RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) |
Texto Completo: | https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/29203 |
Resumo: | No ano em que se comemora os 30 anos do SUS, instituído pela Constituição de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica de 1990, cerca de 8 mil pesquisadores, estudantes, profissionais e integrantes de movimentos sociais que atuam na saúde se reuniram na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro, em julho, para o 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).Entre muitos convidados internacionais, a chefe de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, pontuou que as desigualdades em saúde na região das Américas pode ser medida pela falta de assistência às mulheres antes, durante e depois do parto e pela dificuldade de acesso e falta de qualidade nos serviços de saúde para segmentos vulneráveis como idosos, crianças, mulheres, afrodescendentes, pessoas vivendo com HIV/aids e as populações rurais e indígenas. Os desafios para os sistemas de saúde somam-se, segundo ela, ao enfrentamento dos fatores de determinação socioeconômica da saúde, como a eliminação da pobreza e o acesso à água limpa, energia não contaminante, alimentação suficiente e moradia digna. “A injustiça social mata em larga escala”, sintetizou Michael Marmot, pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Saúde da University College London, citando relatório da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde da Organização Mundial da Saúde. “Se queremos melhorar o funcionamento do sistema de saúde de nossos países para garantir direitos, devemos começar por entender aquilo que somos, como resultado de processos sociais, culturais e políticos”, disse Bachelet, ao explicar que as desigualdades de gênero, de níveis de escolaridade, regionais, de idade e pertencimento étnico impactam sobre os indicadores de saúde. “Os que são deixados de lado são aqueles que não possuem as melhores ferramentas para competir, aqueles que não são rentáveis para o modelo neoliberal, como as mulheres e os idosos”, afirmou a representante da ONU. Para o sociólogo Jessé Souza, da Universidade Federal do ABC, “o chamado capitalismo financeiro expropria a população de direitos básicos”. Ele citou o relatório “A ineficiência da desigualdade”, da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), da ONU, para argumentar que, ao reduzir capacidades e oportunidades, as desigualdades excluem classes inteiras do acesso à escola, ao conhecimento e ao mercado de trabalho, gerando perdas para os indivíduos e a sociedade. Segundo Deisy Ventura, professora de Ética e Direito Internacional da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, as promessas da globalização econômica não foram cumpridas: “vivemos num mundo interconectado, mas radicalmente desigual, inseguro e doente”. Ela propôs resgatar a noção de direitos no âmbito da saúde global e criticou as estratégias de grandes investidores internacionais que encaram a saúde global como uma oportunidade de fazer negócios, fenômeno que vem se reproduzindo no Brasil. Ex-ministro da Saúde, o sanitarista José Gomes Temporão lembrou que o movimento da Reforma Sanitária, nos anos 1970 e 1980, defendia a democracia, a melhoria das condições de vida da população e um sistema de saúde universal. “A Reforma defendia um sistema democrático, descentralizado e universal, visando reduzir as desigualdades; combatia a privatização, propondo a redução gradual da oferta privada de serviços e o fortalecimento da oferta pública.” O SUS teve muitos avanços, mas foi sempre subfinanciado, situação dramaticamente acentuada com as políticas de austeridade fiscal, e não reverteu o crescimento do setor privado e dos planos e seguros de saúde. Segundo o sanitarista Gastão Wagner, presidente da Abrasco no momento do congresso, o SUS não superou também as marcas da desigualdade no Brasil. “Temos uma democracia profundamente desigual, do ponto de vista da distribuição do poder, em relação a gênero, etnias, classes sociais e regiões brasileiras”, analisou, ao conclamar todas as forças da saúde a “reconhecer os problemas do SUS, defender seus avanços, ter propostas concretas para aperfeiçoá-lo e fortalecer o direito à voz e à participação de populações marginalizadas”.Com a palavra, nesta edição, pessoas que pesquisam, conhecem de perto e, principalmente, experimentam o racismo, a discriminação de gênero e as mais diversas formas da brutal desigualdade no Brasil. |
