A função epistemológica do estrangeiro no espaço semiótico da máquina comunicacional tanguera

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Masella Lopes, Paulo Roberto
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27152/tde-24102014-110741/
Resumo: A partir da interpretação do conceito de semiosfera formulado por Iúri Lótman, a comunicação é entendida como um processo de tradução semiótica que ocorre na fronteira entre sistemas culturais. Consiste na transformação da informação em que os códigos são antes recodificados que decodificados, propiciando uma dinâmica também cultural na medida em que nesse processo tradutório estejam envolvidos mais do que simples códigos ou signos, senão padrões culturais que compreendem uma dimensão espaciotemporal em que se inserem as diversas linguagens. O mecanismo que propicia essa dinâmica parte de uma concepção epistemológica do espaço porquanto suponha uma fronteira que atue como filtro tradutor dos textos que se encontram fora de um determinado sistema que esteja sendo observado, modificando seu sentido ao torná-los próprios. Como o espaço semiótico compreende diversos sistemas de signos estruturados em diversas linguagens e submetidos a diversos contextos culturais, essa passagem de um meio a outro pode implicar em níveis de intraduzibilidade e imprevisibilidade que, apesar da resistência que possam suscitar à memória do sistema, uma vez traduzidos, asseguram um ganho qualitativo ao sistema cultural introduzindo informação nova e diversificada. O estrangeiro trata justamente dessa condição de ambiguidade da fronteira em que os textos podem ou não ser traduzidos. A hipótese é que a diversidade constitua-se na situação ideal de manutenção e de desenvolvimento do sistema ao permitir um número maior de interações e semioses, inibindo o risco de redundância e de homogeneização. Propõe-se também que a diversidade seja resultado dessa tensão entre o programa econômico (ideológico) da memória e a permeabilidade da fronteira. A análise desse mecanismo é observada a partir do espaço semiótico do tango que contempla basicamente os sistemas de signos da música, da dança e da canção, além de representações conflitantes que marcam a heterogeneidade e a mobilidade desse espaço de produção de sentido. Constata-se um ganho qualitativo ao sistema-tango na tradução de novos textos de cultura, ainda que estes causem estranhamento à memória por não reconhecer padrões já estabelecidos, forçando-a a reorganizá-los e hierarquizá-los segundo outros valores. Por outro lado, uma vez que não se concede plena autonomia de sentido à linguagem, trabalha-se na perspectiva da admissão de uma dupla matriz espaciotemporal, permitindo tratar da inferência da geopolítica na produção da territorialidade do tango, assim como de seu caráter anacrônico que surge justamente da dissociação entre esses registros epistemológicos. Esta pesquisa busca examinar a operacionalidade dos principais conceitos aplicados ao mecanismo semiótico da comunicação e da cultura a partir da construção de um objeto empírico estruturado em três capítulos (bandoneón, ritmo e memória) em que são investigados os fundamentos ontológicos do tango. Além da discussão epistemológica e estética proposta, a escolha do tema persegue uma valorização do intercâmbio cultural latino-americano para o qual a técnica de observação direta revelou-se como recurso metodológico imprescindível na análise e interpretação dos dados.
