As etnomatemáticas de alunos ribeirinhos do rio Xingu: jogos de linguagem e formas de resistência
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UNIVATES (Biblioteca Digital da Univates - BD) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10737/2949 |
Resumo: | Em decorrência da implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (UHEBM), no Rio Xingu, oeste do Estado do Pará, muitas foram as transformações ocorridas que implicaram diretamente na vida dos povos que têm seus modos de vida traçados em consonância com o rio, incluindo os ribeirinhos residentes, não apenas às margens do Xingu, como dos seus afluentes. Ancorada no campo da Etnomatemática, a pesquisa se sustenta em pressupostos teóricos e metodológicos na perspectiva que intersecta ideias de Ludwig Wittgenstein, em sua obra de maturidade, e de Michel Foucault, considerando que ambos os filósofos tomam a linguagem como elemento de problematização. O objetivo geral consiste em examinar em que medida os jogos de linguagem expressos por um grupo de estudantes ribeirinhos se constituem como formas de resistência às influências da UHEBM. Os sujeitos de pesquisa foram constituídos por um grupo de 11 alunos de uma escola ribeirinha do município de Altamira, Estado do Pará. Os procedimentos para produção de dados ocorreram por meio de elementos atinentes à pesquisa etnográfica, onde as vivências foram registradas em diário de bordo e mídias, oriundos de conversas formais e informais, acompanhamento de atividades desenvolvidas no local e materiais produzidos pelas crianças por meio de uma cartografia social. A análise desses materiais se deu na perspectiva foucaultiana e fez emergir quatro unidades de análise, a saber: a) a existência, na forma de vida dos alunos ribeirinhos, de jogos de linguagem que possuem semelhanças de família com aqueles usualmente presentes na matemática escolar, em particular com aqueles do ciclo de alfabetização matemática, como lateralidade, espaço, forma, tamanho; b) a apropriação, por parte das crianças, de jogos de linguagem desenvolvidos na atividade da pesca, seja por meio da manipulação dos apetrechos de pesca, e/ou da observação e/ou acompanhamento da execução dessa atividade, bem como quando apontam possíveis reflexos causados pela implantação da UHEBM na mesma, como a redução do tamanho e quantidade de peixes na comunidade; c) a pertinência de que os estudantes ribeirinhos tenham acesso a outros distintos jogos de linguagem de outros contextos, como forma de resistência às influências da UHEBM; e d) as formas de resistência que ocorrem a partir da apropriação dos saberes, não apenas do seu lugar de pertença como também dos saberes de outros espaços, como forma de permanecer e resistir. Tal resistência decorre da apropriação das suas práticas que são transmissíveis às gerações, e que tem garantido a permanência dos mesmos no local, como forma de ocupação do espaço, mesmo que, por vezes, isso não seja reconhecido pelo Estado. A negação se materializa na ausência de direitos fundamentais, como o acesso à saúde, ao saneamento básico, à própria eletricidade que é gerada pelas águas que correm no rio ao qual tem suas vidas entrelaçadas, bem como a educação. Em síntese, os resultados apontam que mesmo nas comunidades isoladas, o protagonismo da escola, enquanto espaço produtor de conhecimentos, mobilizadora de saberes e fundamental na vida das famílias que constituem essas comunidades – mesmo que ela exista em condições adversas – merece maior atenção do poder público. |
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O objetivo geral consiste em examinar em que medida os jogos de linguagem expressos por um grupo de estudantes ribeirinhos se constituem como formas de resistência às influências da UHEBM. Os sujeitos de pesquisa foram constituídos por um grupo de 11 alunos de uma escola ribeirinha do município de Altamira, Estado do Pará. Os procedimentos para produção de dados ocorreram por meio de elementos atinentes à pesquisa etnográfica, onde as vivências foram registradas em diário de bordo e mídias, oriundos de conversas formais e informais, acompanhamento de atividades desenvolvidas no local e materiais produzidos pelas crianças por meio de uma cartografia social. A análise desses materiais se deu na perspectiva foucaultiana e fez emergir quatro unidades de análise, a saber: a) a existência, na forma de vida dos alunos ribeirinhos, de jogos de linguagem que possuem semelhanças de família com aqueles usualmente presentes na matemática escolar, em particular com aqueles do ciclo de alfabetização matemática, como lateralidade, espaço, forma, tamanho; b) a apropriação, por parte das crianças, de jogos de linguagem desenvolvidos na atividade da pesca, seja por meio da manipulação dos apetrechos de pesca, e/ou da observação e/ou acompanhamento da execução dessa atividade, bem como quando apontam possíveis reflexos causados pela implantação da UHEBM na mesma, como a redução do tamanho e quantidade de peixes na comunidade; c) a pertinência de que os estudantes ribeirinhos tenham acesso a outros distintos jogos de linguagem de outros contextos, como forma de resistência às influências da UHEBM; e d) as formas de resistência que ocorrem a partir da apropriação dos saberes, não apenas do seu lugar de pertença como também dos saberes de outros espaços, como forma de permanecer e resistir. Tal resistência decorre da apropriação das suas práticas que são transmissíveis às gerações, e que tem garantido a permanência dos mesmos no local, como forma de ocupação do espaço, mesmo que, por vezes, isso não seja reconhecido pelo Estado. A negação se materializa na ausência de direitos fundamentais, como o