id |
CRUZ_d98de8fbe01fbcf4c45e5b8923b627d9 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:www.arca.fiocruz.br:icict/29203 |
network_acronym_str |
CRUZ |
network_name_str |
Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) |
repository_id_str |
2135 |
spelling |
2018-10-01T16:10:40Z2018-10-01T16:10:40Z2018RADIS: Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP, n. 192, None 2018. 36 p. Mensal.https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/29203No ano em que se comemora os 30 anos do SUS, instituído pela Constituição de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica de 1990, cerca de 8 mil pesquisadores, estudantes, profissionais e integrantes de movimentos sociais que atuam na saúde se reuniram na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro, em julho, para o 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).Entre muitos convidados internacionais, a chefe de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, pontuou que as desigualdades em saúde na região das Américas pode ser medida pela falta de assistência às mulheres antes, durante e depois do parto e pela dificuldade de acesso e falta de qualidade nos serviços de saúde para segmentos vulneráveis como idosos, crianças, mulheres, afrodescendentes, pessoas vivendo com HIV/aids e as populações rurais e indígenas. Os desafios para os sistemas de saúde somam-se, segundo ela, ao enfrentamento dos fatores de determinação socioeconômica da saúde, como a eliminação da pobreza e o acesso à água limpa, energia não contaminante, alimentação suficiente e moradia digna. “A injustiça social mata em larga escala”, sintetizou Michael Marmot, pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Saúde da University College London, citando relatório da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde da Organização Mundial da Saúde. “Se queremos melhorar o funcionamento do sistema de saúde de nossos países para garantir direitos, devemos começar por entender aquilo que somos, como resultado de processos sociais, culturais e políticos”, disse Bachelet, ao explicar que as desigualdades de gênero, de níveis de escolaridade, regionais, de idade e pertencimento étnico impactam sobre os indicadores de saúde. “Os que são deixados de lado são aqueles que não possuem as melhores ferramentas para competir, aqueles que não são rentáveis para o modelo neoliberal, como as mulheres e os idosos”, afirmou a representante da ONU. Para o sociólogo Jessé Souza, da Universidade Federal do ABC, “o chamado capitalismo financeiro expropria a população de direitos básicos”. Ele citou o relatório “A ineficiência da desigualdade”, da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), da ONU, para argumentar que, ao reduzir capacidades e oportunidades, as desigualdades excluem classes inteiras do acesso à escola, ao conhecimento e ao mercado de trabalho, gerando perdas para os indivíduos e a sociedade. Segundo Deisy Ventura, professora de Ética e Direito Internacional da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, as promessas da globalização econômica não foram cumpridas: “vivemos num mundo interconectado, mas radicalmente desigual, inseguro e doente”. Ela propôs resgatar a noção de direitos no âmbito da saúde global e criticou as estratégias de grandes investidores internacionais que encaram a saúde global como uma oportunidade de fazer negócios, fenômeno que vem se reproduzindo no Brasil. Ex-ministro da Saúde, o sanitarista José Gomes