Das vicissitudes da Literatura e da História: a emergência de uma heroína negra em Um defeito de cor

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Morais, Máira Luana
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-18052023-150222/
Resumo: Em confronto à lógica racial epistêmica, que se manifesta na negação de outras formas de conhecimentos que antecedem a colonização europeia e/ou divergem de seus métodos de análise, o objetivo desta pesquisa é propor uma leitura do romance Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, mediada por saberes, práticas e tecnologias ancestrais das culturas negras. Para isso, mapeamos os trânsitos sistêmicos do romance e analisamos as suas encruzilhadas, lugar de intermediações entre sistemas e instâncias de conhecimentos diversos (MARTINS,1997, p.25). Neste processo, levantamos duas hipóteses de investigação: a) a personagem narradora, Kehinde, assim como Exu, pode ser lida como um Princípio organizador e dinâmico da narrativa, que manipula os fios do enredo e constrói para si um mundo no qual ela, mulher preta que passa pela experiência da escravidão, possa existir; b) o romance, com todas as suas encruzilhadas manipuladas pela personagem narradora, organiza-se como um cosmograma, um sistema estruturado com os seus próprios ciclos norteadores, confrontando, desta forma, a lógica colonial da sociedade brasileira e, por extensão, da literatura, que, por séculos, tem relegado às pessoas negras um lugar de subalternidade, quando não de inexistência. Esta nossa hipótese tem como um dos seus fundamentos o fôlego épico da obra, caracterizado pela sua extensão e pela fusão entre o plano histórico e o mítico na construção da saga heróica da personagem Kehinde. A leitura do romance como um cosmograma, em todas as suas encruzilhadas, nos permite refletir sobre as com-tradições que se apresentam na narrativa, termo utilizado para destacar dois pontos em diálogo em uma encruzilhada: o encontro de (1) tradições geradores de conflitos e disputas que levam à aparente (2) contradição nas ações da personagem Kehinde. Por fim, este olhar que prima pela forma em que os elementos estão dispostos no enredo, ou seja, em encruzilhadas, nos permite propor uma outra noção de tempo, um tempo espiralado que atravessa a linearidade do romance e intersecciona passado, presente e futuro
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Neste processo, levantamos duas hipóteses de investigação: a) a personagem narradora, Kehinde, assim como Exu, pode ser lida como um Princípio organizador e dinâmico da narrativa, que manipula os fios do enredo e constrói para si um mundo no qual ela, mulher preta que passa pela experiência da escravidão, possa existir; b) o romance, com todas as suas encruzilhadas manipuladas pela personagem narradora, organiza-se como um cosmograma, um sistema estruturado com os seus próprios ciclos norteadores, confrontando, desta forma, a lógica colonial da sociedade brasileira e, por extensão, da literatura, que, por séculos, tem relegado às pessoas negras um lugar de subalternidade, quando não de inexistência. Esta nossa hipótese tem como um dos seus fundamentos o fôlego épico da obra, caracterizado pela sua extensão e pela fusão entre o plano histórico e o mítico na construção da saga heróica da personagem Kehinde. A leitura do romance como um cosmograma, em todas as suas encruzilhadas, nos permite refletir sobre as com-tradições que se apresentam na narrativa, termo utilizado para destacar dois pontos em diálogo em uma encruzilhada: o encontro de (1) tradições geradores de conflitos e disputas que levam à aparente (2) contradição nas ações da personagem Kehinde. Por fim, este olhar que prima pela forma em que os elementos estão dispostos no enredo, ou seja, em encruzilhadas, nos permite propor uma outra noção de tempo, um tempo espiralado que atravessa a linearidade do romance e intersecciona passado, presente e futuroIn confrontation with the epistemic racial logic, which manifests itself in the denial of other forms of knowledge that precede European colonization and/or diverge from its methods of analysis, the objective of this research is to propose an analysis of the novel Um defeito de cor, written by Ana Maria Gonçalves, mediated by ancestral knowledge, practices, and technologies of black cultures. For this, we mapped the systemic transits of the novel and analyzed its crossroads, place of intermediation between systems and instances of diverse knowledge [lugar de intemediações entre sistemas e instâncias de conhecimentos diversos] (MARTINS,1997, p.25). In this process, we propose two hypotheses: a) the first person narrator, Kehinde, like Exu, can be interpreted as an organizing and dynamic principle of the narrative, which manipulates the threads of the plot and builds a world for herself in which she can exist as a black woman who goes through the experience of slavery; b) the novel is organized as a cosmogram, a structured system with its own guiding cycles that encompasses the crossroads manipulated by the first person narrator. This cosmogram confronts the colonial logic of the Brazilian society and, by extension, of the Brazilian literature, which has relegated black people to a place of subalternity or non-existence for centuries. This hypothesis has as one of its foundations on the epic work characterized by its extension and by the fusion between the historical and the mythical frames in the construction of the heroic saga of the character Kehinde. Interpreting the novel as a cosmogram, in all its crossroads, allows us to reflect on the com-tradições (from a Portuguese neologism that communicates an idea of a fusion of the terms traditions and contradictions) that appear in the narrative, a term used to highlight two points in dialogue at a crossroads: the encounter of (1) traditions that generates conflicts and disputes leading to the apparent (2) contradiction in the actions of the character Kehinde. Finally, a perspective that stands out for the way in which the elements are arranged in the narrative, that means, at crossroads, allows us to propose another notion of time, a spiraled time that crosses the linearity of the narrative and intersects the past, the present, and the futureBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPMello, Jefferson AgostiniMorais, Máira Luana2023-02-28info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-18052023-150222/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-05-18T18:04:53Zoai:teses.usp.br:tde-18052023-150222Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-05-18T18:04:53Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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