitigação do reconhecimento estatal e o comportamento de todos os atores envolvidos nessa complexidade do garimpo ilegal. Chegou, enfim, o momento de realizarmos alianças teóricas com outros campos científicos, a fim de refletirmos sobre as relações extra-humanas sem recairmos em dicotomias como humano/não-humano, natureza/cultura, corpo/social e vida/não-vida. Assim, percebe-se que os séculos se passaram, mas os inimigos continuam sendo os mesmos. Há uma classe de humanos que são considerados os ricos de mundo e que possuem o direito de criar as regras do jogo que melhor lhes convém. O Antropoceno deixa claro que a preocupação sobre a extinção que atinge a nossa humanidade, na verdade, é apenas um receio sobre a extinção de certos grupos \"humanos\".Since 2010, mining operations have again expanded into Yanomami territory, leading to gold becoming one of the most significant export product of Roraima despite the absence of legally sanctioned mines in the state. Moreover, it is important to highlight that the mining carried out within this indigenous territory, ceased to have rudimentary and informal characteristics, starting to have an economic and technological structure similar to large mining companies. This development illustrates that the implications of illicit mining in Yanomami territory extend beyond environmental harm to fauna and flora and begin to impact the sociocultural realm of the Yanomami people. This thesis aims to scrutinize the disparate ontologies of the mineral phenomenon within the intricate subject of illegal mining. While the brazilian legal system considers the mineral as a non-renewable, inert and inanimate natural resource that only comes into existence in the legal universe when its power to generate profits is verified, the Yanomami perceive minerals as entities possessing a human essence, embodying life and intentionality. Although the New Latin American Constitutionalism has provided a political platform for the normativity of indigenous groups - with their pluralistic, multicultural, biocentric, and ecocentric ideals - this proves inadequate as it filters these peoples ideals through an interethnic misunderstanding. Rather than attempting to forge innovative legal concepts, which often inadvertently colonize indigenous concepts, it seems more reasonable to explore the fissures within this system, the disputes between such ontologies, the mitigation of state recognition, and the the behavior of all actors involved in this complexity of illegal mining. It is high time to emphasize the importance of forming theoretical alliances with other scientific disciplines to contemplate extra-human interactions without reverting to dichotomies such as human/non-human, nature/culture, body/social, and life/non-life. It is thus perceived that the centuries have passed, but the enemies remain the same. There is a class of humans who are considered the rich of the world and who have the right to create the rules of the game that suits them best. The Anthropocene makes clear that the concern about the extinction that affects our humanity, in fact, is just a fear about the extinction of certain \"human\"groups.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPBarbosa, Samuel RodriguesModernell, Bárbara Daniella Lago2024-06-26info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2139/tde-09092024-115109/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-09-19T11:00:06Zoai:teses.usp.br:tde-09092024-115109Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-09-19T11:00:06Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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