Construções com o verbo acabar em português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Aline Garcia Rodero
Data de Publicação: 2010
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.8.2010.tde-16112010-095738
Resumo: Neste trabalho, propomos uma análise do verbo acabar e de algumas das sentenças em que ele pode aparecer à luz de modelos formais para a análise linguística. Buscamos investigar as características sintático-semânticas dessas sentenças e procuramos identificar que tipo de estrutura sintática melhor representa sua formação. Travaglia (2004b) discute a poligramaticalização do verbo acabar e mostra que esse verbo está se gramaticalizando em sentidos diferentes. Esse autor aponta sete valores gramaticais em diferentes estágios de gramaticalização para tal verbo, além do sentido como verbo pleno. Sugerimos uma redução das oito possibilidades de interpretação de acabar sugeridas por Travaglia a cinco, pois quatro dos exemplos diferenciados por aquele autor parecem permitir uma mesma leitura. Nas sentenças que analisamos nesta dissertação, fazemos um recorte abrangendo o verbo acabar que traz uma idéia de resultado ou fase final de um evento, com uma leitura algo aconteceu e, no final das contas, a situação terminou de tal forma. Vários testes foram feitos para definir o estatuto desse verbo, como auxiliar ou como aspectualizador, porém esses testes não apontam para uma mesma direção. Observamos que acabar não apresenta um comportando uniforme, ora comportando-se como um verbo auxiliar, ora como um aspectualizador. Apesar do grande número de características que observamos para esse verbo comportando-se como um auxiliar, o consideramos como um aspectualizador (na terminologia de Wachowicz (2005, 2007)), principalmente pelo fato de operar sobre o intervalo de tempo denotado pelo verbo principal, restringindo esse intervalo para sua fase final ou para seu resultado, que é uma forte característica dos aspectualizadores, conforme Lunguinho (2005, 2009) e Wachowicz (2005, 2007). Esse verbo apresenta todas as características de alçamento perante os testes propostos por Davies & Dubinsky (2004). O verbo acabar está selecionando uma proposição em todos os exemplos em foco neste trabalho, uma small clause, e o sujeito lógico da predicação no núcleo dessa small clause alça para a posição de sujeito superficial. O verbo acabar funciona como um verbo inacusativo, selecionando apenas um argumento interno, no caso, uma SC. Ferreira (2009) prevê que um verbo inacusativo funcione como uma construção de alçamento. Essa autora considera os auxiliares como um subgrupo dos verbos inacusativos e esses, por sua vez, como um subgrupo dos verbos de alçamento. Por conta disso, prevemos que acabar esteja em uma intersecção entre os subgrupos de verbos inacusativos que selecionam uma SC, um CP, um DP e os verbos auxiliares, já que apresenta algumas características desse último. Comparamos as propriedades de acabar com algumas propriedades das passivas das línguas naturais, como discutido em Jaeggli (1986). Duas das propriedades das passivas das línguas naturais são também propriedades dos verbos inacusativos e, logo, dos verbos de alçamento: i) o NP na posição de sujeito não recebe papel-; e ii) o NP na posição de VP não recebe Caso verbal. Então, essas propriedades se verificam tanto para as passivas quanto para o verbo acabar, porém de formas um pouco diferentes. Sendo assim, essas construções podem ter uma mesma leitura, mas não a mesma estrutura sintática. É possível estabelecer uma relação entre as sentenças passivas e as estruturas de alçamento em que acabar pode ocorrer, devido ao fato de verbos auxiliares e inacusativos apresentarem propriedades de verbo de alçamento, como explicado em Ferreira (2009). Além disso, passivas podem apresentar algumas características comuns àquelas construções. Assim, obtemos uma leitura parecida para todas essas construções.
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spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis Construções com o verbo acabar em português brasileiro Constructions with the verb acabar in brazilian portuguese 2010-06-30Ana Paula ScherAlessandro Boechat de MedeirosEsmeralda Vailati NegraoAline Garcia RoderoUniversidade de São PauloLingüísticaUSPBR Aspectualizador Aspectualizer Auxiliar Auxiliary Estrutura de alçamento Inacusativo Passiva Passive Raising structure Unnacusatives Neste trabalho, propomos uma análise do verbo acabar e de algumas das sentenças em que ele pode aparecer à luz de modelos formais para a análise linguística. Buscamos investigar as características sintático-semânticas dessas sentenças e procuramos identificar que tipo de estrutura sintática melhor representa sua formação. Travaglia (2004b) discute a poligramaticalização do verbo acabar e mostra que esse verbo está se gramaticalizando em sentidos diferentes. Esse autor aponta sete valores gramaticais em diferentes estágios de gramaticalização para tal verbo, além do sentido como verbo pleno. Sugerimos uma redução das oito possibilidades de interpretação de acabar sugeridas por Travaglia a cinco, pois quatro dos exemplos diferenciados por aquele autor parecem permitir uma mesma leitura. Nas sentenças que analisamos nesta dissertação, fazemos um recorte abrangendo o verbo acabar que traz uma idéia de resultado ou fase final de um evento, com uma leitura algo aconteceu e, no final das contas, a situação terminou de tal forma. Vários testes foram feitos para definir o estatuto desse verbo, como auxiliar ou como aspectualizador, porém esses testes não apontam para uma mesma direção. Observamos que acabar não apresenta um comportando uniforme, ora comportando-se como um verbo auxiliar, ora como um aspectualizador. Apesar do grande número de características que observamos para esse verbo comportando-se como um auxiliar, o consideramos como um aspectualizador (na terminologia de Wachowicz (2005, 2007)), principalmente pelo fato de operar sobre o