O Retorno das Ariranhas à Paisagem Baniwa
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2016 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional do INPA |
Texto Completo: | https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/12048 http://lattes.cnpq.br/5792734834169709 |
Resumo: | A caça de animais silvestres para abastecer o comércio internacional de peles foi responsável pelo colapso de diversas populações de mamíferos e répteis da Amazônia. Entretanto, os impactos desta atividade tiveram efeitos distintos em cada espécie explorada, variando local e regionalmente de acordo com a intensidade de caça e a capacidade de resiliência da espécie. Cerca de vinte anos após a proibição do comércio de peles no Brasil, a ariranha, espécie mais impactada pelo comércio internacional, começou a mostrar sinais de recuperação populacional. Este fenômeno despertou o interesse dos índios Baniwa do médio rio Içana, com quem realizamos esta pesquisa. Este estudo está dividido em dois capítulos nos quais investigamos: I) os fatores históricos que influenciaram a variação espaço-temporal da exploração comercial no alto rio Negro, assim como a resposta de duas espécies aparentadas, lontras neotropicais e ariranhas, frente a caça comercial na região e II) identificamos os locais de refúgio das ariranhas durante o período de extinção local no médio rio Içana e os elementos da paisagem que estão permitindo a recolonização da área pela espécie. No capítulo I reconstruímos a história oral dos Baniwa através de entrevistas semiestruturadas acerca da caça comercial realizada em seu território, identificando técnicas de caça, fatores políticos e econômicos que influenciaram as flutuações na atividade comercial e nas populações de lontras e ariranhas na região, em contraste com as características biológicas de ambas as espécies. Também sistematizamos dados provenientes de documentos de comercialização de peles nos portos da região para avaliar a capacidade de resiliência de ambas as espécies à caça comercial comparando a variação do montante de peles comercializadas durante o século XX no alto rio Negro. A união das diferentes fontes utilizadas nos mostrou que após quase um século de intensa caça comercial no alto rio Negro características intrínsecas das espécies assim como diferentes intensidades e técnicas de caça atuaram conjuntamente para a persistência das populações de lontras e para a extinção local e regional das populações de ariranhas, iniciando pelas áreas mais próximas à Manaus até atingir o médio rio Içana. No capítulo II investigamos as percepções Baniwa acerca das ariranhas através de entrevistas semiestruturadas com auxílio de mapas de referência para detectar as flutuações populacionais da espécie nos lagos e igarapés do médio rio Içana desde o início da atividade de caça comercial na região até os dias atuais. Realizamos amostragens nos lagos e igarapés em busca de sinais diretos e indiretos da ocorrência da espécie, registramos cinco variáveis de microhabitat in situ e obtivemos cinco variáveis de paisagem através de imagem de satélite. Medimos as variáveis de paisagem dependentes de escala em buffers de 250m, 500m e 1000m para testarmos qual escala é a mais adequada para o estudo do uso do habitat pelas ariranhas. Após calcular a frequência de indícios em cada unidade amostral nós geramos modelos lineares generalizados para testar as variáveis preditoras. O modelo com as variáveis dependentes de escala indicou um padrão bimodal, mas a escala de 250m foi a que apresentou maior efeito na ocorrência de ariranhas. As variáveis de paisagem disponibilidade de habitat, forma e isolamento do corpo hídrico explicaram 61,86% da frequência de ariranhas no médio rio Içana, enquanto a única variável de micro-habitat profundidade, correlacionada à hidrografia, explicou 38,12% dos casos. Para os Baniwa as ariranhas são os pajés das águas, e se distribuem pelo ambiente aquático juntamente com os peixes. Através dessa percepção indígena sobre as ariranhas nós obtivemos a movimentação da espécie em diferentes escalas temporais, e identificamos as cabeceiras dos longos igarapés como as áreas de refúgio da espécie durante o período de extinção local no médio rio Içana. A partir das informações ambientais e históricas nós identificamos os igarapés, bem drenados e conectados a corpos hídricos adjacentes como áreas favoráveis para a ocorrência de ariranhas no médio rio Içana. Nosso trabalho evidencia a valiosa contribuição do conhecimento ecológico tradicional em preencher lacunas no conhecimento sobre espécies ameaçadas que não poderiam ser obtidas somente através das pesquisas ecológicas convencionais, auxiliando a compreensão de processos ecológicos de longa duração com implicações para a conservação dessas espécies e do ecossistema que ela ocupa. |