Temporão lembrou que o movimento da Reforma Sanitária, nos anos 1970 e 1980, defendia a democracia, a melhoria das condições de vida da população e um sistema de saúde universal. “A Reforma defendia um sistema democrático, descentralizado e universal, visando reduzir as desigualdades; combatia a privatização, propondo a redução gradual da oferta privada de serviços e o fortalecimento da oferta pública.” O SUS teve muitos avanços, mas foi sempre subfinanciado, situação dramaticamente acentuada com as políticas de austeridade fiscal, e não reverteu o crescimento do setor privado e dos planos e seguros de saúde. Segundo o sanitarista Gastão Wagner, presidente da Abrasco no momento do congresso, o SUS não superou também as marcas da desigualdade no Brasil. “Temos uma democracia profundamente desigual, do ponto de vista da distribuição do poder, em relação a gênero, etnias, classes sociais e regiões brasileiras”, analisou, ao conclamar todas as forças da saúde a “reconhecer os problemas do SUS, defender seus avanços, ter propostas concretas para aperfeiçoá-lo e fortalecer o direito à voz e à participação de populações marginalizadas”.Com a palavra, nesta edição, pessoas que pesquisam, conhecem de perto e, principalmente, experimentam o racismo, a discriminação de gênero e as mais diversas formas da brutal desigualdade no Brasil. porFundação Oswaldo Cruz/ENSPRADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembroinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleFundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Aroucainfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA)instname:Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)instacron:FIOCRUZLICENSElicense.txttext/plain1748https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29203/1/license.txt8a4605be74aa9ea9d79846c1fba20a33MD51ORIGINAL2018_setembro_192.pdfapplication/pdf7834840https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29203/2/2018_setembro_192.pdf5b5241836da932eeee876e3ed5b03cb1MD52TEXT2018_setembro_192.pdf.txt2018_setembro_192.pdf.txtExtracted texttext/plain147384https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29203/3/2018_setembro_192.pdf.txt9d9fd1241159eac4647aef205a8f0d9fMD53icict/292032018-10-02 02:01:17.803oai:www.arca.fiocruz.br:icict/29203Tk9URTogUExBQ0UgWU9VUiBPV04gTElDRU5TRSBIRVJFClRoaXMgc2FtcGxlIGxpY2Vuc2UgaXMgcHJvdmlkZWQgZm9yIGluZm9ybWF0aW9uYWwgcHVycG9zZXMgb25seS4KCk5PTi1FWENMVVNJVkUgRElTVFJJQlVUSU9OIExJQ0VOU0UKCkJ5IHNpZ25pbmcgYW5kIHN1Ym1pdHRpbmcgdGhpcyBsaWNlbnNlLCB5b3UgKHRoZSBhdXRob3Iocykgb3IgY29weXJpZ2h0Cm93bmVyKSBncmFudHMgdG8gRFNwYWNlIFVuaXZlcnNpdHkgKERTVSkgdGhlIG5vbi1leGNsdXNpdmUgcmlnaHQgdG8gcmVwcm9kdWNlLAp0cmFuc2xhdGUgKGFzIGRlZmluZWQgYmVsb3cpLCBhbmQvb3IgZGlzdHJpYnV0ZSB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gKGluY2x1ZGluZwp0aGUgYWJzdHJhY3QpIHdvcmxkd2lkZSBpbiBwcmludCBhbmQgZWxlY3Ryb25pYyBmb3JtYXQgYW5kIGluIGFueSBtZWRpdW0sCmluY2x1ZGluZyBidXQgbm90IGxpbWl0ZWQgdG8gYXVkaW8gb3IgdmlkZW8uCgpZb3UgYWdyZWUgdGhhdCBEU1UgbWF5LCB3aXRob3V0IGNoYW5naW5nIHRoZSBjb250ZW50LCB0cmFuc2xhdGUgdGhlCnN1Ym1pc3Npb24gdG8gYW55IG1lZGl1bSBvciBmb3JtYXQgZm9yIHRoZSBwdXJwb3NlIG9mIHByZXNlcnZhdGlvbi4KCllvdSBhbHNvIGFncmVlIHRoYXQgRFNVIG1heSBrZWVwIG1vcmUgdGhhbiBvbmUgY29weSBvZiB0aGlzIHN1Ym1pc3Npb24gZm9yCnB1cnBvc2VzIG9mIHNlY3VyaXR5LCBiYWNrLXVwIGFuZCBwcmVzZXJ2YXRpb24uCgpZb3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgdGhlIHN1Ym1pc3Npb24gaXMgeW91ciBvcmlnaW5hbCB3b3JrLCBhbmQgdGhhdCB5b3UgaGF2ZQp0aGUgcmlnaHQgdG8gZ3JhbnQgdGhlIHJpZ2h0cyBjb250YWluZWQgaW4gdGhpcyBsaWNlbnNlLiBZb3UgYWxzbyByZXByZXNlbnQKdGhhdCB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gZG9lcyBub3QsIHRvIHRoZSBiZXN0IG9mIHlvdXIga25vd2xlZGdlLCBpbmZyaW5nZSB1cG9uCmFueW9uZSdzIGNvcHlyaWdodC4KCklmIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uIGNvbnRhaW5zIG1hdGVyaWFsIGZvciB3aGljaCB5b3UgZG8gbm90IGhvbGQgY29weXJpZ2h0LAp5b3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgeW91IGhhdmUgb2J0YWluZWQgdGhlIHVucmVzdHJpY3RlZCBwZXJtaXNzaW9uIG9mIHRoZQpjb3B5cmlnaHQgb3duZXIgdG8gZ3JhbnQgRFNVIHRoZSByaWdodHMgcmVxdWlyZWQgYnkgdGhpcyBsaWNlbnNlLCBhbmQgdGhhdApzdWNoIHRoaXJkLXBhcnR5IG93bmVkIG1hdGVyaWFsIGlzIGNsZWFybHkgaWRlbnRpZmllZCBhbmQgYWNrbm93bGVkZ2VkCndpdGhpbiB0aGUgdGV4dCBvciBjb250ZW50IG9mIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uLgoKSUYgVEhFIFNVQk1JU1NJT04gSVMgQkFTRUQgVVBPTiBXT1JLIFRIQVQgSEFTIEJFRU4gU1BPTlNPUkVEIE9SIFNVUFBPUlRFRApCWSBBTiBBR0VOQ1kgT1IgT1JHQU5JWkFUSU9OIE9USEVSIFRIQU4gRFNVLCBZT1UgUkVQUkVTRU5UIFRIQVQgWU9VIEhBVkUKRlVMRklMTEVEIEFOWSBSSUdIVCBPRiBSRVZJRVcgT1IgT1RIRVIgT0JMSUdBVElPTlMgUkVRVUlSRUQgQlkgU1VDSApDT05UUkFDVCBPUiBBR1JFRU1FTlQuCgpEU1Ugd2lsbCBjbGVhcmx5IGlkZW50aWZ5IHlvdXIgbmFtZShzKSBhcyB0aGUgYXV0aG9yKHMpIG9yIG93bmVyKHMpIG9mIHRoZQpzdWJtaXNzaW9uLCBhbmQgd2lsbCBub3QgbWFrZSBhbnkgYWx0ZXJhdGlvbiwgb3RoZXIgdGhhbiBhcyBhbGxvd2VkIGJ5IHRoaXMKbGljZW5zZSwgdG8geW91ciBzdWJtaXNzaW9uLgo=Repositório InstitucionalPUBhttps://www.arca.fiocruz.br/oai/requestrepositorio.arca@fiocruz.bropendoar:21352018-10-02T05:01:17Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) - Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)false |
dc.title.pt_BR.fl_str_mv |
RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro |
title |
RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro |
spellingShingle |
RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca |
title_short |
RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro |
title_full |
RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro |
title_fullStr |
RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro |
title_full_unstemmed |
RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro |
title_sort |
RADIS: Comunicação e Saúde, número 192, setembro |
author |
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca |
author_facet |
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca |
description |
No ano em que se comemora os 30 anos do SUS, instituído pela Constituição de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica de 1990, cerca de 8 mil pesquisadores, estudantes, profissionais e integrantes de movimentos sociais que atuam na saúde se reuniram na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro, em julho, para o 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).Entre muitos convidados internacionais, a chefe de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, pontuou que as desigualdades em saúde na região das Américas pode ser medida pela falta de assistência às mulheres antes, durante e depois do parto e pela dificuldade de acesso e falta de qualidade nos serviços de saúde para segmentos vulneráveis como idosos, crianças, mulheres, afrodescendentes, pessoas vivendo com HIV/aids e as populações rurais e indígenas. Os desafios para os sistemas de saúde somam-se, segundo ela, ao enfrentamento dos fatores de determinação socioeconômica da saúde, como a eliminação da pobreza e o acesso à água limpa, energia não contaminante, alimentação suficiente e moradia digna. “A injustiça social mata em larga escala”, sintetizou Michael Marmot, pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Saúde da University College London, citando relatório da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde da Organização Mundial da Saúde. “Se queremos melhorar o funcionamento do sistema de saúde de nossos países para garantir direitos, devemos começar por entender aquilo que somos, como resultado de processos sociais, culturais e políticos”, disse Bachelet, ao explicar que as desigualdades de gênero, de níveis de escolaridade, regionais, de idade e pertencimento étnico impactam sobre os indicadores de saúde. “Os que são deixados de lado são aqueles que não possuem as melhores ferramentas para competir, aqueles que não são rentáveis para o modelo neoliberal, como as mulheres e os idosos”, afirmou a representante da ONU. Para o sociólogo Jessé Souza, da Universidade Federal do ABC, “o chamado capitalismo financeiro expropria a população de direitos básicos”. Ele citou o relatório “A ineficiência da