Subjectividade e dissidência
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/38453 |
Resumo: | sujeito da metafísica ocidental é um sujeito transcendental e unitário, um a priori da própria realidade. É no cartesianismo que esta concepção do sujeito adquire o seu expoente máximo, afirmando-se a alma como a única propriedade verdadeira do real. O legislador-sujeito cartesiano (onde enunciação e enunciado se confundem) torna-se senhor do seu próprio mundo, autónomo e egoísta. O cartesianismo está na base das filosofias individualistas, da mesma forma que consolida o espiritualismo que o precedeu. Torna-se fundamental desconstruir esta concepção da subjectividade que declara rígidos e estáticos os papéis dos sujeitos ditos normais. Pois, ao contrário do que afirmam Descartes e toda a metafísica, não há um sujeito em abstracto nem um sujeito unitário, mas sim sujeitos no concreto que se afirmam pela sua pluralidade e heterogeneidade. É essa metafísica datada e esclerosada, característica do capitalismo, que torna possíveis mecanismos como a divisão e os papéis de género, a estratificação económica e social, a genealogia e as heranças do poder patriarcal, a instituição do racismo, da homofobia, do sexismo e da transfobia. Os princípios de unidade que regularizam a produção de subjectividade no capitalismo alicerçam-se em dualismos que pretendem, de facto, garantir a estabilidade do status quo e as suas hierarquias imutáveis (homem–mulher/branco–negro/hétero–homo/cis–trans). Os sujeitos dissidentes do nosso mundo não se podem conformar — e não se conformam — à impotência estabelecida pelo pensamento unitário. Esta dissertação colocar-se-á próxima das estratégias de tais sujeitos e fará, por um lado, a análise e o elogio das suas tácticas e, por outro, a crítica e a refutação dos mecanismos dos seus oponentes: a norma burguesa, patriarcal e capitalista. Da apropriação do insulto à performatividade drag, do contraste entre as formas de organização social de massa e de matilha à esquizofrenia como método e ao questionamento das fronteiras entre a razão e a loucura, o modelo rizomático desta investigação procurará desvendar os princípios fundamentais de uma concepção materialista e dissidente da subjectividade. |
id |
RCAP_52d7231ec2e13834c5eef75fec174713 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:repositorio.ul.pt:10451/38453 |
network_acronym_str |
RCAP |
network_name_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository_id_str |
7160 |
spelling |
Subjectividade e dissidênciaSubjectividadeNorma (Filosofia)Múltiplo (Filosofia)Teses de mestrado - 2019Domínio/Área Científica::Humanidades::Filosofia, Ética e Religiãosujeito da metafísica ocidental é um sujeito transcendental e unitário, um a priori da própria realidade. É no cartesianismo que esta concepção do sujeito adquire o seu expoente máximo, afirmando-se a alma como a única propriedade verdadeira do real. O legislador-sujeito cartesiano (onde enunciação e enunciado se confundem) torna-se senhor do seu próprio mundo, autónomo e egoísta. O cartesianismo está na base das filosofias individualistas, da mesma forma que consolida o espiritualismo que o precedeu. Torna-se fundamental desconstruir esta concepção da subjectividade que declara rígidos e estáticos os papéis dos sujeitos ditos normais. Pois, ao contrário do que afirmam Descartes e toda a metafísica, não há um sujeito em abstracto nem um sujeito unitário, mas sim sujeitos no concreto que se afirmam pela sua pluralidade e heterogeneidade. É essa metafísica datada e esclerosada, característica do capitalismo, que torna possíveis mecanismos como a divisão e os papéis de género, a estratificação económica e social, a genealogia e as heranças do poder patriarcal, a instituição do racismo, da homofobia, do sexismo e da transfobia. Os princípios de unidade que regularizam a produção de subjectividade no capitalismo alicerçam-se em dualismos que pretendem, de facto, garantir a estabilidade do status quo e as suas hierarquias imutáveis (homem–mulher/branco–negro/hétero–homo/cis–trans). Os sujeitos dissidentes do nosso mundo não se podem conformar — e não se conformam — à impotência estabelecida pelo pensamento unitário. Esta dissertação colocar-se-á próxima das estratégias de tais sujeitos e fará, por um lado, a análise e o elogio das suas tácticas e, por outro, a crítica e a refutação dos mecanismos dos seus oponentes: a norma burguesa, patriarcal e capitalista. Da apropriação do insulto à performatividade drag, do contraste entre as formas de organização social de massa e de matilha à esquizofrenia como método e ao questionamento das fronteiras entre a razão e a loucura, o modelo rizomático desta investigação procurará desvendar os princípios fundamentais de uma concepção materialista e dissidente da subjectividade.In the metaphysics of Western philosophy, the subject is transcendental and unitary — an a priori of reality itself. The concept of subject reaches its greatest height in Cartesian thought, which declares that the soul is the only true property of reality. The Cartesian legislator-subject (where the subject of enunciation and the subject of the statement become confused) becomes the legislator of its own autonomous and egotistic world. Cartesian philosophy is at the core of philosophical individualism, in the same way that it consolidates the spiritualism that came before it. It is crucial to deconstruct this concept of subjectivity that declares that the roles of the so-called normal subjects are strict and static. Contrary to what Descartes (and all of metaphysics) maintains, there is no abstract or unitary subject, in fact there are particular cases of subjects that are recognized by their plurality and heterogeneity. It is the dated and sclerotic Cartesian metaphysics, characteristic of capitalism, that is