Refugiados venezuelanos: desafios para o acolhimento do povo originário Warao
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2024 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional do FGV (FGV Repositório Digital) |
Texto Completo: | https://hdl.handle.net/10438/35159 |
Resumo: | Objetivo: O objetivo desta pesquisa é investigar as dificuldades enfrentadas pelo povo originário Warao no Brasil, por meio de entrevistas com os atores e os membros da etnia, buscando perceber diferentes perspectivas para melhor compreender os desafios e potencialidades relacionados à sua integração na sociedade local. Percurso metodológico: Trata-se de pesquisa de natureza aplicada, objetivo descritivo e com abordagem qualitativa, por meio de análise bibliográfica, documental, de campo e entrevistas. Foram realizadas entrevistas com treze indígenas Warao e vinte e três atores de diversas instituições responsáveis pelo acolhimento desse povo tradicional em Belo Horizonte. Para tratamento dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo de forma manual, sem auxílio de programas específicos. Resultados: A percepção predominante entre indígenas e atores é de que os Warao são alvo de práticas de xenofobia racializada no processo de acolhimento. Há sobrecarga do ente federativo municipal em relação ao financiamento das ações, existindo, contudo, delegação excessiva de atividades às organizações da sociedade civil, com sobrecarga destas, sendo constatadas diferenças significativas no atendimento fornecido pelas entidades parceiras do município, como a Cáritas e o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados. É necessário o desenvolvimento de capacitações periódicas, a fim de proporcionar aos indígenas um atendimento culturalmente sensível. É possível constatar o processo de formação de redes de atores, embora a atuação geral e coordenada tenha perdido sua resolutividade. Por outro lado, ocorre o fortalecimento das relações entre as instituições do sistema de justiça para atuação conjunta. As percepções sobre a participação dos indígenas na elaboração e execução das ações de acolhimento são contraditórias entre os atores, já os Warao, não se sentem ouvidos e contemplados nas ações. Existem tentativas de inserção dos indígenas no mercado formal de trabalho, que não têm sido bem-sucedidas, principalmente em razão das diversidades culturais e às diferentes visões de mundo e são raras as operações direcionadas a potencializar o desenvolvimento de atividades que são do interesse dos Warao, em especial o artesanato. De forma geral, o papel da mulher Warao é de submissão ao homem, com voz somente para assuntos familiares, sem contato ativo e direto com os atores para definição de questões que as afetem, havendo ainda registros de violência de gênero entre os Warao. Enquanto fatores de repulsão, os Warao apontam conflitos entre os próprios integrantes dos grupos, descontentamento com o modelo atual de abrigamento que reúne famílias com perfis diferentes e tensão exacerbada entre os indígenas e os responsáveis diretos pelos abrigos. A estrutura de acolhimento em Belo Horizonte, especialmente a alocação de orçamento específico para essa finalidade, é apontada como fator de atração de outros indígenas. No entanto, o principal motivo para a vinda de outros grupos para a capital é a percepção dos próprios Warao em relação ao atendimento que recebem em Belo Horizonte, considerando que a rede de contato entre eles é muito ativa. O idioma, as diferenças culturais e os modos de vida são barreiras para a integração dos indígenas à sociedade local, havendo implicações em todas as ações desenvolvidas para acolhimento desse povo tradicional. Constata-se a necessidade de reavaliação do modelo de regularização migratória de crianças desacompanhadas, separadas e sem documentos, da qual a Defensoria Pública da União é parte essencial. Isso se deve às fragilidades no processo desenvolvido na fronteira, as quais podem levar à ocorrência de problemas, como em casos registrados na capital mineira de tráfico de pessoas, com desdobramentos negativos para os indígenas envolvidos. Limitações: Não foi possível a oitiva de representantes de todas os envolvidos no acolhimento em Belo Horizonte, considerando que a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mesmo com o envio da documentação solicitada para autorização das entrevistas, não respondeu às diversas tentativas de contato, inviabilizando as entrevistas. Muitos indígenas aceitavam conversar abertamente sobre as temáticas tratadas neste trabalho, mas recusavam-se a permitir a gravação, mesmo com as garantias do termo de consentimento, de modo que o número de entrevistas formalizadas entre os Warao foi menor do que o esperado. A questão da não compreensão do idioma Warao foi outro limitador nas entrevistas, em razão de que alguns Warao não conseguiam exprimir suas ideias em português, utilizando trechos em sua língua e solicitando auxílio de outros para expressar à pesquisadora o que queriam dizer, limitando assim a profundidade e a amplitude do conteúdo das entrevistas com os indígenas. Não foi permitida a tomada de fotos que poderiam ser objeto de análise neste trabalho, de modo que os registros fotográficos constantes da pesquisa são aqueles de arquivos públicos. Aplicabilidade: Obteve-se um quadro geral do acolhimento ao povo tradicional