O dilema entre democracia e ordem em sociedades divididas: conflitos separatistas, ameaças sociais e preferências autoritárias na Rússia e na Ucrânia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ferraro Junior, Vicente Giaccaglini
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-02092022-161337/
Resumo: Estudos mostraram que a ocorrência de conflitos étnicos e separatistas prejudicam a democratização. No entanto, os mecanismos dessa relação ainda precisam ser elucidados. Abordando essa lacuna, almejo lançar luz sobre como conflitos separatistas afetam preferências individuais de regime e estratégias de elite, conduzindo uma análise comparativa multimétodos de dois casos: a Rússia (as guerras da Chechênia) e a Ucrânia (antes e a partir da guerra do Donbass). Desenvolvo e apresento evidências para três argumentos centrais: (1) Conflitos separatistas estimulam a percepção de que minorias étnicas representam uma ameaça à segurança da sociedade. Por sua vez, esta percepção de ameaça intensifica preferências por um regime autoritário. Em períodos de transição, indivíduos comparam o passado autoritário estável e o presente instável, inferindo que regimes autoritários, sem restrições institucionais, são mais aptos a tomar decisões céleres e a manter grupos rebeldes sob controle. Análises de pesquisas de opinião pública em séries temporais mostram que na Segunda Guerra da Chechênia tanto as percepções de ameaças quanto as preferências autoritárias cresceram substancialmente. (2) Em consonância com essa percepção de supostos trade-offs entre democracia e ordem, elites políticas utilizam os conflitos domésticos como pretexto para justificar mudanças institucionais iliberais e legitimar regimes autoritários, argumentando que em contextos multiétnicos e conflituosos é necessário um Estado forte, centralizado e implicitamente autoritário para garantir a estabilidade e a integridade territorial. Comparações de discursos presidenciais confirmam que durante e após o conflito checheno as elites russas mobilizaram discursos de trade-off para fins autoritários; na ausência de conflito, como na Ucrânia antes de 2014, não houve espaço para tais discursos. (3) No entanto, quando há o envolvimento de atores externos em apoio a separatistas, como na Ucrânia a partir de 2014, a percepção de que o conflito decorre de uma ameaça externa oferece menos oportunidades para as elites responsabilizarem as instituições pluralistas internas pela instabilidade, reduzindo as perspectivas para se legitimar mudanças institucionais autoritárias. A guerra no Donbass foi percebida mais como uma agressão russa do que como um conflito separatista genuíno. Por outro lado, o conflito também gerou consequências negativas para a competição política na Ucrânia, ao facilitar a estigmatização e o banimento de determinados atores em decorrência de seus supostos vínculos com o inimigo externo. Os resultados evidenciaram que conflitos separatistas estimulam preferências autoritárias na população e dão sustentação a discursos de trade-off por parte das elites, embora o grau do seu impacto na competição política seja contingente à fonte da ameaça.
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spelling O dilema entre democracia e ordem em sociedades divididas: conflitos separatistas, ameaças sociais e preferências autoritárias na Rússia e na UcrâniaThe trade-off between democracy and order in divided societies: separatist conflicts, social threats and authoritarian preferences in Russia and UkraineAuthoritarianismConflitos separatistasDemocratizaçãoDemocratizationRussiaRússiaSeparatist conflictsSutoritarismoUcrâniaUkraineEstudos mostraram que a ocorrência de conflitos étnicos e separatistas prejudicam a democratização. No entanto, os mecanismos dessa relação ainda precisam ser elucidados. Abordando essa lacuna, almejo lançar luz sobre como conflitos separatistas afetam preferências individuais de regime e estratégias de elite, conduzindo uma análise comparativa multimétodos de dois casos: a Rússia (as guerras da Chechênia) e a Ucrânia (antes e a partir da guerra do Donbass). Desenvolvo e apresento evidências para três argumentos centrais: (1) Conflitos separatistas estimulam a percepção de que minorias étnicas representam uma ameaça à segurança da sociedade. Por sua vez, esta percepção de ameaça intensifica preferências por um regime autoritário. Em períodos de transição, indivíduos comparam o passado autoritário estável e o presente instável, inferindo que regimes autoritários, sem restrições institucionais, são mais aptos a tomar decisões céleres e a manter grupos rebeldes sob controle. Análises de pesquisas de opinião pública em séries temporais mostram que na Segunda Guerra da Chechênia tanto as percepções de ameaças quanto as preferências autoritárias cresceram substancialmente. (2) Em