Comunidade Antônio Maria Coelho: territorialidade e resistência pelo uso da bocaiuva no pantanal de mato grosso do sul.
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Data de Publicação: | 2016 |
Outros Autores: | , , , , , , |
Tipo de documento: | Capítulo de livro |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório de Informação Tecnológica da Embrapa (Infoteca-e) |
Texto Completo: | http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1078397 |
Resumo: | A Comunidade de Antônio Maria Coelho (AMC) está localizada na borda oeste do Pantanal a 45 km da área urbana de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Segundo relatos de moradores, a comunidade teria sido palco de episódios como a retomada de Corumbá onde o Major Antônio Maria Coelho teria se refugiado, razão do nome da comunidade segundo os informantes (REIS et al., 2013). A instalação da rede ferroviária na região de AMC permitiu que a partir de 1970 ocorresse um aumento populacional com a vinda de trabalhadores de diferentes regiões do Brasil, para prestar serviços em fazendas da redondeza e também na antiga Rede Ferroviária (FEIDEN et al., 2007). Este adensamento populacional adquiriu característica parcialmente dispersa devido a dois aspectos da ocupação: um grupo disperso, localizado próximo à estação ferroviária e ao longo da estrada, mais afetado pela implantação das indústrias e cujos moradores em sua maioria foram expulsos/indenizados, e o segundo grupo, denominado 'Recanto dos Evangélicos ou Igrejinha', formado por um conjunto de pessoas relativamente concentrado aos arredores da igreja evangélica. O fortalecimento do grupo da igrejinha ocorre devido à oferta de empregos e pressão das mineradoras sobre as áreas não legalizadas (FONSECA et al., 2013). O arranjo territorial e populacional da comunidade engloba as propriedades rurais próximas à baia de Jacadigo (BR-262), Córrego Piraputangas, polo industrial e o grupo de moradores do Recanto dos Evangélicos, totalizando 47 famílias, aproximadamente, com predomínio de jovens de gênero masculino.O grupo do Recanto dos Evangélicos é formado por 18 famílias (aproximadamente 60 pessoas) e está distribuído em uma área coletiva de 25 hectares. Logo, a área coletiva, antes propriedade de apenas 10 herdeiros, passou por divisões em pequenos lotes para suprir a necessidade de moradia das famílias que foram se multiplicando ao longo de várias gerações. Com a divisão da terra em pequenos lotes, a prática de agricultura familiar ficou limitada aos quintais. Por tal motivo, a sobrevivência é garantida pelo trabalho externo aos lotes ou, até mesmo, por outras fontes como a aposentadoria e assistência social (CAMPOLIN et al., 2009). Entretanto, os representantes sociais da comunidade têm buscado parcerias com diferentes instituições, buscando o auxílio no desenvolvimento de ações que possam gerar trabalho e renda e garantir melhor qualidade de vida, bem como a permanência dos moradores na região com destaque para o trabalho do grupo de mulheres extrativistas da bocaiuva, que produzem e comercializam diversos produtos derivados desta espécie, sendo a polpa e a farinha bastante apreciadas na região. A partir de 2006 com a implantação de uma usina siderúrgica e da ampliação dos projetos de mineração na região, a comunidade se viu envolvida em conflitos pela terra e pela água. Segundo revisão feita por Costa (2014), o conhecimento sobre a existência de minérios na região está documentada desde 1870, sendo que a primeira outorga para exploração é de 1876. No entanto a exploração em larga escala se deu efetivamente apenas a partir de 1940, ainda durante a Segunda Guerra Mundial. A situação se agrava em meados dos anos 2000, quando o estado faz a doação da área de terras onde a comunidade está instaladas para a implantação de um polo minero-siderúrgico e gás-químico (COSTA, 2014). Segundo Campolin et al. (2009) e Costa (2014) a situação fundiária da comunidade é bastante confusa, sendo que a posse dos moradores se baseia numa série de concessões, doações, heranças