Warao em Belo Horizonte, como a percepção dos próprios indígenas sobre diversos temas, proporcionando às instituições, organizações e órgãos responsáveis pelo acolhimento a realização de aprimoramentos nos aspectos apresentados como desafios, bem como a potencialização de ações consideradas proveitosas. As conclusões deste trabalho podem embasar ações destinadas ao acolhimento de indígenas da etnia em outras localidades do Brasil, tendo em vista o intenso processo de interiorização dos Warao na atualidade. Em relação à Defensoria Pública da União, as conclusões sugerem a necessidade de reavaliação do procedimento de regularização de crianças separadas, desacompanhadas ou sem documentos na fronteira, que é de atribuição conjunta da DPU e Polícia Federal, com contribuição de outros atores. Originalidade: O trabalho representa contribuição acadêmica importante, uma vez que não foi localizado nos estudos relacionados à administração pública, aprofundamento na temática do refúgio em intersecção com perfil indígena dos refugiados. Essa característica identitária apresenta diversas implicações para as ações desenvolvidas no acolhimento, as quais ainda não haviam sido captadas pelo meio acadêmico. |
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Vieira, Sabrina NunesEscolas::EBAPEStocker, FabrícioSilva, Renata de OliveiraIrigaray, Hélio Arthur Reis2024-04-09T16:53:50Z2024-04-09T16:53:50Z2024-03-08https://hdl.handle.net/10438/35159Objetivo: O objetivo desta pesquisa é investigar as dificuldades enfrentadas pelo povo originário Warao no Brasil, por meio de entrevistas com os atores e os membros da etnia, buscando perceber diferentes perspectivas para melhor compreender os desafios e potencialidades relacionados à sua integração na sociedade local. Percurso metodológico: Trata-se de pesquisa de natureza aplicada, objetivo descritivo e com abordagem qualitativa, por meio de análise bibliográfica, documental, de campo e entrevistas. Foram realizadas entrevistas com treze indígenas Warao e vinte e três atores de diversas instituições responsáveis pelo acolhimento desse povo tradicional em Belo Horizonte. Para tratamento dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo de forma manual, sem auxílio de programas específicos. Resultados: A percepção predominante entre indígenas e atores é de que os Warao são alvo de práticas de xenofobia racializada no processo de acolhimento. Há sobrecarga do ente federativo municipal em relação ao financiamento das ações, existindo, contudo, delegação excessiva de atividades às organizações da sociedade civil, com sobrecarga destas, sendo constatadas diferenças significativas no atendimento fornecido pelas entidades parceiras do município, como a Cáritas e o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados. É necessário o desenvolvimento de capacitações periódicas, a fim de proporcionar aos indígenas um atendimento culturalmente sensível. É possível constatar o processo de formação de redes de atores, embora a atuação geral e coordenada tenha perdido sua resolutividade. Por outro lado, ocorre o fortalecimento das relações entre as instituições do sistema de justiça para atuação conjunta. As percepções sobre a participação dos indígenas na elaboração e execução das ações de acolhimento são contraditórias entre os atores, já os Warao, não se sentem ouvidos e contemplados nas ações. Existem tentativas de inserção dos indígenas no mercado formal de trabalho, que não têm sido bem-sucedidas, principalmente em razão das diversidades culturais e às diferentes visões de mundo e são raras as operações direcionadas a potencializar o desenvolvimento de atividades que são do interesse dos Warao, em especial o artesanato. De forma geral, o papel da mulher Warao é de submissão ao homem, com voz somente para assuntos familiares, sem contato ativo e direto com os atores para definição de questões que as afetem, havendo ainda registros de violência de gênero entre os Warao. Enquanto fatores de repulsão, os Warao apontam conflitos entre os próprios integrantes dos grupos, descontentamento com o modelo atual de abrigamento que reúne famílias com perfis diferentes e tensão exacerbada entre os indígenas e os responsáveis diretos pelos abrigos. A estrutura de acolhimento em Belo Horizonte, especialmente a alocação de orçamento específico para essa finalidade, é apontada como fator de atração de outros indígenas. No entanto, o principal motivo para a vinda de outros grupos para a capital é a percepção dos próprios Warao em relação ao atendimento que recebem em Belo Horizonte, considerando que a rede de contato entre eles é muito ativa. O idioma, as diferenças culturais e os modos de vida são barreiras para a integração dos indígenas à sociedade local, havendo implicações em todas as ações desenvolvidas para acolhimento desse povo tradicional. Constata-se a necessidade de reavaliação do modelo de regularização migratória de crianças desacompanhadas, separadas e sem documentos, da qual a Defensoria Pública da União é parte essencial. Isso se deve às fragilidades no processo desenvolvido na fronteira, as quais podem levar à ocorrência de problemas, como em casos registrados na capital mineira de tráfico de pessoas, com desdobramentos negativos para os indígenas envolvidos. Limitações: Não foi possível a oitiva de representantes de todas os envolvidos no