acesso à saúde, ao saneamento básico, à própria eletricidade que é gerada pelas águas que correm no rio ao qual tem suas vidas entrelaçadas, bem como a educação. Em síntese, os resultados apontam que mesmo nas comunidades isoladas, o protagonismo da escola, enquanto espaço produtor de conhecimentos, mobilizadora de saberes e fundamental na vida das famílias que constituem essas comunidades – mesmo que ela exista em condições adversas – merece maior atenção do poder público.As a result of the implantation of the Belo Monte Hydroelectric Power Plant (UHEBM), on the Xingu River, west of the State of Pará, there were many transformations that occurred directly in the lives of people who have their ways of life outlined in line with the river, including the riverside residents, not only on the banks of the Xingu, but also of its tributaries. Anchored in the field of Ethnomathematics, this research is based on theoretical and methodological assumptions in the perspective that intersects ideas of Ludwig Wittgenstein, in his work of maturity, and Michel Foucault, considering that both philosophers take language as an element of problematization. The general purpose is to examine the extent to which language games expressed by a group of riverside students are constituted as forms of resistance to UHEBM influences. The research subjects were constituted by a group of 11 students from a riverside school in Altamira city, State of Pará. The procedures for data production occurred through elements related to ethnographic research, where the experiences were recorded in a logbook and media, from formal and informal conversations, monitoring of activities developed on the spot and materials produced by children through social cartography. The analysis of these materials took place in the Foucault perspective and led to the emergence of four units of analysis, namely: a) the existence, in the way of life of the riverside students, of language games that have family similarities with those usually present in school mathematics, in particular with those in the mathematical literacy cycle, such as laterality, space, shape, size; b) the appropriation, by the children, of language games developed in the fishing activity, either by manipulating the fishing equipment, and / or by observing and / or monitoring the execution of this activity, as well as when they point out possible reflexes caused by the implementation of UHEBM on it, such as the reduction of the size and quantity of fish in the community; and c) the pertinence that the riverside students have access to other distinct language games from other contexts, as a way of resisting the influences of UHEBM; and d) as forms of resistance that occur from the appropriation of knowledge, not only from their place of belonging, but also from the knowledge of other spaces, as a way to remain and resist. Such resistance takes place from the appropriation of the practices, which are transmissible by generations, and which has guaranteed their permanence in the place, as a form of space occupation, even if, at times, this is not recognized by the State. The denial materializes in the absence of fundamental rights, such as access to health, basic sanitation, the electricity that is generated by the waters that flow in the river to which their lives are intertwined, as well as education. In summary, the results show that even in isolated communities, the role of the school, as a space that produces knowledge, mobilizes knowledge and is fundamental in the families lives that constitute these communities – even if it exists in adverse conditions – deserves better attention from the public authority.En consecuencia de la implantación de la Usina Hidrelétrica de Belo Monte (UHEBM), en el Río Xingu, oeste del Estado de Pará, muchas han sido las transformaciones ocurridas que repercuten directamente en la vida de los pueblos que tienen sus modales de vida trazados en consonancia con el río, lo que incluye a los ribereños residentes, no solamente a las orillas del Xingu, como de sus afluentes. Anclada en el campo de las Etnomatemáticas, la investigación se sostiene bajo presunciones teóricas y metodológicas en la perspectiva que aúna ideas de Ludwig Wittgenstein, en su obra de madurez, y de Michel Foucault, teniendo en cuenta que ambos filósofos toman el lenguaje como elemento de análisis. El objetivo general radica en examinar en qué proporciones los juegos de lenguaje expresados por un grupo de estudiantes ribereños se constituyen como formas de resistencia frente a las influencias de UHEBM. Los sujetos de investigación están formados por un grupo de 11 alumnos de una escuela ribereña del municipio de Altamira, Estado de Pará. Los procedimientos para producción de datos ocurrieron por medio de elementos atinentes a la investigación etnográfica, donde las vivencias fueron registradas en diario de a bordo y medios digitales, provenientes de charlas formales e informales, acompañamiento de actividades desarrolladas en el sitio y materiales producidos por los niños a través de una cartografía social. El análisis de estos materiales se produjo bajo la perspectiva de Foucault e hizo emerger cuatro unidades de análisis, son ellas: a) la existencia, en la forma de vida de los alumnos ribereños, de juegos de lenguaje que poseen similitudes de familia con aquellos generalmente presentes en las matemáticas escolares, en específico con aquellos del ciclo de alfabetización matemática, como lateralidad, espacio, forma, tamaño; b) la apropiación, por parte de los niños, de juegos de lenguaje desarrollados en la actividad de la pesca, y/o de la observación y/o manipulación de las herramientas