consonância com essa percepção de supostos trade-offs entre democracia e ordem, elites políticas utilizam os conflitos domésticos como pretexto para justificar mudanças institucionais iliberais e legitimar regimes autoritários, argumentando que em contextos multiétnicos e conflituosos é necessário um Estado forte, centralizado e implicitamente autoritário para garantir a estabilidade e a integridade territorial. Comparações de discursos presidenciais confirmam que durante e após o conflito checheno as elites russas mobilizaram discursos de trade-off para fins autoritários; na ausência de conflito, como na Ucrânia antes de 2014, não houve espaço para tais discursos. (3) No entanto, quando há o envolvimento de atores externos em apoio a separatistas, como na Ucrânia a partir de 2014, a percepção de que o conflito decorre de uma ameaça externa oferece menos oportunidades para as elites responsabilizarem as instituições pluralistas internas pela instabilidade, reduzindo as perspectivas para se legitimar mudanças institucionais autoritárias. A guerra no Donbass foi percebida mais como uma agressão russa do que como um conflito separatista genuíno. Por outro lado, o conflito também gerou consequências negativas para a competição política na Ucrânia, ao facilitar a estigmatização e o banimento de determinados atores em decorrência de seus supostos vínculos com o inimigo externo. Os resultados evidenciaram que conflitos separatistas estimulam preferências autoritárias na população e dão sustentação a discursos de trade-off por parte das elites, embora o grau do seu impacto na competição política seja contingente à fonte da ameaça.Studies have shown that the occurrence of ethnic and separatist conflicts may hamper democratization. However, the mechanisms of this relationship still need to be elucidated. Addressing this gap, I shed light on how separatist conflicts affect individuals\' regime preferences and elites\' strategies, by conducting a multi-method comparative analysis of two cases: Russia (the Chechen wars) and Ukraine (before and since the Donbass war). I develop and provide evidence for three central arguments: (1) Separatist conflicts stimulate the perception that ethnic minorities represent a threat to the security of society. This perception of threat in turn strengthens preferences for an authoritarian regime. In transitional periods, individuals compare the stable authoritarian past and the unstable present, inferring that an authoritarian regime, without institutional constraints, is more capable of making quick decisions and keeping rebel groups under control. Time-series analysis of public opinion data shows that during the Second Chechen War both perceptions of threat and authoritarian preferences increased substantially in Russia. (2) In line with this perception of supposed trade-offs between democracy and order, political elites mobilize separatist conflicts as a pretext to justify illiberal institutional changes and legitimize authoritarian regimes, arguing that in multi-ethnic and conflict-affected contexts, a strong, centralized and implicitly authoritarian state is necessary to guarantee stability and territorial integrity. Comparison of presidential speeches confirms that during and after the Chechen conflict Russian elites mobilized trade-off discourses for authoritarian purposes; in the absence of conflict, as in Ukraine before 2014, there was no room for such discourses. (3) However, when external actors are involved in supporting separatists, as in Ukraine from 2014, the perception that the conflict stems from an external threat offers fewer opportunities for elites to blame internal plural institutions for instability, reducing the prospects for legitimizing authoritarian institutional changes. The Donbass war was perceived more as a Russian aggression than as a genuine separatist conflict. On the other hand, the conflict also brought negative consequences for political competition in Ukraine by facilitating the stigmatization and banning of certain political actors due to their alleged ties to the external enemy. The results highlight that separatist conflicts stimulate authoritarian preferences and support the elite\'s trade-off discourse, though the degree of their harm to political competition is contingent on the source of the threat.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPhillips, Jonathan PeterFerraro Junior, Vicente Giaccaglini2022-05-09info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-02092022-161337/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2022-09-02T20:06:10Zoai:teses.usp.br:tde-02092022-161337Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212022-09-02T20:06:10Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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