Articulações e implicações da noção de perspectiva no construtivismo semiótico-cultural para a compreensão das relações eu - outro: possível diálogo com o perspectivismo ameríndio
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2010 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-06052010-110644/ |
Resumo: | Partindo da compreensão de que os seres humanos nascem e se desenvolvem no tecido cultural, que atravessa processos singulares de subjetivação bem como disponibiliza campos estruturados de ação, nosso primeiro objetivo neste trabalho foi sistematizar algumas proposições geradas no âmbito das pesquisas do construtivismo semiótico cultural em psicologia, a respeito das relações eu outro. Em segundo lugar, levando em conta essas proposições, buscamos articulá-las em torno da noção de perspectiva. A noção de perspectiva, aqui em foco, envolve os posicionamentos pessoais na experiência vivida, viabilizando determinada visão dos outros e das coisas, em detrimento de outras visões. Pautados pelo dialogismo teórico-metodológico em psicologia, buscamos promover um diálogo confrontador entre construtivismo semiótico cultural em psicologia e o perspectivismo ameríndio em antropologia, sobre suas respectivas noções de perspectiva. No construtivismo semiótico cultural a noção de perspectiva toca questões como: a multiplicidade de posicionamentos pessoais em face de objetos culturais (Marková, 2003/2006); a alteridade do outro (Lévinas, 1964/1991), que tem uma trajetória de vida singular, internalizando referências significativas no processo de construção de conhecimento; o cruzamento de olhares entre eu e outro a partir de e para suas corporeidades; a noção de ação simbólica de Boesch (1991); a articulação entre os planos intersubjetivo e intrassubjetivo da experiência humana. Na abordagem do perspectivismo ameríndio, por sua vez, a questão da fabricação do corpo, no seio do convívio social, é central para o entendimento do processo de construção de identidades e alteridades. Como resultado do diálogo confrontador, encontramos algumas divergências entre as duas noções de perspectiva postas em foco, especialmente no que se refere à questão da multiplicidade de entendimentos pessoais em relação a um objeto presente na abordagem psicológica e à questão do estatuto da realidade (ao invés de entendimentos sobre a realidade), que tem um papel importante na abordagem antropológica. Com o objetivo de continuar a pesquisa na interface entre essas duas áreas, sobre a qual a presente pesquisa pode ser considerada uma empreitada inicial, buscaremos aprofundar distinções conceituais em ambas as áreas de construção de conhecimento. Essa exploração mais acurada deve incluir nítidas distinções conceituais quanto às noções de sujeito, pessoa e indivíduo em ambos os campos de saber aqui confrontados. No entanto, uma primeira tentativa nessa direção já foi elaborada neste trabalho ao se discutir o artigo de Lima (1996), pautado pela noção de indeterminação restringida (Valsiner, 1998). O resultado dessa tentativa foi a elaboração de um modelo instrumental de multiplicação dialógica referido a objetos do campo de representações sociais. Mantendo o objetivo de explorar o potencial dos resultados obtidos para pesquisas futuras, procuramos discutir um caso clínico relatado e analisado por Boesch (1991) de acordo com nosso modelo instrumental. Consideramos que os resultados apontam para a relevância de se continuar na direção do percurso iniciado para o entendimento de diferenças no interior e entre pessoas e sociedades, a respeito de seus universos semióticoculturais. Esperamos também que este tipo de pesquisa possa gerar sistematizações teóricoepistemológicas úteis para profissionais e pesquisadores em suas reflexões e decisões diante de fenômenos psicossociais |
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Articulações e implicações da noção de perspectiva no construtivismo semiótico-cultural para a compreensão das relações eu - outro: possível diálogo com o perspectivismo ameríndioArticulations and implications of the notion of perspective in the semiotic cultural psychology to the comprehension of I other relationships: possible dialogues with Amerindian perspectivismAlteridadeAlterityConstrução de conhecimentoCulturaCultureDesenvolvimento psicossocialIdentidadeIdentityIntersubjectivityIntersubjetividadeKnowledge constructionPsychosocial developmentPartindo da compreensão de que os seres humanos nascem e se desenvolvem no tecido cultural, que atravessa processos singulares de subjetivação bem como disponibiliza campos estruturados de ação, nosso primeiro objetivo neste trabalho foi sistematizar algumas proposições geradas no âmbito das pesquisas do construtivismo semiótico cultural em psicologia, a respeito das relações eu outro. Em segundo lugar, levando em conta essas proposições, buscamos articulá-las em torno da noção de perspectiva. A noção de perspectiva, aqui em foco, envolve os posicionamentos pessoais na experiência vivida, viabilizando determinada visão dos outros e das coisas, em detrimento de outras visões. Pautados pelo dialogismo