A aventura americana vivida e contada no feminino

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ventura, Maria da Graça Alves Mateus
Data de Publicação: 2001
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.3/328
Resumo: Importa, em primeiro lugar desfazer qualquer equívoco sugerido pelo titulo deste texto. A palavra das mulheres sobre a aventura americana, ou seja sobre o descobrimento, conquista e colonização da América, é absolutamente marginal no que respeita à narrativa dominante deste processo. Efectivamente, os textos narrativos correspondem a uma autoria masculina que reflecte a dominância da presença e intervenção dos homens na configuração hispânica da América, na sua qualidade de soldados – cronistas ou cronistas oficiais, pilotos ou capitães. Num universo de conquista marcadamente masculino, as mulheres são personagens secundárias. É na epistolografia que ganham algum destaque como narradoras ou receptoras de mensagens sobre a ausência enquanto universo de sentidos – saudade, «extrañamiento» ou sensualidade insatisfeita. É, na verdade, neste domínio que as mulheres se revelam na sua condição de mães, esposas ou viúvas. Claro que poderíamos mencionar mulheres com protagonismo excepcional como Sor Juana Inés de la Cruz, a monja erudita, ou D. Catalina de Erauso, a monja alferes que se travestiu para participar nas campanhas militares no Chile e no Peru. Mas não é destas mulheres que vamos tratar porque estas apenas representam uma ínfima parte das mulheres letradas que, conscientes da fragilidade da sua circunstância, ousaram ultrapassar as barreiras (de)limitadoras da sua condição. Doçura e força raramente se acham unidas, disse Humbolt expressando a distinção tradicional entre o carácter feminino e o masculino. Na verdade, as mulheres foram afastadas da conquista, mas disputadas na colonização. O Estado entendia que as famílias se deviam manter unidas e que a imagem da mulher honrada devia ser preservada, pelo que produziu legislação vigorosa sobre a emigração de casados e sobre a emigração feminina. Já que vamos dar a voz a mulheres anónimas, àquelas que constituíram o grosso da presença feminina europeia na América espanhola, façamos um breve enquadramento jurídico. [...]
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