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O mecanismo que propicia essa dinâmica parte de uma concepção epistemológica do espaço porquanto suponha uma fronteira que atue como filtro tradutor dos textos que se encontram fora de um determinado sistema que esteja sendo observado, modificando seu sentido ao torná-los próprios. Como o espaço semiótico compreende diversos sistemas de signos estruturados em diversas linguagens e submetidos a diversos contextos culturais, essa passagem de um meio a outro pode implicar em níveis de intraduzibilidade e imprevisibilidade que, apesar da resistência que possam suscitar à memória do sistema, uma vez traduzidos, asseguram um ganho qualitativo ao sistema cultural introduzindo informação nova e diversificada. O estrangeiro trata justamente dessa condição de ambiguidade da fronteira em que os textos podem ou não ser traduzidos. A hipótese é que a diversidade constitua-se na situação ideal de manutenção e de desenvolvimento do sistema ao permitir um número maior de interações e semioses, inibindo o risco de redundância e de homogeneização. Propõe-se também que a diversidade seja resultado dessa tensão entre o programa econômico (ideológico) da memória e a permeabilidade da fronteira. A análise desse mecanismo é observada a partir do espaço semiótico do tango que contempla basicamente os sistemas de signos da música, da dança e da canção, além de representações conflitantes que marcam a heterogeneidade e a mobilidade desse espaço de produção de sentido. Constata-se um ganho qualitativo ao sistema-tango na tradução de novos textos de cultura, ainda que estes causem estranhamento à memória por não reconhecer padrões já estabelecidos, forçando-a a reorganizá-los e hierarquizá-los segundo outros valores. Por outro lado, uma vez que não se concede plena autonomia de sentido à linguagem, trabalha-se na perspectiva da admissão de uma dupla matriz espaciotemporal, permitindo tratar da inferência da geopolítica na produção da territorialidade do tango, assim como de seu caráter anacrônico que surge justamente da dissociação entre esses registros epistemológicos. Esta pesquisa busca examinar a operacionalidade dos principais conceitos aplicados ao mecanismo semiótico da comunicação e da cultura a partir da construção de um objeto empírico estruturado em três capítulos (bandoneón, ritmo e memória) em que são investigados os fundamentos ontológicos do tango. Além da discussão epistemológica e estética proposta, a escolha do tema persegue uma valorização do intercâmbio cultural latino-americano para o qual a técnica de observação direta revelou-se como recurso metodológico imprescindível na análise e interpretação dos dados.From the interpretation of semiosphere formulated by Yuri Lotman, communication is understood as a process of semiotic translation that occurs at the border between cultural systems. It consists in the transformation of information in which the codes are recoded rather than decoded, providing also a cultural dynamics in so far as that in this translation process are involved more than simple codes or signs, but cultural patterns that comprise a spatiotemporal dimension where several languages are inserted. The mechanism that provides this dynamic comes from an epistemological conception of space as it supposes a border that acts as a texts\' translator filter of a given system that is being observed, modifying their sense when appropriating them. As the semiotic space comprises several signs systems structured in diverse languages and submitted to different cultural contexts, this passage from one medium to another can imply in levels of untranslatability and unpredictability that, despite the resistance that might give rise to the system memory, once translated, ensures a qualitative gain to the cultural system by introducing new and diversified information. The stranger deals with this condition of ambiguity of the border in which the texts may or may not be translated. The hypothesis is that diversity is constituted in the ideal situation of maintenance and development of the system as it allows a larger number of interactions and semiosis, inhibiting the risk of redundancy and homogenization. It is also proposed that diversity is a result of this tension between economic program (ideological) of memory and the permeability of the border. The analysis of this mechanism is observed from the semiotic space of tango, which covers the systems of signs, music, dance and song, and conflicting representations that characterize the heterogeneity and mobility of this space of production of meaning. It is observed a noticeable qualitative gain to the tango system in the translation of new texts of culture, even though they cause estrangement to memory by not recognize patterns already established, forcing it to rearrange and hierarchize them according to other values. On the other hand, since language does not have a full autonomy of meaning, one works from the perspective of the admission of a double space-temporal matrix, allowing deal with the inference of geopolitics in the production of the tango\'s territoriality, as well as its anachronic character that arises from dissociation between these epistemological records. This research aims to examine the operability of the main concepts applied to the semiotic mechanism of communication and culture from the construction of an empirical object structured into three chapters (bandoneón, rhythm and memory) in which are investigated the ontological foundations of tango. Besides the proposed epistemological and aesthetic discussion, the choice of theme pursues a valorization of a Latin American cultural exchange, for which the technique of direct observation proved to be an indispensable methodological resource for the data analysis and interpretationBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPMachado, Irene de AraujoMasella Lopes, Paulo Roberto2014-04-14info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27152/tde-24102014-110741/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:55Zoai:teses.usp.br:tde-24102014-110741Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:55Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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