acolhimento em Belo Horizonte, considerando que a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mesmo com o envio da documentação solicitada para autorização das entrevistas, não respondeu às diversas tentativas de contato, inviabilizando as entrevistas. Muitos indígenas aceitavam conversar abertamente sobre as temáticas tratadas neste trabalho, mas recusavam-se a permitir a gravação, mesmo com as garantias do termo de consentimento, de modo que o número de entrevistas formalizadas entre os Warao foi menor do que o esperado. A questão da não compreensão do idioma Warao foi outro limitador nas entrevistas, em razão de que alguns Warao não conseguiam exprimir suas ideias em português, utilizando trechos em sua língua e solicitando auxílio de outros para expressar à pesquisadora o que queriam dizer, limitando assim a profundidade e a amplitude do conteúdo das entrevistas com os indígenas. Não foi permitida a tomada de fotos que poderiam ser objeto de análise neste trabalho, de modo que os registros fotográficos constantes da pesquisa são aqueles de arquivos públicos. Aplicabilidade: Obteve-se um quadro geral do acolhimento ao povo tradicional Warao em Belo Horizonte, como a percepção dos próprios indígenas sobre diversos temas, proporcionando às instituições, organizações e órgãos responsáveis pelo acolhimento a realização de aprimoramentos nos aspectos apresentados como desafios, bem como a potencialização de ações consideradas proveitosas. As conclusões deste trabalho podem embasar ações destinadas ao acolhimento de indígenas da etnia em outras localidades do Brasil, tendo em vista o intenso processo de interiorização dos Warao na atualidade. Em relação à Defensoria Pública da União, as conclusões sugerem a necessidade de reavaliação do procedimento de regularização de crianças separadas, desacompanhadas ou sem documentos na fronteira, que é de atribuição conjunta da DPU e Polícia Federal, com contribuição de outros atores. Originalidade: O trabalho representa contribuição acadêmica importante, uma vez que não foi localizado nos estudos relacionados à administração pública, aprofundamento na temática do refúgio em intersecção com perfil indígena dos refugiados. Essa característica identitária apresenta diversas implicações para as ações desenvolvidas no acolhimento, as quais ainda não haviam sido captadas pelo meio acadêmico.Objective: The objective of this research is to investigate the difficulties faced by the original Warao people in Brazil, through interviews with the actors and members of the ethnic group, seeking to perceive different perspectives to better understand the challenges and potentialities related to their integration into the local society. Methodological path: This is an applied study with a descriptive objective and a qualitative approach, using bibliographical, documentary and field analysis and interviews. Interviews were conducted with thirteen Warao indigenous people and twenty-three actors from different institutions responsible for the reception of this traditional people in Belo Horizonte. To process the data, the technique of content analysis was used manually, without the help of specific programs. Results: The predominant perception among indigenous people and actors is that the Warao are the target of racialized xenophobia practices in the welcoming process. There is an overload of the municipal federative entity in relation to the financing of actions, there is, however, an excessive delegation of activities to civil society organizations, with an overload of these, with significant differences in the service provided by the municipality's partner entities, such as Caritas and the Jesuit Service for Migrants and Refugees. It is necessary to develop periodic training in order to provide the indigenous people with culturally sensitive care. It is possible to verify the process of formation of networks of actors, although the general and coordinated action has lost its problem-solving capacity. On the other hand, there is a strengthening of relations between the institutions of the justice system for joint action. The perceptions about the participation of the indigenous people in the elaboration and execution of the reception actions are contradictory among the actors, while the Warao do not feel heard and contemplated in the actions. There have been attempts to insert indigenous people into the formal labor market, which have not been successful, due to cultural diversity and different worldviews, and operations aimed at enhancing the development of activities that are of interest to the Warao, especially handicrafts, are rare. In general, the Warao woman's role is one of submission to the man, with a voice only for family matters, without active and direct contact with the actors to define issues that affect them, and there are also records of gender violence among the Warao. As factors of repulsion, the Warao point to conflicts between the members of the groups themselves, discontent with the current model of shelter that brings together families with different profiles, and exacerbated tension between the indigenous people and those personally responsible for the shelters. The reception structure in Belo Horizonte, especially the allocation of a specific budget for this purpose, is pointed out as a factor of attraction to other