Conhecimento, ignorância, mistério

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gomes, Candido Alberto da Costa
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Ensaio (Rio de Janeiro. Online)
Texto Completo: https://revistas.cesgranrio.org.br/index.php/ensaio/article/view/2562
Resumo: O que nos reserva o número 105 desta revista? Uma multiplicidade de temas e abordagens teóricas e metodológicas, em número bem internacionalizado, a lembrar a riqueza da sociodiversidade, termo cunhado por Morin (2018). O mesmo flósofo contemplou-nos com um testamento científco e poético em vida, cujo título ousamos atribuir a este editorial. Em torno de todas as contribuições intelectuais, estabelece-se o ciclo interminável do conhecimento, ignorância e mistério. Declara o autor que, paradoxalmente, descobrimos o desconhecido no interior do conhecido e do cognoscente. Quanto mais conhecemos, como na elaboração e leitura dos artigos deste número, mais nos deparamos com interrogações, com a nebulosidade do que não se conhece. Assim, conclui-se, quem pensa saber muito, pode embriagar-se com a esperada imensidão, quando, de fato, ignoramos muito mais e se nos impõem densos mistérios a desvendar. Somos grãos de poeira cósmica diante do infnito, cujo restrito conhecimento nos recomenda a humildade, em vez das vaidades e competições, acadêmicas e não acadêmicas. Nesta relação circular do avanço do conhecimento, das descobertas de limites e da percepção do mistério, escreve Morin, depara-se o mistério. Ou tudo o que se elucida (palavra originada de luz) se torna obscuro, sem cessar de elucidar-se.Neste e no ano passado, além de Morin, pelos menos dois destacados filósofos franceses nos deixaram testamentos em forma de opúsculos: Serres (2019) e D’Ormesson (2018). Com a sua fé no futuro, Serres escreve sobre a moral: contrapõe a obediência absoluta à desobediência. Como homem que comeu a maçã, confessa que desobedeceu (e obedeceu) durante toda a sua vida. Se não o fizesse, supomos, não teria aberto caminhos novos. “Que é a cultura? O que permite ao homem de cultura não esmagar ninguém sob o peso da sua cultura” (SERRES, 2019, p. 27).Por sua vez, D’Ormesson (2018), agnóstico, trata da importância da ciência. Nos nossos universo e história, no próprio corpo, tudo o que sabemos ao certo é a ciência que nos ensina. A ciência reina e nada a deterá, entretanto, ela nada pode dizer sobre o que mais nos importa, talvez mais que o próprio amor: que se passa após a morte? Qual o nosso destino na eternidade? Se o universo nasceu com o big bang, que havia antes? Por que o big bang? O laço entre as duas pontas, o princípio e o fm, não se ata, ambas mergulham nas trevas do desconhecimento.Temas tão diversos nos colocam diante do brilho e das limitações da ciência, retornando à humildade do ciclo morineano de conhecer, ignorar e deparar-se com o mistério. Quanto mais espreitamos, mais estrelas distantes cintilam. Assim, toda vaidade é vã, todo radicalismo é estéril, toda singularidade é pobre. Que estas reflexões têm a ver com os artigos deste número? Todos encerram grandes talentos, utilizados para desvendar mistérios, a partir dos quais se desdobram outros, a conhecer. Em suas diversas nesgas de observação, sucedem-se com foco em diversos, aspectos da realidade internacional.
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