e compras, que contudo não possuem registro formal. As empresas se aproveitaram desta situação de fragilidade dos moradores para ameaçá-los com expulsão por via judicial, fazendo que muitos aceitassem a indenização oferecida pelas empresas a fim de não perderem tudo (COSTA, 2014). Um problema grave para as mulheres coletoras de bocaiuva foi que nas áreas incorporadas pelas empresas ou as plantas foram eliminadas ou foi proibido o acesso para a coleta, tradicionalmente respeitado pelos proprietários anteriores. Além disso, a instalação da siderurgia e a ampliação da mineração produziu uma drástica redução das fontes de água, sendo que vários dos mananciais da comunidade secaram a partir de sua implantação. O abastecimento da comunidade é feito precariamente através de caminhões pipa e a água é de péssima qualidade. A situação só não se tornou mais crítica para a comunidade porque a crise de 2009 levou ao cancelamento da grande maioria dos empreendimentos previstos. Este conflito tem interferido na vida social, cultural, ambiental e produtiva das famílias dos moradores locais (CAMPOLIN et al, 2009; COSTA, 2014). Observa-se nas entrevistas que os moradores mencionam as constantes transformações socioespaciais resultante da intensificação da atividade industrial que, na busca pelo progresso, vêm acarretando uma série de problemas na comunidade, como a remoção de moradores, degradação dos recursos hídricos, poluição do ar e do solo. A comunidade possui carências de estudos aprofundados da localidade, tendo apenas no final 1990 publicações sobre etnobotânica local (BORTOLOTTO & GUARIM NETO, 1999). A necessidade de estudos aprofundados sobre as populações locais e seus sistemas produtivos, promoveu a utilização de técnicas do Diagnóstico Rural Participativo (DRP) (CHAMBERS, 1992) objetivando traçar a trajetória da comunidade, características dos habitantes e sistemas produtivos locais. Baseando-se no contexto apresentado, objetivou-se com este trabalho caracterizar a última década de trajetória de resistência das famílias na permanência na comunidade, identificando e analisando as experiências e o conhecimento tradicional relacionados com a utilização da bocaiuva. |
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Comunidade Antônio Maria Coelho: territorialidade e resistência pelo uso da bocaiuva no pantanal de mato grosso do sul.Conhecimento tradicionalDiagnóstico rural participativoComunidade ruralSociologia ruralBocaiúvaAcrocomia AculeataRural communitiesRural sociologyA Comunidade de Antônio Maria Coelho (AMC) está localizada na borda oeste do Pantanal a 45 km da área urbana de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Segundo relatos de moradores, a comunidade teria sido palco de episódios como a retomada de Corumbá onde o Major Antônio Maria Coelho teria se refugiado, razão do nome da comunidade segundo os informantes (REIS et al., 2013). A instalação da rede ferroviária na região de AMC permitiu que a partir de 1970 ocorresse um aumento populacional com a vinda de trabalhadores de diferentes regiões do Brasil, para prestar serviços em fazendas da redondeza e também na antiga Rede Ferroviária (FEIDEN et al., 2007). Este adensamento populacional adquiriu característica parcialmente dispersa devido a dois aspectos da ocupação: um grupo disperso, localizado próximo à estação ferroviária e ao longo da estrada, mais afetado pela implantação das indústrias e cujos moradores em sua maioria foram expulsos/indenizados, e o segundo grupo, denominado 'Recanto dos Evangélicos ou Igrejinha', formado por um conjunto de pessoas relativamente concentrado aos arredores da igreja evangélica. O fortalecimento do grupo da igrejinha ocorre devido à oferta de empregos e pressão das mineradoras sobre as áreas não legalizadas (FONSECA et al., 2013). O arranjo territorial e populacional da comunidade engloba as propriedades rurais próximas à baia de Jacadigo (BR-262), Córrego Piraputangas, polo industrial e o grupo de moradores do Recanto dos Evangélicos, totalizando 