indigenous people. However, the main reason for other groups to come to the capital is the perception of the Warao themselves in relation to the care they receive in Belo Horizonte, considering that the contact network between them is highly active. Language, cultural differences and ways of life are barriers to the integration of indigenous people into local society, with implications for all actions developed to welcome this traditional people. There is a need to reassess the model of migratory regularization of unaccompanied, separated and undocumented children, of which the Federal Public Defender's Office is an essential part. This is due to weaknesses in the process developed at the border, which can lead to the occurrence of problems, as in cases registered in the capital of Minas Gerais of human trafficking, with negative consequences for the indigenous people involved. Limitations: It was not possible to hear representatives of all those involved in the reception in Belo Horizonte, considering that the International Organization for Migration (IOM), even with the sending of the requested documentation to authorize the interviews, did not respond to multiple attempts to contact them, making the interviews unfeasible. Most indigenous people agreed to talk openly about the themes dealt with in this work, but refused to allow the recording, even with the guarantees of the consent form, so that the number of interviews formalized among the Warao was lower than expected. The issue of not understanding the Warao language was another limiting factor in the interviews, due to the fact that some Warao were unable to express their ideas in Portuguese, using excerpts in their language and requesting help from others to express to the researcher what they wanted to say, thus limiting the depth and breadth of the content of the interviews with the indigenous people. It was not allowed to take photos that could be the object of analysis in this work, so that the photographic records contained in the research are those of public archives. Applicability: A general picture of the reception of the traditional Warao people in Belo Horizonte was obtained, such as the perception of the indigenous people themselves on diverse topics, providing the institutions, organizations and bodies responsible for the reception to make improvements in the aspects presented as challenges, as well as the enhancement of actions considered useful. The conclusions of this work can support actions aimed at the reception of indigenous people of the ethnic group in other locations in Brazil, in view of the intense process of internalization of the Warao today. In relation to the Federal Public Defender's Office, the conclusions suggest the need to reassess the procedure for regularization of separated, unaccompanied or undocumented children at the border, which is the joint responsibility of the DPU and the Federal Police, with the contribution of other actors. Originality: The work represents an important academic contribution, since it was not located in the studies related to public administration, deepening the theme of refuge in intersection with the indigenous profile of refugees. This identity characteristic has multiple implications for the actions developed in welcoming, which had not yet been grasped by the academic environment.porMigraçãoPovo originárioDireitos dos WaraoPolíticas PúblicasProcesso de acolhimentoMigraçãoPovos origináriosPolíticas públicasÍndios WaraoIntegração socialRefugiados venezuelanos: desafios para o acolhimento do povo originário Waraoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional do FGV (FGV Repositório Digital)instname:Fundação Getulio Vargas (FGV)instacron:FGVORIGINALSabrina_mestrado_Warao_08_abril (1) versão final com alterações das páginas.pdfSabrina_mestrado_Warao_08_abril (1) versão final com alterações das páginas.pdfPDFapplication/pdf2027444https://repositorio.fgv.br/bitstreams/ac8766d2-409b-4c4e-b7d4-9bd849e9c20f/download1d6116be1187de355b208ee4dffa1446MD51LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; 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InstitucionalPRIhttp://bibliotecadigital.fgv.br/dspace-oai/requestopendoar:39742024-04-10T12:50:09Repositório Institucional do FGV (FGV Repositório Digital) - Fundação Getulio Vargas 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Objetivo: O objetivo desta pesquisa é investigar as dificuldades enfrentadas pelo povo originário Warao no Brasil, por meio de entrevistas com os atores e os membros da etnia, buscando perceber diferentes perspectivas para melhor compreender os desafios e potencialidades relacionados à sua integração na sociedade local. Percurso metodológico: Trata-se de pesquisa de natureza aplicada, objetivo descritivo e com abordagem qualitativa, por meio de análise bibliográfica, documental, de campo e entrevistas. Foram realizadas entrevistas com treze indígenas Warao e vinte e três atores de diversas instituições responsáveis pelo acolhimento desse povo tradicional em Belo Horizonte. Para tratamento dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo de forma manual, sem auxílio de programas específicos. Resultados: A percepção predominante entre indígenas e atores é de que os Warao são alvo de práticas de xenofobia racializada no processo de acolhimento. Há sobrecarga