A interpretação de orações relativas ambíguas no Português Brasileiro Infantil: um estudo experimental

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Góes, Iolanda Dias
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-17092019-150050/
Resumo: Esta dissertação resulta de uma pesquisa que investigou a interpretação atribuída a orações relativas com um núcleo [+animado], como a fada que molhou, que são ambíguas entre uma leitura de tema (a fada foi molhada) e uma leitura de agente (a fada molhou alguém). A leitura de tema é associada à estrutura absoluta, na qual o verbo transitivo sofre uma mudança de valência: não há argumento agentivo e, consequentemente, não há projeção vP. O verbo não pode checar o Caso acusativo do objeto, forçando o argumento temático a se mover para a posição pré-verbal, onde concorda com o verbo (NEGRÃO; VIOTTI, 2010). Essa estrutura é considerada mais simples do que passivas, por exemplo, uma vez que, nela, o agente não está nem mesmo implícito na sentença. Já a leitura de agente corresponde a uma estrutura em que o objeto não está expresso foneticamente. Em experimentos que eliciaram a produção de relativas de objeto no Português Brasileiro infantil (VIVANCO; PIRES, 2012; GROLLA; AUGUSTO, 2016; RANGEL, 2016), as crianças produziram relativas absolutas para evitar a complexidade estrutural da relativa de objeto. Os adultos raramente as produziram, preferindo as relativas passivas. Dada a alta taxa de produção de relativas absolutas por parte das crianças nesses testes, nosso objetivo foi investigar a preferência das crianças na interpretação de relativas ambíguas. Nós hipotetizamos que a leitura de agente seria preferida, considerando que o parser tende a atribuir lacuna na primeira posição disponível, i.e, a posição de sujeito (PHILLIPS, KAZANINA, ABADA, 2005). Uma vez que a relativa absoluta envolve uma lacuna extra (o tema se move da posição de objeto para a posição pré-verbal: a fada que _ molhou _ ), esta não deverá ser a análise preferida pelo parser. Além disso, o fato de as relativas ambíguas testadas terem um NP [+animado] como núcleo contribui para que este seja interpretado como agente (BECKER, 2014). Foi conduzido um experimento envolvendo a Tarefa de Julgamento de Valor de Verdade, no qual os participantes julgaram relativas de objeto, relativas passivas e relativas ambíguas como verdadeiras ou falsas com base em histórias contadas a eles. Nas relativas ambíguas, ambas as interpretações estavam disponíveis nas histórias, de modo que o julgamento falso se associava à leitura de tema, e o verdadeiro, à leitura de agente. Participaram do teste 46 crianças adquirindo PB (16 3;6-4;6); (30 5;0-5;11) e 26 adultos falantes nativos de PB. Ao contrário do que prevemos, as crianças preferiram a leitura de tema. Já os adultos prefeririam a leitura de agente, embora não tenham rejeitado completamente a leitura de tema. A alta frequência da leitura de tema nos dados das crianças nos leva a descartar a hipótese de que a absoluta seja apenas uma saída à qual as crianças recorrem quando têm de produzir estruturas mais complexas, como as relativas de objeto. O fato de que adultos também acessam essa interpretação evidencia que as absolutas sejam de fato estruturas lícitas no PB.
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spelling A interpretação de orações relativas ambíguas no Português Brasileiro Infantil: um estudo experimentalThe interpretation of ambiguous relative clauses in child Brazilian Portuguese: an experimental studyAbsolutive sentencesAmbiguous relativesChild brazilian portugueseEstruturas absolutasEstudo experimentalExperimental studyLeitura de tema e de agentePortuguês brasileiro infantilRelativas ambíguasTheme and agent interpretationEsta dissertação resulta de uma pesquisa que investigou a interpretação atribuída a orações relativas com um núcleo [+animado], como a fada que molhou, que são ambíguas entre uma leitura de tema (a fada foi molhada) e uma leitura de agente (a fada molhou alguém). A leitura de tema é associada à estrutura absoluta, na qual o verbo transitivo sofre uma mudança de valência: não há argumento agentivo e, consequentemente, não há projeção vP. O verbo não pode checar o Caso acusativo do objeto, forçando o argumento temático a se mover para a posição pré-verbal, onde concorda com o verbo (NEGRÃO; VIOTTI, 2010). Essa estrutura é considerada mais simples do que passivas, por exemplo, uma vez que, nela, o agente não está nem mesmo implícito na sentença. Já a leitura de agente corresponde a uma estrutura em que o objeto não está expresso foneticamente. Em experimentos que eliciaram a produção de relativas de objeto no Português Brasileiro infantil (VIVANCO; PIRES, 2012; GROLLA; AUGUSTO, 2016; RANGEL, 2016), as crianças produziram relativas absolutas para evitar a complexidade estrutural da relativa de objeto. Os adultos raramente as produziram, preferindo as relativas passivas. Dada a alta taxa de produção de relativas absolutas por parte das crianças nesses testes, nosso objetivo foi investigar a preferência das