teórico-metodológico em psicologia, buscamos promover um diálogo confrontador entre construtivismo semiótico cultural em psicologia e o perspectivismo ameríndio em antropologia, sobre suas respectivas noções de perspectiva. No construtivismo semiótico cultural a noção de perspectiva toca questões como: a multiplicidade de posicionamentos pessoais em face de objetos culturais (Marková, 2003/2006); a alteridade do outro (Lévinas, 1964/1991), que tem uma trajetória de vida singular, internalizando referências significativas no processo de construção de conhecimento; o cruzamento de olhares entre eu e outro a partir de e para suas corporeidades; a noção de ação simbólica de Boesch (1991); a articulação entre os planos intersubjetivo e intrassubjetivo da experiência humana. Na abordagem do perspectivismo ameríndio, por sua vez, a questão da fabricação do corpo, no seio do convívio social, é central para o entendimento do processo de construção de identidades e alteridades. Como resultado do diálogo confrontador, encontramos algumas divergências entre as duas noções de perspectiva postas em foco, especialmente no que se refere à questão da multiplicidade de entendimentos pessoais em relação a um objeto presente na abordagem psicológica e à questão do estatuto da realidade (ao invés de entendimentos sobre a realidade), que tem um papel importante na abordagem antropológica. Com o objetivo de continuar a pesquisa na interface entre essas duas áreas, sobre a qual a presente pesquisa pode ser considerada uma empreitada inicial, buscaremos aprofundar distinções conceituais em ambas as áreas de construção de conhecimento. Essa exploração mais acurada deve incluir nítidas distinções conceituais quanto às noções de sujeito, pessoa e indivíduo em ambos os campos de saber aqui confrontados. No entanto, uma primeira tentativa nessa direção já foi elaborada neste trabalho ao se discutir o artigo de Lima (1996), pautado pela noção de indeterminação restringida (Valsiner, 1998). O resultado dessa tentativa foi a elaboração de um modelo instrumental de multiplicação dialógica referido a objetos do campo de representações sociais. Mantendo o objetivo de explorar o potencial dos resultados obtidos para pesquisas futuras, procuramos discutir um caso clínico relatado e analisado por Boesch (1991) de acordo com nosso modelo instrumental. Consideramos que os resultados apontam para a relevância de se continuar na direção do percurso iniciado para o entendimento de diferenças no interior e entre pessoas e sociedades, a respeito de seus universos semióticoculturais. Esperamos também que este tipo de pesquisa possa gerar sistematizações teóricoepistemológicas úteis para profissionais e pesquisadores em suas reflexões e decisões diante de fenômenos psicossociaisDeparting from the understanding that human beings are born and develop themselves in their cultural fabric, passing through singular processes of subjectivation, as well as allowing structured fields of action, our first aim in this work was to systematize some propositions generated in the bulk of semiotic-cultural research in Psychology concerning I other relationships. Second, taking into account those propositions, we have tried to articulate them around the notion of perspective. The notion of perspective here in focus concerns with persons positioning from her lived experience, allowing some views about other and things in the world, while preventing other alternative views. Framed by the theoretical-methodological dialogism in Psychology, we then tried to promote a confronting dialogue between the semiotic cultural constructivism in Psychology and the Amerindian perspectivism in Anthropology respecting their respective notions of perspective. In the semiotic cultural constructivism, the notion of perspective touches issues like the multiple personal positioning facing cultural objects (Marková, 2003/2006); the alterity of the other, who has his singular life trajectory, internalizing meaningful references in his process of meaning construction (Lévinas, 1964/1991); the crossing of the selfs and the others sights from and towards their corporeality; Boeschs (1991) notion of symbolic action; the articulations between intersubjective and intrasubjective levels of human experience. In the framework of Amerindian perspectivism, by its side, the issue of body manufacturing in the core of communitarian conviviality is central for understanding the process of construction of identities and alterities. As a result of the confronting dialogue installed by this research, we found out some divergences between the two notions of perspective here put in focus, especially concerning the issue of the multiplicity of personal understandings of an object present in the psychological approach and the issue of the statute of reality (instead of understanding of reality), that plays an important role in the anthropological approach. Aiming to continue the research in the interface of these two areas, where the present research can be considered a starting enterprise, we will try to explore more deeply some conceptual