Uma Investigação sobre Disfunções Familiares em Estudantes de Medicina

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Motta,Isabelle Christine de Moraes
Data de Publicação: 2019
Outros Autores: Soares,Rita de Cássia Menezes, Belmonte,Terezinha de Souza Agra
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista Brasileira de Educação Médica (Online)
Texto Completo: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022019000500047
Resumo: RESUMO Introdução As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina (2014) determinam como perfil do egresso médico uma identidade generalista, humanista, crítica, reflexiva e multicultural. Isto exige habilidades biopsicomotoras qualificadas (competências de cuidar, curar e reabilitar pessoas e suas famílias). Os núcleos psicopedagógicos nacionais encontram no atendimento desses estudantes conflitos pessoais, pedagógicos e familiares traduzidos em transtornos mentais. As disfunções familiares estarão relacionadas ao aumento dessa prevalência na graduação médica (socialização secundária)? Uma socialização primária insatisfatória contribuiria para o adoecer no processo do adultecer? Objetivos Verificar o perfil sociodemográfico, psiquiátrico e familiar de estudantes de Medicina numa instituição federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Métodos A pesquisa foi um estudo quali-quantitativo, com intervenção observacional, exploratória, transversal, descritiva e inferencial. A coleta de dados foi feita por meio de dois instrumentos: (1) um questionário construído para esta pesquisa, autoaplicável, com variáveis sociopsicodemográficas e categorias familiares disfuncionais descritas na literatura; (2) o Mini International Neuropsychiatric Interview (Mini), versão 5.0.0, compatível com os critérios do DSM-IV e validado por Patrícia Amorim/2000. Os dados foram colhidos após consentimento livre e esclarecido (TCLE) e organizados em banco de dados, no Excel. A análise foi feita com o software estatístico R. As variáveis quantitativas foram analisadas por desvio padrão, média, mediana e moda. As variáveis qualitativas tiveram análises de frequência. Foram realizados testes estatísticos: exato de Fisher, Wilcoxon bilateral, Qui-Quadrado e Shapiro-Wilk, de acordo com as variáveis e objetivos da análise. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa. CAAE: 67590317.5.0000.5258, em 25/07/2017. Resultados Foram avaliados 129 alunos, com 18 a 32 anos de idade, do primeiro ao 12º período da graduação, 49% do sexo feminino e 51% do sexo masculino. Prevalência de transtorno de ansiedade generalizada: 39,53%; de depressão (atual ou recorrente): 32,56%; e risco de suicídio: 28,68%. A depressão possuiu forte correlação com história familiar de transtorno psiquiátrico (p-valor: 7.639e-08) e com o relacionamento dos pais. Ela esteve presente naqueles com pais divorciados, viúvos ou sem relacionamento (p-valor: 0.008291). O risco de suicídio foi maior entre acadêmicos do ciclo básico, do primeiro ao quarto período da graduação (p-valor: 0,01), e possuía forte correlação com ter sofrido ou sofrer bullying (p-valor: 0,02), ter uma religião (p-valor: 0,006), e depressão (p-valor: 0,03) ou transtorno de pânico (p-valor: 4.903e-05). Houve correlação entre depressão (p-valor: 1.248 e-09) e risco de suicídio (p valor: 0.0009) nos que tinham problemas de comunicação na família. Transtorno de pânico foi observado em 17,05% dos entrevistados, sexo feminino (p-valor: 0.00583). Isto decorre do relacionamento dos pais. Os alunos com pais casados foram os mais afetados (p-valor: 0.01284) Conclusões: Os dados colhidos demonstraram correlações entre disfunções familiares e transtornos psiquiátricos, como depressão, risco de suicídio, transtorno de pânico e transtorno de ansiedade generalizada. Existe a necessidade de um ambiente de ensino-aprendizagem com espaços e cenários e educadores médicos que identifiquem precocemente o sofrimento psíquico na socialização secundária do futuro médico.
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