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Pimenta, Natalia CamposShepard Jr., Glenn HarveyBarnett, Adrian P. A.2020-02-17T18:04:10Z2020-02-17T18:04:10Z2016-07-25https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/12048http://lattes.cnpq.br/5792734834169709A caça de animais silvestres para abastecer o comércio internacional de peles foi responsável pelo colapso de diversas populações de mamíferos e répteis da Amazônia. Entretanto, os impactos desta atividade tiveram efeitos distintos em cada espécie explorada, variando local e regionalmente de acordo com a intensidade de caça e a capacidade de resiliência da espécie. Cerca de vinte anos após a proibição do comércio de peles no Brasil, a ariranha, espécie mais impactada pelo comércio internacional, começou a mostrar sinais de recuperação populacional. Este fenômeno despertou o interesse dos índios Baniwa do médio rio Içana, com quem realizamos esta pesquisa. Este estudo está dividido em dois capítulos nos quais investigamos: I) os fatores históricos que influenciaram a variação espaço-temporal da exploração comercial no alto rio Negro, assim como a resposta de duas espécies aparentadas, lontras neotropicais e ariranhas, frente a caça comercial na região e II) identificamos os locais de refúgio das ariranhas durante o período de extinção local no médio rio Içana e os elementos da paisagem que estão permitindo a recolonização da área pela espécie. No capítulo I reconstruímos a história oral dos Baniwa através de entrevistas semiestruturadas acerca da caça comercial realizada em seu território, identificando técnicas de caça, fatores políticos e econômicos que influenciaram as flutuações na atividade comercial e nas populações de lontras e ariranhas na região, em contraste com as características biológicas de ambas as espécies. 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No capítulo II investigamos as percepções Baniwa acerca das ariranhas através de entrevistas semiestruturadas com auxílio de mapas de referência para detectar as flutuações populacionais da espécie nos lagos e igarapés do médio rio Içana desde o início da atividade de caça comercial na região até os dias atuais. Realizamos amostragens nos lagos e igarapés em busca de sinais diretos e indiretos da ocorrência da espécie, registramos cinco variáveis de microhabitat in situ e obtivemos cinco variáveis de paisagem através de imagem de satélite. Medimos as variáveis de paisagem dependentes de escala em buffers de 250m, 500m e 1000m para testarmos qual escala é a mais adequada para o estudo do uso do habitat pelas ariranhas. Após calcular a frequência de indícios em cada unidade amostral nós geramos modelos lineares generalizados para testar as variáveis preditoras. O modelo com as variáveis dependentes de escala indicou um padrão bimodal, mas a escala de 250m foi a que apresentou maior efeito na ocorrência de ariranhas. As variáveis de paisagem disponibilidade de habitat, forma e isolamento do corpo hídrico explicaram 61,86% da frequência de ariranhas no médio rio Içana, enquanto a única variável de micro-habitat profundidade, correlacionada à hidrografia, explicou 38,12% dos casos. Para os Baniwa as ariranhas são os pajés das águas, e se distribuem pelo ambiente aquático juntamente com os peixes. Através dessa percepção indígena sobre as ariranhas nós obtivemos a movimentação da espécie em diferentes escalas temporais, e identificamos as cabeceiras dos longos igarapés como as áreas de refúgio da espécie durante o período de extinção local no médio rio Içana. A partir das informações ambientais e históricas nós identificamos os igarapés, bem drenados e conectados a corpos hídricos adjacentes como áreas favoráveis para a ocorrência de ariranhas no médio rio Içana. Nosso trabalho evidencia a valiosa contribuição do conhecimento ecológico tradicional em preencher lacunas no conhecimento sobre espécies ameaçadas que não poderiam ser obtidas somente através das pesquisas ecológicas convencionais, auxiliando a compreensão de processos ecológicos de longa duração com implicações para a conservação dessas espécies e do ecossistema que ela ocupa.The hunting of wild animals in the 20th century for the international skin trade was responsible for the collapse of several populations of Amazon mammals and reptiles. However, the