47 famílias, aproximadamente, com predomínio de jovens de gênero masculino.O grupo do Recanto dos Evangélicos é formado por 18 famílias (aproximadamente 60 pessoas) e está distribuído em uma área coletiva de 25 hectares. Logo, a área coletiva, antes propriedade de apenas 10 herdeiros, passou por divisões em pequenos lotes para suprir a necessidade de moradia das famílias que foram se multiplicando ao longo de várias gerações. Com a divisão da terra em pequenos lotes, a prática de agricultura familiar ficou limitada aos quintais. Por tal motivo, a sobrevivência é garantida pelo trabalho externo aos lotes ou, até mesmo, por outras fontes como a aposentadoria e assistência social (CAMPOLIN et al., 2009). Entretanto, os representantes sociais da comunidade têm buscado parcerias com diferentes instituições, buscando o auxílio no desenvolvimento de ações que possam gerar trabalho e renda e garantir melhor qualidade de vida, bem como a permanência dos moradores na região com destaque para o trabalho do grupo de mulheres extrativistas da bocaiuva, que produzem e comercializam diversos produtos derivados desta espécie, sendo a polpa e a farinha bastante apreciadas na região. A partir de 2006 com a implantação de uma usina siderúrgica e da ampliação dos projetos de mineração na região, a comunidade se viu envolvida em conflitos pela terra e pela água. Segundo revisão feita por Costa (2014), o conhecimento sobre a existência de minérios na região está documentada desde 1870, sendo que a primeira outorga para exploração é de 1876. No entanto a exploração em larga escala se deu efetivamente apenas a partir de 1940, ainda durante a Segunda Guerra Mundial. A situação se agrava em meados dos anos 2000, quando o estado faz a doação da área de terras onde a comunidade está instaladas para a implantação de um polo minero-siderúrgico e gás-químico (COSTA, 2014). Segundo Campolin et al. (2009) e Costa (2014) a situação fundiária da comunidade é bastante confusa, sendo que a posse dos moradores se baseia numa série de concessões, doações, heranças e compras, que contudo não possuem registro formal. As empresas se aproveitaram desta situação de fragilidade dos moradores para ameaçá-los com expulsão por via judicial, fazendo que muitos aceitassem a indenização oferecida pelas empresas a fim de não perderem tudo (COSTA, 2014). Um problema grave para as mulheres coletoras de bocaiuva foi que nas áreas incorporadas pelas empresas ou as plantas foram eliminadas ou foi proibido o acesso para a coleta, tradicionalmente respeitado pelos proprietários anteriores. Além disso, a instalação da siderurgia e a ampliação da mineração produziu uma drástica redução das fontes de água, sendo que vários dos mananciais da comunidade secaram a partir de sua implantação. O abastecimento da comunidade é feito precariamente através de caminhões pipa e a água é de péssima qualidade. A situação só não se tornou mais crítica para a comunidade porque a crise de 2009 levou ao cancelamento da grande maioria dos empreendimentos previstos. Este conflito tem interferido na vida social, cultural, ambiental e produtiva das famílias dos moradores locais (CAMPOLIN et al, 2009; COSTA, 2014). Observa-se nas entrevistas que os moradores mencionam as constantes transformações socioespaciais resultante da intensificação da atividade industrial que, na busca pelo progresso, vêm acarretando uma série de problemas na comunidade, como a remoção de moradores, degradação dos recursos hídricos, poluição do ar e do solo. 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Ponta Grossa; FABIO GALVANI, CPAP; SIMONE PALMA FAVARO, CNPAE.FEIDEN, A.CAMPOLIN, A. I.CURADO, F. F.MONACO, I.FONSECA, T.BORSATO, A. V.GALVANI, F.FAVARO, S. P.2018-05-23T00:11:00Z2018-05-23T00:11:00Z2017-10-3020162018-05-23T00:11:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bookPartp. 379-393.In: DIAS, T.; EIDT, J. S.; UDRY, C. (Ed.). Diálogos de saberes: relatos da Embrapa. Brasília, DF: Embrapa, 2016. v. 2. 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