responsible for mechanisms such as the division and roles of gender, economic and social stratification, genealogy and inheritance, patriarchal power and the institution of racism, homophobia, sexism and transphobia. The origins of the unit that regulates the production of subjectivity in capitalism are founded in the dualisms that want to guarantee the status quo and its immutable hierarchies (man–woman/white–black/hetero–homo/cisgender–transgender). The dissident subjects of our world cannot conform — and do not conform — to the impotence created by unitary thought. This dissertation positions itself before the strategies of those subjects; firstly it will analyze and praise their tactics, and secondly it will criticize and refute the mechanisms of their opponents: the bourgeois, patriarchal, and capitalist norm. From the appropriation of insult to drag performativity, from the contrast between the types of social organization of mass (crowd) and pack to schizophrenia as method, and to the questioning of the borders between reason and madness, the rhizomatic model of this investigation aims to reveal the fundamental principles of a materialist and dissident conception of subjectivity.Justo, José MirandaRepositório da Universidade de LisboaEça, João Maria Delgado Martins de Almeida d'2019-05-31T14:42:10Z2019-05-172019-01-212019-05-17T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/38453TID:202247481porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:36:22Zoai:repositorio.ul.pt:10451/38453Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T21:52:19.542979Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
dc.title.none.fl_str_mv |
Subjectividade e dissidência |
title |
Subjectividade e dissidência |
spellingShingle |
Subjectividade e dissidência Eça, João Maria Delgado Martins de Almeida d' Subjectividade Norma (Filosofia) Múltiplo (Filosofia) Teses de mestrado - 2019 Domínio/Área Científica::Humanidades::Filosofia, Ética e Religião |
title_short |
Subjectividade e dissidência |
title_full |
Subjectividade e dissidência |
title_fullStr |
Subjectividade e dissidência |
title_full_unstemmed |
Subjectividade e dissidência |
title_sort |
Subjectividade e dissidência |
author |
Eça, João Maria Delgado Martins de Almeida d' |
author_facet |
Eça, João Maria Delgado Martins de Almeida d' |
author_role |
author |
dc.contributor.none.fl_str_mv |
Justo, José Miranda Repositório da Universidade de Lisboa |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Eça, João Maria Delgado Martins de Almeida d' |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Subjectividade Norma (Filosofia) Múltiplo (Filosofia) Teses de mestrado - 2019 Domínio/Área Científica::Humanidades::Filosofia, Ética e Religião |
topic |
Subjectividade Norma (Filosofia) Múltiplo (Filosofia) Teses de mestrado - 2019 Domínio/Área Científica::Humanidades::Filosofia, Ética e Religião |
description |
sujeito da metafísica ocidental é um sujeito transcendental e unitário, um a priori da própria realidade. É no cartesianismo que esta concepção do sujeito adquire o seu expoente máximo, afirmando-se a alma como a única propriedade verdadeira do real. O legislador-sujeito cartesiano (onde enunciação e enunciado se confundem) torna-se senhor do seu próprio mundo, autónomo e egoísta. O cartesianismo está na base das filosofias individualistas, da mesma forma que consolida o espiritualismo que o precedeu. Torna-se fundamental desconstruir esta concepção da subjectividade que declara rígidos e estáticos os papéis dos sujeitos ditos normais. Pois, ao contrário do que afirmam Descartes e toda a metafísica, não há um sujeito em abstracto nem um sujeito unitário, mas sim sujeitos no concreto que se afirmam pela sua pluralidade e heterogeneidade. É essa metafísica datada e esclerosada, característica do capitalismo, que torna possíveis mecanismos como a divisão e os papéis de género, a estratificação económica e social, a genealogia e as heranças do poder patriarcal, a instituição do racismo, da homofobia, do sexismo e da transfobia. Os princípios de unidade que regularizam a produção de subjectividade no capitalismo alicerçam-se em dualismos que pretendem, de facto, garantir a estabilidade do status quo e as suas hierarquias imutáveis (homem–mulher/branco–negro/hétero–homo/cis–trans). Os sujeitos dissidentes do nosso mundo não se podem conformar — e não se conformam — à impotência estabelecida pelo pensamento unitário. Esta dissertação colocar-se-á próxima das estratégias de tais sujeitos e fará, por um lado, a análise e o elogio das suas tácticas e, por outro, a crítica e a refutação dos mecanismos dos seus oponentes: a norma burguesa, patriarcal e capitalista. Da apropriação do insulto à performatividade drag, do contraste entre as formas de organização social de massa e de matilha à esquizofrenia como método e ao questionamento das fronteiras entre a razão e a loucura, o modelo rizomático desta investigação procurará desvendar os princípios fundamentais de uma concepção materialista e dissidente da subjectividade. |
publishDate |
2019 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2019-05-31T14:42:10Z 2019-05-17 2019-01-21 2019-05-17T00:00:00Z |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/masterThesis |
format |
masterThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://hdl.handle.net/10451/38453 TID:202247481 |
url |
http://hdl.handle.net/10451/38453 |
identifier_str_mv |
TID:202247481 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação instacron:RCAAP |
instname_str |
Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
instacron_str |
RCAAP |
institution |
RCAAP |
reponame_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
collection |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
repository.mail.fl_str_mv |
|
_version_ |
1799134460677980160 |