Transfigurando o código: a presença sensível na ressignificação da palavra em seu deslimite

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Moreira, Fernando de Freitas
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-24052021-191446/
Resumo: Tratamos de extensões de emergência do sentido em Água viva, de Clarice Lispector, à luz da Semiótica discursiva. Parte-se da estratégia enunciativa de deixar, na enunciação-enunciada, lampejos do processo criativo que resultou em uma grade de leitura contínua, sem divisões em capítulos, um simulacro da enunciação sendo enunciada. O sujeito da enunciação escreve por esboços, como que a pinceladas: cria efeitos de sentido mais abertos a interpretações ao negar a cristalização compartilhada erigida pela tradição ditada pela doxa que relega o discurso à clausura, promovendo um deslimite e uma dismorfização. A oposição semântica fundamental entre vida e morte deixa de existir. Ambas se fundem em um só objeto com estatuto de sujeito - que toma o ator do enunciado numa metáfora da ressignificação das palavras em relação com outras. A narrativa se interessa por tudo que é, pelo ser daquilo que é descrito como it, que não é a coisa ontológica e não pode ser nomeado. A obra é tomada, neste trabalho, como rica fonte de reflexão semiótica acerca de um projeto geral e abstrato que garante à língua possibilidades de ultrapassagem de limites de sentido, mostrando a força das construções sintagmáticas do discurso no percurso da significação no qual o afeto é subjacente, em face à categorização do lexema. Procurou-se responder à pergunta: diante do confronto com a linguagem, como se dá a tensão e o alargamento dos sentidos em Água viva? Chegou-se à conclusão, a partir do ferramental teórico, de que a grade de leitura proposta pelo enunciador se aproxima do que é da ordem da iconicidade, ou figural, para, em seguida, ultrapassar-lhe reconstruindo sentidos. Ao longo da pesquisa, demonstramos como o enunciador de Água viva promove esses efeitos analisáveis semioticamente, lutando contra o abreviamento redutor de significações que caracteriza nossa sociedade. Tais descobertas científicas foram ao encontro do ponto nevrálgico de nosso trabalho, que trata do devir, da expansão do sentido pela lentificação, da negação da aceleração - que gera uma perda de sentido - além de discutir a semiose na literatura de Lispector sob uma perspectiva diferente, aos moldes do que ocorre na iconografia, devolvendo ao plano da expressão seu estatuto de presença, ao lado do plano do conteúdo por meio do afeto e da tensão sem, contudo, deixarmos de reconhecer que tratamos de fenômenos graduais do conteúdo. A perspectiva do enunciador, da travessia do oposto, de aproximar-se pela negação ou distanciamento daquilo que se diz correntemente sobre algo é um percurso semelhante ao do que faz emergir o sentido no plano da expressão, método coerente para pensarmos a significação diante do projeto transfigurador libertador em nosso objeto de análise.
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Ambas se fundem em um só objeto com estatuto de sujeito - que toma o ator do enunciado numa metáfora da ressignificação das palavras em relação com outras. A narrativa se interessa por tudo que é, pelo ser daquilo que é descrito como it, que não é a coisa ontológica e não pode ser nomeado. A obra é tomada, neste trabalho, como rica fonte de reflexão semiótica acerca de um projeto geral e abstrato que garante à língua possibilidades de ultrapassagem de limites de sentido, mostrando a força das construções sintagmáticas do discurso no percurso da significação no qual o afeto é subjacente, em face à categorização do lexema. Procurou-se responder à pergunta: diante do confronto com a linguagem, como se dá a tensão e o alargamento dos sentidos em Água viva? Chegou-se à conclusão, a partir do ferramental teórico, de que a grade de leitura proposta pelo enunciador se aproxima do que é da ordem da iconicidade, ou figural, para, em seguida, ultrapassar-lhe reconstruindo sentidos. Ao longo da pesquisa, demonstramos como o enunciador de Água viva promove esses efeitos analisáveis semioticamente, lutando contra o abreviamento redutor de significações que caracteriza nossa sociedade. Tais descobertas científicas foram ao encontro do ponto nevrálgico de nosso trabalho, que trata do devir, da expansão do sentido pela lentificação, da negação da aceleração - que gera uma perda de sentido - além de discutir a semiose na literatura de Lispector sob uma perspectiva diferente, aos moldes do que ocorre na iconografia, devolvendo ao plano da expressão seu estatuto de presença, ao lado do plano do conteúdo por meio do afeto e da tensão sem, contudo, deixarmos de reconhecer que tratamos de fenômenos graduais do conteúdo. A perspectiva do enunciador, da travessia do oposto, de aproximar-se pela negação ou distanciamento daquilo que se diz correntemente sobre algo é um percurso semelhante ao do que faz emergir o sentido no plano da expressão, método coerente para pensarmos a significação diante do projeto transfigurador libertador em nosso objeto de análise.We discuss the extensions of the emergence of meanings in Água viva, by Lispector, in the light of French-oriented semiotics. It is based on the author\'s strategy of letting, in the enunciation-enunciated, flashes of a creative process that resulted in a continuous reading grid, without divisions in chapters, simulacrum of enunciation being enunciated. The enunciator does this by writing sketches, as if by brushstrokes: creating a more open meaning effects to interpretations by denying the shared crystallization erected by the tradition dictated by the doxa that relegates discourse to cloistering. The fundamental semantic opposition between life and death ceases to exist. Both are merged into a single object with status of subject - that takes the actor of the utterance in a metaphor of the resignification of the words in relation to other ones. The narrative is interested in the beingof what is described as it, which is not ontological and cannot be named. The book is taken as a rich source of semiotic reflection on a general and abstract project that guarantees to the language possibilities of surpassing discursive limits, showing the strength of syntagmatic constructions of discourse in the course of signification in which affection is underlying the categorization of the lexeme. An attempt was made to answer the question: to what extent does linguistic abstraction, figurativized in dysmorphia dictated by a tempo that tends to detach itself from the rapidity that characterizes the crystallization of social meanings, bring a broadening of sense, including the summoning of the affects in Água viva? We concluded that the reading grid proposed by the enunciator promotes an approximation to what is of the order of iconicity to, then, overcame it reconstructing meanings. Throughout the research, we demonstrate how the Água viva\'s enunciator promotes these semiotic analyzable effects, fighting against the abbreviation that characterizes our society and narrows the possibilities of emergence of meaning. Such scientific discoveries are in line with the main point of our research, which deals with what is to come, the expansion of meaning by slowing, the negation of acceleration, which generates a loss of meaning, besides discussing the semiosis in Lispector\'s literature from a different perspective, molds of what occurs in iconography, returning to the plane of expression its status of presence, alongside the plane of content through affection and tension without, however, failing to acknowledge that we are dealing with content phenomena and its gradations. The perspective of the enunciator, of crossing the opposite, of approaching through denial or distancing from what is currently said about something is a path similar to that which brings out meaning on the plane of expression, a coherent method for thinking of meaning in the face of the liberating and transfiguring project observed in our object of analysis.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPLopes, Ivã CarlosMoreira, Fernando de Freitas2021-02-26info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-24052021-191446/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2021-05-25T02:25:02Zoai:teses.usp.br:tde-24052021-191446Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212021-05-25T02:25:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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