do ente federativo municipal em relação ao financiamento das ações, existindo, contudo, delegação excessiva de atividades às organizações da sociedade civil, com sobrecarga destas, sendo constatadas diferenças significativas no atendimento fornecido pelas entidades parceiras do município, como a Cáritas e o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados. É necessário o desenvolvimento de capacitações periódicas, a fim de proporcionar aos indígenas um atendimento culturalmente sensível. É possível constatar o processo de formação de redes de atores, embora a atuação geral e coordenada tenha perdido sua resolutividade. Por outro lado, ocorre o fortalecimento das relações entre as instituições do sistema de justiça para atuação conjunta. As percepções sobre a participação dos indígenas na elaboração e execução das ações de acolhimento são contraditórias entre os atores, já os Warao, não se sentem ouvidos e contemplados nas ações. Existem tentativas de inserção dos indígenas no mercado formal de trabalho, que não têm sido bem-sucedidas, principalmente em razão das diversidades culturais e às diferentes visões de mundo e são raras as operações direcionadas a potencializar o desenvolvimento de atividades que são do interesse dos Warao, em especial o artesanato. De forma geral, o papel da mulher Warao é de submissão ao homem, com voz somente para assuntos familiares, sem contato ativo e direto com os atores para definição de questões que as afetem, havendo ainda registros de violência de gênero entre os Warao. Enquanto fatores de repulsão, os Warao apontam conflitos entre os próprios integrantes dos grupos, descontentamento com o modelo atual de abrigamento que reúne famílias com perfis diferentes e tensão exacerbada entre os indígenas e os responsáveis diretos pelos abrigos. A estrutura de acolhimento em Belo Horizonte, especialmente a alocação de orçamento específico para essa finalidade, é apontada como fator de atração de outros indígenas. No entanto, o principal motivo para a vinda de outros grupos para a capital é a percepção dos próprios Warao em relação ao atendimento que recebem em Belo Horizonte, considerando que a rede de contato entre eles é muito ativa. O idioma, as diferenças culturais e os modos de vida são barreiras para a integração dos indígenas à sociedade local, havendo implicações em todas as ações desenvolvidas para acolhimento desse povo tradicional. Constata-se a necessidade de reavaliação do modelo de regularização migratória de crianças desacompanhadas, separadas e sem documentos, da qual a Defensoria Pública da União é parte essencial. Isso se deve às fragilidades no processo desenvolvido na fronteira, as quais podem levar à ocorrência de problemas, como em casos registrados na capital mineira de tráfico de pessoas, com desdobramentos negativos para os indígenas envolvidos. Limitações: Não foi possível a oitiva de representantes de todas os envolvidos no acolhimento em Belo Horizonte, considerando que a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mesmo com o envio da documentação solicitada para autorização das entrevistas, não respondeu às diversas tentativas de contato, inviabilizando as entrevistas. Muitos indígenas aceitavam conversar abertamente sobre as temáticas tratadas neste trabalho, mas recusavam-se a permitir a gravação, mesmo com as garantias do termo de consentimento, de modo que o número de entrevistas formalizadas entre os Warao foi menor do que o esperado. A questão da não compreensão do idioma Warao foi outro limitador nas entrevistas, em razão de que alguns Warao não conseguiam exprimir suas ideias em português, utilizando trechos em sua língua e solicitando auxílio de outros para expressar à pesquisadora o que queriam dizer, limitando assim a profundidade e a amplitude do conteúdo das entrevistas com os indígenas. Não foi permitida a tomada de fotos que poderiam ser objeto de análise neste trabalho, de modo que os registros fotográficos constantes da pesquisa são aqueles de arquivos públicos. Aplicabilidade: Obteve-se um quadro geral do acolhimento ao povo tradicional Warao em Belo Horizonte, como a percepção dos próprios indígenas sobre diversos temas, proporcionando às instituições, organizações e órgãos responsáveis pelo acolhimento a realização de aprimoramentos nos aspectos apresentados como desafios, bem como a potencialização de ações consideradas proveitosas. As conclusões deste trabalho podem embasar ações destinadas ao acolhimento de indígenas da etnia em outras localidades do Brasil, tendo em vista o intenso processo de interiorização dos Warao na atualidade. Em relação à Defensoria Pública da União, as conclusões sugerem a necessidade de reavaliação do procedimento de regularização de crianças separadas, desacompanhadas ou sem documentos na fronteira, que é de atribuição conjunta da DPU e Polícia Federal, com contribuição de outros atores. Originalidade: O trabalho representa contribuição acadêmica importante, uma vez que não foi localizado nos estudos relacionados à administração pública, aprofundamento na temática do refúgio em intersecção com perfil indígena dos refugiados. Essa característica identitária apresenta diversas implicações para as ações desenvolvidas no acolhimento, as quais ainda não haviam sido captadas pelo meio acadêmico. |
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