intervalo de tempo denotado pelo verbo principal, restringindo esse intervalo para sua fase final ou para seu resultado, que é uma forte característica dos aspectualizadores, conforme Lunguinho (2005, 2009) e Wachowicz (2005, 2007). Esse verbo apresenta todas as características de alçamento perante os testes propostos por Davies & Dubinsky (2004). O verbo acabar está selecionando uma proposição em todos os exemplos em foco neste trabalho, uma small clause, e o sujeito lógico da predicação no núcleo dessa small clause alça para a posição de sujeito superficial. O verbo acabar funciona como um verbo inacusativo, selecionando apenas um argumento interno, no caso, uma SC. Ferreira (2009) prevê que um verbo inacusativo funcione como uma construção de alçamento. Essa autora considera os auxiliares como um subgrupo dos verbos inacusativos e esses, por sua vez, como um subgrupo dos verbos de alçamento. Por conta disso, prevemos que acabar esteja em uma intersecção entre os subgrupos de verbos inacusativos que selecionam uma SC, um CP, um DP e os verbos auxiliares, já que apresenta algumas características desse último. Comparamos as propriedades de acabar com algumas propriedades das passivas das línguas naturais, como discutido em Jaeggli (1986). Duas das propriedades das passivas das línguas naturais são também propriedades dos verbos inacusativos e, logo, dos verbos de alçamento: i) o NP na posição de sujeito não recebe papel-; e ii) o NP na posição de VP não recebe Caso verbal. Então, essas propriedades se verificam tanto para as passivas quanto para o verbo acabar, porém de formas um pouco diferentes. Sendo assim, essas construções podem ter uma mesma leitura, mas não a mesma estrutura sintática. É possível estabelecer uma relação entre as sentenças passivas e as estruturas de alçamento em que acabar pode ocorrer, devido ao fato de verbos auxiliares e inacusativos apresentarem propriedades de verbo de alçamento, como explicado em Ferreira (2009). Além disso, passivas podem apresentar algumas características comuns àquelas construções. Assim, obtemos uma leitura parecida para todas essas construções. In this dissertation, we offer an analysis of the verb acabar and some sentences in which it can figure according to the formal linguistics. We investigate the syntactic-semantic characteristics of these sentences and try to identify what kind of syntactic structure best represents them. Travaglia (2004b) discusses the poligrammaticalization of the verb acabar and shows that this verb is grammaticalizing in different ways. This author shows seven grammar values in different levels of grammaticalization for this verb, besides its meaning as a lexical verb. We suggest a reduction of these eight possibilities to interpret acabar into five, since four examples analysed in different ways by that author seems to allow a same reading. In the sentences we analyse in this dissertation, we reduce the scope of our investigation only to the verb acabar that brings an idea of an event result or final phase, bringing a reading like: something happened and, by the end, the situation ended up like this. Many tests were done to define this verb as an auxiliary or aspectualizer, but these tests dont show the same results. We observe that acabar dont exhibit an uniform behaviour, sometimes working as an auxiliary verb, other times as an apectualizer. In spite of the great range of characteristics that we observe for this verb behaving as an auxiliary, we consider it an aspectualizer (following Wachowicz (2005, 2007)), mainly due to the way it works over the time interval expressed by the main verb, restricting this interval to its final phase or to its result, that is a strong characteristic for the aspectualizers, according to Lunguinho (2005, 2009) and Wachowicz (2005, 2007). This verb shows all raising characteristics according to the tests proposed by Davies & Dubinsky (2004). The verb acabar is selecting a proposition in all of the examples in focus on this dissertation, a small clause, and the logical subject of the predicate in the nucleus of this small clause raises to a superficial subject position. The verb acabar works as an unnacusative verb, selecting only one internal argument, in this case, a SC. Ferreira (2009) assumes that an unnucusative verb behaves as a raising structure. This author considers auxiliaries as a subgroup of the unnacusatives, and the later verbs, as a subgroup of the raising verbs. For this reason, we assume that acabar is in crossroads between unnacusative verbs subgroup that selects a SC, a CP, a DP and the auxiliary verbs, since it shows some characteristics of these verbs. We compare the properties of acabar with some properties of passives in natural languages, as discussed in Jaeggli (1986). Two of the three properties of passives in natural languages are also the properties of unnacusative verbs and, consequently, of raising verbs: i) the NP in the subject position doesnt receive a -role; and ii) the NP in the position of VP doesnt receive structural Case. So, these properties are true not only for the passives, but also for the verb acabar, but in different ways. Then, these constructions can have the same reading, but not the same syntactic structure. It is possible to establish a relation between these passive sentences and the raising structures in which acabar can occur, in spite of the fact that auxiliary verbs and unnacusatives present properties of raising verbs, as discussed in Ferreira (2009). Besides, passives can present some characteristics common to that constructions. Then, we get a similar reading to all of these constructions. https://doi.org/10.11606/D.8.2010.tde-16112010-095738info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T19:08:45Zoai:teses.usp.br:tde-16112010-095738Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T12:46:15.618183Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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