impacts of this activity varied between the exploited species, locally and regionally, according to the intensity of hunting and resilience of the species. Some twenty years after the ban of the fur trade in Brazil, giant otters, the species most affected by this international trade, began to show signs of population recovery. This phenomenon aroused the interest of the Baniwa Indians from the middle Rio Içana, western Amazonian Brazil, with whom I carried out this research. This study is divided into two chapters in which I investigated I) historical factors that was influenced the spatial-temporal variation of the commercial exploitation in the Rio Negro region, as well as the differing responses of neotropical and giant otter to commercial hunting in the area and II) identified giant otter’s refuge areas during the period of local extinction on the middle Rio Içana, and the landscape elements that are allowing the recolonization of the area by species. In Chapter I, using semi-structured interviews, I reconstructed the Baniwa’s oral history concerning the commercial hunting in their territory, identified the hunting techniques they used and the political and economic factors that influenced the fluctuations on trade activity, and the collective impact of these on the otter populations in the region, contrasting to their biological characteristics. I also used systematized data from commercial shipping records from upper Rio Negro to assess the resilience of both species by comparing the variation in the numbers of sold skins. The different sources of information has shown that after nearly a century of intense fur trade in the upper Rio Negro, intrinsic species characteristics, as well different hunt intensities and techniques acted to facilitate the persistence of neotropical otters populations and for the local and regional extinction of giant otters populations, starting in areas closest to Manaus until reaching the middle Rio Içana. In Chapter II, I investigated Baniwa’s perceptions of giant otters through semi-structured interviews with the aid of reference maps to analyse the species population fluctuations in the lakes and streams of the middle Rio Içana from the beginning of commercial hunting activity in the region up to the present day. I conducted sampling in lakes and streams in search of direct and indirect signs of giant otter occurrence. I recorded five microhabitat variables in situ and measured five landscape variables via satellite image. I measured landscape scale -dependent variables with buffers of 250m, 500m and 1 000m to test which scale is most suitable for the study of habitat use by giant otters. After calculating the frequency of evidence in each sample unit, I created generalized linear models to test the predictor variables. The scale-dependent variables model indicated that the 250m scale has the greatest explanatory power on the occurrence of giant otters. Habitat availability, shape and isolation of the water body explained 61.86% of otter frequency, while the only significant microhabitat variable, water depth, correlated to hydrography, explained 38.12% of cases. Based on environmental and historical data I identified the streams, well drained and connected to adjacent water bodies as areas favorable landscape to giant otter’s occurrence in the middle Rio Içana. This work highlights the valuable contribution of traditional ecological knowledge to fill gaps in knowledge about endangered species that would be unobtainable using conventional ecological research techniques, aiding the understanding of long-term ecological processes with implications for the conservation of giant otter and the ecosystem they occupyporInstituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPAEcologiaAttribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessUso da faunaAriranhasPaisagem BaniwaO Retorno das Ariranhas à Paisagem Baniwainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisreponame:Repositório Institucional do INPAinstname:Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)instacron:INPAORIGINALDissertacao_INPA.pdfDissertacao_INPA.pdfapplication/pdf2434226https://repositorio.inpa.gov.br/bitstream/1/12048/1/Dissertacao_INPA.pdfa57b25f9fbe30c71bb67c8dd714f3282MD511/120482020-03-16 15:42:16.653oai:repositorio:1/12048Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.inpa.gov.br/oai/requestopendoar:2020-03-16T19:42:16Repositório Institucional do INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)false |
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