desigualdade”, da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), da ONU, para argumentar que, ao reduzir capacidades e oportunidades, as desigualdades excluem classes inteiras do acesso à escola, ao conhecimento e ao mercado de trabalho, gerando perdas para os indivíduos e a sociedade. Segundo Deisy Ventura, professora de Ética e Direito Internacional da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, as promessas da globalização econômica não foram cumpridas: “vivemos num mundo interconectado, mas radicalmente desigual, inseguro e doente”. Ela propôs resgatar a noção de direitos no âmbito da saúde global e criticou as estratégias de grandes investidores internacionais que encaram a saúde global como uma oportunidade de fazer negócios, fenômeno que vem se reproduzindo no Brasil. Ex-ministro da Saúde, o sanitarista José Gomes Temporão lembrou que o movimento da Reforma Sanitária, nos anos 1970 e 1980, defendia a democracia, a melhoria das condições de vida da população e um sistema de saúde universal. “A Reforma defendia um sistema democrático, descentralizado e universal, visando reduzir as desigualdades; combatia a privatização, propondo a redução gradual da oferta privada de serviços e o fortalecimento da oferta pública.” O SUS teve muitos avanços, mas foi sempre subfinanciado, situação dramaticamente acentuada com as políticas de austeridade fiscal, e não reverteu o crescimento do setor privado e dos planos e seguros de saúde. Segundo o sanitarista Gastão Wagner, presidente da Abrasco no momento do congresso, o SUS não superou também as marcas da desigualdade no Brasil. “Temos uma democracia profundamente desigual, do ponto de vista da distribuição do poder, em relação a gênero, etnias, classes sociais e regiões brasileiras”, analisou, ao conclamar todas as forças da saúde a “reconhecer os problemas do SUS, defender seus avanços, ter propostas concretas para aperfeiçoá-lo e fortalecer o direito à voz e à participação de populações marginalizadas”.Com a palavra, nesta edição, pessoas que pesquisam, conhecem de perto e, principalmente, experimentam o racismo, a discriminação de gênero e as mais diversas formas da brutal desigualdade no Brasil. |
publishDate |
2018 |
dc.date.accessioned.fl_str_mv |
2018-10-01T16:10:40Z |
dc.date.available.fl_str_mv |
2018-10-01T16:10:40Z |
dc.date.issued.fl_str_mv |
2018 |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.citation.fl_str_mv |
RADIS: Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP, n. 192, None 2018. 36 p. Mensal. |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/29203 |
identifier_str_mv |
RADIS: Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP, n. 192, None 2018. 36 p. Mensal. |
url |
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/29203 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Fundação Oswaldo Cruz/ENSP |
publisher.none.fl_str_mv |
Fundação Oswaldo Cruz/ENSP |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) instname:Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) instacron:FIOCRUZ |
instname_str |
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) |
instacron_str |
FIOCRUZ |
institution |
FIOCRUZ |
reponame_str |
Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) |
collection |
Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) |
bitstream.url.fl_str_mv |
https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29203/1/license.txt https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29203/2/2018_setembro_192.pdf https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29203/3/2018_setembro_192.pdf.txt |
bitstream.checksum.fl_str_mv |
8a4605be74aa9ea9d79846c1fba20a33 5b5241836da932eeee876e3ed5b03cb1 9d9fd1241159eac4647aef205a8f0d9f |
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv |
MD5 MD5 MD5 |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) - Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) |
repository.mail.fl_str_mv |
repositorio.arca@fiocruz.br |
_version_ |
1798324921120587776 |