distinctions in both frames of knowledge. This more accurate exploration should include a sharply conceptual distinction concerning the notions of subject, person and individual in both fields of knowledge here confronted. Nevertheless, already made in the present research, a first tentative in this direction, discussing Limas (1996) paper under the notion of bounded indeterminacy (Valsiner, 1998). The result of this tentative was an instrumental model of dialogical multiplication, referred to the objects of a social representation field. Keeping the aim of exploring the potential of our present results for further research, we try to discuss a clinical case - reported and analyzed by Boesch (1991) - according our instrumental model. We consider that our results point to the relevance of continuing our investigations in the directions we here begun especially for the understanding differences inside and amongst persons and societies respect their semiotic cultural universes. We also expect that this kind of research can generate theoretical epistemological systematization useful for professionals and researchers in their reflections and decisions facing psychosocial phenomenaBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSimao, Livia MathiasGuimarães, Danilo Silva2010-04-08info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-06052010-110644/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:07Zoai:teses.usp.br:tde-06052010-110644Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:07Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Partindo da compreensão de que os seres humanos nascem e se desenvolvem no tecido cultural, que atravessa processos singulares de subjetivação bem como disponibiliza campos estruturados de ação, nosso primeiro objetivo neste trabalho foi sistematizar algumas proposições geradas no âmbito das pesquisas do construtivismo semiótico cultural em psicologia, a respeito das relações eu outro. Em segundo lugar, levando em conta essas proposições, buscamos articulá-las em torno da noção de perspectiva. A noção de perspectiva, aqui em foco, envolve os posicionamentos pessoais na experiência vivida, viabilizando determinada visão dos outros e das coisas, em detrimento de outras visões. Pautados pelo dialogismo teórico-metodológico em psicologia, buscamos promover um diálogo confrontador entre construtivismo semiótico cultural em psicologia e o perspectivismo ameríndio em antropologia, sobre suas respectivas noções de perspectiva. No construtivismo semiótico cultural a noção de perspectiva toca questões como: a multiplicidade de posicionamentos pessoais em face de objetos culturais (Marková, 2003/2006); a alteridade do outro (Lévinas, 1964/1991), que tem uma trajetória de vida singular, internalizando referências significativas no processo de construção de conhecimento; o cruzamento de olhares entre eu e outro a partir de e para suas corporeidades; a noção de ação simbólica de Boesch (1991); a articulação entre os planos intersubjetivo e intrassubjetivo da experiência humana. Na abordagem do perspectivismo ameríndio, por sua vez, a questão da fabricação do corpo, no seio do convívio social, é central para o entendimento do processo de construção de identidades e alteridades. Como resultado do diálogo confrontador, encontramos algumas divergências entre as duas noções de perspectiva postas em foco, especialmente no que se refere à questão da multiplicidade de entendimentos pessoais em relação a um objeto presente na abordagem psicológica e à questão do estatuto da realidade (ao invés de entendimentos sobre a realidade), que tem um papel importante na abordagem antropológica. Com o objetivo de continuar a pesquisa na interface entre essas duas áreas, sobre a qual a presente pesquisa pode ser considerada uma empreitada inicial, buscaremos aprofundar distinções conceituais em ambas as áreas de construção de conhecimento. Essa exploração mais acurada deve incluir nítidas distinções conceituais quanto às noções de sujeito, pessoa e indivíduo em ambos os campos de saber aqui confrontados. No entanto, uma primeira tentativa nessa direção já foi elaborada neste trabalho ao se discutir o artigo de Lima (1996), pautado pela noção de indeterminação restringida (Valsiner, 1998). O resultado dessa tentativa foi a elaboração de um modelo instrumental de multiplicação dialógica referido a objetos do campo de representações sociais. Mantendo o objetivo de explorar o potencial dos resultados obtidos para pesquisas futuras, procuramos discutir um caso clínico relatado e analisado por Boesch (1991) de acordo com nosso modelo instrumental. Consideramos que os resultados apontam para a relevância de se continuar na direção do percurso iniciado para o entendimento de diferenças no interior e entre pessoas e sociedades, a respeito de seus universos semióticoculturais. Esperamos também que este tipo de pesquisa possa gerar sistematizações teóricoepistemológicas úteis para profissionais e pesquisadores em suas reflexões e decisões diante de fenômenos psicossociais |
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