de pesca, y/o observación y/o acompañamiento de la ejecución de esa actividad, bien como cuando señalan posibles reflejos causados por la implantación de la UHEBM en la misma, como la reducción del tamaño y cantidad de peces en la comunidad; c) la pertinencia de que los estudiantes ribereños, tengan acceso a otros distintos juegos de lenguaje de otros contextos, como forma de resistencia a las influencias de la UHEBM; e d) Las formas de resistencia que ocurren a través de la apropiación de los saberes no solamente de su lugar de pertenencia sino también de los saberes de outros espacios, como forma de permanecer y resistir. Tal resistencia deriva de la apropiación de sus prácticas, que son transmisibles a las generaciones, y que tienen garantizada la permanencia de los mismos en el local, como forma de ocupación de espacio, aunque, algunas veces, eso no es reconocido por el Estado. La negación se materializa en la ausencia de derechos fundamentales, como el acceso a la salud, al alcantarillado, a la propia electricidad que es generada por las aguas que corre por el río en el cual tienen sus vidas entremezcladas, tal y como la educación. En síntesis, los resultados señalan que aun en las comunidades aisladas, el protagonismo de la escuela, como espacio productor de conocimientos, estimuladora de saberes y fundamental en la vida de las familias que constituyen esas comunidades – aunque ella exista en condiciones adversas – merece más atención del poder público.-1FORMIGOSA, Marcos Marques. As etnomatemáticas de alunos ribeirinhos do rio Xingu: jogos de linguagem e formas de resistência. 2021. Monografia (Doutorado) – Curso de Ensino, Universidade do Vale do Taquari - Univates, Lajeado, 05 mar. 2021. Disponível em: http://hdl.handle.net/10737/2949. http://hdl.handle.net/10737/2949http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/info:eu-repo/semantics/openAccessCHRibeirinhosXinguEnsino de matemáticaEtnomatemáticaMathematics teachingEthnomathematicsRibereñosEnseñanza de matemáticasEtnomatemáticasAs etnomatemáticas de alunos ribeirinhos do rio Xingu: jogos de linguagem e formas de resistênciainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisPPGEnsino;Ensinoporreponame:Repositório Institucional da UNIVATES (Biblioteca Digital da Univates - BD)instname:Centro Universitário Univates 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Em decorrência da implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (UHEBM), no Rio Xingu, oeste do Estado do Pará, muitas foram as transformações ocorridas que implicaram diretamente na vida dos povos que têm seus modos de vida traçados em consonância com o rio, incluindo os ribeirinhos residentes, não apenas às margens do Xingu, como dos seus afluentes. Ancorada no campo da Etnomatemática, a pesquisa se sustenta em pressupostos teóricos e metodológicos na perspectiva que intersecta ideias de Ludwig Wittgenstein, em sua obra de maturidade, e de Michel Foucault, considerando que ambos os filósofos tomam a linguagem como elemento de problematização. O objetivo geral consiste em examinar em que medida os jogos de linguagem expressos por um grupo de estudantes ribeirinhos se constituem como formas de resistência às influências da UHEBM. Os sujeitos de pesquisa foram constituídos por um grupo de 11 alunos de uma escola ribeirinha do município de Altamira, Estado do Pará. Os procedimentos para produção de dados ocorreram por meio de elementos atinentes à pesquisa etnográfica, onde as vivências foram registradas em diário de bordo e mídias, oriundos de conversas formais e informais, acompanhamento de atividades desenvolvidas no local e materiais produzidos pelas crianças por meio de uma cartografia social. A análise desses materiais se deu na perspectiva foucaultiana e fez emergir quatro unidades de análise, a saber: a) a existência, na forma de vida dos alunos ribeirinhos, de jogos de linguagem que possuem semelhanças de família com aqueles usualmente presentes na matemática escolar, em particular com aqueles do ciclo de alfabetização matemática, como lateralidade, espaço, forma, tamanho; b) a apropriação, por parte das crianças, de jogos de linguagem desenvolvidos na atividade da pesca, seja por meio da manipulação dos apetrechos de pesca, e/ou da observação e/ou acompanhamento da execução dessa atividade, bem como quando apontam possíveis reflexos causados pela implantação da UHEBM na mesma, como a redução do tamanho e quantidade de peixes na comunidade; c) a pertinência de que os estudantes ribeirinhos tenham acesso a outros distintos jogos de linguagem de outros contextos, como forma de resistência às influências da UHEBM; e d) as formas de resistência que ocorrem a partir da apropriação dos saberes, não apenas do seu lugar de pertença como também dos saberes de outros espaços, como forma de permanecer e resistir. Tal resistência decorre da apropriação das suas práticas que são transmissíveis às gerações, e que tem garantido a permanência dos mesmos no local, como forma de ocupação do espaço, mesmo que, por vezes, isso não seja reconhecido pelo Estado. A negação se materializa na ausência de direitos fundamentais, como o acesso à saúde, ao saneamento básico, à própria eletricidade que é gerada pelas águas que correm no rio ao qual tem suas vidas entrelaçadas, bem como a educação. Em síntese, os resultados apontam que mesmo nas comunidades isoladas, o protagonismo da escola, enquanto espaço produtor de conhecimentos, mobilizadora de saberes e fundamental na vida das famílias que constituem essas comunidades – mesmo que ela exista em condições adversas – merece maior atenção do poder público. |
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