crianças na interpretação de relativas ambíguas. Nós hipotetizamos que a leitura de agente seria preferida, considerando que o parser tende a atribuir lacuna na primeira posição disponível, i.e, a posição de sujeito (PHILLIPS, KAZANINA, ABADA, 2005). Uma vez que a relativa absoluta envolve uma lacuna extra (o tema se move da posição de objeto para a posição pré-verbal: a fada que _ molhou _ ), esta não deverá ser a análise preferida pelo parser. Além disso, o fato de as relativas ambíguas testadas terem um NP [+animado] como núcleo contribui para que este seja interpretado como agente (BECKER, 2014). Foi conduzido um experimento envolvendo a Tarefa de Julgamento de Valor de Verdade, no qual os participantes julgaram relativas de objeto, relativas passivas e relativas ambíguas como verdadeiras ou falsas com base em histórias contadas a eles. Nas relativas ambíguas, ambas as interpretações estavam disponíveis nas histórias, de modo que o julgamento falso se associava à leitura de tema, e o verdadeiro, à leitura de agente. Participaram do teste 46 crianças adquirindo PB (16 3;6-4;6); (30 5;0-5;11) e 26 adultos falantes nativos de PB. Ao contrário do que prevemos, as crianças preferiram a leitura de tema. Já os adultos prefeririam a leitura de agente, embora não tenham rejeitado completamente a leitura de tema. A alta frequência da leitura de tema nos dados das crianças nos leva a descartar a hipótese de que a absoluta seja apenas uma saída à qual as crianças recorrem quando têm de produzir estruturas mais complexas, como as relativas de objeto. O fato de que adultos também acessam essa interpretação evidencia que as absolutas sejam de fato estruturas lícitas no PB.This dissertation results of a research that has investigated the interpretation of relative clauses with a [+animated] head, as \"the fairy that washed\". These relatives are ambiguous between a theme interpretation (the fairy got washed) and an agent interpretation (the fairy washed someone). The theme interpretation is associated with the absolutive sentence, in which a transitive verb suffers a valence alternation: there is no agent, and consequently, no vP is projected. The verb cannot check the object\'s accusative Case, forcing the theme to move to a pre-verbal position, agreeing with the verb (NEGRÃO; VIOTTI, 2010). The resulting structure is simpler than passives, for example, since the agent is not even implicity expressed in the sentence. The agent interpretation is associated with a structure with the object not expressed phonetically. In experiments eliciting object relative clauses in child Brazilian Portuguese (BrP), children produced absolutive relatives to avoid the structural complexity of the object relative clause (VIVANCO; PIRES, 2012; GROLLA; AUGUSTO, 2016; RANGEL, 2016). Adults rarely produced them, preferring passive relatives instead. Given children\'s high production of absolutive relatives in these experiments, our aim was to investigate children\'s preferences in interpreting ambiguous relative clauses. We hypothesize that the agent interpretation should be preferred, as it enables the parser to assign a gap in the first available position, i.e, the subject position (PHILLIPS, KAZANINA, ABADA, 2005). Since the absolutive relative involve an extra step (the NP theme moves from object to preverbal position: the fairy that _ washed _ ), it should not be the parser\'s preferred analysis. Also, the fact that the ambiguous relatives tested involved a [+animated] NP as the relative head should contribute to this NP will be interpreted as agent (BECKER, 2014). We conducted a truth-value judgment task, in which participants judged object relatives, passive relatives and ambiguous as true or false based on stories told to them. On ambiguous trials, both interpretations were entertained in the stories, with true judgments paired with the theme interpretation and false judgments associated with the agent interpretation. 46 BrP-acquiring children were tested (16 3;6-4;6); (30 5;0-5;11) and 26 adults, native BrP speakers. Contrary to our expectations, children\'s group preferred the theme interpretation. Adults preferred the agent interpretation, although they did not reject theme completely. The high frequency of the theme interpretation in children\'s data leads us to discard the hypothesis that absolutives are just an escape hatch that children resort to when forced to produce more complex structures, as object relatives. The fact that adults also accessed this interpretation brings additional evidence that the absolutive sentences are indeed licit structures in BrP.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPGrolla, Elaine BicudoGóes, Iolanda Dias2019-06-26info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-17092019-150050/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2019-11-08T22:13:56Zoai:teses.usp.br:tde-17092019-150050Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212019-11-08T22:13:56Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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